- O Dono do Baú começou sua carreira de maneira modesta até construir um portfólio diversificado de mais de 30 empresas
- O Grupo Silvio Santos abrange diversas áreas de negócios, desde mídia e entretenimento até comércio e serviços financeiros
- Silvio Santos também quase foi o presidente do Brasil nas eleições de 1989, mas teve sua candidatura anulada
“Sinto, não sei porque sinto, que eu já tive outras vidas e que outras vidas terei”, disse o maior comunicador brasileiro, no final da década de 1980, ao ser perguntado sobre vida após a morte. Um dos nomes mais icônicos da televisão e um dos empresários mais bem-sucedidos do país, Silvio Santos faleceu aos 93 anos de idade neste sábado (17). A notícia foi confirmada pelo SBT no X (antigo Twitter), veja os detalhes na cobertura do Estadão.
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Nascido Senor Abravanel, em 12 de dezembro de 1930, no cidade do Rio de Janeiro, conquistou uma legião de fãs com seu carisma e capacidade de transformar oportunidades em empreendimentos. Com origem humilde, o “homem do baú” começou sua carreira de maneira modesta até construir um portfólio diversificado de mais de 30 empresas.
Entre elas, estão nomes como a Jequiti Cosméticos, Baú da Felicidade, Tele Sena e o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). Há ainda outras companhias que compõem o Grupo Silvio Santos, como a Liderança Capitalização, o Hotel Jequitimar, no Guarujá (SP), e a Sisan Empreendimentos Imobiliários.
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De acordo com a Forbes, a fortuna do empresário variou significativamente ao longo dos últimos anos. Em 2018, por exemplo, ele aparecia na 160ª posição na lista de bilionários brasileiros, com R$ 1,21 bilhão. Dois anos depois, em 2020, ele caiu para a 179ª posição, com uma fortuna de R$ 1,9 bilhão. Em 2023, no ranking dos bilionários mais velhos do Brasil, o comunicador se destacou com uma fortuna estimada em mais de R$ 1,6 bilhão.
O surgimento do maior comunicador da televisão brasileira
Filho de imigrantes judeus sefarditas da Grécia e do Império Turco-Otomano, ainda era adolescente quando começou a trabalhar para ajudar sua família. Aos 14 anos, já vendia capas de chuva e canetas pelas ruas do Rio de Janeiro. Foi nesse período que ele descobriu o que chamou de “talento natural” para a comunicação — e também para o comércio.
Em meados da década de 1950, Silvio Santos iniciou sua carreira no rádio. Trabalhou como locutor e logo ganhou destaque por sua voz, considerada marcante, e sua capacidade de engajar o público. Enquanto trabalhava na Radio Nacional, ganhou do amigo Manuel de Nóbrega, que apresentava “A Praça é Nossa”, o comando do Baú da Felicidade — empresa que emitia carnês com pagamentos mensais que, ao serem quitados, davam direito a troca por produtos como eletrodomésticos, móveis, utensílios e até mesmo carros.
Mas o grande passo em sua carreira ocorreu em 1961, quando migrou para a televisão. Silvio estreou no canal TV Paulista, onde apresentou o programa “Vamos Brincar de Forca”. Rapidamente o público foi conquistado. Seu estilo dinâmico e interativo logo o fez se tornar uma figura popular na televisão.
Dois anos depois, estreou o seu próprio programa dominical, “Programa Silvio Santos”, que se tornou líder de audiência na época. Com quadros variados, sorteios, brincadeiras e atrações musicais, Silvio Santos se consolidava como um dos apresentadores mais queridos. Nos anos 1970, apresentou diversos programas que levavam o seu nome em várias emissoras, incluindo aquela que viria a se tornar a sua principal concorrente, a TV Globo.
Nasce o SBT
Sua primeira empreitada como dono de uma emissora de televisão ocorreu em 1976, quando fundou a TVS. Mas foi cinco anos depois que surgiu o seu principal empreendimento: o SBT. O canal se destacava por propor uma programação diversificada, a fim de ser uma alternativa às rivais Rede Globo e Rede Record.
