- O mandato de Eduardo Bartolomeo, CEO da Vale (VALE3), encerra no dia 16 de maio e a companhia tem até essa data para definir o futuro da presidência
- Os membros do Conselho de Administração são os responsáveis pelo processo de escolha do novo sucessor da empresa ou pela renovação do mandato de Bartolomeo
- O impasse sobre a decisão traz cautela para os investidores que temem novas invertidas do governo na indicação de novos nomes para presidência
O futuro da presidência da Vale (VALE3) continua incerto mesmo com a proximidade do fim do mandato de Eduardo Bartolomeo, atual CEO da mineradora. Os membros do Conselho de Administração, responsáveis pelo processo sucessório, estão divididos sobre quem deve comandar a empresa a partir do fim de maio.
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De um lado, há quem avalie a renovação do mandato de Bartolomeo como a melhor opção para o atual cenário da companhia. Do outro, a busca por um novo nome surge como uma alternativa mais viável para melhorar a relação da Vale com o governo federal.
O impasse na decisão sobre o futuro da empresa chama a atenção do mercado desde janeiro, quando o governo federal decidiu indicar Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), para o cargo de CEO da mineradora. A tentativa de emplacar Mantega por meio da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (BBAS3), para a presidência derrubou em 2,20% as ações da Vale na Bolsa de Valores quando o assunto veio à tona. Agora, uma das propostas em jogo é a renovação do mandato de Bartolomeo por um prazo de apenas um ano no lugar de três.
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No entanto, segundo a apuração do Broadcast, a alternativa sofre resistência da Previ, que responde pela maior participação acionária da Vale, com 8,6% das ações. O motivo se deve ao desempenho da mineradora e da fragilidade da relação da companhia com o governo. “O presidente Lula desaprova Bartolomeo, que era um forte aliado de seu adversário político, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e critica a forma como a Vale lidou com a situação dos acidentes de Mariana e Brumadinho”, diz Victor Ary, gestor de fundos e sócio da Grifo Asset.
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A rejeição da continuidade do mandato de Bartolomeo tem o apoio de outros quatro conselheiros da companhia que votaram, na última reunião do dia 15 de fevereiro, pela contratação de headhunter, empresa especializada em recrutamento e seleção para cargos de alto escalão, para a formação de uma lista tríplice. Outros seis membros do Conselho de Administração votaram a favor da continuidade de Bartolomeo no cargo.
Quem vai escolher o próximo presidente da Vale?
O mandato de Eduardo Bartolomeo encerra no dia 26 de maio. Até lá, a companhia precisa decidir se irá manter o atual CEO no cargo ou nomear outro executivo para o posto. A decisão sobre o comando da mineradora está nas mãos dos 13 conselheiros de administração da Vale. Desse total, oito são independentes. O restante é ligado aos acionistas com as maiores posições nos papeis da mineradora.
A Previ possui duas cadeiras no Conselho de Administração da Vale que são representadas por Daniel André Stieler, atual presidente do colegiado, e João Luiz Fukunaga, presidente da Previ. Fernando Jorge Buso Gomes está ligado ao Bradespar, enquanto Shunji Komai é representante do Mitsui Group, conglomerado japonês que possui uma posição acionária de 6,3% da mineradora. André Viana representa os funcionários e segue na mineradora desde 2021.
Veja quem são os membros do Conselho Administrativo da Vale
Nome | Cargo no CA |
Daniel André Stieler | Presidente do CA da Vale S.A. |
Marcelo Gasparino da Silva | Vice-Presidente do CA da Vale S.A. |
André Viana Madeira | Conselheiro representante dos funcionários |
Douglas James Upton | Conselheiro independente |
Fernando Jorge Buso Gomes | Conselheiro |
João Luiz Fukunaga | Conselheiro |
José Luciano Duarte Penido | Conselheiro independente |
Luis Henrique Cals de Beauclair Guimarães | Conselheiro independente |
Manuel Oliveira (Ollie) | Conselheiro independente |
Paulo Hartung | Conselheiro independente |
Rachel de Oliveira Maia | Conselheira independente |
Shunji Komai | Conselheiro |
Vera Marie Inkster | Conselheira independente |
Fonte: Vale |
Como funciona a escolha do presidente da Vale
A escolha do novo presidente deve seguir as diretrizes da política de sucessão da Vale. As regras da companhia definem que, em caso de um novo sucessor, os membros do Conselho de Administração devem dar prioridade a candidatos que tenham qualificações e outros atributos, definidos internamente, necessários para a posição. No entanto, por ser uma empresa privada, tais critérios para o cargo nem sempre são públicos.
O processo deve iniciar de seis a quatro meses antes do vencimento do prazo da gestão atual. Se houver um entendimento para buscar um novo sucessor, uma empresa de padrão internacional com reconhecimento na seleção de executivos globais deve ser contratada para dar início ao processo de recrutamento. “O presidente da Vale será selecionado entre os nomes propostos em lista tríplice elaborada pela empresa de padrão internacional de seleção de executivos contratada”, informa a companhia.
Já em caso de renovação do mandato, a definição do prazo e a contratação serão firmados após consenso entre os membros do conselho.
Mercado vigilante
O mercado acompanha cada passo sobre o processo de sucessão da presidência da Vale e tem como principal receio a nomeação de um candidato alinhado ao governo federal. Segundo Fabrício Gonçalves, CEO da Box Asset Management, a falta de consenso do conselho pode trazer incertezas sobre os rumos das estratégias de negócio da companhia. “O mercado está preocupado com os possíveis desdobramentos desse impasse, especialmente considerando os recentes acontecimentos e pressões políticas que a empresa vem enfrentando”, afirma Gonçalves.
O risco político ganha relevância diante da queda do minério de ferro no mercado internacional que prejudica os resultados da companhia. Caso o Conselho de Administração escolha um nome alinhado ao governo, os temores relacionados à ingerência política tornam-se mais evidentes. “Sugere uma possível instabilidade no ambiente de negócios e pode afetar a independência e a eficiência de gestão do negócio”, diz Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos.
No entanto, há analistas que acreditam na capacidade da Vale encontrar um candidato técnico para o cargo. “A expectativa do mercado é que o novo presidente da Vale seja um profissional qualificado e alinhado às políticas e ao estatuto da mineradora”, avalia Fabiano Vaz, sócio e analista de ações da Nord Research. Em meio à repercussão, a Previ enviou um ofício para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) solicitando a divulgação da ata da reunião extraordinária do Conselho de Administração referente ao dia 15 de fevereiro.
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A medida visa garantir a transparência do processo de sucessão da companhia para todos os investidores da mineradora. “Reiteramos o compromisso com as melhores práticas de governança corporativa e investimento responsável, tanto na Vale quanto nas outras empresas em que temos participação”, ressaltou a Previ em nota publicada no dia 1º de março.
* Com informações do Broadcast