- Donald Trump segue em tratamento contra covid-19, com quadro de saúde e previsão de alta incertos
- No Brasil, mercado assiste aos desdobramentos do novo embate entre Paulo Guedes e Rogério Marinho
- Políticos articulam encontro entre Paulo Guedes e Rodrigo Maia para acalmar ânimos e indicar ao mercado que financiamento do Renda Cidadã não irá comprometer o teto de gastos
Donald Trump, Paulo Guedes e Jair Bolsonaro serão três personagens da política a influenciar diretamente a semana de quem investe na Bolsa brasileira. Donald Trump, por estar em meio a um tratamento de covid-19. Paulo Guedes, por estar (novamente) em briga aberta com um personagem do governo (Rogério Marinho) e outro do Congresso (Rodrigo Maia). Jair Bolsonaro pela forma como irá lidar com o confronto dentro de seu governo, no momento em que parte da sua base de apoio o critica pela escolha de Kássio Nunes para o Supremo.
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A hospitalização de Trump na sexta-feira (2) acentuou a tensão que a política americana já vinha trazendo aos mercados. A maior economia do mundo teve, na terça-feira passada, o primeiro debate eleitoral entre Trump e Joe Biden, que disputarão a Casa Branca em 3 de novembro. No Congresso, republicanos e democratas duelavam em torno da indicação de Amy Barrett à Suprema Corte e ao anúncio de um novo pacote de estímulo fiscal para combater os efeitos econômicos da pandemia.
“A notícia é uma bomba. O presidente é grupo de risco”, resumiu, na sexta-feira, Pablo Spyer, diretor estatutário da Mirae Asset.
Quando Donald Trump deixará o hospital?
O médico da Casa Branca, Sean Conley, afirmou que Trump deve deixar o hospital nesta segunda-feira (5). O tratamento a que Trump tem sido submetido, porém, indica que o estado de saúde do presidente é mais delicado que o propagado pelo governo americano. Com isso, traders do mundo todo devem ficar com os olhos atentos a cada boletim médico do presidente dos Estados Unidos até que ele seja declarado curado da covid-19.
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A incerteza se estende a senadores republicanos que estiveram com Trump nos últimos dias e foram submetidos a teste de coronavírus. Cada resultado positivo tende a desacelerar a discussão sobre novos estímulos fiscais, apesar do otimismo vendido pela presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi.
“Quero ver se chegaremos a um acordo sobre o que precisamos fazer para acabar com o vírus”, afirmou em entrevista à rede de TV CBS, com aceno especial às companhias aéreas, que podem ser beneficiadas com um estímulo retroativo. “O que eu disse a executivos das companhias aéreas em um comunicado público foi: não demitam pessoas”, reforçou.
O anúncio de novos pacotes de estímulo e de avanços no desenvolvimento da vacina contra o coronavírus são fatores determinantes para acalmar os mercados.
“Se os governos começarem a anunciar novos pacotes de estímulo para revigorar o ímpeto econômico ou se forem entregues notícias esperançosas sobre a vacina que todos estamos esperando, a perspectiva para o apetite pelo risco torna-se cautelosamente otimista”, disse à Bloomberg Jameel Ahmad, diretor de estratégia de investimento do Naga Group AG, em Londres.
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A cautela mesmo no otimismo se deve, especialmente, a Trump. Não apenas pelo estado de saúde do presidente dos Estados Unidos, mas dos efeitos ainda incertos da doença na disputa eleitoral.
“Chegamos à terra de ninguém. Até que alguém tome posse em 20 de janeiro, haverá muita incerteza e volatilidade nos mercados financeiros”, escreveu Andreas Rees, economista do UniCredit Bank, segundo a Bloomberg.
Ao menos os primeiros sinais do mercado após o fim de semana de Trump com covid-19 foram positivos. O índice futuro do S&P 500 estava estável no início da noite deste domingo.
