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Investimentos

Dividendos rápidos: 8 ações para retornos de até 30% no curto prazo

Companhias fogem da estratégia de renda para aposentadoria, mas podem fazer o investidor ganhar proventos ainda em 2024

Dividendos rápidos: 8 ações para retornos de até 30% no curto prazo
Colocar uma ação cíclica em uma carteira de dividendos tem muito a ver com momento certo. (Imagem: ronstik em Adobe Stock)

Tradicionalmente, uma carteira de dividendos  deveria estar formada apenas por empresas de setores perenes – tais como bancos, seguros, saneamento, elétricas e telecomunicações –, mas de tempos em tempos surgem algumas divergências nessa composição. Empresas cíclicas e com alta volatilidade nas suas receitas já chegaram a figurar entre as maiores pagadoras de proventos na Bolsa nos últimos anos. Nos seus tempos mais gloriosos, a Petrobras (PETR3; PETR4) entregou dividendos de 58%, enquanto a Vale (VALE3) chegou a ter mais de 15% de dividend yield (retorno em proventos).

Mas afinal, seria possível ter o melhor dos dois mundos? Uma carteira com empresas resilientes e previsíveis para o longo prazo e algumas “pimentinhas” para surfar em ciclos de alta no curto prazo, onde as companhias geram muito caixa e pagam proventos extravagantes?

Gabriel Duarte, analista da Ticker Research, acredita que sim. Para ele é importante que o investidor tenha algumas empresas cíclicas no seu portfólio, desde que conheça bem os ativos que possui. “Algumas empresas como Vale e Klabin (KLBN11) estão na Bolsa há décadas, experimentando benesses e desafios dos ciclos das respectivas commodities. Mesmo em momentos de baixa, as ações entregaram bons resultados e bons dividendos de tempos em tempos”, comenta.

Mas colocar uma ação cíclica em uma carteira de dividendos tem muito a ver com momento certo. Segundo Duarte, por mais contraintuitivo que pareça, o correto é entender o ciclo de cada setor e buscar investir no momento ruim dele. Sabe aquele momento em que ninguém quer comprar as ações? Esse é o momento certo. “Se comprarmos ações apenas quando ‘está tudo bem’,  o investidor pode ainda ter bons dividendos, mas perde parte relevante da alta dos papéis”, afirma. Para Duarte, o investidor precisa entender os ciclos para saber quando investir e quando desinvestir.

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Renato Reis, analista da Blue3 Research, acredita que o investidor não deve ter empresas cíclicas pensando exclusivamente em dividendos. Para ele, o objetivo principal deve ser o ganho de capital, enquanto o dividendo surge como uma consequência. “Se o investidor compra uma empresa que tem um bom fluxo de caixa, está em um ciclo bom, não tem problemas de dívida, já tem investimentos feitos, o dividendo vai ser a consequência de alocar em uma boa companhia”, pontua.

Ele também reforça a necessidade de avaliar porque o dividendo existe, se vai continuar existindo e se é saudável. “Tem empresa que paga mais do que tem em caixa, outras que fazem dívidas para pagar dividendos. O investidor precisa entender por que uma empresa dá lucro e projetar isso no futuro”, adverte.

Setores cíclicos que pagam dividendos no curto prazo

Nem todos os setores considerados cíclicos entregam dividendos. O varejo, por exemplo, não costuma ser recomendado para estratégias de renda passiva. Mas existem quatro setores que de tempos em tempos trazem boas oportunidades para o curto e o médio prazos: industrial, commodities, construção civil e agronegócio.

Reis destaca que o setor industrial é o mais estável entre os segmentos cíclicos e nele dá para encontrar boas empresas com fundamentos resilientes. Segundo o analista da Blue3 Research, a chance de uma empresa quebrar no setor industrial é muito rara, diferente do mercado imobiliário.

Ele exemplifica com a fabricante de autopeças e motores Metal Leve (LEVE3), uma companhia que nos últimos anos deu prioridade ao pagamento de dividendos. Segundo Reis, as oportunidades de crescimento agressivo eram escassas, motivo que levou a Metal Leve a trabalhar sempre com um dividend yield elevado. Com exceção de 2022, a fabricante teve um payout (parcela do lucro destinada a proventos) superior a 90% nos últimos cinco anos.

Duarte destaca que diferente do setor imobiliário, que vai recebendo os valores das vendas ao longo do tempo, no setor industrial o que for vendido é faturado na mesma competência. Desta forma, quando a economia não vai bem, há uma redução dos dividendos das empresas industriais, pelas vendas menores. Contudo, fica mais fácil para estas companhias administrarem seus recursos.

