- As principais bolsas de valores nos Estados Unidos estão em alta em 2023
- Impulsionadas por uma combinação de fatores, muitas ações viram seus valuations serem elevados ao longo do ano; muitas vezes, até com certo exagero
- Agora que os preços subiram, especialistas acreditam que a janela de investimento nesses ativos pode ter se fechado, ao menos por hora
A Bolsa brasileira engatou nos últimos meses um rali de valorização que há muito tempo não se via. Antes deste início de mês negativo em agosto, o Ibovespa chegou a subir 25% em quatro meses – mas este não está nem perto de ser o verdadeiro “bull market” (momento de altas) do ano. São as bolsas dos Estados Unidos quem têm chamado a atenção pelas valorizações em 2023.
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Por lá, o S&P 500 sobe 15,58% no ano, mesmo após as quedas desses primeiros 15 dias de agosto. Já o Nasdaq, depois de um primeiro semestre histórico, acumula uma alta de 30,24%.
Os ganhos no mercado americano se devem a uma somatória de fatores. No início do ano, os temores com a trajetória do aperto monetário e a possibilidade de recessão na maior economia do mundo fez investidores reduzirem suas posições na Bolsa depois de um 2022 que já tinha sido negativo para as ações americanas.
O cenário, agora, já é diferente – e mais positivo. Ainda que não se saiba até onde o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) precisará elevar a taxa de juros do país para conter a inflação, ao menos a possibilidade de recessão parece descartada.
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“A recessão estava quase que dada, mas ela não veio. À medida que a economia americana se mostrou mais resiliente do que se imaginava, o mercado foi ajustando o preço dos ativos a esse novo cenário”, explica William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue.
Tecnologia
Mas há ainda um outro fator impulsionando as ações das grandes empresas americanas, sobretudo as de tecnologia: a inteligência artificial (IA). Como contamos nesta outra reportagem, apoiada no desempenho das big techs, o Nasdaq teve seu melhor primeiro semestre do ano desde 1983.
Com o rali de valorização, a Apple se tornou a primeira companhia do mundo a bater os US$ 3 trilhões em valor de mercado.
O contraponto de todo esse contexto, no entanto, é que, para os investidores, as ações americanas ficaram caras. “Os múltiplos subiram, mas as altas não foram acompanhadas de uma revisão de lucros na mesma magnitude, o que acabou deixando as ações americanas caras”, avalia Paulo Gitz, estrategista global da XP.
Além da avaliação de que o preço está muito elevado, uma visão comum entre muitos especialistas é que a janela de entrada nesse mercado pode ter se fechado. Ao menos, por hora.
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“Depois dessas altas, as ações de muitas empresas ficaram ‘price to perfection’, ou seja, elas têm que entregar bons resultados e o crescimento esperado pelo mercado para justificar aquilo que já está no preço. O que é sempre arriscado, já que tem bem menos prêmio para quem toma o risco”, explica Castro Alves, da Avenue.
Na visão do especialista, as valorizações levaram a valuations (estimativas do valor de ativos) até exagerados. Não é que não sejam boas empresas para se investir, mas, sim, preços muito altos para fazer tal investimento. “Não é momento de entrar. A bolsa nunca sobe em linha reta, volta e meia há solavancos que permitem que o investidor monte posições”, afirma.
Ainda há oportunidades
Ainda que as ações americanas estejam “caras” e este não seja o melhor momento para entrar de cabeça nas bolsas dos EUA, especialistas destacam que a diversificação internacional continua fazendo sentido. João Victor Patrocínio, especialista internacional e sócio da BLUE3 Investimentos, explica que dá para encontrar boas opções, desde que analisando com cuidado.
“Muitos fatores levam a uma boa escolha de uma carteira de ações, como os indicadores tradicionais presentes nas análises fundamentalistas, a exemplo de ROE, P/VPA, Ebitda, dividend yield”, diz Patrocínio, a respeito de, respectivamente, retorno sobre o patrimônio; preço sobre o valor patrimonial por ação; lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização; e rendimento dos dividendos. “Saber também sobre o setor que está investindo é essencial para poder ter uma boa tomada de decisão em qualquer mercado de ações”, afirma.
Para quem não tem nenhuma posição no exterior e quer iniciar os aportes, o caminho pode ser buscar por aquelas empresas ou setores que não tenham se valorizado tanto em 2023.
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“O setor de petróleo praticamente não teve grandes altas esse ano, o setor financeiro também teve uma performance mais baixa, assim como empresas de saúde e de dividendos. Seriam alternativas, a meu ver, mais interessantes em termos de preço”, aponta Castro Alves, da Avenue.
Mas os investidores brasileiros não precisam focar apenas na renda variável internacional. Na visão da XP, é a renda fixa americana quem oferece as melhores oportunidades do momento. Recentemente a corretora passou a incluir os títulos do tesouro dos EUA, os Treasuries, até entre as recomendações para os perfis mais conservadores.
“O Fed colocou as taxas entre 5,25% e 5,5% ao ano e vemos como uma ótima oportunidade para ganhar esses rendimentos em um ativo considerado um dos mais seguros do mundo”, diz Paulo Gitz. “São juros altos para o padrão histórico.”