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O que o mercado espera do novo CEO da Petrobras, Jean Paul Prates

Indicação do senador ao cargo foi aprovada nesta quinta-feira (26) pelo Conselho de Administração da companhia

O que o mercado espera do novo CEO da Petrobras, Jean Paul Prates
Jean Paul Prates. (Foto: Agência Senado/ Roque de Sá
  • O nome do senador Jean Paul Prates (PT-RN) foi aprovado para o comando da Petrobras pelo Conselho de Administração da companhia nesta quinta-feira (26)
  • Agora, Prates assume a presidência da estatal interinamente, enquanto aguarda a realização da Assembleia Geral Ordinária (AGO) marcada para abril para ser efetivado
  • Segundo fontes, apesar dos discursos recentes negando possíveis intervenções na estatal, a avaliação do mercado sobre Prates mudou pouco desde que ele foi indicado

O nome do senador Jean Paul Prates (PT-RN) foi aprovado com unanimidade para o comando da Petrobras (PETR3/PETR4) pelo Conselho de Administração da companhia nesta quinta-feira (26). Agora, Prates assume nos próximos dias a presidência da estatal interinamente, enquanto aguarda a realização da Assembleia Geral Ordinária (AGO) marcada para abril para ser efetivado, conforme apurou o Broadcast/Estadão.

Desde o início do ano, a Petrobras estava sob o comando do presidente interino João Henrique Rittershaussen, que assumiu depois que Caio Paes de Andrade, o 4º CEO da estatal na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, deixou o cargo.

Advogado e economista, Jean Paul Prates tem mais de 30 anos de experiência nas áreas de petróleo e gás natural, e coordenou o subgrupo do assunto na equipe de transição no final de 2022. O senador foi indicado para o cargo de CEO da Petrobras no dia 30 de dezembro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por meio de uma postagem no Twitter, mas seu nome já vinha sendo especulado nos bastidores desde o final das eleições. Saiba mais sobre o executivo aqui.

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Como mostramos nesta reportagem, há menos de um mês, quando foi indicado ao cargo, Prates era tido pelo mercado financeiro como alguém com ampla experiência no setor de petróleo e gás, mas sua indicação sinalizava um quadro político no comando da maior estatal do País. Um cenário que preocupava, especialmente dado o receio de investidores com mudanças na atual política de preços de paridade internacional (PPI) que levou a companhia a lucros – e dividendos – recordes.

De lá para cá, com exceção do preço da gasolina cujo litro ficou 23 centavos mais caro, pouca coisa mudou na avaliação do mercado. “Continuamos com uma visão negativa para a entrada de Jean Paul Prates na presidência da Petrobras”, diz Ricardo Carneiro, especialista em commodities da WIT Invest. “Apesar de ter melhorado um pouco o seu discurso estadista e até ter ventilado a criação de um Fundo de Estabilização para o preço dos combustíveis, o que é muito positivo, não acreditamos que esse discurso se mantenha no decorrer do tempo.”

A implementação de um fundo para estabilização dos preços dos combustíveis é uma proposta defendida por Prates em sua época no Senado, que propunha criar um imposto sobre a exportação de óleo para financiar uma “conta” que ajudaria a reduzir as oscilações de preço dos combustíveis. Mecanismos parecidos são utilizados em países da América do Sul, como Peru e Chile, mas foram engavetados nas vezes em que foram discutidos em Brasília.

Leia também: O que deve mudar na Petrobras com a chegada de Prates

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A questão é parte do desafio número 1 de Prates à frente da Petrobras: encontrar uma alternativa viável para substituir o PPI. Um movimento que, segundo o novo CEO da companhia, não será intervencionista. “Uma vez falei que quem faz política de preços é o governo, aí interpretaram que eu estava dizendo que iria intervir porque era do governo. Não”, disse a jornalistas na posse do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) como ministro do Desenvolvimento, Comércio, Indústria e Serviços, no dia 04 de janeiro. Veja nesta reportagem do Estadão a declaração completa de Prates.

