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Efeito Petrobras (PETR4) derruba estatais e abre janela de compra. Vale o risco?

Analistas apontam várias estatais na promoção, com dividendos que podem chegar a 15%. Confira

Efeito Petrobras (PETR4) derruba estatais e abre janela de compra. Vale o risco?
Petrobras. (Foto: Wilton Junior/Estadão)

Furada ou oportunidade? Aparentemente a maioria das estatais listadas na Bolsa brasileira está com preços muito baratos, segundo analistas consultados pelo E-Investidor. Como todo aquele focado em dividendos sabe, quando o desconto está grande é hora de ir às compras. Mas, nesta circunstância, será que abocanhar as pechinchas dará os melhores resultados ou fugir do risco político se torna a decisão mais acertada?

Um levantamento de Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, revela que entre os dias 7 e 13 de março as estatais e empresas com algum tipo de ingerência do governo no controle perderam juntas R$ 84,101 bilhões em valor de mercado. O “efeito Petrobras” (PETR3; PETR4) assombrou a Bolsa neste período, após a gestão da estatal decidir não pagar dividendos extraordinários aos acionistas, referente aos resultados do quarto trimestre de 2023.

A petrolífera perdeu R$ 53,75 bilhões entre o dia 8 de março e a última quarta-feira (13), contudo, não foi a única estatal a apresentar baixa. O Banco do Brasil (BBAS3), que tem o governo como controlador da empresa, recuou R$ 4 bilhões em valor de mercado. Já a mineradora Vale (VALE3), na qual o governo tem 8,68% de participação por meio do fundo de pensão Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ), teve uma queda em valor de mercado de R$ 22,74 bilhões.

Além destas empresas, também figuravam nas maiores quedas: Sabesp (SBSP3) e Caixa Seguridade (CXSE3), com perdas de R$ 1,9 bilhão e R$ 540 milhões, respectivamente.


O que provocou a queda das ações das estatais 

Segundo os analistas, parte da baixa esteve relacionada a um “efeito cascata” com a Petrobras. Ao sofrer com a intervenção política, naturalmente o mercado acredita que o mesmo possa ocorrer com outras estatais, principalmente aquelas que têm uma forte participação do governo como controlador.

Esse, no entanto, não foi o único motivo. Na Vale, Victor Bueno, sócio e analista de ações da Nord Research, explica que a queda do minério de ferro, em mais de 5% só na última segunda-feira (11), influenciou. A commodity atingiu o menor valor em quatro meses diante de fundamentos fracos na China.

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Por outro lado, a Vale também apresenta certa interferência no seu comando, na tentativa de escolher um nome para CEO da mineradora, afirma Gustavo Poladian, sócio e analista de renda variável da Meraki Capital. “Nesta semana, a empresa aumentou o mandato do atual presidente, Eduardo Bartolomeo, por mais um ano e agora enfrenta o desafio de escolher um nome para 2025”, diz. Bartolomeo deve ajudar na transição do mandato da mineradora.

Este não é o primeiro sinal de interferência, no passado, o governo já tentou emplacar no cargo o ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, possibilidade que foi descartada após repercussões negativas. No início da semana, o conselheiro José Luciano Duarte Penido renunciou ao cargo e afirmou em carta que o processo sucessório do comando da Vale “vem sendo conduzido de forma manipulada, não atende ao melhor interesse da empresa e sofre evidente e nefasta influência política”.

Segundo Poladian, pesam também na companhia os acordos para reparação dos desastres de Mariana e Brumadinho e a renovação de concessão de ferrovias. “Há um receio no mercado de possíveis retaliações do governo contra a Vale”, comenta.

Outro que sentiu levemente os efeitos foi o Banco do Brasil, que tem 50% das ações em mãos do governo. Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, destaca que no dia 8, o Banco do Brasil apresentou uma maior volatilidade. Além disso, houve um respingo de receios políticos em BB Seguridade (BBSE3) e Caixa Seguridade, diz o analista.

O impacto no Banco do Brasil, contudo, foi menos da metade do registrado na Petrobras. Segundo Serra, isso ocorre porque no setor bancário há várias empresas sob o guarda-chuva do governo, entre elas o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Caixa Econômica Federal (CEF), que ajudam a disseminar o risco do setor. Já no segmento de petróleo e gás, a única expoente é a Petrobras, que acaba ficando na linha de frente.