No setor de construção e incorporação, Duarte destaca que as empresas possuem um ciclo de caixa longo, ou seja, não recebem o dinheiro assim que vendem um empreendimento. “Normalmente é feito o investimento alto para construir e o valor vai sendo recebido ao longo dos próximos anos”, explica. Segundo o analista, o ciclo imobiliário costuma durar em média cinco anos. E não é raro ver empresas queimando caixa neste período.

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Ele aconselha aos investidores cautela com construtoras de endividamento elevado, que podem não pagar dividendos e, sim, utilizar os recursos extras para diminuir as dívidas. Reis cita também o tamanho do estoque de imóveis, caso a empresa vender com muito desconto perderá dinheiro. Geralmente o setor de construção, principalmente o de média renda, acaba se beneficiando com uma taxa de juros menor, aumentando a demanda por imóveis.

Nas commodities, o ciclo de alta costuma durar de três a quatro anos, explica Renato Chanes, analista da Ágora Investimentos. Após esse período, a oferta se ajusta à demanda e o ciclo se repete novamente. “O período em que é perceptível um descolamento entre a oferta e demanda, caso de períodos com restrição muito grande de oferta, significa uma oportunidade de comprar essas empresas de olho nos dividendos”, avalia.

Duarte aponta que a dinâmica para as companhias do agronegócio tem características semelhantes a das commodities. No caso das commodities agrícolas, ele cita a relevância de entender o ciclo da safra e acompanhar a oferta e demanda por meio dos contratos futuros da produção. É importante também estar atento ao endividamento da empresa, reforça.

Independente de qual seja a companhia ou o segmento, o investidor precisa trabalhar com uma visão do histórico de remuneração e não olhar apenas para os dividendos pagos em determinado ano ou ciclo de alta, pontua Marco Saravalle, analista CNPI-P e sócio-fundador da MSX Invest. A recomendação é olhar a média de dividend yield dos últimos cinco anos para cada empresa.

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Construção e incorporação

No segmento de construção, Saravalle cita a Mitre (MTRE3), que acredita tenha capacidade de entregar um dividend yield de entre 20% e 30% neste ano. Ele diz que a companhia já anunciou a sua prévia operacional do quarto trimestre com bons resultados e destacou que a empresa deve gerar forte caixa também no primeiro trimestre.

O risco, segundo Saravalle, estaria em uma eventual crise econômica no Brasil, situação em que o consumidores param de comprar imóveis e a Mitre ficaria, portanto, com muito estoque, o que provocaria inadimplência e afetaria o lucro da empresa, comprometendo os dividendos. Outro ponto de atenção seria um eventual aumento no custo das obras que reduziria a margem e lucratividade da Mitre. “A empresa depende de um cenário de juros mais baixos, que impulsionem financiamentos, ajudem o cliente e acelerem as vendas, expandido lucros e dividendos”, afirma o analista da MSX Invest.

Outro que gosta de Mitre é Reis, da Blue3 Research, que também espera um dividend yield de entre 15% e 25% para 2024. Mas entre os riscos, destaca uma desaceleração dos projetos do Minha Casa Minha Vida. O analista também não enxerga a governança da Mitre (MTRE3) com bons olhos. Em outubro de 2023, o Conselho de Administração da companhia aprovou a aquisição de imóveis em Trancoso-BA, de propriedades do controlador, que nada tinham a ver com o modelo de negócios da empresa. Na época, o mercado desaprovou a operação.

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Ainda falando em construção e incorporação, Reis destaca Cury (CURY3) e Plano&Plano (PLPL3) com dividend yield de 9% e 5%, respectivamente. “A Cury está em um setor com demanda quente, a própria diretoria já manifestou que quer elevar seu payout, então pode pagar bons dividendos”, aponta.

A Plano&Plano também está entre as preferidas de Duarte, da Ticker Research. O analista projeta um dividend yield de 7% para 2024. A companhia atua na construção de empreendimentos de baixa renda, como Minha Casa Minha Vida, que tem recebido investimentos do governo. “Parte dos empreendimentos construídos no passado estão sendo vendidos e entregues agora, gerando caixa para a empresa. Parte disso vira dividendo”, comenta.

Na indústria

No setor industrial, Reis prefere alternativas que ofereçam ganho de capital e dividendos ao mesmo tempo, entre estas destaca a Tupy (TUPY3), com dividend yield projetado de 7% para este ano e a Iochpe-Maxion (MYPK3), com proventos de 5,5%. Na visão do analista da Blue3, em 2024 a demanda por motores e montagem de automóveis vai melhorar, favorecendo estas empresas. Já  o risco está relacionado a uma desaceleração na produção de veículos, dado que as companhias são muito dependentes de montadoras.

