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Mercado dos EUA em crise: como ficam as empresas brasileiras?

De acordo com levantamento feito pela Economatica, a soma do valor de todas as empresas listadas diminuiu 7,6%

Mercado dos EUA em crise: como ficam as empresas brasileiras?
Meta (FBOK34), Microsofit (MSFT34) e Apple (AAPL34) foram as companhias que registraram a maior variação negativa do fim de 2021 até quarta-feira (2). Foto: Envato Elements
  • De acordo com os analistas, a perspectiva de um ciclo de alta na taxa de juros penaliza, principalmente, as empresas de tecnologia
  • As empresas brasileiras listadas no mercado norte-americano também devem sofrer com a alta da taxa de juros
  • Apesar do cenário ruim para alguns setores, os analistas apontam que há boas oportunidades de crescimento

A perspectiva de aumento da taxa de juros nos Estados Unidos (EUA) tem prejudicado o mercado norte-americano nos primeiros meses deste ano. De acordo com um levantamento feito pela Economatica enviado ao E-Investidor, a soma do valor de todas as empresas listadas nos EUA era superior a US$ 51,1 trilhões no fim de 2021.

Dois meses depois, esse volume exorbitante diminuiu para US$ 47,2 trilhões, apontando uma queda de 7,6% durante o período. Nessa perspectiva de baixa, a maior parte das empresas brasileiras listadas no exterior tem perdas que chegam a quase 42% no acumulado deste ano.

A expectativa de reajuste dos juros penalizou o desempenho das ações de companhias consideradas de alto risco, como as de tecnologia. O levantamento da Economatica mostra que as 10 maiores quedas registradas no mercado acionário dos Estados Unidos são de empresas de tecnologia. Meta (FBOK34), Microsofit (MSFT34) e Apple (AAPL34) foram as companhias que registraram a maior variação negativa do fim de 2021 até quarta-feira (2).

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Segundo Gustavo Aranha, sócio e diretor de distribuição da GeoCapital, a justificativa para a perda do valor de mercado dessas companhias se deve à percepção de risco do investidor para empresas com expectativas de alto crescimento para os próximos anos. “São empresas que possuíam no preço (das ações) embutido um valor de crescimento muito grande para os próximos anos. Com a perspectiva de alta dos juros, o mercado passou a acreditar menos no crescimento futuro e valorizar mais o lucro presente”, destaca Aranha.

A penalização acontece porque as empresas de tecnologia precisam de investimentos ou de capital emprestado para expandir. Com o aumento das taxas, os empréstimos para a realização de investimentos ficam mais caros. “A perspectiva do dinheiro se tornar mais caro para emprestar dificulta as taxas de crescimento em geral e isso afeta os resultados da empresa”, explica David Gobaud, CEO da Passfolio.

De acordo com Marcelo Cabral, gestor de investimentos da Stratton Capital, como o primeiro reajuste deve acontecer a partir deste mês de março, o ciclo pode se manter até o primeiro trimestre ou se estender por mais tempo. “Essa queda inicial não é uma queda muito forte. O mercado ainda está em níveis elevados. Então, temos muito chão pela frente para que esse ajuste no regime monetário possa refletir nos preços das ações”, avalia.

No entanto, Aranha acredita que o cenário pode estabelecer oportunidades de investimento. De acordo com ele, além da queda não refletir em todas as ações presentes no mercado norte-americano, algumas empresas foram penalizadas por apresentarem perspectiva de crescimento a longo prazo mesmo com um fluxo de caixa positivo. “São empresas com grandes resultados mas que caíram juntos com as que não tem caixa (grande fluxo de capital) porque prometem crescimento muito forte no futuro”, acredita o sócio da GeoCapital. Por esse motivo, a gestora aumentou nas últimas semanas a sua posição em empresas como Illumina (ILMN) e Meta (FBOK34).

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Já na Bolsa nacional, a realidade é diferente. Ainda de acordo com os dados da Economatica, o volume da soma dos valores de mercado de todas as empresas listadas no Brasil cresceu US$ 128,5 milhões durante o período do fim de 2021 até quarta-feira (2).

Segundo Jennie Lie, estrategista de ações da XP, esse movimento positivo no mercado acionário brasileiro se deve ao fluxo de capital estrangeiro, que busca investimentos mais seguros. “Estamos vendo a tendência dos investidores globais saindo de empresas de tecnologia e indo para as commodities e bancos, setor que temos muito no Brasil”, explica Lie. Os baixos preços também foram outro atrativo dos investidores.

O movimento resultou em um saldo de capital externo na B3 de R$ 62,6 bilhões neste ano até 25 de fevereiro. O montante é 130% maior em comparação ao fluxo de capital estrangeiro durante os dois primeiros meses de 2021, segundo dados da B3.

Como ficam as empresas brasileiras?

As companhias brasileiras que listaram ações nos Estados Unidos também sofrem com o ciclo de alta de juros. Segundo levantamento feito pela Stratton Capital a pedido do E-Investidor, das 12 empresas que fizeram IPO no mercado norte-americano entre 2018 e 2021, apenas quatro apresentaram performance positiva no acumulado deste ano. As outras oito amargam perdas que chegam a quase 42%.

Além de serem enquadradas no setor de tecnologia, a maior parte das empresas brasileiras listadas em Nova York fez IPO há pouco tempo. “São empresas que ainda não comprovaram o seu crescimento e possuem uma expectativa de crescimento prevista para o futuro”, explica Li.

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É o caso do Nubank (NUBR33) que abriu capital nos Estados Unidos no último mês de dezembro e sofre com uma derrocada de 17,2% no acumulado do ano.

No entanto, há outras empresas que se enquadram no setor de tecnologia que amargam perdas ainda maiores. Ainda de acordo com o levantamento, as ações da PagSeguro (PAGS) e da Stone (STNE) sofrem uma derrocada de 41,6% e de 34,7%, respectivamente.

Rodrigo Lima, analista da Stake, explica que, além do cenário de alta na taxa de juros, há outros fatores que contribuíram para a baixa performance das empresas sobre uma mudança regulatória para as tarifas de intercâmbio. “Stone e Pagseguro estão sofrendo porque o Banco Central abriu uma consulta pública para estabelecer um limite de 0,5% nas tarifas de intercâmbio (TIC), que incidem sobre as transações realizadas com cartões pré-pagos e atualmente é de 1,5%”, explica Lima.

O crescimento dos novos meios de pagamento, como carteiras digitais e o pix, também impactam na receita dessas empresas.

Já em relação às empresas com boas performances, Lima explica que fatores particulares de cada companhia contribuíram para os saldos positivos. A XP no acumulado de 2022 apresenta uma performance de 10,5%. Ao olhar o desempenho entre a data do IPO (dezembro de 2019) até quarta-feira (2), o retorno chega a 17,6%.

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Para o analista da Stake, o desempenho positivo está relacionado aos resultados que a empresa entregou nos últimos meses. “A companhia vem entregando um aumento expressivo tanto em ativos sob custódia, que atingiram R$ 815 bi no último trimestre de 2021, quanto em número de clientes, contando atualmente com mais de 3,4 milhões de investidores”, destaca. As recentes aquisições, como a do Banco Modal, também agradaram.

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