- Depois de pouco mais de 1 ano e dois meses no cargo, Octavio Cortes Pereira Lopes deve deixar a cadeira de CEO da Light (LIGT3)
- A saída do executivo passou a ser esperada desde que o investidor Nelson Tanure, crítico ao processo de recuperação judicial da Light, assumiu a posição de acionista de referência da empresa em junho
- “O atual CEO (Octavio Lopes) foi quem tomou essa decisão de entrar com o pedido de recuperação judicial. Só que essa decisão não bate com o rumo que a empresa está tomando hoje", afirma Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed
Depois de pouco mais de um ano e dois meses no cargo, Octavio Cortes Pereira Lopes deve deixar a cadeira de CEO da Light (LIGT3) – empresa de energia que está em recuperação judicial desde maio deste ano.
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De acordo com o fato relevante divulgado pela companhia na última terça-feira (17), Lopes deve deixar suas funções assim que a reestruturação financeira em curso for finalizada ou em 31 de dezembro deste ano, o que vier primeiro. Alexandre Nogueira Ferreira, atual diretor de regulação e relações institucionais da companhia, deve substituí-lo.
A saída do executivo passou a ser esperada desde que o investidor Nelson Tanure, crítico ao processo de recuperação judicial da Light, assumiu a posição de acionista de referência da empresa em meados de junho. Atualmente, Tanure tem 30% do capital social, além de ser parte do novo Conselho de Administração, cujos membros foram eleitos há apenas três meses.
“O atual CEO (Octavio Lopes) foi quem tomou essa decisão de entrar com o pedido de recuperação judicial (RJ). Só que essa decisão não bate com o rumo que a empresa está tomando hoje, após a chegada do novo acionista e troca do Conselho”, afirma Leonardo Piovesan, CNPI e analista fundamentalista da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores.
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Em setembro, por exemplo, por decisão dos conselheiros, a Light aprovou uma nova estratégia de reestruturação para as dívidas que chegam a R$ 11 bilhões. Esse novo plano possui várias etapas, mas envolve acelerar o acordo com principais credores e, em caso de sucesso nessas negociações, encerrar o processo de RJ. Ou seja, um caminho diferente ao desenhado na gestão Lopes.
Uma parcela dos credores da Light também é crítica ao processo de recuperação judicial, considerado “ilegal” por eles. Isto porque, por lei, concessionárias de energia não poderiam recorrer ao artifício.
No final, a chegada de Ferreira é considerada positiva. “Agora a Light terá alguém alinhado com o que os acionistas têm como estratégia para a companhia daqui para frente”, diz Piovesan.
O fato de o novo CEO ter experiência no setor elétrico, principalmente em órgãos do governo, como a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e o Ministério de Minas e Energia, também é encarado com otimismo. Isto porque a empresa de energia busca, em negociações com a ANEEL, a renovação da concessão de energia no Rio de Janeiro.
O contrato acaba em junho de 2026, mas por conta da situação financeira delicada da companhia, há a preocupação em relação a uma eventual não renovação. “O novo colocado no cargo é um cara que tem uma experiência muito grande no setor regulatório, que hoje é o maior problema da Light”, afirma Phil Soares, chefe de análise de ações da Órama. “Mas como era algo esperado, não vejo um impacto muito forte nas ações no curto prazo.”
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No final, a principal dúvida em relação a essa dança das cadeiras na Light é qual será o nível de influência de Ferreira nas decisões. Fontes de mercado afirmaram ao E-Investidor que o principal protagonista da reestruturação continuará sendo o Conselho, centralizado na figura lida como “dúbia” de Tanure.
Perspectivas e recomendações
As ações da Light estão em alta de 11,23% no acumulado de 2023 e de quase 140% nos últimos seis meses. A maior parte desse valorização, entretanto, acontece na esteira das compras feitas por Tanure para montar posição na empresa de energia e especulação em torno da reestruturação financeira.
Piovesan, da Quantzed, não tem recomendação para os papéis e ainda vê um caminho difícil e ainda pouco claro pela frente. Para ele, a Light só vai conseguir se reestruturar se conseguir alguma ajuda regulatória, por parte da ANEEL, no que tange à regulação das tarifas.
A companhia busca a possibilidade de aumentar a tarifa cobrada no Rio de Janeiro, para viabilizar a operação, pouco lucrativa por uma série de questões, como furtos de energia. “A empresa vem brigando para ter uma regulação diferenciada para a concessão dela versus as demais concessões do país. Sem isso, acho difícil acontecer uma grande virada”, diz Piovesan.
Já Soares, chefe de análise de ações da Órama, acredita que Light e ANEEL conseguirão chegar a um acordo e que a concessão do Rio de Janeiro será renovada para a empresa. Entretanto, não recomenda a entrada nos papéis por falta de visibilidade dos eventos futuros.
“Não estamos com perspectiva de entrada no papel. Ainda vemos uma incerteza grande em relação ao benefício econômico para o acionista. O preço do papel está muito baixo, mas acreditamos que o risco não compensa”, afirma Soares.
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Na última terça (17), as ações LIGT3 fecharam o pregão em baixa de 2,11%, aos R$ 5,11.