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Educação Financeira

Análise de perfil de risco pode salvar a pele do investidor

Já ouviu falar no API? Ele evita a compra de produtos inadequados

Análise de perfil de risco pode salvar a pele do investidor
Imagem ilustrativa de homem contente com seus investimentos (Foto: Pixabay)
  • Questionário foi criado pela CVM como ferramenta para proteger o investidor. Ele evita que profissionais mal intencionados ofereçam produtos inadequados ao seu perfil de risco
  • O método filtra o tipo de produto, mas não considera a volatilidade da carteira como um todo. Um bom assessor deve fazer outras perguntas para entender o momento de vida do cliente
  • Se o investidor não responder de acordo com seu verdadeiro perfil de risco, poderá se frustrar com a baixa rentabilidade da carteira, ou sofrer com perdas que não estava disposto a tolerar

As fortes oscilações do mercado nos últimos dois meses deixaram um gosto amargo na boca de muitos investidores. Somente ao se depararem com perdas de até 30%, em ativos como ações ou fundos imobiliários, é que essas pessoas constataram que haviam aplicado seu dinheiro em produtos que não eram adequados ao seu perfil.

É justamente para evitar surpresas desagradáveis desse tipo que a Comissão de Valores Mobiliários exige que o investidor responda a um questionário conhecido como API (Análise de Perfil de Investidor). Ele deve ser aplicado pela instituição financeira antes que os primeiros investimentos sejam realizados, e repetido a cada dois anos.

Ao contrário do que se possa pensar, não existe um roteiro padronizado de perguntas a serem feitas. O órgão regulador dá algumas diretrizes do que deve ser diagnosticado pelo API e cada instituição elabora as suas próprias perguntas. Um exemplo: “Se as cotas que comprou perderem metade do valor no mês seguinte, você vende, aguarda ou compra mais?”

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O objetivo é verificar qual é a tolerância de cada investidor ao risco e, a partir das respostas de cada cliente, classificar seu perfil como conservador, moderado ou agressivo/arrojado. A partir daí, a casa de investimentos não poderá oferecer a ele um produto que esteja em desacordo com essa classificação.

O economista Rodrigo Marcatti, sócio da Veedha Investimentos, explica que o questionário blinda o investidor contra maus investimentos e maus profissionais.

“Quando ainda não existia API, um assessor mal-intencionado vendia um produto arrojado para um cliente conservador. Quando o cliente perdia dinheiro, não tinha como reclamar e se defender”, ele conta. “A CVM criou esse mecanismo para o investidor poder atestar seu perfil de risco. Assim, não há perigo de o profissional induzi-lo a comprar um produto inadequado.”

Ainda que a instituição não possa oferecer algo com mais risco do que o perfil do investidor suporta, nada impede que ele busque, por iniciativa própria, um ativo mais arrojado. Dessa forma, um cliente de perfil conservador pode aproveitar um momento de preços baixos para comprar ações, se assim desejar.

O API é importante, mas é apenas um ponto de partida

A classificação de perfil produzida pelo API é um norte importante, mas a casa de investimentos deve ter atenção à metodologia de classificação de riscos de cada produto. “Dentro da renda fixa, há desde CDBs, LCAs e fundos DI até fundos RF com crédito privado, que têm risco muito maior que o do fundo DI puro”, ressalta Luciane Effting, head de investimentos do Santander. “Renda fixa com crédito privado não pode ser igualada a CDB, apesar de ambos os produtos serem da mesma classe.”

Outra imperfeição do API é que, a partir de cada um dos três perfis de risco, o método filtra os produtos possíveis: ações para o investidor arrojado e fundos multimercado para o moderado, por exemplo. Mas, de acordo com Marcatti, o certo seria considerar o risco da carteira consolidada como um todo.

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“O cliente pode querer ter 90% em renda fixa e 10% em renda variável, e nem por isso se considerar agressivo, ele só quer ter uma parte ali. Esses 10% representam uma volatilidade baixa na carteira, ainda típica de um cliente conservador”, ele pondera. “Com mais 10% em ativo de risco, aí o portfólio já ganharia um perfil moderado. O assessor deve calibrar a exposição a cada produto olhando toda a carteira.”

Sabendo das limitações do API, os bons assessores de investimentos não se contentam em apenas fazer as perguntas do questionário. Eles formulam outras questões para tentar descobrir qual é o momento de vida do cliente: se ainda está em fase de acumulação de capital, ou já consumindo a reserva, por exemplo.

