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Magalu (MGLU3): queda de 38,6% em 2024 pode ser apenas o começo de uma reviravolta? Veja recomendações

O investidor do Magalu pode ter um lucro de até 179,2%, mas alguns analistas não recomendam compra

Magalu (MGLU3): queda de 38,6% em 2024 pode ser apenas o começo de uma reviravolta? Veja recomendações
Saiba se a ação do Magazine Luiza está barata (FOTO: FELIPE RAU/ESTADAO)
  • A ação do Magazine Luiza está descontada, mas riscos para o investidor são altos
  • O investidor do Magalu pode ter um lucro de até 179,2%, mas alguns analistas não recomendam compra
  • O papel do Magazine Luiza está atrativo para pessoas com um perfil muito arrojado

ERRATA: O Santander publicou um relatório no dia 25 de junho de 2024 sobre o impacto das bets no setor varejista. No documento original, o banco informava um preço-alvo de R$ 2,30 para as ações do Magazine Luiza. O texto foi atualizado para corrigir a informação equivocada publicada pelo banco. O preço-alvo correto do Santander é de R$ 23, ao contrário do que diz o documento.

As ações do Magazine Luiza (MGLU3) derreteram 38,6% no acumulado de 2024. Os papéis da empresa passaram de R$ 21,47 no fechamento do último pregão de 2023 para R$ 13,18 na quinta-feira (4). No primeiro semestre do ano, o tombo foi ainda maior, de 43,9%, com o ativo encerrando o último pregão de junho negociado a R$ 12,05.

A queda as ações da varejista no primeiro semestre está relacionada a diversos fatores do mercado financeiro. No começo do ano, os analistas precificavam que a taxa básica de juros da economia, a Selic, encerraria 2024 em 9% ao ano. No entanto, as estimativas mudaram após sucessivas prorrogações do corte de juros nos Estados Unidos.

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Em janeiro, o mercado esperava que o banco central americano, o Federal Reserve (Fed), começasse a reduzir os juros em março. Agora, a estimativa é de que os cortes ocorram no quarto trimestre deste ano. Por causa disso, o Banco Central do Brasil acaba sendo forçado a manter os juros elevados por um tempo maior. Isso porque, se a diferença entre o juro brasileiro e o juro americano diminuir, o investidor tende a sair do Brasil e ir para os EUA, reduzindo a oferta de dólar no Brasil e elevando o preço da moeda estadunidense no mercado brasileiro.

A alta do dólar, por si só, causa uma retomada da inflação e, para evitar esse resultado, o Banco Central do Brasil acabou pausando os cortes na Selic na reunião realizada em junho. O mais recente Boletim Focus estima que a Selic deve encerrar 2024 em 10,50% ao ano, 1,5 ponto porcentual acima do esperado no começo do ano.

Ainda assim, o dólar disparou nos últimos dias. Na última segunda-feira de junho, dia 24, a moeda americana encerrou o pregão no já elevado patamar de R$ 5,39. Uma semana depois, neste terça-feira (2), bateu R$ 5,66, o maior valor desde janeiro de 2022. A moeda americana teve um certo alívio e recuou na quarta-feira e quinta-feira, encerrando a R$ 5,49. No acumulado de 2024 até a última quinta-feira (4), o dólar sobe 13,2%.

O motivo para a alta divide opiniões. O governo argumenta que a alta no câmbio é fruto de um ataque especulativo; o mercado, no entanto, vê as falas do presidente Lula (PT) como o principal gatilho na disparada recente da moeda americana. E justamente por causa desse turbilhão recente no mercado, a expectativa para a redução de juros fica cada vez mais distante.

A queda do juro é fundamental para as empresas do varejo, visto que quanto menor o juro, mais barato é o custo do crédito. E quanto mais barato for o custo do crédito, mais as famílias consomem e menos juros o Magalu paga em seus empréstimos, o que torna o ciclo macroeconômico favorável para a empresa. No entanto, com a pausa do corte de juros essa retomada da economia pode ficar mais lenta, o que tende a preocupar empresas como Magazine Luiza, que dependem de um bom cenário macroeconômico.

