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- No primeiro semestre de 2021, 45 empresas decidiram entrar na Bolsa de Valores. Destas, apenas 16 (35,5%) estão com retorno positivo no ano. As demais, amargam quedas que vão de -1,88% até expressivos -72%
- Para Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, os IPOs foram contaminados pelo mau humor do mercado brasileiro em 2021. Entretanto, existiram distorções, com empresas que não estavam totalmente preparadas para abrir capital
- Vamos (VAMO3), Intelbras (INTB3) e Boa Safra (SOJA3) tiveram os maiores retornos do ano. Westwing (WEST3), Oceanpact (OPCT3) e Mobly (MBLY3) registraram as maiores quedas
No primeiro semestre de 2021, 45 empresas decidiram abrir capital na Bolsa de Valores. Destas, mas apenas 16 (35,5%) estão com retorno positivo no ano. As demais, amargam quedas que vão de -1,88% até expressivos -72%. Esse foi o cenário apontado por um levantamento feito pela Economatica Brasil, a pedido do E-Investidor, com todos os IPOs (ofertas públicas iniciais ou processo de abertura de capital) realizados neste ano.
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Para Mario Goulart, analista da O2 Research, o primeiro passo para entender a derrocada das ‘novatas’ na B3, é analisar o período em que a maioria dessas companhias escolheu para entrar no mercado. Pelo menos 12 dos IPOs de 2021 foram feitos em fevereiro e outros 12, no mês de julho.
“Teve um volume pesado em julho, quando a Bolsa estava muito cara, o otimismo estava muito grande e as ofertas saíram com preços bastante esticados”, afirma Goulart. “Tivemos momentos em que o mercado estava realmente aceitando valuations esticados. Além disso, tem a questão da qualidade das empresas, tem algumas que eu não sei se faz muito sentido.”
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Essa também é a visão de Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. “Eu entendo que os IPOs esse ano foram mais contaminados em termos de rentabilidade, por ser um ano bem negativo. Temos o Brasil com uma Bolsa caindo, enquanto boa parte das bolsas do mundo sobem 10%”, explica. “Mas também ocorreram distorções. Nós sentimos que muitas empresas não estavam efetivamente preparadas para ir à Bolsa. Lançaram planos nos prospectos sem terem uma visão muito clara sobre como utilizariam seus recursos.”
A quantidade de IPOs, em um volume muito maior do que em outros anos, também pode ter contribuído para que os gestores tivessem mais dificuldade em analisar apropriadamente as ofertas. “Sabemos que isso acaba afetando a liquidez das empresas na Bolsa e a participação de pessoas físicas acompanhando essas análises”, afirma Cruz.
Confira as maiores altas e as maiores baixas dos IPOs realizados em 2021:
IPOs com maiores altas
- Vamos (VAMO3): 129,2%
O IPO com o maior retorno no ano foi o da Vamos, empresa de locação de caminhões e máquinas industriais, ligada ao setor agrícola. Os papéis valorizaram 129,2% desde o IPO em janeiro, passando de R$ 7,78 para os atuais R$ 15,55. O segmento de ‘aluguel’ de veículos pesados é praticamente inexplorado, o que confere à empresa um alto potencial de crescimento.
“Acreditamos que o aluguel de caminhões e máquinas é uma forte tendência para as empresas como forma de diminuir riscos e focar na atividade principal. Dessa forma, esse incipiente setor de locação de caminhões e maquinário vem ganhando força no Brasil e deve se tornar mais significativo nos próximos anos”, afirmam Eduardo Nishio, head de research e finanças da Genial Investimentos, e Romulo Mandarino, analista da casa, em relatório. “Acreditamos ainda que o player com maior escala possui enorme vantagem competitiva frente aos concorrentes, uma vez que consegue melhores condições de compra de ativos. Assim, a empresa que possuir maior frota de caminhões e oferecer o melhor serviço ao cliente, deve se consolidar, liderar o setor e aumentar a barreira de entrada para novos competidores”.
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Além disso, a idade média da frota de caminhões brasileira era de 21 anos em 2020. Em países desenvolvidos, como França, Holanda, Alemanha e Áustria, as frotas têm em média 8 anos. Dessa forma, segundo a Genial, fica nítido que a frota brasileira é bastante envelhecida e necessitará passar por uma renovação em breve, o que é bastante positivo para o setor em que a Vamos está inserida.
“Estamos com recomendação de compra para a Vamos por acreditar que a empresa está posicionada dentro de um oceano azul, um setor com poucos competidores e um grande potencial pela frente, onde a empresa leva vantagem por possuir uma maior escala (quanto mais cresce, mais aumenta sua vantagem competitiva) e uma barreira de entrada para concorrentes”, explica a casa.