“Se o investidor tem horizonte de tempo curto, não pode correr o mesmo risco de quem ainda tem a vida toda para acumular. O feeling do assessor é importante, ele consegue fazer uma leitura humanizada do cliente e até evitar que caia em armadilhas”, diz o sócio da Veedha.

A validade de cada API é de dois anos. Quando as respostas expiram, o cliente precisa atualizar o questionário. Mas ele pode ser chamado a rediscutir o assunto antes do fim desse prazo.

“Sempre que a carteira desenquadra, passando a ter risco maior ou menor que o indicado no perfil, convidamos o investidor a rebalanceá-la, ou atualizar o perfil”, diz Luciane. “Nossa vida é dinâmica e o apetite a risco também pode evoluir. Essa proximidade com o cliente é saudável para que a gente não faça recomendações em desacordo com os objetivos dele.”

As consequências dos erros no preenchimento

Para que o API cumpra com seu objetivo, que é o de proteger o investidor, é preciso que as respostas sejam preenchidas da forma mais correta e transparente possível. Porém, mesmo que não tenha a intenção de faltar com a verdade, o investidor pode acabar expressando algo que não condiz com sua tolerância real ao risco.

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E as razões para isso são bem conhecidas pelas finanças comportamentais. A maneira de responder ao questionário costuma ser diferente em momentos de bonança e de crise. Em um cenário econômico favorável, o otimismo do momento enche alguns investidores de confiança e eles tendem a se mostrar mais arrojados e conhecedores do mercado do que de fato são.

Imbuídos desse espírito, muitos investidores resolveram se aventurar na Bolsa ou em fundos estruturados, com volatilidade maior, empolgados com a maré favorável do mercado no segundo semestre do ano passado. Mas os ventos mudaram radicalmente neste ano.

“Em março veio a catástrofe, com carteiras caindo 30%. Muita gente alocada em risco maior que o do perfil se desesperou, queimou tudo e realizou perda. Essas pessoas perderam o sono, ficaram descompensadas. Estavam no perfil errado”, diz Marcatti.

É possível também que o investidor erre na direção oposta: afirmando ser mais conservador do que realmente é. Na prática, ele vai começar a se mostrar insatisfeito com o retorno da carteira que foi montada dentro desse perfil, e procurar o assessor.

“Se ele espera uma rentabilidade maior, que não conduz com o perfil conservador, eu preciso entender primeiro se o apetite a risco dele mudou”, diz a head de investimentos do Santander. “Não posso recomendar um produto em desacordo com o expresso no API. Ele está disposto a correr mais risco?”, indaga.

Diálogo aberto com o assessor é o melhor caminho

Por todas essas razões, o melhor ponto de partida para a construção de uma estratégia de investimentos saudável é um diálogo franco e aberto com o assessor de investimentos. Só depois de muita conversa é que surgem as melhores recomendações.

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“O assessor tem que entender o cliente primeiro e depois encaixar os produtos que fazem sentido para ele, dentro daquele momento”, resume Marcatti, da Veedha.

Andrea Bravo, superintendente da área comercial da Ágora Investimentos, frisa que a compra deve ser uma decisão racional para aquele investidor, dentro de seu objetivo e horizonte de tempo – e não motivada pelo exemplo do vizinho, do amigo ou do influenciador.

“Se um colunista de renome disser ‘compre fundo imobiliário’, muita gente vai atrás. Mas ele não dá a assessoria completa, não diz se o produto é interessante para todos os perfis. Não é porque falaram que a renda variável vai render 30% em um ano que todo mundo vai comprar, só quem tem perfil para isso”, pondera.

Luciane Effting, do Santander, frisa que retorno e risco andam juntos e o investidor deve receber informação suficiente para entender os riscos atrelados a cada opção de investimento.

“É importante ele ter plena ciência de onde está investindo. Assim, ele não terá surpresas desagradáveis nos momentos de crise. Quanto mais conhecimento tiver e mais transparente for a conversa, mais tranquilo ele vai passar por esses momentos”, afirma Luciane.

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Já a especialista da Ágora lembra que, além de conhecer bem o produto, o investidor deve estar a par do cenário econômico. “Não adianta dizer que quer ganhar 1% ao mês com a Selic em 3%. Ele deve confiar na instituição financeira em que está investindo. E diversificar a carteira, para minimizar os riscos e ter perspectiva de ganho melhor”, diz Andrea Bravo.

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