- Depois de atingir a máxima histórica de US$ 69 mil em novembro de 2021, o bitcoin vem em uma forte trajetória de queda
- Na última semana, a maior criptomoeda do mundo atingiu o menor nível desde 2020, cotada na faixa dos US$ 27 mil
- Mas nem isso faz os entusiastas do mercado cripto ficarem pessimistas. Na visão do trader Tone Vays, ex-VP de análise gráfica da JP Morgan, o atual patamar de preços é visto como uma oportunidade única, talvez a última, para investir no bitcoin pagando menos
O cenário de aversão ao risco dominou os mercados globais em 2022. Guerra entre Rússia e Ucrânia, alta dos juros no Brasil e nos Estados Unidos e a desaceleração econômica na China são apenas alguns motivos que formam a esteira de instabilidades. Encontrar um ativo que não tenha sido penalizado recentemente é quase um elefante branco. E o cenário não é diferente para as criptomoedas.
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Depois de atingir a máxima histórica de US$ 69 mil em novembro de 2021, o bitcoin iniciou uma forte trajetória de queda e lutava para sustentar o patamar entre US$ 40 e R$ 35 mil neste ano.
A derrocada, porém, se intensificou desde que o Federal Reserve acelerou o aperto monetário nos EUA no início de maio. Com maior prêmio na renda fixa e as bolsas americanas muito penalizadas no ano, os investidores têm fugido dos ativos de risco. Na última semana, a maior criptomoeda do mundo atingiu o menor nível desde 2020, cotada na faixa dos US$ 27 mil.
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Mas nem isso faz os entusiastas do mercado cripto ficarem pessimistas. Pelo contrário: o atual patamar de preços é visto como uma oportunidade única, talvez a última, para investir no bitcoin pagando menos. Essa é a visão do trader Tone Vays, ex-VP de análise gráfica da JP Morgan, considerado um dos maiores traders de bitcoin do mundo.
Entusiasta deste mercado, Vays veio ao Brasil no início de maio para participar do Cryptominds, o maior congresso de inteligência financeira e criptomoedas da América Latina. Durante a passagem pelo País, o trader defendeu o bitcoin como o protocolo “mais estável, mais descentralizado e mais seguro do espaço digital”, muito acima das outras criptomoedas existentes.
Para Vays, o BTC se destaca muito até mesmo em relação ao ethereum, a segunda maior cripto do mercado, que tem ganhado bastante destaque ao propor uma substituição na rede de blockchain do proof-of-work (PoW) para o proof-of-stake (PoS). Tratam-se de dois métodos de ‘mineração’, nome dado aos protocolos que permitem a criação de novas criptomoedas. Embora o PoW seja o mais comum, a rede ethereum tem apostado em uma atualização para o PoS, que exigiria um gasto menor de energia no processo – uma das críticas mais recorrentes quando o assunto é criptomoedas.
Em entrevista exclusiva ao E-Investidor, Vays fala sobre as perspectivas de curto e longo prazo do bitcoin, as outras criptomoedas do mercado e as discussões de regulamentação. Confira:
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E-Investidor – O bitcoin tem lutado para se manter na casa dos US$ 30 mil. O que o investidor cripto deve ter no radar neste momento?
Tone Vays – O principal fator pressionando o bitcoin é a correlação com o mercado de ações tradicional como S&P 500 e Nasdaq, onde não temos muitas notícias positivas acontecendo. O fato é que o bitcoin não vai permanecer com esses preços baixos por muito tempo. Isso vai mudar significativamente em algum momento deste ano, mas, antes que isso aconteça, é muito provável que tenha um pouco mais de quedas. Uma vez que o BTC começar a subir, vai subir bastante, porque não vai ter muito ativo disponível no mercado para vender.
Vimos isso em outubro do ano passado, quando, depois de ir de US$ 65 mil em abril para US$ 30 mil em setembro, a cotação saltou para US$ 68 mil em apenas um mês. O ativo não precisa de muito tempo para se valorizar. Eu espero que em algum momento no final deste ano o preço fique acima dos US$ 100 mil.
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Isso significa que é hora de ir às compras?
Vays – É uma ótima oportunidade para investir. Acredito que este vai ser o último ano em que as pessoas vão poder comprar bitcoin nesse patamar de preço. Não acho que o bitcoin ficará abaixo desse valor nunca mais.
Se você é um investidor de longo prazo, essa é uma oportunidade incrível. Quem olha para o curtíssimo prazo ainda pode esperar um pouco.