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A equipe do BB Investimentos reconhece que as questões de juros pesam sobre a ação do Magazine Luiza. Ainda assim, Georgia Jorge e Andréa Aznar enxergam dados positivos na economia brasileira, como as vendas no varejo, que tiveram um reaquecimento nos últimos 12 meses até abril. Os dados apontam para uma aceleração de 2,5% no período.

As especialistas destacam outros dados positivos, como o recuo da inadimplência das famílias, que foi de 6% para 5,5% entre abril de 2023 e abril de 2024. Além disso, o desemprego também caiu de 8,5% em abril do ano passado para 7,5% em abril de 2024.

“Já a massa de rendimento real habitual atingiu R$ 313,1 bilhões, 1,1% superior ante o trimestre imediatamente anterior e 8,9% superior na comparação anual, outro fator que melhora o cenário macroeconômico, o que é fundamental para as empresas do varejo”, apontam as analistas.

Outro ponto levantado é a recuperação da empresa. O Magalu passou por uma forte turbulência ao longo dos últimos anos. As ações atingiram sua máxima histórica em 5 de novembro de 2020, quando o papel da companhia encerrou o pregão daquele dia cotado a R$ 272,30.

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Sem considerar o reagrupamento de ações feito pela empresa, o valor estaria por volta de R$ 27 na época. A companhia fez esse agrupamento para que as ações hoje fiquem acima de R$ 1, assim o papel deixa de ser considerado uma penny stock. Desde a máxima histórica até o pregão desta quinta-feira (4), as ações do Magazine Luiza derreteram 95,1%, passando de R$ 272,30 para R$ 13,18. A queda das ações está ligada ao cenário macroeconômico, que tem sido bastante desafiador para o Magazine Luiza. A taxa básica de juros da economia, a Selic, chegou ao patamar de 13,75% no fim da gestão Bolsonaro.

Em 2022, o Magazine Luiza reportou um prejuízo líquido de R$ 499 milhões. Em 2023, o prejuízo foi 96% maior, de R$ 979 milhões. No entanto, analistas do mercado financeiro passaram a observar uma virada no resultado da empresa a partir do quarto trimestre de 2023. A companhia passou a ter uma margem de lucratividade maior, tanto que a mesma teve um lucro líquido de R$ 212,2 milhões entre outubro e dezembro de 2023, o que ajudou a reduzir o prejuízo do fim do ano.

No primeiro trimestre de 2024, a empresa reportou outro lucro de R$ 27,9 milhões. Para as analistas do BB Investimentos, o destaque do trimestre foi o aumento da posição de caixa e principalmente a alta da rentabilidade da empresa. A margem Ebitda (proporção do lucro em relação à receita líquida da empresa, expressa em porcentagem) cresceu 2,5 pontos porcentuais na comparação anual, indo de 4,9% para 7,4%.

As analistas também apontam a alta de 2,6 pontos percentuais da margem bruta, que mede a rentabilidade da companhia, a qual foi de 27,3% no primeiro trimestre de 2023 para 29,9% em igual período de 2024, com outro ponto de virada da empresa. “Entendemos que a companhia tem apresentado bons números e uma estratégia consistente com foco no aumento de lucratividade e margens, não apenas de vendas”, dizem Georgia Jorge e Andréa Aznar, que assinam o relatório do BB Investimentos.

Sendo assim, as analistas estão otimistas com a ação e calculam um preço-alvo de R$ 36,80 para as ações do Magazine Luiza até o fim de 2024. A cifra equivale a uma potencial alta de 179,2% na comparação com o fechamento de quinta-feira (4), quando a ação encerrou o pregão a R$ 13,18.

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A Genial Investimentos também acredita no potencial da empresa. Os analistas dizem que a estrutura de capital da companhia está melhor. Em janeiro, o Magazine Luiza havia quitado o montante de juros relativos à 9ª Emissão de Debênture (R$ 900 milhões). Ao longo de abril, a companhia eliminou de fato todo empréstimo e financiamento dos próximos 12 meses, realizando o pagamento de R$ 2,1 bilhões − também incluindo os juros devidos.

“Além disso, o Itaú e Magalu concordaram em deliberar um 2º aumento de capital no valor de R$ 600 milhões. Essa operação será concluída após ambas as partes finalizarem a estruturação de um instrumento de financiamento e devem impulsionar a originação de crédito e, consequentemente, impulsionar vendas ao longo do 2º semestre”, apontam Iago Souza e Nina Mirazon, que assinam o relatório.

Embora os analistas tenham uma visão positiva, eles também concordam que os fatores macroeconômicos podem pesar negativamente, principalmente pela questão da manutenção da taxa básica de juros da economia, a Selic, em 10,50%. Segundo eles, essa piora de perspectiva para juros gera um grande sentimento de venda para as ações das empresas do varejo. “Essa piora se dá com o mercado precificando a Selic de longo prazo em 12% ao ano, enquanto nós estimamos a Selic em 9,5%”, explicam Souza e Mirazon.

A corretora Genial tem recomendação de compra para o Magazine Luiza com preço-alvo de R$ 19,50, alta de 47,9% na comparação com o fechamento de quinta-feira (3).

Qual a recomendação para o Magazine Luiza?

Ainda que o BB Investimentos e a Genial Investimentos estejam otimistas com as ações do Magazine Luiza, as duas corretoras estão sozinhas na escolha. Outras quatro casas do mercado consultada pela reportagem do E-Investidor não recomendam a compra do papel. O Santander é uma delas. Os analistas explicam que a piora do cenário macroeconômico com a Selic estacionada em 10,50% ao ano é uma grande trava para o Magalu.

Essa estimativa é feita com base nos principais produtos vendidos pela empresa, que são os eletrodomésticos da linha branca, como geladeira e outros bens duráveis. Com a Selic em dois dígitos, o consumo das famílias tende a ser menor devido ao custo do crédito. “Além disso, a empresa pode enfrentar uma forte concorrência no varejo do 3P, o que pode levar a uma deterioração da rentabilidade da companhia”, dizem Ruben Couto, Eric Huang e Vitor Fuziharo, que assinam o relatório do Santander.

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Os produtos do varejo da categoria 3P são aqueles que as empresas, como o Magazine Luiza, permitem que outras companhias vendam produtos no marketplace. Esses produtos são vendidos e entregues pela própria empresa que está anunciando no marketplace e não fazem parte do Magazine Luiza. A empresa da família Trajano ganha um porcentual da venda por permitir que esse terceiro anuncie seu produto em sua plataforma.

Os analistas do Santander lembram ainda que o Magazine Luiza também possui uma alta alavancagem e despesas financeiras, que podem limitar as oportunidades de investimento. A companhia encerrou o primeiro trimestre de 2024 com um endividamento bruto de R$ 6,66 bilhões, com apenas R$ 2,33 bilhões em caixa e em aplicações. Desse modo, o caixa líquido da companhia está negativo em R$ 4,39 bilhões.

Ou seja, o Santander ainda vê muitos riscos na ação. O banco calcula um preço-alvo de R$ 23,00 até o fim de 2024, uma alta de 74,5% na comparação com o fechamento da ação nesta última quinta-feira (4). O relatório* foi publicado no último dia 25 de junho de 2024.

Acordo do Magalu com AliExpress muda visão do mercado?

Os analistas do Bradesco BBI e Ágora Investimentos destacam o recente acordo anunciado entre o Magazine Luiza e o AliExpress, mas também estão com recomendação netura para as ações. No dia 24 de junho, o CEO do Magalu, Frederico Trajano, disse que o AliExpress passará a vender no site do Magazine Luiza produtos classificados como “linha choice”, como itens de beleza, computer office (escritório) e home improvement (melhorias da casa).

Do outro lado, o Magazine Luiza também prevê vender seus produtos no Brasil por meio do site do AliExpress. Tais produtos se encontram na categoria 1P, conhecida como comércio eletrônico de primeira parte. Nesses casos, o Magalu compra osprodutos, estoca, determina os preços, vende em sua loja virtual e cuida de toda a logística de entrega. A venda para o consumidor, no entanto, será feita no site da AliExpress.

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Questionado sobre as sinergias com a parceria, Frederico Trajano disse que o acordo possui um alto valor para as duas empresas, principalmente quando se nota a audiência do site da chinesa e da brasileira. “Hoje, as duas plataformas têm mais de 700 milhões de visitas. Com essa parceria, nós capturamos e colocamos sortimentos que não tínhamos. Então, as chances de conversão nos dois canais são muito altas”, afirmou o CEO do Magalu.