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Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, lembra que quando o investidor aplica seu dinheiro em estatais automaticamente se torna uma espécie de sócio do governo, motivo pelo qual deve ficar alerta com os solavancos do mercado. “Todas as companhias que têm o governo como controlador ou forte participação na base acabam sentindo o risco como efeito cascata. Quando o controlador é o mesmo, fica difícil desassociar ou pensar que o governo vai agir diferente em outra empresa”, aponta.

Daniel Nigri, analista e fundador da Dica de Hoje Research, se mostra mais cético em relação ao “efeito Petrobras”. Ele destaca que muitos investidores se esqueceram do óbvio: a renda variável movimenta para cima ou para baixo. Ele lembra que no caso da Petrobras, a estatal chegou a subir mais de 100% no passado. “É natural que uma empresa que sobe 100% possa cair 12% ou 13%, uma correção normal”, diz.

Na Vale, Nigri destaca a forte queda do minério de ferro como impulsionador de perdas. Já na Caixa Seguridade, o analista cita a forte alta da ação, que em algum momento precisaria corrigir esse ganho. Para Nigri, a queda de valor de mercado das estatais trouxe desconto para as ações e longe de um risco, a situação indica uma oportunidade de compra. “Vou no caminho oposto, agora eu quero aproveitar estatais”, defende.

Longe do radar

Na contramão, há companhias nas quais o risco político da União não tem grandes impactos. Serra, da Toro, cita Copasa (CSMG3) e Cemig (CMIG4), que embora tenham enfrentado no passado um possível risco de federalização, com a dívida do Estado de Minas Gerais indo para a União, o mercado já teria precificado estes impactos e, por isso, são menos influenciadas pelo “efeito Petrobras”.

Bueno, da Nord, destaca companhias que foram privatizadas, como Eletrobras (ELET3; ELET6) e Copel (CPLE6), em que o impacto do risco político é minimizado. Além da Sabesp, que se encontra em processo de privatização. Até mesmo as seguradoras, Caixa Seguridade e BB Seguridade, estariam mais protegidas de interferências, do que a Petrobras observa o analista da Nord.

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Poladian, da Meraki Capital, reforça que o investidor não pode focar apenas no discurso do governo e, sim, nas efetivas ações dele nas empresas. “A grande maioria dos governos possui um discurso populista para agradar a população e não necessariamente isso irá se traduzir em uma ação efetiva na empresa”, pontua. Ele também recomenda observar a governança das companhias e quais aspectos do estatuto social garantem alguma segurança para o investidor e se o governo possui alguma ação para alterar isso.

O que é oportunidade de compra entre as estatais?

Diante da queda de algumas estatais, analistas citam as que oferecem oportunidade de entrada para quem busca renda passiva no curto e no longo prazos. Serra, da Toro, destaca Vale, Banco do Brasil, Copasa e BB Seguridade. Na Vale espera um dividend yield (rendimento de dividendos) de 8,92% para 2024 e preço-alvo de R$ 95. Ele destaca que a companhia consegue negociar o seu minério de ferro com um prêmio no mercado internacional, além da capacidade de manter os custos da operação baixos.

Serra também cita que 15% da receita da Vale está atrelada a metais para transição energética. “Níquel, cobre podem se desenvolver diante da transição da matriz energética nos automóveis indo para eletrificação”, comenta. Para Serra, a companhia tem conseguido entregar dividendos elevados e serve para o longo prazo, apesar do risco de desaceleração da economia chinesa.

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Nigri também gosta da Vale e espera que a mineradora remunere os acionistas com R$ 6 por papel em 2024, um dividend yield de quase 10%. O analista recomenda a compra até o patamar de R$ 75 (preço-teto). “Dificilmente o mundo vai parar de consumir o minério da Vale. Além disso, a companhia já está investindo em cobre e níquel”, afirma.

Para Poladian, da Meraki Capital, a Vale tem capacidade de pagar apenas dividendos regulares em 2024, com um dividend yield de 8%, desde que o preço médio do minério seja de US$ 115 a tonelada. “Mas é importante lembrar que o nível de pessimismo sobre a empresa está grande e se a Vale conseguir lidar com todos esses desafios de curto prazo e o minério continuar em um patamar elevado, é possível que ação possa ter um bom desempenho”, avalia.

