- O primeiro investidor chegou a suar frio quando perdeu R$ 1.500 com as ações da Petrobras na última semana
- Uma investidora de longo prazo, que tem ações da empresa desde 2006, teme a volta do congelamento dos preços
- O terceiro investidor continua seguro com os fundamentos da empresa e não deve vender os ativos da Petrobras tão cedo
A Petrobras (PETR3; PETR4) inicia uma nova fase com a presidente Magda Chambriard no comando, cujo nome foi aprovado na sexta-feira (24) e falou pela primeira vez para o mercado nesta segunda-feira (27). A novidade, porém, coloca na mesa novos questionamentos entre pequenos investidores sobre o que esperar da companhia. Após recentes solavancos no preço das ações, surpresas na distribuição de dividendos e anúncios do governo que deixaram o mercado de cabelo em pé, o investidor da estatal brasileira aprendeu a reagir a sua própria maneira, passando por crises de ansiedade à frieza para reforçar o investimento diante das janelas de oportunidade.
No dia 8 de março, a PETR4 despencou 10,56% – de R$ 37,66 para R$ 33,68 – diante da notícia de que a companhia barrou a distribuição de R$ 43,9 bilhões dos dividendos extraordinários. A empresa acabou mudando seu posicionamento no mês seguinte, mas passou por novas perdas semanas depois. De acordo com dados de Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, considerando o acumulado de 13 a 17 de maio, semana do anúncio da demissão de Jean Paul Prates por Chambriard, a estatal perdeu R$ 68,1 bilhões em valor de mercado.
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A volatilidade não fez bem para um grupo de investidores pessoa física. Esse foi o caso de Henrique Scatolin, um psicólogo de 44 anos que investe em Bolsa desde 2020. “Foi uma situação difícil e eu não parava de olhar para a ação e suava frio. Cheguei a passar mal e ter crise de ansiedade”, afirma Scatolin sobre o episódio da demissão de Prates. Ele mora em Cordeirópolis, na região de Piracicaba, no interior paulista.
Enquanto era entrevistado, Scatolin não parava de olhar para a cotação em tempo real da Petrobras na Bolsa. O comportamento se tornou recorrente no último ano. “O único momento em que eu não olho para as cotações é quando atendo meus clientes, no restante do meu dia eu não paro de acompanhar o preço”, confessa.
Volatilidade e investimentos em Bolsa
A tensão reflete no número de pessoas físicas presentes na Bolsa de Valores. Altas e baixas repentinas assustam o investidor e podem levá-lo a pensar que o dinheiro está aplicado em uma montanha-russa. Segundo dados da B3, o número de investidores em renda variável no primeiro trimestre de 2024 somou 5,1 milhões de brasileiros, o correspondente a 4,7% da população economicamente ativa do País. Em paralelo, a renda fixa conta com 17,4 milhões de investidores.
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O grande receio com a Bolsa está relacionado à volatilidade e a impressão de perder dinheiro em um piscar de olhos, tanto que 29% de todos os novos entrantes na B3 deste ano aportaram somente de R$ 40 a R$ 200 em sua primeira compra no mercado de ações. Na média, investidores pessoa física possuem R$ 1,8 mil investidos, segundo dados da B3.
Para Eduardo Villela, gerente executivo de Captação e Investimentos do Banco do Brasil, a volatilidade faz parte da natureza das ações. Ele relata que o mercado tende a subir no longo prazo, mas que são naturais algumas correções, suaves ou acentuadas.
Ao longo dos anos, a ação da estatal passou por vários altos e baixos. Considerando o acumulado dos últimos 12 meses, por exemplo, a ação da Petrobras (PETR4) sobe 68,81%. Ou seja, qualquer investidor que segurasse a ação durante um ano não teria prejuízo com a operação. O caso de Scatolin, portanto, estampa que negociar as ações no calor da emoção não é a melhor estratégia nos momentos de volatilidade.