Para Flávia Meireles, da Ágora Investimentos, e Pedro Pinto, do Bradeco BBI, a medida ajuda o Magalu a diversificar seu portfólio com produtos de baixo custo e alta recorrência em comparação com sua atual dependência excessiva de bens duráveis e eletrodomésticos. Ainda assim, eles dizem que o impacto é baixo devido à falta de detalhes sobre a rentabilidade total.

“Em um cenário onde o Magalu consiga replicar 100% do Volume Bruto de Mercadorias (GMV) do AliExpress em sua plataforma (o que não é provável, em nossa opinião). Isso acabaria rendendo cerca de R$ 350 milhões no EBITDA (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) incremental para Magalu, um aumento de 10,5% em relação a nossa estimativa de EBITDA para 2025”, explicam Pedro Pinto e Flávia Meireles, que assinam o relatório da Ágora Investimentos e do Bradesco BBI, respectivamente.

Ainda que eles tenham essas estimativas, os especialista reforçam que o Magazine Luiza não está conseguindo ter um Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE) acima do seu custo de capital. Na visão dos analistas da Ágora e do Bradesco BBI, as empresas presentes nessa situação devem ser negociadas a no máximo 1 vez o Preço sobre o Valor Patrimonial (P/VPA).

Meireles e Pinto afirmam que a ação da varejista é negociada a 0,8 vez P/VPA. “Consideramos esse valor justo para o momento e, por isso, mantemos nossa recomendação para o Magazine Luiza em neutra com preço-alvo de R$ 30 para o fim de 2024”, argumentam os analistas da Ágora e do Bradesco BBI. O preço-alvo equivale a uma alta de 127,6% na comparação com o fechamento de quinta-feira (4).

As ações do Magazine Magazine Luiza ainda apresentam grandes riscos?

A equipe do Itaú BBA tem praticamente a mesma linha de raciocínio e classifica o papel como Market Perform, desempenho dentro da média do mercado, equivalente à recomendação neutra. O preço-alvo dos analistas está em R$ 15, uma potencial alta de 13,8% em relação ao fechamento de quinta-feira (4).

Os especialistas do Itaú BBA reconhecem a melhora do resultado financeiro da varejista nos últimos dois trimestres e concordam com os pontos levantados pelo BB Investimentos. No entanto, eles dizem que preferem esperar por um ponto de entrada melhor na ação. Isso porque o faturamento da companhia ficou abaixo do esperado no primeiro trimestre de 2024.

“Atualmente vemos as ações negociadas a um prêmio de 50% sobre a média do setor varejista. Entretanto, reconhecemos haver um risco ascendente para as nossas estimativas no caso de tendências de receita menores do que o previsto, levando potencialmente a maiores ganhos de alavancagem”, explica Thiago Macruz em relatório do Itaú BBA.

A XP Investimentos é a quarta casa de análise a reforçar o grupo que não recomenda a compra para o papel. Os analistas dizem acreditar que há bastante espaço para a companhia crescer, mas ainda enxergam um cenário desafiador de curto e médio prazo. Um dos motivos é a deterioração macroeconômica, que tende a reduzir a renda disponível, impactando a demanda por bens duráveis.

“Continuamos a valorizar a estratégia de longo prazo do Magalu, com foco na digitalização do varejo brasileiro, construção de um ecossistema focado em seu SuperApp e utilização das lojas como ‘agências’, além de acreditarmos que a companhia possa ter tendências positivas no curto prazo por conta do processo de recuperação judicial da Americanas”, dizem Danniela Eiger, Gustavo Senday e Laryssa Sumer, que assinam o relatório da XP.

Os analistas têm recomendação neutra com preço-alvo de R$ 25, uma potencial alta de 89,68% na comparação com o fechamento de quinta-feira. Ou seja, o papel é considerado barato e atrativo, mas devido aos riscos que ele apresenta, 4 analistas recomendam cautela com as ações de Magalu.

No entanto, se o investidor for arrojado, entender os riscos e quiser buscar o lucro de 179,2%, projetado pelo BB Investimentos, existe uma janela para comprar as ações do Magazine Luiza.

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