- Investimento que promete pagar IPCA + 25% pode ter uma rentabilidade bruta entre 16% e 45% ao ano
- Modalidade que pode pagar IPCA + 25% ao ano tem pouca liquidez por ser um precatório; entenda os riscos
- Algumas debêntures também podem pagar um rendimento atrativo para o investidor; veja
O mundo dos investimentos pode parecer tentador e simplista ao olhar as propagandas que aparecem na tela do celular. Atualmente, algumas delas prometem um rendimento não apenas acima da inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), mas retornos impressionantes que giram em torno dos 30% ao ano – enquanto investidores da renda fixa comemoram o ganho real de 6%. Não é de hoje, porém, que as propagandas de investimentos de alta rentabilidade bombardeiam o investidor, a questão está em descobrir se eles realmente cumprem tudo aquilo que elas prometem.
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Em 2019, Bettina Rudolph virou meme após dizer que conseguiu um patrimônio de R$ 1 milhão investindo apenas R$ 1.500 em ações. Na época, a Selic estava em baixa – a taxa passou de 6,50% para 5% ao ano no fim de 2019 – e por isso as propagandas focavam em rendimentos da renda variável, visto que os juros em baixa impulsionam os ativos de risco. Em 2024, entretanto, o cenário se encontra completamente diferente: a Selic está em 10,50% ao ano, atraindo capital para a renda fixa. E é justamente nesse âmbito que as novas ofertas se espalham, com promessas de grande rentabilidade.
De fato é possível ter a rentabilidade acima dos 20% ao ano, mas o investidor deve estar atento aos riscos e a detalhes que não são contados nas peças publicitárias. A Hurst Capital promete pagamento do investimento corrigido pelo IPCA + 25% ao ano, o que significa rendimento real de 18,81 pontos porcentuais acima do prêmio oferecido pelo título do Tesouro Direto atrelado ao IPCA com vencimento para 2029, que no fechamento do mercado desta quarta-feira (21) pagava 6,21% ao ano de rendimento real.
Em entrevista ao E-Investidor, Arthur Farache, CEO da Hurst Capital, comenta que o investimento não está atrelado ao IPCA como diz a propaganda veiculada pela empresa nas redes sociais. O produto se refere a um Certificado de Recebível (CR) lastreado em honorários advocatícios de processos judiciais contra o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). Esses certificados de recebíveis são conhecidos popularmente como um precatório. A reportagem encontrou a propaganda em um story patrocinado no Instagram.
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Segundo Farache, o investimento não está atrelado ao IPCA, mas pode render cerca de 30,06% ao ano no cálculo base da companhia. “Descontando a inflação estimada para este ano, a rentabilidade real fica em torno de 25% ao ano”, diz o executivo da empresa. De acordo com o mais recente boletim Focus, o mercado estima uma inflação de 4,22% para 2024 e de 3,91% para 2025. Ao descontar o rendimento bruto da inflação, o rendimento real prometido para 2024 seria de 25,84% e para 2025, de 26,15%. Ou seja, são dois rendimentos reais acima de 25% ao ano.
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O presidente da Hurst comenta ainda que a companhia traça três possibilidades para esse investimento, o resultado conservador, o otimista e o de base. No cenário conservador, os Certificados de Recebíveis podem render 16,84%. Já no otimista, o rendimento vai para 45,13%, enquanto no cenário base o rendimento fica nos 30,06% ao ano citados anteriormente.
O executivo conta que esse investimento é composto por uma carteira de 80 ações judiciais e que ele nem ninguém sabe qual será o tempo concreto para a Justiça julgar os processos ali envolvidos. Por isso, quanto mais demoram para serem apreciados, mais próximo do cenário conservador se encontra o investimento. E quanto mais rápido a Justiça julgar as ações, mais perto da projeção otimista ele estará.
Farache diz, no entanto, que essa modalidade exige um ticket de pelo menos R$ 10 mil para o investidor aportar. Esse número está distante da realidade de muitos brasileiros, visto que a maioria faz aportes médios de até R$ 1 mil. Segundo dados mais recente do Tesouro Direto, 54% dos investidores que compraram títulos do governo fizeram aportes de até R$ 1 mil. Já os valores acima de R$ 10 mil, preço mínimo exigido pela Hurst, contempla apenas 10% das compras realizadas em junho de 2024.
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Todavia, existem outros investimentos. Eles não são exatamente ativos judiciais, são títulos de dívida emitidos pelas empresas para o mercado financeiro. Essa modalidade, conhecida como debêntures, pode entregar boa rentabilidade para o investidor.
Investimentos que pagam 20% ao ano
De acordo com Pedro Pezzo, head comercial do PeerBR, existem duas debêntures com rentabilidades prefixadas, que atualmente pagam em torno de 20% ao ano para o investidor. Ambas são da GCB Securitizadora. A primeira tem vencimento em 28 de janeiro de 2025 com um rendimento prefixado em 19,56% ao ano. O valor mínimo para investir nesse ativo está estipulado em R$ 5 mil.
Como esse primeiro título de dívida está prestes a vencer, o executivo aponta outras opções para o investidor que busca essa rentabilidade por período mais longo. A outra debênture da GCB Securitizadora, da emissão DEB021, tem vencimento em 31 de julho de 2027 e rendimento prefixado previsto de 26,82% ao ano. O valor mínimo para entrar nessa debênture é de R$ 10 mil.
Com base nessas perspectivas, a plataforma também oferece aportes em ativos judiciais, os precatórios. A estimativa de rentabilidade chega a 22,41% ao ano, ou 194% do CDI. Esses processos exigem um investimento mínimo de R$ 500 e têm vencimento previsto para 18 de junho de 2026.