Intempéries no mercado exigem respiro, serenidade e muita reflexão. “Cada investidor possui objetivos e perfis diferentes. Se investiu em um ativo que registrou uma queda repentina, o primeiro passo é entender o que houve com a companhia e como isso afeta os objetivos do investidor antes de tomar qualquer decisão precipitada”, explica Villela. É por esse motivo que os especialistas sempre recomendam a importância de um planejamento financeiro e da reserva de emergência, que precisa ser construída antes de qualquer quantia ser destinada à Bolsa – veja aqui como criar sua reserva de emergência.
Dividendos como estratégia para o investidor
Cicéli Martins, de 44 anos, investe na Petrobras com foco no longo prazo. Os dividendos interessam para ela e o pagamento de proventos tem ocupado um lugar central no noticiário da estatal. A petroleira já chegou a ser classificada como a maior pagadora de dividendos do planeta, superando companhias como Microsoft, Nestlé e Mercedes-Benz. A petroleira pagou cerca de 75% do seu valor de mercado nos últimos 3 anos, o equivalente a R$ 365,5 bilhões. No entanto, perdeu a posição entre as líderes globais no primeiro trimestre de 2024.
Atualmente, a investidora tem 5% da carteira alocada em Petrobras, porcentual que já foi mais, por volta de 8% da carteira, até realizar algumas vendas no início de 2024 com o objetivo de capturar lucros em 2023. Com seu sotaque mineiro de Belo Horizonte, a engenheira química conta que tem ações da estatal desde a estreia dos papéis preferenciais da companhia na Bolsa de Valores, em 2006. “Eu já passei por tudo com as ações da empresa, desde a ‘marolinha’ de 2008 até uma grande crise no governo Dilma Rousseff que fez a ação ser negociada por volta de R$ 4”, diz.
A marolinha de 2008 se refere à expressão usada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu segundo mandato ao especular os impactos da crise econômica mundial do subprime no Brasil, deflagrada na quebra do banco americano Lehman Brothers.
- Ainda dá tempo de comprar Petrobras pensando nos dividendos. Vale a pena?
Embora a empresa tenha apresentado turbulências, as ações da Petrobras proporcionaram um verdadeiro mar de rosas para a investidora nos últimos dois anos por causa dos proventos. Ela lembra dos “ótimos” dividendos que já ganhou da petroleira, foco de estratégias de muitos investidores de Bolsa que têm Petrobras na carteira e que apostam em companhias cujos pagamentos remuneram o acionista a ponto de gerar renda extra firme e constante.
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A estratégia de gerar uma renda mensal fixa com dividendos de ações, conhecida como renda passiva, foi difundida no Brasil por Luiz Barsi, o rei dos dividendos. Ele começou em 1968 e hoje ocupa o posto de maior investidor pessoa física da Bolsa. Com uma fortuna estimada em R$ 4 bilhões, Barsi já chegou a receber R$ 1 milhão em dividendos por dia da sua carteira previdenciária, em 2022. Para chegar lá, o megainvestidor comprou ações que garantiam ao menos 6% de dividend yield (rendimentos de dividendos) por ano e que apresentavam boa gestão e lucratividade. Com o tempo, Barsi passou a reinvestir os ganhos, que o levaram à fortuna atual.
A dobradinha “bons fundamentos” e “bons dividendos” hoje acompanha as ações da Petrobras, mas não foi sempre assim. A companhia não era uma grande pagadora de dividendos até 2020. Segundo levantamento de Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, o maior rendimento de proventos de Petrobras entre 2010 e 2020 chegou a 5,8%, em 2014, mas nos períodos anteriores não havia passado de 3%. e o menor foi de 0% em 2015, 2016 e 2017.
A partir de 2021, a Petrobras virou uma verdadeira máquina de distribuição de dividendos. Naquele ano o pagamento atingiu 19,94% e em 2022 bateu nos 58,84%. Em 2023, o pagamento de proventos chegou a 29,58%. Com tais números, diversas casas de análise passaram a recomendar compra para as ações da Petrobras com foco em dividendos. O episódio de retenção dos pagamentos extraordinários e a recente troca na gestão da estatal, porém, ligou o sinal de alerta dos analistas.
Investidor vira sócio da empresa
No caso da Petrobras, os analistas estão recomendando compra no momento. Mas o que significa comprar uma ação? Tal atitude do investidor exige responsabilidade para acompanhar as principais notícias da empresa e ficar atento à comunicação da companhia com o mercado.