Para isso, o Dono do Baú da Felicidade oferecia ao público uma mistura de formatos de programas, incluindo novelas, séries, programas de auditório e jornalismo. Entre os principais sucessos transmitidos pelo SBT, estavam nomes como “Chaves”, “Chiquititas”, “Domingo Legal” e o próprio “Programa Silvio Santos”, que hoje é apresentado por sua filha Patrícia Abravanel.
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E por falar em programas, ele ainda apresentou outros grandes sucessos da televisão: “Show do Milhão”, “Topa Tudo por Dinheiro”, “Tentação”, “Em Nome do Amor”, “Qual É a Música?”, “Teleton”, entre tantos outros. Mas depois de seis décadas, embora não tenha confirmado sua aposentadoria, Silvio Santos deixou de se apresentar nos palcos do SBT em setembro de 2022.
Ao longo das décadas, Senor Abravanel construiu um conglomerado de empresas: o Grupo Silvio Santos abrange diversas áreas de negócios, desde mídia e entretenimento até comércio e serviços financeiros.
Entre outras empresas do Grupo Silvio Santos, destacam-se:
- Baú da Felicidade: Fundada em 1958, a empresa de venda de carnês e distribuição de prêmios foi um dos primeiros grandes sucessos de Silvio Santos. Sua operação foi encerrada depois da venda da Lojas do Baú para a Magazine Luiza (MGLU3) em 2011 por R$ 83 milhões.
- Banco Panamericano: Fundado em 1969, o banco foi vendido ao BTG Pactual (BPAC11) por R$ 450 milhões também em 2011, após enfrentar problemas financeiros. Ex-executivos do banco foram condenados por fraude contábil em 2018.
- Liderança Capitalização (Tele Sena): Lançada em 1991, a Tele Sena é um título de capitalização que combina sorteios e prêmios com a oportunidade de resgatar parte do valor investido.
- Jequiti Cosméticos: fundada em 2006, a Jequiti é uma empresa de cosméticos que opera no modelo de venda direta. Além disso, clientes e revendedores podem participar dos programas do SBT.
- Hotel Jequitimar: inaugurado em 2006, o resort localizado no Guarujá é mais um exemplo do diversificado portfólio de negócios que pertencia ao Dono do Baú.
A carreira política de Silvio Santos
Há quem não se lembre (ou ainda não era nascido), mas Silvio tentou alguns passos na carreira política. Em 1988, anunciou a intenção de se candidatar para a Prefeitura de São Paulo, mas os planos não foram para frente. No ano seguinte, chegou a concorrer à presidência da República, naquela que foi a primeira eleição presidencial direta após o fim da Ditadura Militar e da promulgação da Constituição Federal.
Silvio Santos quase foi o presidente do Brasil visto que era o primeiro colocado nas pesquisas de intenção de voto. Só que a sua candidatura foi cassada já que era filiado ao Partido Municipalista Brasileiro (PMB), que teve a participação nas eleições de 1989 anulada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por não cumprir alguns requisitos legais.
Desde então, não se candidatou mais e continuou a manter uma relação amistosa com os chefes do Executivo — chamando alguns deles de patrão, como foi o caso do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), ao que ele justificava que era porque a concessão pública de televisão pertence ao governo federal.
Prejuízo do Banco PanAmericano e a crise no Grupo Silvio Santos
Outro momento de impacto na vida (e finanças) de Silvio Santos aconteceu quando o Banco PanAmericano apresentou um prejuízo bilionário em 2010, que fez o seu grupo tomar um empréstimo na ordem de R$ 2,5 bilhões com o Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Se não fosse pouco, as principais empresas da holding foram colocadas como garantias de pagamento.
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Logo passou-se a especular que o SBT seria vendido. Isso não ocorreu, mas o banco foi vendido para o BTG Pactual, assim como o Baú foi comprado pelo Magazine Luiza. Ambas as transações ocorreram em 2011 por R$ 450 milhões e R$ 83 milhões, respectivamente.
Embora a venda da emissora dos Abravanel não tenha acontecido, o abalo financeiro foi um dos fatores que a fizeram perder posição para a Record. Hoje, o SBT é a terceira emissora de televisão mais assistida no Brasil. Depois de mais de 60 anos à frente das telas e presente nos lares brasileiros, Silvio Santos parou de gravar seu programa de domingo em setembro de 2022. Sua aposentadoria nunca foi oficializada e suas filhas sempre diziam que a qualquer momento ele poderia voltar.