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Fernando Cirne: A Locaweb não entendeu o IPO como o fim, apenas como mais uma etapa

CEO da companhia de tecnologia comenta o desempenho dos papéis LWSA3, que se valorizaram mais de 200% depois do IPO em fevereiro

Fernando Cirne: A Locaweb não entendeu o IPO como o fim, apenas como mais uma etapa
Fernando Cirne, CEO da Locaweb. Foto: Rodrigo Hortenciano
  • Fernando Cirne é CEO da Locaweb (LWSA3), empresa de hospedagem de sites e serviços de marketing
  • Desde o IPO, as ações da Locaweb se valorizaram mais de 200%, beneficiadas pela maior corrida ao digital frente o fechamento das lojas físicas e boas perspectivas para a empresa
  • A Locaweb realizou várias aquisições pós-IPO e pretende criar um ecossistema completo para a digitalização de PMEs

Estar no lugar certo e na hora certa não depende necessariamente de sorte. No caso da Locaweb (LWSA3), por exemplo, o timing quase perfeito de entrada na Bolsa de Valores foi uma construção de 22 anos.

A companhia que oferece serviços de internet, entre eles o de hospedagem de sites, realizou sua Oferta Pública Inicial de Ações (IPO, na sigla em inglês) na B3 no dia 6 de fevereiro de 2020 – poucas semanas antes do estouro da crise do coronavírus no País, que fechou lojas físicas e acelerou a corrida das empresas para o mundo digital.

Desde o primeiro dia de negociação até o fechamento de sexta-feira (11), o papel LWSA3 acumulava alta de 268,7%, saindo de R$ 17,25, na estreia, para R$ 63,60. A abertura de capital levantou R$ 1,3 bilhão e foi, talvez, a mais bem-sucedida do ano em termos de valorização dos ativos. Contudo, apesar de ser novata no mercado financeiro e ter surfado na maior busca por soluções de e-commerce na pandemia, a Locaweb foi fundada em 1998 e já naquela época oferecia serviços de hospedagem de sites.

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Fernando Cirne, CEO da empresa, diz que os resultados seriam positivos mesmo se a crise do coronavírus não tivesse existido. “A Locaweb não dependia da covid-19”, diz o executivo. “Nós compramos uma empresa de e-commerce lá em 2012 e preparamos todo esse ecossistema ao longo de oito anos. Não tem sorte, tem muito planejamento.”

Capitalizada pós-IPO, a Locaweb foi às compras e já adquiriu algumas empresas, como Social Miner e Etus, focadas em gestão de redes sociais e canais de vendas digitais. Segundo Cirne, as aquisições fazem parte do plano da empresa de sempre estar um passo além, isto é, no lugar certo e na hora certa. “A Locaweb já tinha hospedagem, e-commerce, aplicativos e a rede social é uma quarta entrada para digitalizar clientes”, afirma.

Veja a entrevista completa:

E-Investidor – Desde o IPO, em fevereiro, as ações da Locaweb saltaram mais de 200% . Esse movimento era esperado?

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Fernando Cirne – Não vou dizer que era algo esperado. O que aconteceu é que a Locaweb não entendeu o IPO como o ‘fim’, apenas como mais uma etapa. Quando fizemos o IPO, tínhamos um custo de aquisição muito baixo de clientes e comunicamos que iríamos explorar novos canais de venda, maneiras de vender mais. Fizemos como foi o anunciado.

A Locaweb se planejou para o IPO. Entretanto, depois da abertura de capital, continuamos a lançar produtos e fazer aquisições, como prometido pela empresa. Tudo o que fizemos refletiu nos resultados e a ação se valorizou. Lógico, teve o coronavírus, e aí você me pergunta ‘a covid acelerou as vendas?’ Eu acho que sim, acredito que a Locaweb ajudou quem precisava se digitalizar, por conta do coronavírus, e temos muito orgulho disso. A pandemia foi algo muito triste, mas conseguimos fazer com que empresas que precisavam se digitalizar atingissem essa meta.

E-Investidor – Como foi esse processo?

Cirne – A covid foi uma impulsionadora da digitalização, mas não é só isso. Existem outros exemplos de movimentos que a Locaweb fez e valorizaram a ação. Então, não vou dizer que foi premeditado, mas a gente entendeu que era muito mais que o IPO. Viemos para trabalhar pesado, entregar um ótimo resultado e continuar valorizando. Trabalhamos forte para valorizar essa ação e vamos continuar assim em 2021.

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E-Investidor – O que esperar da Locaweb para 2021, que deve ser o ano da vacinação e, talvez, de uma volta ao pré-pandemia?

Cirne – Vamos entrar em 2021 com tudo. Temos alguns indicadores que mostram que, mesmo com o fim da covid, poderemos ter um ano muito forte, nada muda. Estamos vendendo muito mais, não só por conta da crise, mas por uma intensificação dos nossos esforços de marketing, o que é muito importante. Fizemos o que prometemos no pré-IPO.

Já no terceiro trimestre deste ano, com a reabertura da economia, continuamos a acelerar nossas vendas. O GMV, por exemplo, que é o nosso volume bruto de mercadorias transacionado pela internet, cresceu 74% no primeiro semestre do ano, enquanto o mercado brasileiro cresceu 47%, ou seja, aceleramos muito mais.

Só no recorte do terceiro trimestre o nosso GMV cresceu 90%, enquanto o mercado brasileiro cresceu 43%. As nossas lojas continuam transacionando muito, mesmo em face do arrefecimento da pandemia e reabertura econômica.

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E-Investidor – Há espaço para o e-commerce continuar crescendo?

Cirne – Na China, a penetração do e-commerce é estimada em 35%; nos EUA, em 19%. Temos um tremendo potencial para aumento do e-commerce. Tudo isso junto nos dá muito conforto de que, mesmo com a reabertura da economia, esse novo normal continuará privilegiando a digitalização.