Vale a pena olhar o balanço e observar se a companhia apresenta bons números, como lucro líquido em crescimento, lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) positivo e endividamento controlado. Caso o investidor não tenha conhecimento para entender os resultados financeiros, ele deve procurar ajuda de analistas e corretoras. Com o tempo e a técnica aprimorada, as quedas dos preços das ações deixam de ser problema para virar oportunidade.
“As corretoras publicam relatórios, nos quais os analistas fazem uma recomendação de compra ou venda do ativo e estimam preço-alvo para a ação, tudo isso amparado por uma análise profissional dos dados tanto da companhia quanto do setor em que ela está inserida. Além disso, existem as carteiras sugeridas de ações que levam como base tanto a análise das empresas quanto uma diversificação de ativos”, detalha Villela, do Banco do Brasil.
Já quem consegue andar com as próprias pernas pode seguir o exemplo de Frederico Mendonça, morador de Lauro Freitas, uma cidade da região metropolitana de Salvador, Bahia. Mendonça, hoje com 42 anos, começou a investir no fim de 2023. Ele já acompanhava o mercado financeiro como administrador de empresas e decidiu colocar em sua vida pessoal aquilo que praticava no trabalho. Em março daquele ano, Freitas aproveitou a queda de 10% da ação, cotada a R$ 36,12, para montar posição.
Segundo o investidor, enquanto a empresa apresentar lucro robustos e todos os fundamentos do balanço positivo, ele continuará posicionado no papel. “Se a ação cair por receio de uma intervenção política, mas o fato em si não tiver grande impacto sobre o lucro e a distribuição de dividendos da empresa, eu vou comprar mais. No meu ponto de vista, essas quedas representam oportunidades para comprar a ação barata”, diz.
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No acumulado de 2023, primeiro ano do terceiro mandato do governo Lula, a Petrobras lucrou R$ 124,6 bilhões. Comparado ao resultado de 2022, a cifra representa uma queda de 33,8%. Essa redução do lucro já era esperada pelo mercado devido à baixa do petróleo no mercado internacional. “São esses fundamentos que vejo em Petrobras. Claro que eu temo uma ingerência política, mas por enquanto não temos nada material. Eu sempre olho o balanço da empresa e, hoje, vejo que ela está lucrativa. Não há motivo para vender agora”, argumenta Mendonça, que tem 10% do total da sua carteira de ações em Petro.
O que esperar da Petrobras
Segundo Vicente Falanga do Bradesco BBI e Ricardo França da Ágora Investimentos, a troca de Prates por Chambriard gera incertezas sobre o futuro da empresa. Mas ambos comentam que a escolha da nova CEO é positiva, já que ela tem uma longa carreira no setor de petróleo e gás – veja aqui como o mercado recebeu o nome de Magda Chambriard. Ela começou a trabalhar na Petrobras nos anos 1980, quando acumulou conhecimentos sobre todas as áreas em produção no Brasil e foi diretora da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil (ANP) entre 2012 e 2016.
- Nova CEO impõe uma única condição para Petrobras pagar dividendos; veja qual
Apesar de estimarem que a empresa deve aumentar os investimentos sob a nova direção, a dupla diz que as políticas de preços e de dividendos da Petrobras não devem ser alteradas no mandato de Chambriard. Isso porque esses pontos podem potencialmente entrar em conflito com a Lei das Estatais ou com acionistas minoritários e autoridades legais locais e internacionais, como a SEC, órgão americano equivalente à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) brasileira.
Por causa disso, os analistas da Ágora e do BBI recomendam compra para Petrobras, com preço-alvo de R$ 47, uma potencial alta de 27% na comparação com o fechamento de segunda-feira (27), quando a ação encerrou o pregão a R$ 37,01. O BTG Pactual também recomenda compra, mas a indicação serve para os papéis da Petrobras listadas em Nova York, conhecidas como American Depositary Receipts (ADRs, recibos que permitem comprar nos EUA ações de empresas não americanas). O preço-alvo é de US$ 19 para os próximos 12 meses, uma potencial alta de 28,2% na comparação o fechamento de sexta, quando a ADR encerrou o dia a US$ 14,82. Não houve negociação no mercado estadunidense nesta segunda-feira devido ao feriado Memorial Day, dia que homenageia os militares americanos que morreram em combate na guerra de secessão.