Na visão de Fábio Sobreira, analista chefe e sócio da Harami Research, as recentes declarações de Prates rechaçando a possibilidade de intervenções políticas nos preços praticados pela companhia apaziguaram os ânimos de investidores. “Há alguns dias, o mercado tem entendido que, apesar de ser uma indicação política, o nome de Prates também está dentro daquilo que se esperava. Não está me parecendo que haja mais um descontentamento tão grande assim”, destaca.

Até o fechamento da quarta-feira (25), as ações ordinárias, PETR3, e as preferenciais, PETR4, eram cotadas a R$ 30,42 e R$ 26,94, respectivamente, com altas de 8,49% e 9,96% em 2023.

Às 13h08 desta quinta-feira, logo após o anúncio da aprovação de Prates, a PETR3 operava com queda de 2,86% a R$ 29,55, enquanto a PETR4 caía 2,49% a R$ 26,27. Os pares do setor de petróleo operam em alta desde a abertura do pregão, com os contratos futuros da commodity em alta.

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Veja a visão de fontes do mercado financeiro sobre o papel de Prates na Petrobras:

Acilio Marinello, da Trevisan Escola de Negócios

“O grande ponto de dissonância que está gerando algum tipo de receita no mercado financeiro em relação ao anúncio do Jean Paul Prates como presidente é a visão dele em relação a política de preços dos combustíveis praticada pela Petrobras. Uma prática de livre mercado e que tem trazido excelentes resultados financeiros para a companhia, com faturamento consistente e relevantes. Tanto que, no ano passado, a Petrobras foi uma das empresas que mais distribui dividendos no mundo, graças ao lucro que obteve neste contexto.

Quando você indica um presidente que já fez declarações questionando esse modelo de precificação, dizendo que quem define a política de preços os combustíveis não é empresa, mas sim o governo, isso traz um certo receio, uma desconfiança para o mercado.

Agora ele passa a também indicar os novos conselheiros e da diretoria. A composição desse grupo vai ditar um pouco melhor qual será de fato a política de preços a ser praticada pela Petrobras sob essa nova gestão. E aí, dependendo do que for definido e orientado, isso vai mexer com o mercado e refletir na percepção de valor sobre os papéis da empresa.”

Fábio Sobreira, analista chefe e sócio da Harami Research

“O mercado vive de expectativa e está esperando que ele de fato continue com a política de paridade de preços internacional e não use a Petrobras de forma política como já foi feito em outros governos, especialmente do PT. Há alguns dias, o mercado tem entendido que, apesar de ser uma indicação política, o nome de Prates também está dentro daquilo que o mercado espera. Por enquanto é acreditar em palavras, o governo tem jogado algumas ideias no ar para ver o que o mercado fala.

Se o mercado enxergar que o Prates vai deixar a coisa correr livre e não vai atrapalhar o preço de forma intervencionista, vai continuar subindo. E eu acho que é nisso que o mercado está apostando. Não está me parecendo que haja mais um descontentamento tão grande assim. Apesar disso, nós não recomendamos as ações da Petrobras justamente por conta da chance de interferência política, preferimos outros nomes do setor.”

Felipe Cima, operador de renda variável da Manchester Investimentos

“A chegada do novo CEO levanta basicamente três pontos e uma cereja do bolo. Se a política de paridade de preços internacional será mantida, como será a continuidade do pagamento de dividendos, e qual será a política de investimentos.

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E, por fim, a cereja do bolo é a lei das estatais, se haverá alguma mudança. A Petrobras hoje é uma empresa em que tudo pode acontecer, inclusive nada. Porque um diretor que cria prejuízo para a empresa pode responder com seu patrimônio pessoal.”

Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos

“Entendo que a postura do mercado não mudou muito desde que foi Prates cotado. Pelo que estamos vendo nesse começo do governo, a palavra final é de Lula, que vem tendo um papel de protagonista e centralizador bem mais do que em outros momentos. Na Petrobras não vai ser muito diferente. Lula já disse que quer parar com todo o processo de privatização, o Jean Paul Prates também já falou sobre isso.