E-Investidor – A Locaweb começou com hospedagem de sites ainda em 1998. Como a companhia foi mudando ao longo do tempo?

Cirne – Já são 22 anos de estrada, bastante coisa. Eu diria que no mundo de tecnologia, as empresas mudam muito. Não é que nem na economia tradicional, que as companhias se mantém as mesmas por décadas. A Locaweb, desde a fundação até hoje, mudou muito. Nós começamos com hospedagem, cloud, registro, e fomos mudando para SaaS [disponibilização de softwares por meio da internet], tanto com aquisição de empresas, quanto com o desenvolvimento de novas soluções. Trouxemos novos produtos como email corporativo, email marketing, soluções de marketing, criador de sites e por aí vai. Compramos a Tray, compramos Delivery Direto, a Etus, quer dizer, a empresa foi se adequando conforme a necessidade do nosso cliente. Hoje somos uma outra empresa, temos um portfólio muito completo e conseguimos digitalizar o PME [Pequena e Média Empresa] nas mais diversas frentes.

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A Locaweb é uma empresa que soube acompanhar a evolução da digitalização, a jornada digital do mercado e atualmente consegue fazer com o que cliente se torne digital de uma maneira muito rápida.

E-Investidor – Se 2020 fosse completamente diferente, os resultados da Locaweb continuariam positivos?

Cirne – Não tenho dúvida. Óbvio que a covid ajudou e nós ajudamos a economia, mas teríamos feito um bom 2020 de qualquer forma. A Locaweb não dependia da covid.

Para você ter uma ideia, quando começamos em hospedagem, ela foi líder em hospedagem no Brasil. Quando começou o cloud, foi pioneira em cloud, o mesmo com SaaS, com os emails corporativos, as demais soluções de marketing e etc. Sempre fomos a empresa certa no lugar certo.

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Quando falamos de preparação para o IPO, nós compramos uma empresa de e-commerce lá em 2012 (Tray) e preparamos todo esse ecossistema ao longo de oito anos. Então não tem sorte, tem muito planejamento. E quando estamos fazendo todas essas compras e aquisições, nós estamos olhando o futuro. Estamos enriquecendo o ecossistema para que nossos clientes tenham o melhor acesso à tecnologia, sempre um passo além.

E-Investidor – Vocês chegaram a ter problemas com inadimplência de clientes?

Cirne – Na parte de e-commerce não tivemos nenhum problema, pelo contrário, só aumentamos a venda. Na parte de SaaS tivemos algum sinal de inadimplência, que praticamente não surtiu efeito nenhum, já que fazemos ações para ajudar quem estava com problemas de inadimplência. Então para as pessoas que estavam com dificuldades de pagamento nós postergamos o vencimento, não interrompemos o serviço e no final das contas, a situação não demorou nem 1 mês e meio. De fato, passamos sem impacto nenhum de inadimplência, só crescimento.

E-Investidor – A empresa comprou no 3º trimestre a Social Miner e Etus, por exemplo. De que forma essas empresas completam o portfólio da Locaweb?

Cirne – Etus é uma empresa que faz gestão de mídia social. Isso é muito importante para nós porque a Locaweb já tinha hospedagem, já tinha e-commerce, já tinha aplicativos, e a rede social é uma quarta entrada para digitalizar clientes. Então o cliente pode começar a sua jornada digital em qualquer uma dessas quatro entradas.

Por exemplo, se você tem uma loja de bolos, pode ser que não queira criar um site para essa loja, mas queira criar uma rede social. E agora nós fazemos isso para você, uma gestão unificada de redes sociais.

Essa aquisição fortalece nosso cross-selling (venda cruzada). Imagina para quantos clientes, que tem hospedagem conosco, agora podemos oferecer também uma gestão de rede social? O mesmo acontece para os clientes que tem lojas.

Em relação à Social Miner, a aquisição é muito importante porque a companhia está se juntando com a All iN, empresa que a gente já tinha e que fazia toda a gestão de canais de vendas digitais. A Social Miner chega para incrementar esses canais e traz toda a parte de inteligência artificial para essa operação, deixando nossos esforços mais assertivos.

Portanto, estamos trazendo empresas com alta sinergia com operações que já existem. Isso é parte do que eu olho.

E-Investidor – Quais outros critérios o senhor olha para decidir se uma empresa é interessante ou não para a Locaweb?

Cirne – Quando eu olho uma empresa para adquirir, eu observo se ela tem receita recorrente,. Essa é o caso da Social Miner e da Etus. Observo se há um produto bem desenvolvido, se os fundadores vão ficar conosco e também para esse potencial de cross-selling, com as operações já existentes. Ou seja, potencial de sinergia com as operações da Locaweb.

Estamos olhando hoje mais 11 empresas e vamos continuar avançando para complementar esse portfólio. Nas próximas semanas ou meses esperamos entregar novidades para os acionistas. É importante para a Locaweb complementar o portfólio e gastamos muita energia com isso.

E-Investidor – A Amazon vai começar um programa de logística para os vendedores da plataforma da empresa, ou seja, vai armazenar os produtos de terceiros e fará as entregas. Essa tendência dos marketplaces, de melhorarem a distribuição dos produtos e agilizarem os processos, pode impactar de alguma forma a Locaweb, no sentido de desestimular a criação de novas lojas?

Cirne – Não, pelo contrário. A Locaweb está caminhando no sentido de oferecer o maior volume de serviços possíveis aos clientes. Nós já temos a integração com o marketplace, oferecemos soluções de pagamento, integração com soluções de venda e também com soluções de logística. Caminhamos no mesmo sentido, de oferecer um portfólio completo aos logistas.

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