Publicidade

Investimentos

Tesouro IPCA + 6% ou IPCA + 7%? Para onde vão os títulos públicos

Há fatores de risco que podem mudar a direção da rentabilidade do Tesouro Direto; analistas revelam suas apostas

Tesouro IPCA + 6% ou IPCA + 7%? Para onde vão os títulos públicos
Tesouro Direto (Foto: Brenda Blossom - stock.adobe.com)
  • Prorrogação de corte de juros nos EUA e questões fiscais fazem Tesouro IPCA pagar um juro real maior
  • Analistas estimam que taxas devem cair à medida que o Fed sinalize o início do corte de juros
  • Especialistas indicam um título do Tesouro IPCA para comprar agora

O Tesouro IPCA voltou a entregar rentabilidade acima dos 6% ao ano e disparou uma corrida dos investidores pelo ativo. Desde então as taxas se seguraram em patamares elevados – o Tesouro IPCA com vencimento para 2029 chegou a 6,15% ao ano mais a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nesta terça-feira (4), mesmo ganho para títulos com vencimentos longos, em 2035 e 2045.

Para Maria Luisa Nepomuceno, analista de renda fixa da Nord Research, a taxa dos títulos atrelados à inflação em patamares historicamente altos – veja aqui mais detalhes – acontece devido a incertezas de quando o banco central americano, o Federal Reserve (Fed), começará a cortar juros na maior economia do mundo. No começo do ano, o mercado precificava que a taxa de juros dos EUA começaria a ser reduzida em março. No entanto, dados da inflação estadunidense e do mercado de trabalho mostraram uma resiliência na economia, o que forçou o Fed a adiar o plano.

Atualmente, a maioria do mercado calcula um início de corte de juros americanos em novembro, com 45,2% das apostas para o penúltimo mês do ano e quedas do atual intervalo de 5,5% a 5,25% ao ano para 5,25% a 5% ao ano. Já 39,2% dos analistas estimam que a taxa deve se manter entre 5,25% e 5,5% ao ano no mês de novembro. As informações são da ferramenta CME FedWatch.

“Os juros mais elevados nos EUA obrigam o Brasil a oferecer um prêmio mais interessante para atrair investidores. Ou seja, a redução da taxa básica de juros brasileira fica menor e os nossos títulos públicos passam por ajustes no mercado por causa dessas mudanças de expectativas. Essa influência do mercado internacional acaba pesando sobre o País, que passa a pagar juros maiores para financiar sua dívida”, diz Nepomuceno.

Publicidade

Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos

Fabrício Silvestre, analista de renda fixa da Levante Corp, comenta que além das questões internacionais o cenário fiscal brasileiro também pesa sobre os preços dos títulos públicos, devido ao aumento da relação dívida líquida sobre o Produto Interno Bruto (PIB). Em abril, o Brasil registrou o maior déficit público de sua história com um rombo de R$ 1,043 trilhão. Cerca de R$ 776,3 bilhões do montante total resultam dos juros da dívida.

Em meio a esse rombo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a especulação sobre eventual mudança na meta de inflação fez o mercado reprecificar as expectativas para a alta de preços. Tal especulação se deu após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, dizer em audiência pública na Câmara dos Deputados que a meta de inflação de 3% é algo “exageradíssimo”.

Atualmente, a meta de inflação está em 3% ao ano, com margem para chegar a 4,5% no teto estipulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Em meio à demora para o início do corte de juros pelo Fed e do temor de uma piora fiscal, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu cortar a taxa básica de juros da economia, a Selic, em apenas 0,25 ponto porcentual, para 10,5% ao ano, na sua última reunião em maio.

Silvestre, da Levante, comenta que os receios com a questão fiscal também pesam sobre o juro brasileiro. “Devemos lembrar que, além das questões de inflação, há também receio sobre a credibilidade da âncora fiscal, o que faz com que o investidor cobre um rendimento ainda maior para aplicar no País”, explica.

O juro do Tesouro IPCA vai aumentar?

A analista de renda fixa da XP Investimentos Mayara Rodrigues diz ser muito difícil cravar para onde vão os juros dos títulos atrelados à inflação. Ela lembra que esses investimentos da renda fixa tiveram alta em suas taxas ao longo do ano e que o patamar de 6% ao ano já pode ser considerado raro. “Já estamos em um momento de exceção, visto que juros reais acima de 6% ao ano são difíceis de serem encontrados pelo mundo. É possível que as taxas subam para 7% ao ano? Sim, é possível, mas não é nada concreto”, diz.