Havia uma expectativa no mercado de que o conflito entre Ucrânia e Rússia fortaleceria o bitcoin como uma reserva de valor, assim como ouro ou dólar. A criptomoeda já cumpre esse papel?
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Vays – O bitcoin já cumpre esse papel há cerca de dez anos. Eu fiquei realmente surpreso que as sanções contra a Rússia adotadas pelos governos dos Estados Unidos e Europa não fizeram o preço disparar. Essa é a propriedade mais importante do BTC: o fato dele ser o único ativo do mundo que não pode ser confiscado por nenhuma razão, inclusive política. À medida que o mundo reconhecer isso, a moeda vai chegar a patamares de preços incríveis.
O Sr. já disse algumas vezes que não faz sentido investir em DeFi. Qual é o problema da tese de descentralização financeira?
Vays – Não existe uma definição real para isso. Em teoria, DeFi são finanças descentralizadas, mas o único ativo realmente descentralizado que existe é o bitcoin. Todo o resto é ou será centralizado.
Mas o que a maioria das pessoas fala sobre DeFi é o yield farming [conhecido também como mineração de liquidez, uma forma de utilizar os criptoativos para ganhar mais criptoativos], e o problema com esses projetos é que eles são livres para criar. E quando você tem uma maneira livre de criar valor, o valor cai e estamos testemunhando isso com a moeda dos Estados Unidos. O governo estava apenas imprimindo o quanto queria de dinheiro e agora temos essa inflação. O bitcoin é especial porque custa eletricidade para criá-lo. Por isso, tente ficar longe desses projetos DeFi.
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Analistas de mercado têm apontado o Ethereum como o ativo mais promissor para o futuro. O Sr. acredita que o ETH pode assumir a liderança do mercado nos próximos anos?
Vays – Não. O ethereum tem muitos problemas. Sempre acreditei que o ETH era um ativo com risco de regulamentação do governo, com um grande problema tecnológico e de escala. Uma das razões pelas quais o ativo sobreviveu a esses problemas é porque outras plataformas, como a solana, estão assumindo a tecnologia. Caso contrário, o ethereum seria inutilizável hoje, porque as transações são incrivelmente caras.
O outro problema é a dinâmica econômica. Os fundadores da cripto ainda acreditam nessa ideia de que a mineração é ruim para o meio ambiente, o que é incorreto. Essa tentativa de passar o ethereum do proof-of-work para proof-of-stake vai gerar problemas significativos, tanto é que eles continuam adiando a mudança.
Daqui a dez anos, acredito que tudo isso acabará se movendo para o bitcoin porque é o único ativo que pode fornecer o melhor em termos de descentralização e tecnologia, aprovando muitas regulamentações que estão acontecendo hoje.
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O Senado Federal aprovou om projeto de lei que regulamenta o mercado de criptomoedas no Brasil. De que forma a regulamentação pode movimentar as criptos?
Vays – A regulamentação pode ajudar o preço do bitcoin a subir muito. É ótimo para quem já tem a criptomoeda e para os investidores que ainda têm medo de adquirir o seu primeiro ativo porque não existe regulamentação. Muitos investidores institucionais e grandes companhias não querem assumir esse risco, mas isso vai deixá-los mais confortáveis.
A minha preocupação é que as pessoas saibam como segurar o bitcoin para garantir que ele siga como um ativo não confiscado. Embora a regulamentação seja boa, a melhor seria aquela que aceitasse o BTC, mas não propusesse nenhuma interferência. Isso poderia levar a riscos no futuro caso algum governo decida confiscar ou manter os ativos em nome das pessoas, como aconteceu nos EUA na década de 1930, quando o governo confiscou o ouro da população.
O meu maior medo com a regulamentação é que daqui 20 ou 30 anos a maior parte do bitcoin seja mantida pelos bancos e não pelas pessoas.
Quer deixar alguma mensagem para os investidores brasileiros?
Vays – Acredito que o bitcoin é um ativo único, tão diferente das moedas fiduciárias tradicionais quanto de todas as outras criptomoedas. O meu maior conselho é entender porque o BTC não é nada parecido com o ethereum e porque é um ativo muito mais seguro para investir.
Sendo mais específico, avalie se você pretende fazer um trade ou se está assumindo um investimento. Um investimento é algo que você entende completamente e que vai manter por um longo tempo, mesmo nos altos e baixos do ativo. Eu acredito que as pessoas deveriam investir em bitcoin, mas não sinto o mesmo de nenhuma outra criptomoeda. Elas não são uma oportunidade de investimento, são apenas uma opção para trade no curto prazo.