Serra também cita a empresa de saneamento Copasa, do Estado de Minas Gerais, que vem entregando dividendos bons e com frequência. Segundo o analista da Toro, por estar no segmento de utilities (serviços essenciais), a companhia tem uma atuação no Estado bem semelhante a um monopólio. “Geralmente ela atua como player único e apresenta resiliência e constância na sua receita e, graças a isso, distribui dividendos interessantes para os acionistas”. Para Serra, o dividend yield esperado em Copasa é de 8,12% para 2024.

Nigri destaca que Copasa pode ser a melhor empresa de saneamento para dividendos em 2024. A companhia remunera os acionistas trimestralmente. “Na minha visão, ela vai continuar pagando R$ 0,35 centavos por trimestre, algo em torno de R$ 1,40 no ano”, calcula. Segundo o analista da Dica de Hoje Research, o dividend yield da Copasa com proventos regulares poderia chegar a 7%, mas se houver pagamentos extraordinários pode saltar até 15%. Ele recomenda a compra até o preço-teto de R$ 25.

Investimentos em bancos e seguradoras

No segmento de seguros, os analistas estão otimistas com BB Seguridade (BBSE3). Serra acredita que apesar da queda gradual da Selic, um CDI (Certificado de Depósito Interbancário e principal indicador de desempenho da renda fixa) pode rentabilizar o caixa e o prêmio pago pelos seguros. Com a retomada da economia, a contratação de seguros também deve aumentar.

O risco estaria, na visão dele, no agronegócio, um dos principais mercados da companhia, por conta de mudanças climáticas como o fenômeno El Ninho, que pode elevar os sinistros e gerar inadimplência. No entanto, Serra destaca o pagamento semestral da companhia, nos meses de fevereiro e agosto, e o valor das distribuições, que acabam compensando a espera pelo provento. Para BB Seguridade, ele projeta um dividend yield de 10,25% para 2024.

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Na Nord Research, a BB Seguridade é a única estatal recomendada pela casa, com foco em dividendos. Bueno projeta um dividend yield de 10,3% para este ano e aconselha a compra do papel até R$ 56. “É uma empresa resiliente com forte potencial de retorno por meio de proventos. O setor de seguros é um mercado estável e que vem se mostrando muito bom para uma carteira previdenciária”, avalia Bueno.

Nigri, da Dica de Hoje, aponta que se a BB Seguridade não fizer muita recompra de ação neste ano terá potencial de distribuir entre R$ 2,80 e R$ 3 por ação. Mas caso a companhia opte por destinar parte do caixa para recompras, o valor do dividendo cai. “De toda forma, vejo potencial para BB Seguridade entregar entre 7% e 9% de dividend yield. Nosso preço-alvo está em R$ 32 e nossa recomendação é neutra”, afirma.

Na Toro Investimentos, o Banco do Brasil (BBAS3) também integra a carteira de dividendos, com dividend yield esperado de 9,83%. O analista destaca que a ação negocia com bom desconto diante dos bancos privados. Serra explica que o banco estatal tem exposição forte ao segmento agro, o que contribui para uma inadimplência menor, principalmente a de 90 dias.

Para o analista, o Banco do Brasil tem um Retorno sobre Patrimônio Líquido (ROE) e consegue gerar um lucro semelhante tão bom quanto o do Itaú (ITUB4), mas negocia a preços mais baixos. No caso do Banco do Brasil, Nigri espera um pagamento de R$ 5,80 em dividendos neste ano, equivalente a um retorno com proventos de 10,1%. O preço-teto de compra é de R$ 64, podendo a ação valorizar até R$ 72, na visão do analista.

Nigri também cita como oportunidades Caixa Seguridade (CXSE3), com 7% de dividend yield e dividendos de R$ 1,10 por ação, e Sanepar (SAPR4), que pode pagar até R$ 1,80 por papel, com yield de 6% a 8% para 2024. O preço-teto de compra é R$ 27.

E a ação da Petrobras?

Tem ainda a Petrobras que, apesar do risco de ingerência política, permanece no radar de alguns analistas. Arbetman da Ativa espera que a companhia pague dividendos de 12% ou R$ 4,40 por ação, mas tem recomendação neutra para o papel.

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Nigri projeta R$ 4 de dividendos e dividend yield de entre 10% e 12%, com preço-teto de compra de R$ 28,50. Na Meraki Capital, a expectativa é de dividendos de até 13% apenas com distribuições regulares.