Silvestre, da Levante, lembra que se o mercado perder toda a credibilidade no arcabouço fiscal, as taxas tendem a superar os 7% ao ano. No entanto, as chances disso acontecer ainda são remotas, visto que o governo vem tentando compensar os gastos com aumento da arrecadação. “Precisaríamos ter uma grande deterioração das contas públicas para o Tesouro IPCA pagar 7% ao ano de juro real”, pontua Silvestre.

Ele diz que a taxa de 6% ao ano é muito elevada e reflete o temor do mercado com o Brasil. Ainda assim, o especialista da Levante relata que, se ao longo do ano o Banco Central cortar juros com as expectativas de inflação ainda elevadas, a tendência é que o mercado passe a precificar um Tesouro IPCA acima do estimado. “Se esse corte de juros com inflação elevada acontecer, o Banco Central tende a perder sua credibilidade, causando aumentos na curva de juros dos títulos do Tesouro IPCA. Mas vale destacar que esse não é o nosso cenário base”, argumenta Silvestre.

Ou seja, para o analista, as chances dos juros reais irem para o patamar de 7% ao ano são remotas.

Publicidade

Na mesma linha de pensamento, Maria Luisa Nepomuceno, da Nord, diz acreditar que os juros tendem a recuar para a casa dos 5% ao ano à medida que o governo resolver as questões fiscais e o Fed sinalizar que o corte de juros está próximo. “O investidor deve acompanhar os dados de inflação, mercado de trabalho e crescimento econômico, que saem recorrentemente. Para os juros recuarem nos EUA, os dados de inflação e emprego precisam desacelerar. O mercado espera que isso deva acontecer ao longo do ano, mas vale lembrar que esses números sempre podem mudar”, afirma.

Com a redução dos juros nos EUA, a expectativa é que as taxas também recuem no Brasil. A analista da Nord estima que a Selic deve encerrar 2024 em 10% ao ano – o último Boletim Focus, da segunda-feira (3), aponta um consenso do mercado em 10,25% ao ano. É justamente essas reduções de juros no Brasil e nos EUA que fazem a analista estimar que é provável que os juros caiam para 5% ao ano ao invés de subirem para 7% ao ano.

É hora de comprar títulos do Tesouro IPCA?

Se o consenso dos especialistas é de que a taxa está atrativa e que há uma maior probabilidade do juro real ir da faixa dos 6% ao ano para 5% ao ano do que se movimentar para cima, a recomendação de todos os analistas segue na linha do aporte no Tesouro IPCA. Simone Albertoni, especialista em investimentos na Ágora Investimentos, afirma que em um período longo os títulos atrelados à inflação têm se mostrado mais eficientes comparando com outros índices.

A analista diz que em um levantamento recente feito pela corretora, o Certificado de Depósito Interbancário (CDI) –parâmetro para meedir a rentabilidade da renda fixa – entregou retorno de IPCA+ 3,16% anualmente nos últimos 10 anos, enquanto o Ibovespa retornou IPCA + 4,06% ao ano no mesmo período.

“Ou seja, até comparando com outros índices, os juros reais acima de 6% são atrativos para prazos longos e são importantes indexadores para compor uma carteira de investimentos, ajudando a diversificar, dentro de cada perfil de investidor”, diz Simone Albertoni, que recomenda a compra dos títulos do Tesouro Direto indexados à inflação.

O analista da Levante também recomenda a compra dos títulos do Tesouro indexados à inflação. Ele reconhece que existe a possibilidade de os juros irem para 7% ao ano, mas como esse não é o cenário provável, ele estima que o investidor não deve perder a oportunidade atual e garantir um rendimento de 6% ao ano de juro real.

Já a analista da XP aponta que o investidor deve procurar o título do Tesouro com o menor risco. Atualmente, o Tesouro Direto possui seis títulos Tesouro IPCA disponíveis para negociação. São eles: Tesouro IPCA + 2029, Tesouro IPCA + 2035, Tesouro IPCA + 2035 com juros semestrais, Tesouro IPCA + 2040 com juros semestrais, Tesouro IPCA + 2045 e Tesouro IPCA + 2055 com juros semestrais. Os títulos de juros semestrais pagam a cada seis meses e não apenas no prazo de vencimento.

“Entre esses seis títulos, vejo o Tesouro IPCA + 2029 como a melhor alternativa para o investidor. Ele tem o vencimento mais próximo, reduzindo os riscos da marcação a mercado e combina a grande rentabilidade de um juro real de 6% ao ano para os próximos 5 anos. Esse rendimento real com risco de crédito zero é muito difícil de se encontrar”, diz Rodrigues.

Publicidade

Informe seu e-mail

Faça com que esse conteúdo ajude mais investidores. Compartilhe com os seus contatos