Em alta no ano, fundos cambiais desabam junto com o dólar em julho

Apesar de ainda estar em alta de 31% no ano, a maioria dos fundos cambiais fechou julho no negativo. A aplicação segue de perto a rentabilidade de moedas estrangeiras, principalmente o dólar, que caiu cerca de 4,37% no mês.

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O resultado surpreende à primeira vista, já que a incerteza relacionada ao coronavírus levou ao ‘boom’ dos ativos de proteção no 1º semestre do ano. Em épocas de crise, em que há grande volatilidade e temor sobre o futuro da economia, os investidores costumam buscar por segurança em investimentos como ouro, euro e o próprio dólar.

O desempenho fraco da moeda americana negativou a rentabilidade de 53 dos 54 fundos cambiais abertos para captação e aplicação de cotistas. Em média, as aplicações caíram 3,75% no período. Esse foi o cenário evidenciado no levantamento exclusivo feito pela Magnetis Investimentos a pedido do E-Investidor.

Para os especialistas, um conjunto de condições levou ao arrefecimento do dólar e, por consequência, de grande parte dos fundos cambiais. “Podemos pensar nisso de dois ângulos: a valorização do real, por fatores internos, ou a desvalorização do dólar, por fatores externos”, disse Lucas Taxweiler, analista de investimentos da Magnetis.

No Brasil, um fator de força do real frente ao dólar seria a proposta de reforma tributária. “A reforma é um marco extremamente importante. Além disso, diversas empresas divulgaram resultados melhores que o esperado no segundo trimestre”, explica Taxweiler.

A questão da sazonalidade também teria pressionado a moeda americana para baixo. “Julho é tradicionalmente um mês mais fraco para o dólar, já que é o mês de férias nos Estados Unidos”, afirma Jefferson Laatus, estrategista-chefe do grupo Laatus. “A liquidez cai bastante. Quem estava com lucro no dólar, acabou colocando no bolso.”

Um bom mês para estar vendido em dólar

Dos fundos listados, o único positivo é também o único a ter a estratégia vendida em dólar, ou seja, de aposta na queda da moeda. O ‘Trend Short Dólar FI Cambial’, da gestora XP Vista Asset Management, teve rendimento de 4,10% em julho. Entretanto, no cenário anual, a aplicação ainda sofre com uma queda de 24,75%.

Em segundo lugar aparece o ‘BB Euro FIC Cambial LP’, que é o único a não ser relacionado ao dólar, e sim ao euro. O fundo teve queda em julho de 0,03%, bem mais discreta que a maioria. A rentabilidade anual é positiva, em 35,51%.

“Quando o mundo está bem, todo mundo sai do dólar e vai para uma moeda menos relevante, como o euro”, ressalta Laatus. “Além disso, o euro subiu bem por conta dos pacotes de estímulos de bilhões de euros que foi aprovado para socorrer países da União Europeia”, afirma. A moeda europeia teve variação de 0,20% no mês de julho, e 36,54% no ano, em um desempenho ainda mais favorável que o de sua par americana.

Finalmente, em terceiro lugar no levantamento vem o ‘BB Top Dólar FI Cambial LP’, que apresenta queda de 3,69% no período. A aplicação é a que teve menor perda entre as demais de estratégia comprada em dólar. De acordo com os analistas, o diferencial do fundo, em comparação aos demais que apostam na alta da moeda, é o custo fixo do investimento.

“Os fundos cambiais variam a mesma coisa que a moeda variou, menos os custos”, aponta Felipe Peixinho, superintendente de produtos da Ágora Investimentos. “O que influencia majoritariamente no resultado final é a taxa de administração.”

A taxa de administração do BB Top Dólar Fi Cambial é de 1% ao ano. Já o fundo com a pior performance do mês, o ‘Bradesco Dólar FIC Cambial’, possui taxa de 3% ao ano e apresentou queda de 4,25% no mês.

Os fundos cambiais devem continuar no negativo?

Na visão dos especialistas, a queda do dólar em julho é pontual. A moeda estrangeira deve continuar forte nos próximos meses e, assim, puxar a rentabilidade dos fundos cambiais. “Temos as eleições americanas no segundo semestre, que sempre pressionam o dólar para cima”, diz Laatus.

Essa volta do apetite pelo dólar pode ser sentida já nos primeiros dias de agosto. Entre 01/08 e o 10/08, a moeda se valorizou 4,3%. O euro também sobe 4,08%. “Fundos cambiais são importantes para quem quer especular ou para quem tem um compromisso em moeda estrangeira”, afirma o especialista. “Mas é importante que o investidor pense em médio e longo prazo, no mínimo três meses”, conclui Laatus.

A importância do foco no longo prazo fica evidente no levantamento, uma vez que o investidor que aplicou em julho, teve prejuízo se resgatou o dinheiro no mesmo mês. