- Segundo especialistas, o atual patamar do barril, de US$ 85,00, ainda é benéfico para o setor
- No ano passado, as petrolíferas subiram em média 46,30%, enquanto nesse ano, a alta é de 7,90%
- Setor corresponde a 13,94% do Ibovespa
O preço do petróleo do tipo brent (petróleo cru) desvalorizou 33,47% desde que bateu seu pico, em 8 de março de 2022, até o pregão desta quinta-feira (16). Esse movimento pode assustar os investidores, já que, em teoria, a queda no preço da commodity prejudica o caixa e os dividendos das companhias petrolíferas – que correspondem a 13,94% da carteira de papéis do Ibovespa. Porém, segundo especialistas, o atual patamar do barril, de US$ 85,14, ainda é vantajoso para o setor.
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Especialistas do mercado financeiro consultados pelo E-Investidor não acreditam que este seja o momento para desmontar posição. Pelo contrário, os ativos estão interessantes, inclusive, por conta do preço da commodity. Vitor Souza, analista da Genial Investimentos, explica que a correção no valor do barril do brent já era algo esperado pelo mercado e o nível atual pode ser visto como atrativo “porque as companhias conseguem operar normalmente”.
Segundo o especialista, os dados operacionais da Petrobras (PETR3/PETR4) apontam que se o petróleo ainda cair 30%, ou até os US$ 60, a petroleira consegue seguir com suas operações sem problemas. O mesmo serve para outras companhias do setor: 3R Petroleum (RRRP3); Enauta (ENAT3); Prio (PRIO3); e PetroRecôncavo (RECV3).
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Mas a boa notícia é que, segundo Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, o barril do brent não cairá mais dada às políticas de expansão da China. “Se o Partido Comunista chinês seguir a expectativa do mercado de ter um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na faixa de 5%, podemos ver uma maior demanda de óleo” – a região asiática ocupa o posto de maior consumidora de petróleo do mundo.
E dependendo da conjuntura política e econômica, já que a guerra da Rússia não terminou e as petrolíferas estão em busca de operações mais verdes, há chances de uma alta no preço da commodity nos próximos meses decorrente da falta de oferta no mercado, acreditam os especialistas. Assim, o analista da Genial indica a Petrobras para investidores que buscam dividendos – a petroleira foi a maior pagadora de proventos em 2022 ao remunerar os acionistas, ao todo, em R$ 12,90 por ação.
Ruy Hungria, analista da Empiricus Research, também espera dividendos relevantes por parte da empresa. “É claro que a queda no preço da commodity desde o ano passado impacta um pouco a receita e a geração de caixa da companhia, que pode trazer uma remuneração menor aos acionistas, mas ainda serão interessantes”. A expectativa dele para os valores desse ano chega em torno de R$ 4,80 por ação.
Quanto as outras empresas do setor, o objetivo do investidor que alocar nas companhias não deve ser dividendos, mas, sim, rentabilidade, afirma o analista da Genial. Isso porque o negócio delas consiste na consolidação de ativos. “Elas compram um campo de extração de petróleo, investem no local para que, no futuro, venda-o por um preço melhor”, explica o especialista. Na prática, não há caixa para remunerar os investidores.
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Mesmo assim, o BTG Pactual tem indicação de compra para as ações da PetroRecôncavo. O banco justifica que a produção de óleo e gás de janeiro já foi 2,6% maior que a média do quarto trimestre de 2022. Além disso, de acordo com ele, o fato da companhia ter registrado o 15.º mês consecutivo de melhora nos resultados é sempre algo a se destacar.
Para os papéis da 3R Petroleum, a indicação do BTG Pactual também é de compra, já que a produção de óleo e gás em janeiro de 2023 ficou 50% acima da produção média em quarto trimestre de 2022. “O bom desempenho acontece principalmente pelo primeiro mês de operação da companhia no campo Papa-Terra”, explica.
Já Victor Martins, analista sênior da Planner Corretora, sugere que os investidores mantenham a Enauta e a Prio na carteira, “dado o histórico de valorização recente”. A primeira companhia apresentou ganhos de 8,80% em 2023, enquanto a segunda subiu 8,90% no mesmo período.
Por que o petróleo caiu?
Na visão do analista sênior da Planner Corretora, o preço do barril recuou porque nos últimos meses a alta inflacionária global obrigou os bancos centrais a subirem as taxas de juros. O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), por exemplo, começou sua trajetória de alta em março de 2022 e hoje está na faixa de 4,50% a 4,75%. O movimento mais hawkish (duro) do BC norte-americano reduziu o poder de compra da população e, consequentemente, diminuiu a demanda pela matéria-prima, que é usada na produção de diversos produtos, como utensílios domésticos e embalagens de alimentos.
O analista da Empiricus Research diz também que o recuo desde o pico faz parte de uma correção do mercado, que já compreendeu os reais impactos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia na economia mundial e na demanda da commodity. “O que está acontecendo é uma normalização do preço com o decorrer do conflito”, afirma.
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O BTG Pactual, por sua vez, publicou um relatório em janeiro deste ano no qual ressalta que, apesar da pandemia do Covid-19 já existir quando a guerra na Europa começou, o impacto do vírus permanece no longo prazo. A eclosão dos casos pelo mundo provocou “um dos maiores choques exógenos no mercado de petróleo da história”, deprimindo a demanda e, consequentemente, o preço da commodity.
Veja o desempenho do barril de brent desde janeiro de 2022:
Relembre o caminho ao pico
Em meados de 20 de fevereiro do ano passado, quando começou o embate no Leste Europeu, houve especulação por parte do mercado sobre a oferta de petróleo no mundo. Isso porque os russos são o terceiro maior produtor global da commodity – sua produção chega a 11,3 milhões de barris por dia, principalmente do leste da Sibéria, da região de Yamal e do Tartaristão.
A expectativa era de que a produção russa diminuísse pelo foco do país no conflito e não na produção do óleo e pelas sanções impostas por nações europeias e Estados Unidos contra a Rússia que prejudicariam a quantidade de petróleo disponível no mercado.
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As dúvidas sobre o futuro da commodity fez o petróleo brent chegar na casa dos US$ 127,98 em março do ano passado, “já que diversas empresas fecharam contratos com valores mais caros, por pura especulação”, diz o analista da Genial Investimentos.
No mesmo mês, o retorno médio das companhias que pertencem ao setor foi de 10,55%, apontou um levantamento realizado pelo Economatica. No ano passado, as empresas também subiram em média 46,30%, enquanto nesse ano, a alta é de 7,90%.
Veja o desempenho dos papéis desde janeiro de 2022 até hoje:
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