Os analistas do BTG afirmam que mesmo com o aumento da desconfiança do mercado após a troca na presidência da empresa o banco reitera a sua recomendação de compra por acreditar que ainda há poucas evidências de que a Petrobras deixará de pagar dois dígitos de dividendos em 2024 e 2025. “Preferimos permanecer consistentes com nossas decisões anteriores e evitar reagir exageradamente a mudanças repentinas do governo. Estimamos que a Petrobras deve pagar 14,4% do valor de sua ação em dividendos em 2024 e 10,9% do preço de seu ativo em dividendos em 2025”, apontam Pedro Soares, Thiago Duarte e Henrique Pérez, que assinam o relatório do BTG.
Já a equipe do Goldman Sachs usa as demissões ocorridas no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro para exemplificar que a troca no comando na estatal não consegue mudar a governança corporativa. A mais dolorosa ficou com a saída de Roberto Castello Branco para a entrada de Joaquim Silva e Luna, em fevereiro de 2021. Na época, Bolsonaro reclamava da política de preços da estatal, que seguia a paridade internacional. O Goldman Sachs lembra que o mercado temeu uma grande interferência do governo na companhia à época. Desde então, as ações da Petrobras subiram 205%, de R$ 12,12 em 22 de fevereiro de 2021 para R$ 37,01 no dia 27 de maio.
“Notamos que outros presidentes mudaram o comando da Petrobras, mas, no fim da história, sempre vemos as ações se recuperando devido a fundamentos sólidos e uma melhora da governança corporativa da empresa iniciada em 2016 com a Lei das Estatais”, explicam Bruno Amorim, João Frizo e Guilherme Costa Martins, que assinam o relatório do Goldman. Os analistas estimam que a ação está atrativa e a empresa pode pagar 15% de dividend yield (DY) em 2024. Para 2025, a estimativa é de DY de 8,6% e, para 2026, de 8,5%. O banco americano recomenda compra com preço-alvo de R$ 43,80 para PETR4, uma potencial alta de 18,3% na comparação com o fechamento de segunda-feira (27).
O que o pequeno investidor de Petrobras teme?
Do pequeno ao grande, investidores digerem as mensagens e os recentes acontecimentos da Petrobras e tentam imaginar cenários futuros bons e ruins para a estatal. Como empresa de maior peso no Ibovespa, os movimentos no preço das ações tendem a fazer barulho.
Mendonça conta que se a Petrobras tomar medidas que atrapalharem o lucro, como uma forte interferência nos preços dos combustíveis, ele venderá as ações da petroleira. No entanto, ele tenta manter a serenidade. “Não tem como negar que é difícil ver o papel oscilando, visto que o dinheiro que você aplicou veio de muito esforço e isso me deixa aflito, principalmente se a Petrobras voltar a ter problemas com corrupção. No entanto, eu sempre olho para os fundamentos para manter a calma e separar o falso ruído da realidade”, comenta o administrador de empresas.
- Veja também: Os fundos que mais apostam na queda da Petrobras
Já Cicéli afirma que teme uma série de investimentos da empresa em setores não lucrativos, mas se preocupa, principalmente, com um cenário em que a empresa não repasse o preço do petróleo do mercado internacional para o consumidor brasileiro – prática que já ocorreu nos governos de Dilma Rousseff e Bolsonaro. “Meu maior medo é que a companhia congele os preços dos combustíveis. Se isso acontecer, vamos enfrentar uma grande volatilidade no mercado. Eu não vou vender os papéis, estou com eles há muito tempo. Meu foco é na rentabilidade com dividendos para ter um bom lucro no longo prazo, por isso, eu acompanho a empresa como uma verdadeira sócia”, explica a engenheira.
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Diante do início do mandato de Magda Chambriard, os pequenos investidores acompanham atentos aos novos movimentos da Petrobras e esperam que a estatal proporcione lucros para suas carteiras daqui para a frente. De preferência, sem tantos sustos.