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Comportamento

Inflação e dólar em alta: o que esperar da moeda americana em junho?

Cotação da moeda norte-americana deve se manter no atual patamar diante de incertezas fiscais e juros nos EUA

Inflação e dólar em alta: o que esperar da moeda americana em junho?
(Foto: AdobeStock)
  • A tendência é de que o dólar permaneça entre R$ 5,10 e R$5,30 durante o mês de junho, segundo a Travelex Confidence
  • Um fator importante que deve impactar o dólar no longo prazo a partir de agora é a percepção do mercado em relação à nomeação do próximo presidente do Banco Central
  • Veja como o investidor deve se posicionar

A tendência é de que o dólar permaneça entre R$ 5,15 e R$ 5,30 durante o mês de junho, segundo a Travelex Confidence, corretora especializada em câmbio. As estimativas mais elevadas de inflação para este e o próximo ano, insegurança sobre a escolha do novo presidente do Banco Central e demora na decisão sobre cortes na taxa de juros pelo Federal Reserve (Fed) são as principais causas.

O Boletim Focus, divulgado na segunda-feira (3), elevou a expectativa de inflação pela quarta semana consecutiva para 3,88% (anteriormente estava 3,86%) em 2024. Há um mês, a projeção era de 3,72%. Para o ano que vem, o aumento foi de 3,75% para 3,77%, uma leve alta em relação aos 3,64% previstos no mês anterior.

A tendência de alta ocorre concomitantemente a declarações do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que argumentou que a meta de inflação a 3% é “exigentíssima” e “inimaginável” durante audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados.

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Segundo Enrico Cozzolino, head de análise na Levante Investimentos, a incerteza fiscal é o centro da questão que influencia a desvalorização do real na paridade cambial. “A fala de Haddad é mais um fator para essa alta, pois contesta a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) e a figura técnica de um ministro não poderia fazer esse tipo de comentário”, afirma.

Preocupações sobre a condução da administração orçamentária do atual governo e o medo de intervenções políticas na Petrobras (PETR3),(PETR4), como a recente troca de presidente da companhia, deixaram o mercado financeiro desconfiado. Além disso, as discussões sobre a meta de inflação e as decisões sobre a política monetária têm causado tensões, especialmente devido às projeções crescentes do Focus.

Para Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos, um dos papéis dos agentes econômicos é criar ancoragem no mercado e, enquanto isso não for feito de forma consistente, deve-se esperar alta volatilidade, já que a ancoragem será determinada pela interpretação de cada um dos discursos do ministro, principal porta-voz do tema.

Massote aponta que já está em discussão a possibilidade de alteração na meta fiscal de 2025, tema sobre o qual Haddad optou por ainda não comentar. Isso é significativo, pois mesmo que seja uma mudança de calibragem, pode transmitir ao mercado a impressão de que o governo está inclinado a ser mais flexível em relação à meta, preocupando alguns agentes. À medida que as discussões fiscais se aproximam no próximo ano, essa questão pode aumentar a volatilidade.

De acordo com Marcos Weigt, head da tesouraria do Travelex Bank, outro fator que impacta o diferença entre o real e a moeda norte-americana são as projeções para os juros nos Estados Unidos. “Hoje a expectativa é que o Fed corte a taxa em 0,25% até o final do ano. Se saírem números de inflação, crescimento e emprego melhores, e o número de cortes for maior, o real pode valorizar”, afirma.

A manutenção prolongada de expectativas de taxas de juros elevadas pode fazer com que o dólar se valorize em relação ao real. Isso acontece porque taxas de juros mais altas nos EUA tornam os investimentos em renda fixa por lá mais atraentes, levando a um aumento na demanda por dólares à medida que mais dinheiro é direcionado para a terra do Tio Sam.

Na última quarta-feira, os rendimentos longos dos Treasuries (títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano) obtiveram ganhos significativos após um leilão sinalizar preocupações sobre o financiamento do déficit fiscal dos Estados Unidos.

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Segundo Cristiane Quartaroli, economista do Ouribank, os indicadores de inflação americanos continuam distantes da meta, enquanto os indicadores de atividade econômica mostram uma economia resiliente, o que leva o Fed a concluir que ainda não há espaço para redução dos juros. “Nesse contexto, o fluxo de investimento de capital tende a migrar para lá, retirando-se das moedas emergentes”, diz.

Ao longo do mês, o valor em reais da moeda americana deve ser influenciado por dois eventos: a próxima reunião do Fed será nos dias 11 e 12 de junho, e a próxima reunião do Copom, que ocorrerá nos dias 18 e 19.

A percepção do mercado sobre novo presidente do BC

Para Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas, um fator importante que deve impactar o dólar no longo prazo a partir de agora é a percepção do setor financeiro em relação à nomeação do próximo presidente do Banco Central, que será indicado pelo presidente Lula. “Será que a diretoria do banco será majoritariamente composta pelos indicados do governo? Será que vão deixar a inflação escapar da meta e abaixar ainda mais os juros? São dúvidas que o mercado ainda tenta encontrar as respostas”, pontua.

Segundo Matheus Massote, a incerteza atual gira em torno da resposta a um possível aumento da inflação. Os investidores percebem que durante o seu mandato, o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, foi firme no controle do aumento de preços, mantendo as taxas de juros elevadas, apesar dos custos fiscais e outras consequências.

Para o especialista, a preocupação atual é como o próximo presidente irá agir e se alinhará a uma política mais flexível em relação à inflação, e quais seriam os impactos disso na economia brasileira. A falta de uma âncora para esse cenário adiciona considerável percepção de risco de instabilidade pelo mercado financeiro.

Atualmente, as apostas são de que o indicado do governo para o cargo será Gabriel Galípolo. No entanto, há dúvidas se os indicados poderão resistir às pressões políticas e tomar decisões estritamente econômicas, de acordo com Elson Gusmão. “A declaração de Haddad e essa dúvida acontecem no momento em que os investidores buscam entender melhor como o Brasil fará o seu ajuste fiscal e conduzirá sua política monetária”, diz .

Como o investidor deve se posicionar?

Os especialistas são unânimes em relação ao que deve ser feito pelo investidor: diversificação.

Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos, sugere que em vez de colocar todos os investimentos em um único lugar, é mais vantajoso destinar uma certa parte para investimentos vinculados ao dólar e explorar outras opções de produtos que possam oferecer retornos mais favoráveis, ao mesmo tempo em que ofereçam proteção contra a inflação. “Isso se torna uma alternativa viável para evitar surpresas que possam impactar significativamente a carteira dos investidores individuais”, diz.

Segundo Marcos Weigt, do Travelex Bank, é recomendável que o investidor construa uma carteira de investimentos diversificada de acordo com seu perfil de risco. Ele sugere que essa carteira possa incluir ativos cotados em USD e/ou EUR, representando entre 10% e 30% do total da carteira.

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Para Diego Costa, da B&T Câmbio, os investidores devem adotar uma abordagem cautelosa. Ele enfatiza que a volatilidade e as incertezas em relação à política econômica tornam necessário considerar a diversificação e uma gestão adequada de riscos. Isso pode ajudar a reduzir os riscos associados às oscilações cambiais e a eventos econômicos e geopolíticos imprevistos.

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