Pedro Pezzo, da PeerBR, lembra que tanto as debêntures quanto os ativos judiciais possuem seus riscos e o investidor não deve ignorar nenhum deles. O especialista comenta que as debêntures oferecem risco de crédito ao investidor e, caso a companhia emissora venha quebrar, provavelmente o investidor sairá de mãos vazias, já que a empresa emissora não terá como pagar a dívida. Por isso, ele recomenda que o investidor sempre avalie o crédito de cada empresa que oferta títulos, análise que envolve os ratings das gestoras globais.
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Já em relação aos ativos judiciais, Pezzo afirma que essa modalidade pode ser considerada um pouco mais segura por um lado, diante do fato de que o pagador desses ativos ser o governo e as chances de o Estado quebrar são menores do que uma empresa que emite uma dívida em troca de uma grande rentabilidade.
Entretanto, mesmo que a chance de a União quebrar seja menor, o especialista lembra que se o investidor optar por um recebível de dívida que ainda está sendo julgado, o processo pode demorar muito mais que o estimado e, consequentemente, comprometer a rentabilidade. “O ideal é sempre procurar ativos judiciais que já tiveram sua decisão e data de pagamento definidas na Justiça. Ainda assim, é possível que o investidor desses ativos tenha prazo de pagamento prorrogado, como foi feito no governo Bolsonaro com a PEC dos Precatórios”, exemplifica Pedro Pezzo.
Arthur Farache, CEO da Hurst Capital, observa que caso o investidor tenha optado por um recebível cuja decisão final da Justiça determina o pagamento que ultrapassa o prazo inicial, ele receberá correção correspondente ao atraso pela Selic. “Nesse caso, mesmo com o tempo do investimento alterado de dois anos para cinco anos, por exemplo, o investidor teria uma Selic turbinada sobre o valor final, e não sobre o investido, gerando juros sobre juros. Ou seja, caso o investidor aporte R$ 14 mil para receber R$ 20 mil depois de dois anos e a Justiça prorrogue o pagamento para mais três anos, o dinheiro a ser pago, os R$ 20 mil, tende a ser atualizado pela Selic neste período adicional. Isso torna o investimento atrativo mesmo com o atraso do pagamento”, diz Farache.
Os investimentos alternativos valem a pena?
O E-Investidor conversou com analistas independentes para saber se vale a pena aportar nesses ativos alternativos de alta rentabilidade. O censo comum entre os consultados indica que as propagandas não entregam, de fato, tudo o que prometem.
Com base nas atuais estimativas de inflação, os rendimentos de tais ativos estão próximos a 30% ao ano. Todavia, caso haja uma disparada dos preços na economia brasileira nenhum deles protege o investidor diretamente – como ocorre, por exemplo, com os títulos do Tesouro IPCA, que estão atrelados ao índice inflacionário – e conservam a rentabilidade. Além disso, os analistas dizem que esses investimentos são voltados para um perfil específico de investidor.
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Segundo João Coutinho, economista e diretor da RJ+Asset, esses ativos têm como alvo investidores com perfil arrojado. Ele até reconhece que os ativos judiciais têm ganhado espaço no mercado, mas para Coutinho o maior risco está relacionado à liquidez. “Existe sempre o risco de um ente federativo atrasar, ou a regra do jogo mudar, como vimos num passado recente. Além disso, existe um risco adicional que é do Poder Judiciário em si. O precatório tem que ser bem analisado, existe um processo para o comprador conseguir receber e tudo isso precisa ser bem verificado pelo investidor”, diz.
De acordo com o economista, o dinheiro para comprar um ativo judicial deve ser aquele que o investidor não tem planos de resgatar, visto que uma vez feito o aporte somente no vencimento há a possibilidade de resgate.
Marco Saravalle, sócio-fundador da BM&C e da MSX Invest, comenta que esses ativos que prometem pagar IPCA mais até 30% ao ano podem ser oportunos na carteira do investidor, desde que ele consiga fazer um bom balanceamento de risco, principalmente para as debêntures. “No caso daquelas que possuem rentabilidade elevada, podem fazer parte da carteira do investidor que já aplica na Bolsa de Valores. Esse perfil já tem experiência com o risco e pode ser muito atrativo comprar um ativo que paga 20% ao ano”, diz o especialista.
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Renato Callado, head de Marketplace da Bloxs, comenta que os investimentos alternativos fazem sentido quando se encontram controlados na carteira. Ele comenta que se uma empresa precisa pagar juros em um patamar elevado isso ocorre ou por ela ser pequena ou por ter pouca confiança do mercado – logo, há riscos para o investidor.
Quanto investir em ativos de alto rendimento
Outro ponto visto colhido pela reportagem está relacionado ao porcentual máximo que esses ativos podem fazer dentro da carteira do investidor. Callado estima que esses ativos devem compor entre 15% e 20% do portfólio, no máximo. João Coutinho, economista e diretor da RJ+Asset, fala entre 5% a 10%, enquanto Saravalle estipula entre 10% a 20%.
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Os investimentos alternativos majoritariamente não são voltados para a maioria dos investidores que aportam no Tesouro Direto. Embora as propagandas sejam tentadora, o IPCA + 25% ao ano não é tão simples de ser alcançado, não oferece liquidez e só se torna atrativo para o investidor que possui um grande patrimônio. Caso cumpra esses requisitos, a oportunidade está ao alcance, mas as condições não atendem a situação do investidor. Melhor se manter do consagrado IPCA+6%.