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Por que 2023 foi o ano “para se esquecer” do varejo na Bolsa

Juros e inflação pressionaram varejistas, em um ano marcado por problemas contábeis, RJs e números fracos

Por que 2023 foi o ano “para se esquecer” do varejo na Bolsa
Americanas é a protagonista do maior escândalo do varejo no ano. Foto: Ueslei Marcelino/Reuters
  • Entre inconsistências contábeis, pedidos de recuperação judicial e números fracos, o setor de varejo teve um desempenho ruim na Bolsa de Valores em 2023
  • No acumulado de janeiro até aqui, as empresas varejistas praticamente dominam a lista de maiores desvalorizações do Ibovespa
  • Especialistas explicam o que aconteceu no lado macroeconômico; no micro, alguns eventos específicos também marcaram o ano

O ano de 2023 está chegando ao fim e alguns investidores já devem estar comemorando o encerramento de um período cheio de reviravoltas na Bolsa, especialmente aqueles com ações do varejo na carteira. Entre inconsistências contábeis, pedidos de recuperação judicial e números fracos, o setor teve um desempenho ruim. No acumulado de janeiro até aqui, as empresas varejistas praticamente dominam a lista de maiores desvalorizações do Ibovespa.

Um levantamento feito pela Quantum Finance mostra que, das 12 principais empresas de varejo listadas na Bolsa brasileira, apenas uma ação não tem um acumulado negativo em 2023. Em termos comparativos, o Ibovespa subiu 14,58% no mesmo período.

O E-Investidor conversou com analistas para entender quais fatores pressionaram o varejo em 2023, tentando separar o que está ligado ao cenário macro, daquilo que é “culpa” do micro. Por isso, é preciso relembrar alguns casos emblemáticos de problemas enfrentados pelas varejistas no ano:

  • A fraude contábil na Americanas (AMER3)

A Americanas talvez seja a protagonista do maior problema entre as varejistas em 2023, uma novela que começou logo no início do ano. No dia 11 de janeiro, a companhia reportou, por meio de um fato relevante, que havia encontrado “inconsistências contábeis” em seu balanço na ordem de R$ 20 bilhões. Logo depois, a varejista foi à Justiça solicitar uma recuperação judicial, alegando dívidas totais perto de R$ 42,5 bilhões.

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Leia também: Caso Americanas: as histórias por trás dos números

Muitos investidores tiveram prejuízo, as ações dissolveram – somente no dia seguinte ao fato relevante que iniciou o caso, a AMER3 cedeu 77,3% – e até hoje a companhia ainda tenta um acordo na Justiça com seus credores para dar início ao seu processo de RJ.

  • Os pedidos de falência da Marisa (AMAR3)

Quando as notícias relacionadas ao escândalo na Americanas começaram a amenizar, foi a vez da Marisa entrar em crise. Em maio, credores da companhia entraram na Justiça para pedir a falência da varejista, que acumulava dívidas na casa de R$ 600 mil.

Ao longo do ano, a Marisa fechou ao menos 91 unidades no País, em um processo de recuperação e reestruturação extrajudicial.

  • O follow on mal sucedido da Casas Bahia (BHIA3)

A antiga Via Varejo (VIIA3) também está passando por uma reestruturação. Em setembro, a companhia mudou seu nome e seu ticker para Casas Bahia (BHIA3) e preparou uma operação de follow on para captar R$ 1 bilhão e melhorar sua estrutura de capital. Só que o resultado acabou muito aquém do estimado, totalizando uma emissão de R$ 622,9 milhões em ações. No dia seguinte, a BHIA3 cedeu quase 19% na Bolsa, passando a valer menos de R$ 1.

Leia mais: Novo nome, novo preço: por que a ex-Via (VIIA3) virou uma penny stock

Com um alto endividamento, uma série de prejuízos trimestrais, margens pressionadas por um ambiente de concorrência e um cenário macroeconômico de juros altos, a Casas Bahia perdeu a confiança do mercado.

  • As inconsistências na Magazine Luiza (MGLU3)

No início do ano, a Magazine Luiza era tida por investidores como a companhia que iria captar o espaço deixado no mercado pelos problemas na Americanas. Essa expectativa fez a MGLU3 ter o 4º melhor desempenho de sua história na Bolsa em janeiro, com um salto de 61,88%. Mas, ao longo do ano, a companhia não conseguiu segurar o otimismo.

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As ações foram pressionadas pelo avanço da curva de juros futura, devolvendo todos os ganhos de janeiro. Mais recentemente, ao divulgar seu balanço do 3º trimestre de 2023, a companhia reportou que identificou incorreções contábeis referentes ao reconhecimento de bônus, relacionados às metas de desempenho dos fornecedores. Isso levou a um ajuste no patrimônio líquido da companhia de R$ 829,5 milhões para R$ 322,1 milhões – mais um fator para aumentar a percepção de risco em relação à companhia, segundo analistas.

Macro vs Micro

Analistas explicam que o cenário macroeconômico ajudou a tornar o ano desafiador para o setor de varejo de forma geral. A taxa básica de juros brasileira ficou estacionada no pico de 13,75% ao ano por oito meses de 2023, enquanto a inflação, ainda que tenha arrefecido ao longo do ano, também não estava controlada nos primeiros meses.

“Isso acabou por retrair o volume de vendas, seja pelo consumir estar com menos dinheiro disponível, reflexo da inflação, seja pelo encarecimento do crédito. O resultado de tudo isso foi uma brusca queda das ações e uma forte deterioração dos resultados”, explica José Eduardo Daronco, analista da Suno Research.

Em um contexto macro já mais desafiador, os números apresentados pelas companhias também não ajudaram. Boa parte dos resultados trimestrais das principais varejistas foram lidos pelo mercado como negativos, abaixo das projeções de algumas casas de investimento.

“Americanas, por exemplo, mostrou irregularidade em seus resultados. Magazine Luiza que também revelou possíveis inconsistências em seu balanço do terceiro trimestre de 2023. Casas Bahia, antiga Via e agora BHIA3, mudou seu ticket, mas não mudou seus números fracos no ano”, destaca Alex Carvalho, analista CNPI da CM Capital.

E é aí que entra a análise microeconômica. Algumas empresas foram mais afetadas pela alta da taxa de juros do que outras, mesmo sob o mesmo contexto macroeconômico. Aquelas que estavam mais alavancadas, com mais dívidas e margens pressionadas, acabaram tendo um desempenho pior.

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É o que Vitorio Galindo, analista de investimentos CNPI e head de análise fundamentalista da Quantzed, chama de “decisões equivocadas”.

“Muita empresa tomou decisões erradas, se alavancou demais, queimou muita margem, algumas até compraram estoque demais e, para liquidar isso, tiveram grandes prejuízos”, pontua. Por isso, é preciso olhar caso a caso. “Quem estava com a estrutura de capital correta, não estava muito alavancado ou até tinha caixa líquido, fez boas decisões de alocação de capital nos anos anteriores quando os juros estavam baixos e, portanto, continuou com um bom resultado. Agora, as que erraram estão pagando pelos erros.”

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