- Intelbras (INTB3): 77,48%
A Intelbras também fez um IPO de sucesso até aqui, com retorno de 77,48% desde fevereiro, passando do patamar de R$ 15 para os atuais R$ 28. A empresa é a maior fabricante nacional de câmeras e equipamentos de segurança eletrônica e comunicação do Brasil. “A empresa tem uma linha de produtos extremamente vasta em eletrônicos, cujo preço praticamente dobrou esse ano. É uma empresa que saiu um pouco cara (no IPO), mas vem mostrando qualidade”, afirma Goulart, da O2Research.
A companhia apresentou sólidos resultados no 2º trimestre de 2021, com um lucro líquido de R$ 85,2 milhões, 67,2% maior que no mesmo período do ano passado. O EBITDA (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 95,9 milhões, 31,9% maior do que no 2º trimestre de 2020. Para o Itaú, a empresa tem uma capilaridade de distribuição ‘incomparável’ e difícil de replicar, feita por meio de revendedores de equipamentos, além do alto índice de satisfação do consumidor por conta dos produtos de ‘alta qualidade’.
“Restrições (lockdown) impactaram negativamente as vendas em abril, devido ao fechamento de lojas físicas, mas a receita líquida cresceu 4% no trimestre, suportada pelo crescimento do volume em todas as divisões (Segurança, Comunicação e Energia)”, explica o banco, em relatório.
- Boa Safra (SOJA3): 38,79%
Os papéis de produtora de sementes de soja Boa Safra (SOJA3) valorizaram 38,79% desde o IPO, feito em abril. Agora, negociados em R$ 14, as ações estrearam aos R$ 9,90. “É um negócio que tem tudo a ver, eles fazem o preparo de sementes”, afirma Goulart. “Uma empresa que tem chamado a atenção pela boa gestão e em um setor que é o que mais dá certo no Brasil, que é o agronegócio.”
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A Boa Safra registrou um 2º trimestre de fortes resultados, com o aumento de 84% do lucro líquido em relação ao mesmo período de 2020, para R$ 11,7 milhões. O EBITDA alcançou os R$ 18 milhões, ante R$ 8,8 milhões no ano passado.
Cerca de quatro meses após a estreia na Bolsa, a XP iniciou a cobertura dos papéis, com recomendação de compra e preço-alvo de R$ 18 – que representa um salto de 28% em relação ao preço atual.
“Investir no uso de sementes de maior qualidade é uma das primeiras etapas, senão a primeira, no processo de aumentar a produtividade do campo, ao mesmo tempo em que também aumenta a lucratividade do produtor. A Boa Safra é uma das maiores empresas brasileiras no segmento de sementes e, na nossa visão, é a empresa mais preparada para capturar essa oportunidade criada pelo avanço da adoção de tecnologia no campo”, afirma Leonardo Alencar, Larissa Pérez e Marcella Ungaretti, analistas da XP, em relatório.
Entretanto, é importante ressaltar que os resultados da empresa são fortemente impactados por fatores sazonais e climáticos. “No primeiro semestre do ano, a Companhia se dedica à produção e estocagem das sementes. Portanto, as receitas são mais baixas e os custos mais altos. É no segundo semestre, quando os agricultores começam o plantio, que a Companhia começa a embarcar as sementes e gera quase a totalidade de seu faturamento”, afirma a companhia, no relatório do 2º trimestre.
IPOs com maiores baixas
- Westwing (WEST3): -64,62%
- Oceanpact (OPCT3): -66,55%
- Mobly (MBLY3): -72,14%
Entre as três maiores baixas, estão duas companhias ligadas ao setor imobiliário: a varejista online de móveis Mobly, com 72,14% de queda (de R$ 21 para R$ 6), e o e-commerce de decoração WestWing, cujos papéis encolheram 64,62% (de R$ 12 para R$ 4,30). As duas empresas realizaram IPO no mês de fevereiro.
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“No setor varejista, a Mobly (MBLY3) e Westwing (WEST3) ainda não conseguiram colocar em prática todo o planejamento definido no IPO. Ambas registraram um boom em suas vendas na pandemia – muito impulsionado pelo comportamento de troca de móveis e itens de decoração –, entretanto, após crescer durante o isolamento, o volume de vendas voltou a cair com a retomada da economia”, afirma a Nord Research, em newsletter enviado à imprensa.
Essa também é a visão de Goulart. “O varejo está sofrendo um pouco, e isso tem um peso em cima dessas empresas, mas talvez os valuations ficaram esticados, com o mercado animado demais naquela época”, explica o analista.
Já a Oceanpact, de serviços marítimos, cai 66,55% desde o IPO em fevereiro, passando de R$ 11,15 para R$ 4. As quedas acontecem na esteira de um acordo coletivo de R$ 2,7 milhões fechado com oficiais e eletricistas que trabalham em suas embarcações, representados pelo Sindicato Nacional dos Oficiais da Marinha Mercante (Sindmar).