Caritsa Moreira, analista da VG Research, cita também a Tupy (TUPY3), embora espere dividendos mais conservadores, de 4,3%. Ela explica que a Tupy produz componentes estruturais, manufatura para carros de passeio, comercial, entre outros, tanto no mercado interno quanto externo. Contudo, a maior exposição a carros comerciais e alguns veículos pesados acabaram pressionando seu resultado nos últimos trimestres. “Algumas mudanças na legislação de combustíveis mais sustentáveis prejudicaram suas vendas”, comenta.

A companhia também sente o impacto dos juros altos, problemas de cadeia produtiva e fatores macroeconômicos. “A Tupy está focando na sua geração de caixa, reestabelecendo seu negócio para depois pagar dividendos”, observa Moreira.

Outra companhia no radar da analista é a Metal Leve (LEVE3), para a qual projeta um dividend yield de 15% em 2024. A companhia foi a maior pagadora de dividendos em 2023, desbancando a Petrobras, por conta de umas distribuições extraordinárias que impulsionaram seu yield até 35,8%, ou R$ 10,72 por ação. Embora o patamar de 2023 dificilmente se repita, a companhia tem boas perspectivas para a distribuição de proventos nos próximos anos. “ A Metal Leve tem uma geração de caixa forte, endividamento controlado e poucos investimentos o que favorece a distribuição de dividendos”, avalia.

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A analista destaca, contudo, o risco de obsolescência da companhia, que trabalha com motores de combustão e não possui iniciativas para expansão diante da demanda do carro elétrico. O follow-on (oferta secundária de ações) feita pela Metal Leve em 2023 para diminuir a participação do seu controlador e pagar dividendos também não foi visto com bons olhos pelo mercado. “Não ter um plano de investimentos para que ela possa crescer e continuar gerando lucros e dividendos fica como um ponto de atenção”, diz.

Nas commodities

Entre as empresas de commodities, Saravalle cita a Petrobras (PETR4). A companhia não anunciou dividendos extraordinários referente ao 4° trimestre de 2023 e destinou R$ 43,9 bilhões para a reserva de remuneração de capital. A estatal remunerará seus acionistas com apenas R$ 14,2 bilhões.

Saravalle calcula que, sem dividendos extraordinários, a petrolífera ainda pode entregar um dividend yield de 8% a 9% em 2024. O analista da MSX Invest destaca que, por se tratar de uma companhia dependente dos preços variáveis do petróleo, o principal diferencial da Petrobras eram os proventos extraordinários. Assim, mesmo mantendo seus fundamentos, a companhia perde um pouco sua atratividade para estratégias de renda passiva.

Com o petróleo Brent no patamar de US$ 75 e US$ 85 em 2024, Saravalle espera dividendos robustos, mas recomenda manter o papel até que o risco das distribuições seja equacionado. “Para quem for comprar, faça isso de forma marginal e com cautela, mas a melhor decisão no momento é apenas manter a ação”, aconselha.

Duarte, da Ticker, espera um dividend yield de entre 10% e 12% em 2024, sem considerar proventos extraordinários. “A Petrobras ainda vai figurar entre as maiores pagadoras de dividendos da bolsa neste ano, por conta do seu forte fluxo de caixa livre”, defende. Ele acredita que a companhia já precificou más notícias que podem vir à tona. “Existe uma margem de segurança razoável”, completa.

Além da petrolífera, a Vale ainda reúne adeptos. Renato Chanes, da Ágora, acredita que a Vale tenha um dividend yield de 8% neste ano, considerando o minério de ferro em US$ 120 a tonelada. Para ele, a mineradora entregou ótimos resultados nos últimos dois anos, mas a oferta está ficando equacionada com a demanda. “Este ano ainda deve ser de dividendos bons, mas daqui para a frente acho que a companhia volta para a normalidade”, pontua.

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Por outro lado, Reis, da Blue3 Research, acredita que a Vale se encontra no meio do seu ciclo e destaca que a companhia ainda entregará dividendos robustos com o minério entre US$ 120 e US$ 130 a tonelada. O analista não descarta que os dividendos sejam menores nos próximos anos, mas ainda devem ser bons, exceto se o minério recuar para o patamar de US$ 70.

Reis projeta um dividend yield de 7,5% para 2024 na Vale e recomenda a compra do papel abaixo de R$ 60. A expectativa é que VALE3 valorize até R$ 81 até final do ano. Recentemente, a mineradora anunciou uma distribuição de dividendos de R$ 2,74 por ação – referentes aos resultados de 2023. Terão direito aos proventos os acionistas com posição na mineradora até o dia 11 de março. O pagamento está mercado para 19 de março.

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