A mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) – que ocorreu nessa quarta-feira (20), a Super Quarta – definiu o esperado corte de 0,5 ponto porcentual na Selic. Agora, com a taxa básica de juros a 10,75% ao ano, a expectativa geral do mercado é de que após a próxima reunião em maio, que deve definir mais uma redução na mesma magnitude, o ritmo pode ser diminuído pelo Banco Central (BC).
Leia também
O comunicado ressalta a volatilidade do ambiente externo e que o cenário segue exigindo cautela por parte dos países emergentes na condução da política monetária. Os fatores de risco consistem na maior persistência das pressões inflacionárias globais e numa desaceleração da atividade global mais acentuada do que a projetada anteriormente.
Com isso, o Banco Central (BC) decidiu persistir por uma ótica contracionista tendo em vista a lentidão do processo de desinflação atual. As projeções de inflação do Copom situam-se em 3,4% em 2024 e 3,2% em 2025. No geral, os analistas enxergam que o BC vai continuar fazendo cortes de juros nas próximas reuniões, mas há uma demanda por flexibilidade na magnitude dos cortes, que podem ser reduzidos.
Diante dessa decisão, 7 analistas de diferentes corretoras foram consultados pelo E-Investidor, a fim de compreender uma percepção mais apurada do cenário e alinhar expectativas para o futuro. E boa parte dos comentários citam a mudança de uma expressão no plural, vinda de comunicados anteriores, para o singular, na justificativa do Copom na noite desta quarta-feira, após anúncio da nova taxa de juros.
Ágora Investimentos
De acordo com a economista e analista da Ágora Investimentos, Maria Clara Negrão, a principal modificação foi a do forward guidance, que é a sinalização do que o mercado deve esperar da política de juros futura. “Até então, o BC vinha indicando cortes de juros de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões, e agora retirou esse plural”, afirma a analista.
Publicidade
As diferenças apontadas em relação a reunião de janeiro foram as surpresas na seção de atividade econômica e a ausência de trégua por parte da inflação. Isso justifica a necessidade retirar a obrigação de futuros cortes de 0,5 ponto porcentual.
Para a Ágora Investimentos, não há alterações em suas expectativas. O Banco Central deve continuar fazendo cortes nas próximas reuniões. A previsão terminal da taxa Selic no final de 2024 é de 9,5% ao ano, com uma probabilidade de redução de cortes em 0,25% após o aproximo ciclo.
BTG Pactual
O economista e estrategista-macro do BTG Pactual, Álvaro Frasson, afirma que o BC deve ter mais flexibilização para definir os cortes a partir de maio, por conta do tom mais “hawkish” (mais “duro”, que aponta para elevação de juros) nesse comunicado e o uso do singular na referência a redução da taxa. “Outro ponto importante é que a retirada do plural do forward guidance foi uma decisão unânime”, afirma o economista. “Existe ali uma divergência entre Diogo Guillen e Gabriel Galípolo e isso não foi ao menos explicitado na decisão desta quarta-feira. Isso foi um ponto bastante positivo.”
A inclusão da conjuntura doméstica no balanço de riscos com o mesmo peso da internacional foi uma questão que chamou a atenção. Ambas são vistas como incertas e isso seria um motivo de preocupação. Com a melhora da arrecadação, Frasson acredita que poderia ter sido feito algum aceno para o afrouxamento. Porém, acertadamente, na opinião do analista, não ocorreu.
Itaú BBA
Para o superintendente de pesquisa econômica do Itaú BBA, Fernando Gonçalves, a retirada do chamado “plural” foi uma decisão acertada. A expectativa era de que seriam mantidas as reuniões para corte de 0,5%. “Com a alta da inflação subjacente, o Comitê enxerga incerteza não apenas no cenário global, mas também doméstico”, afirma o analista. “Se o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) deve realizar um corte de juros mais gradual, o BC brasileiro está procurando responder na mesma medida.”
No entanto, não há a expectativa de redução no ritmo de queda. De acordo com Gonçalves, o Banco Central apenas quis dar mais flexibilidade a si mesmo e não deve reduzir o corte para 0,25%, por exemplo.
Kinea Investimentos
O gestor de renda fixa da Kinea Investimentos, Denis Ferrari, avalia que o mercado estava dividido em relação a manutenção do “plural” do comunicado, ou seja, se ainda seria mantido o ritmo de corte nos próximos meses. Dessa forma, agora há a expectativa de uma diminuição futuramente.
Ferrari afirma ainda que o balanço de riscos as projeções ficaram mais “hawkish”, ou seja, inalterados. No entanto, a parcela de preços administrados livres cedeu, com uma alta para 2025, sendo assim, a única parte mais dovy (referência à baixa de juros para estimular a economia) do comunicado.
Suno Research
Em comentário mais aprofundado sobre investimentos, a Suno Research observa que o impacto dessa decisão do Copom para os ativos de renda fixa brasileiros é de que o patamar atual da taxa Selic ainda proporciona uma boa relação risco e retorno para os pós-fixados, no âmbito de alocação entre os três tipos de remuneração (títulos pós-fixados, prefixados e indexados à inflação).
Publicidade
Apesar do ciclo de queda, existe a compreensão de que os ativos pós-fixados já não sofrem com marcação, praticamente. Além disso, há a percepção de que são positivamente impactados pelo alto nível da taxa básica de juros, que se mantém acima de dois dígitos.
- Queda nos juros exige mudança na carteira de renda fixa. Confira as opções
Já os papéis indexados à inflação (IPCA+), com títulos com vencimentos no médio e longo prazo, ainda proporcionam um carrego interessante aos investidores, com um juro real próximo de, na média, 5,70% ao ano sem risco de crédito, tratando-se de títulos públicos. E para os prefixados, a visão é de que ainda existem boas opções, principalmente de emissão bancária, com duração um pouco mais curta, de, aproximadamente, 3 anos.
UBS – BB
Para a UBS-BB, o comunicado apresentou uma declaração diferente da esperada. Havia a expectativa de que o forward guidance seria mantido nas próximas reuniões. A UBS-BB admite que errou em suas expectativas até o momento, mas que entende o desejo de mais flexibilidade. Dessa forma, eles alteram a sua previsão de um corte de 0,75% em junho para redução de 0,5. No entanto, ainda esperam a taxa de terminal de 8% até a reunião de dezembro.
XP Investimentos
O economista e analista da XP Investimentos, Rodolfo Margato, teve uma leitura mais hawkish do comunicado, ou seja, um tom mais duro em relação à decisão anterior. Para ele, o aumento das incertezas no cenário econômico global e na conjuntura doméstica fez com que o Banco Central demandasse flexibilidade na condução da política monetária. “Com base nisso, não alteramos nosso cenário mais provável que é de taxa Selic à 9% no segundo semestre. Mas, consideramos uma assimetria, um viés de alta”, diz Margato.
Por fim, as projeções de inflação são consideradas uma ressalva. Chamou a atenção as mudanças na expectativa para preços administrados, numa elevação de 4,2% para 4,4% neste ano e de 3,8% para 3,9% em 2025, ou seja, há uma visão otimista para a inflação dos itens livres.