O ex-CEO da Americanas (AMER3), Miguel Gutierrez, foi preso nesta sexta-feira(28) em Madri, na Espanha, segundo informações divulgadas pelo Estadão. Gutierrez é suspeito de fraudar o balanço da varejista junto com sua diretoria, que resultou em um rombo de R$ 25,3 bilhões. Ontem, o ex-executivo da varejista teve seu mandato de prisão preventiva emitido pela Polícia Federal na Operação Disclosure, que foi realizada em parceria com o Ministério Público Federal (MPF).
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Além do mandato de prisão de Gutierrez, a polícia também emitiu um mandato de prisão para Christina Ramos Saicali, também ex-diretora da Americanas. A PF ainda emitiu outros 15 mandados de busca e apreensão nas residências de ex-executivos. O Ministério Público informou que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) prestou apoio técnico durante a investigação. Por ordem da Justiça Federal, foi determinado o bloqueio de bens e valores dos ex-diretores, ultrapassando R$ 500 milhões.
Em nota enviada ao E-Investidor, a Americanas reiterou sua confiança nas autoridades que investigam o caso e reforçou que foi vítima de uma fraude de resultados pela antiga diretoria, que manipulou dolosamente os controles internos existentes. “A Americanas acredita na Justiça e aguarda a conclusão das investigações para responsabilizar judicialmente todos os envolvidos”, informou a empresa.
Relembre o caso Americanas
No dia 11 de janeiro de 2023, a Americanas enviou um comunicado ao mercado reportando “inconsistências contábeis” de R$ 43 bilhões nos balanços. Oito dias depois do anúncio do rombo financeiro, em 19 de janeiro de 2023, a Americanas entrou em recuperação judicial.
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Após a divulgação do rombo – que no início era de R$ 20 bilhões e em junho de 2023 foi reconhecido como um rombo de R$ 25,3 bilhões –, Sérgio Rial deixou o cargo de presidente da varejista acompanhado do então diretor de Relações com Investidores, André Covre. Os executivos haviam tomado posse há menos de dez dias. Atualmente, Leonardo Coelho é o CEO da empresa.
No dia seguinte à descoberta, Rial declarou em evento do BTG Pactual que o impacto bilionário da companhia estava relacionado ao “risco sacado, que não era lançado como dívida”.
Segundo a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o “risco sacado” consiste em uma modalidade de antecipação de recebíveis. Ou seja, “a companhia vendedora emite uma fatura que contempla o prazo a ser financiado pelo banco, porém não reconhece em sua contabilidade a venda pelo valor presente. E com isso apresenta um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) maior”.
Assim, a empresa compradora consegue distorcer sua real situação financeira. O Ebitda, por sua vez, serve como “um indicador bastante útil para medir o potencial de geração de caixa da empresa”, afirmou a Rico Investimentos, em relatório.
A PwC, empresa que realizava as auditorias da Americanas (AMER3), negou responsabilidade por “inconsistências contábeis” da varejista na ação civil pública proposta pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor e Trabalhador (Abradecont). No processo, a Abradecont pede a responsabilização da auditoria e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por omissão e negligência. Entretanto, no final de junho deste ano, a auditoria foi substituída pela BDO.
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Vale destacar também que a CVM abriu processos administrativos para investigar a Americanas, além de ter recebido uma denúncia contra a companhia. Bancos e corretoras colocaram as ações da varejista sob revisão e as principais agências de classificação de risco – Moody’s, Fitch e S&P Global Ratings – rebaixaram os ratings da companhia após a descoberta do rombo contábil.
Funcionários da Americanas (AMER3) e sindicatos protestaram em frente a uma loja da empresa no Centro do Rio de Janeiro, em fevereiro. O grupo reclamava de demissões e temiam perda de direitos trabalhistas em meio ao turbilhão judicial do caso. Em junho de 2023, a Americanas divulgou a lista de quais seriam os executivos que seriam investigados.
Confira quem são os executivos acusados de fraude pela Americanas
Miguel Gutierrez
Gutierrez tem longa carreira na varejista. O engenheiro entrou na empresa em 1993 e passou por áreas como operações, financeira e logística. Esteve à frente do cargo de CEO das Americanas desde 2001 até dezembro de 2022, quando deu lugar ao executivo Sérgio Rial, que revelou o rombo da empresa em janeiro de 2023.
Miguel Gutierrez tinha um perfil discreto, ausente de redes sociais. O ex-CEO raramente concedia entrevistas. Ele era o principal homem de confiança de Beto Sicupira, um dos três principais acionistas da empresa, no negócio.
Anna Saicali
A ex-diretora da varejista está na empresa desde 1997 e foi CEO da AME Digital, carteira digital da Americanas. Formada em artes plásticas e em finanças corporativas, passou pelas áreas de recursos humanos e tecnologia.
Saicali foi diretora presidente da B2W de 2004 a 2018, depois assumiu a presidência do conselho administrativo da companhia até o ano de 2021. A ex-diretora está afastada de suas funções executivas desde desde 3 de fevereiro de 2023. Na época, a Americanas disse que seu desligamento da empresa já foi determinado pela administração.
José Timótheo de Barros
José Timotheo Barros foi vice-presidente de lojas físicas, logística e tecnologia da empresa. Com carreira na companhia desde 1996, onde começou como trainee, tinha atribuições relacionadas com relação com fornecedores, lojistas terceirizados, entregadores e gestão de estoque.
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Barros foi afastado de suas funções executivas 3 de fevereiro de 2023 e comunicou sua renúncia em 1 de maio do mesmo ano.
Márcio Cruz Meirelles
O executivo foi presidente da B2W entre 2018 e 2021, quando ocorreu a fusão com a Americanas. A partir de 2021, assumiu o cargo de CEO de digital da empresa. Cruz também foi afastado em 3 de fevereiro e já teve o seu desligamento determinado pela administração da Americanas.
Fábio da Silva Abrate
O executivo está na empresa desde 2003 e já passou pelo posto de diretor financeiro e esteve à frente da contabilidade da empresa pelos últimos anos. Abrate é mais um dos afastados em 3 de fevereiro de 2023 e com desligamento determinado agora.
Flavia Carneiro
Também vinda da fusão com a B2W, Carneiro atuava como superintendente de controladoria da companhia. Foi afastada das funções em fevereiro e está desligada da empresa.
Marcelo da Silva Nunes
Outro executivo fruto da fusão com a B2W em 2021, Nunes era diretor financeiro da Americanas. O executivo está afastado das funções desde fevereiro e agora foi desligado da empresa.
Vale lembrar que o processo está em investigação, e todos da listas são considerados pela lei inocentes até que se prove o contrário.
* Colaboraram: Iuri Gonçalves, Luiza Lanza e Artur Nicoceli. Com informações do Broadcast