De 2016, com o Temer em diante, a companhia focou mais no seu negócio principal, mas agora deve acontecer uma reversão. O temor claro é voltar a insistir na indústria naval e que ela segure artificialmente o preço do petróleo. Existem alternativas positivas para isso, como criar um plano de estabilização com parâmetros bem definidos. O que seria muito ruim para a empresa é subsidiar o preço do combustível comprometendo o resultado, ou investindo em uma indústria em que não é eficiente para gerar emprego; esse tipo de feito acho que é bem negativo para a companhia.

Por isso não temos recomendação para a Petrobras, mesmo com os desempenhos recentes.”

Paula Bento, sócia da HCI Invest

“Acredito que o mercado recebeu de certo modo em tom positivo a nomeação, uma impressão que deve se manter pelo menos em um primeiro momento. Prates  declarou que o Brasil não será descolado do exterior em relação aos preços, o que de certo modo acalmou o mercado, além de reforçar que não deverá intervir diretamente nessa questão, mantendo a referência internacional.

Nesse caso, a declaração trouxe melhorias no preço dos papéis e confiamos inicialmente nessa continuidade. Além disso, ele ainda deu algumas ideias que podem ser discutidas e avaliadas junto a ANP – órgão regulador – mas que a empresa irá trabalhar de acordo com contextos apresentados, reforçando que o Brasil deve seguir visando a concorrência mundial. De qualquer forma, ele busca alternativas a serem estudadas.”

Ricardo Brasil, fundador da Gava Investimentos

“Eu o conheço e ele sempre foi uma referência no mercado de petróleo e gás. É um profissional extremamente qualificado para assumir a Petrobras. Não é só uma indicação política, ele entende e é referência no assunto; e nisso o mercado se sente confortável.

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No passado, ele foi um dos apoiadores da quebra do monopólio da Petrobras, na época do FHC. Antigamente, ele era extremamente pró-mercado. De lá para cá, começou a vestir a camisa do PT. E foi isso que assustou o mercado, que queria saber quem é o Jean Paul de hoje em dia, já que o PT o tempo todo fala sobre não seguir os preços internacionais dos combustíveis.

O mercado ficou preocupado com as declarações do partido, mas por agora o Jean Paul tem sido claro ao negar veemente que não vai ter intervenção nos preços dos combustíveis. Apesar disso, há uma outra fala dele um pouco dúbia em que ele diz que os dividendos gigantescos da Petrobras vão acabar. E essa é a parte que o mercado não engoliu ainda muito bem.”

Ricardo Carneiro, especialista em commodities da WIT Invest

“Continuamos com uma visão negativa para a entrada de Jean Paul Prates na presidência da Petrobras. Apesar de ter melhorado um pouco o seu discurso estadista e até tenha ventilado a criação de um Fundo de Estabilização para o preço dos combustíveis (o que é muito positivo), não acreditamos que esse discurso se mantenha no decorrer do tempo.

A tranquilidade da questão dos combustíveis está mais relacionada com a queda do dólar e um barril de Brent estável do que, efetivamente, com a boa vontade e visão liberal do futuro presidente da companhia.

Em relação à venda de refinarias, o discurso permanece igual. Mesmo com a recente alta da Petrobras, na esteira da expectativa de retomada da economia China e diminuição de ruídos sobre controle de preços de combustíveis, ainda reiteramos nossa visão pessimista.”

Tales Barros, especialista de Renda Variável e sócio da Acqua Vero Investimentos

“O mercado, por trabalhar com expectativa, em certa medida já havia precificado essa movimentação que enfim parece se concretizar. A maior incerteza se dará na medida em que os reflexos de suas decisões poderão ser sentidos na prática.

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Na teoria já se sabe que a empresa poderá vir a sofrer maiores interferências do Estado, como observado no passado quando o governo atual estava no poder anteriormente. Um forte indício está na fala de Prates em dezembro em reunião com Lula: ‘Política de combustíveis é um assunto de governo. Não quer dizer que ele seja intervencionista’.”

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