Paulo Guedes x Rogério Marinho, uma briga por causa do Renda Cidadã
Além da volatilidade global acentuada pela doença de Trump, o Ibovespa estará, novamente, sob os efeitos da turbulência política interna. O ministro da Economia, Paulo Guedes, abre a semana com dois conflitos a resolver: um dentro de casa, com o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho; o outro atravessando a rua, com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
A guerra entre os ministros esquentou na sexta-feira. Segundo revelou o Estadão/ Broadcast, Marinho criticou Guedes em teleconferência com agentes do mercado financeiro. O titular do Desenvolvimento Regional disse que o Renda Cidadã sai por bem ou por mal, nem que isso custe a flexibilização do teto de gastos.
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Guedes respondeu Marinho em duas etapas. Primeiro, disse que se Marinho falou mal dele, é “despreparado, desleal e fura-teto”. Depois, em pronunciamento, acabou atirando, indiretamente, em Jair Bolsonaro, cuja popularidade cresceu às custas do auxílio emergencial.
“Se a doença vier, nós furamos o teto de novo. Agora, você furar teto para fazer política, para ganhar eleição, isso é irresponsável com as futuras gerações”, afirmou.
Ao longo do fim de semana, o movimento nos bastidores foi para tentar acalmar a situação entre Guedes e Marinho, a tempo de passar uma mensagem positiva para o mercado e os investidores.
“Chegou a hora da política econômica voltar a se sobrepor à economia política e tanto Guedes quanto Marinho são cruciais para esse reposicionamento estratégico”, disse ao Estadão o ex-secretário adjunto de Política Econômica e atual diretor de Estratégias Públicas do Grupo MAG, Arnaldo Lima. Para ele, o ideal é que Guedes e Marinho possam convergir na agenda de reformas, o que traria mais calma para o mercado financeiro.
Paulo Guedes x Rodrigo Maia: articulação para tranquilizar o mercado
Também com objetivo de acalmar o mercado, políticos articulam uma reaproximação entre Paulo Guedes e Rodrigo Maia. Guedes acusou Maia de ter feito um acordo com a esquerda para travar propostas de privatizações do governo. O presidente da Câmara rebateu dizendo que o ministro estava “desequilibrado”.
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Está sendo amarrado um encontro entre os dois para esta segunda-feira (5), para acalmar os ânimos e costurar uma solução para o impasse em torno das medidas econômicas e da adoção do Renda Cidadã sem a piora das contas públicas.
Na semana passada, o Ibovespa recuou 3,08%, pressionado pelo temor do mercado financeiro de descontrole nos gastos fiscais para acomodar o Renda Cidadã.
“A responsabilidade fiscal é um avanço civilizatório irrenunciável. Governo e Congresso certamente terão capacidade de encontrar a fórmula justa e adequada. Desenvolvimento e redução de desigualdades pressupõe ambiente estável e confiança nos fundamentos de nossa economia”, escreveu hoje nas redes sociais o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, que pode ser o anfitrião do encontro de Maia e Guedes.
Como bolsonaro vai se posicionar na briga Guedes x Marinho
Outro fator a afetar o mercado é a forma como o presidente Jair Bolsonaro irá reagir à crise entre seus ministros. Ao contrário do que costuma fazer, Bolsonaro não comentou nas redes sociais ao longo do fim de semana o entrevero entre Guedes e Marinho.
Chamou, sim, Guedes para um churrasco, mas não se posicionou, segundo apurado pelo Estadão. Marinho também foi chamado para o churrasco, porém ficou em São Paulo.
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Bolsonaro foi às redes sociais apenas para defender seu indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF), Kassio Nunes, de que ele teria, como ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), votado para manter no Brasil, o terrorista Cesare Battisti, extraditado para cumprir prisão na Itália no começo de 2019.
O presidente está sob forte crítica mesmo de apoiadores fiéis pela indicação de Nunes, nome ligado ao centrão. Também por uma foto em que ele abraça carinhosamente o ex-presidente do STF, Dias Toffoli. Kassio Nunes e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, também estavam no encontro.
Se é criticada até entre bolsonaristas ferrenhos, a indicação de um nome do agrado do centrão para o Supremo tende a solidificar uma base de apoio a Bolsonaro no Congresso. Essa base é crucial para a aprovação dos projetos do governo. Para o mercado – e os investimentos -, contudo, é crucial saber se estes projetos são as esperadas reformas administrativa e tributária ou se iniciativas que ameacem o teto de gastos e o compromisso com a responsabilidades fiscal do governo.