As ações de empresas argentinas negociadas nas bolsas de Nova York, nos Estados Unidos, dispararam ao longo da manhã desta segunda-feira (20) com o mercado repercutindo a eleição do candidato Javier Milei para a presidência do país. Os ADRs (American Depositary Receipt, recibos que permitem ao investidor comprar nos EUA ações de companhias não americanas) das empresas argentinas chegaram a ter ganhos de até 27% nos primeiros minutos de pregão.
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Apesar da alta valorização em decorrência da mudança de governo, os analistas recomendam cautela antes de investir nos papéis.
As ações da petroleira YPF foram os que mais se destacaram. Por volta das 11h (horário de Brasília), os ADRs registraram uma alta de 27%, cotados a US$ 13,63. Já às 13h, as altas chegaram a 35,6%. O otimismo do mercado reflete as expectativas do novo presidente da Argentina em privatizar a estatal.
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Segundo reportagem do Estadão, as privatizações fazem parte das medidas anunciadas por Milei para reduzir o tamanho do Estado argentino. Por outro lado, mesmo com a expectativa, os analistas do Bradesco BBI mantém uma recomendação neutra para o papel com um preço-alvo de US$ 20 devido ao atual risco do país.
“Se a empresa conseguisse precificar a gasolina e o diesel em linha com a paridade internacional, esperaríamos um forte impacto positivo no Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), parcialmente compensado por preços mais elevados do petróleo em linha com o mercado (a YPF é uma refinaria líquida) e preços mais baixos do gás”, informaram os analistas, em relatório.
Os ADRs do Grupo Financeiro Galícia (GGAL) também conseguiram ter ganhos nas primeiras horas da manhã desta segunda-feira. Por volta das 11h30, os papéis dispararam 21,60%, negociados a US$ 15,29. No entanto, o ritmo de valorização reduziu, mas ficou em torno de 19% às 13h. Já os ADRs do Banco Macro registraram uma valorização de 22,2% no início da tarde.
O ETF Global X MSCI Argentina, índice que representa a bolsa da Argentina nos Estados Unidos, subiu 11,6% no início da tarde de segunda-feira (20). Segundo Marcelo Cabral, CEO da gestora Stratton Capital, a forte valorização compensou as perdas que o ativo havia apresentado ao longo deste ano. “A forte alta compensou as perdas anteriores e fez com que o ETF superasse o índice do Brasil (iShares MSCI Brazil ETF) no acumulado de 2023, considerando o retorno em dólar”, afirmou Cabral.
Cautela
Apesar dos ganhos, Will Castro Alves, economista e sócio da Avenue, avalia que as ações oferecem um risco elevado para os investidores. Segundo ele, aqueles com foco no longo prazo precisam aguardar os desdobramentos da crise da Argentina para avaliar se as empresas oferecem oportunidades de investimento.
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“O Milei (presidente eleito) tem vários desafios. Ele precisa adotar remédios amargos, como juros ainda mais elevados. Fala em dolarizar a economia. Não sabemos como será a dolarização”, diz Alves. “Por isso, acho perigoso investir nas ações com esse cenário de entusiasmo”, acrescenta o sócio da Avenue.
No entanto, esse não é o único cuidado. Os investidores que buscam encontrar oportunidades de investimento na Argentina precisam também analisar a situação financeira das empresas. “É preciso olhar cada ativo com um olhar de empreendedor. A maioria das oportunidades acontece em momentos de pessimismo, mas é necessário investir com cautela”, ressalta Alberto Amparo, head de Análise Internacional na Suno Research.
Atualmente, os argentinos enfrentam uma hiperinflação de 142,7% nos preços em outubro, no acumulado dos últimos 12 meses, segundo o Instituto Nacional de Estatística e Censo (Indec). Apenas em um mês, de setembro para outubro, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do país avançou 8,3%, quase o dobro da inflação brasileira para o ano todo.
A alta dos preços permanece mesmo com a taxa de juros no patamar de 133% ao ano. As negociações da bolsa da Argentina seguem fechadas nesta segunda-feira (20) devido ao feriado do Dia da Soberania Nacional no país.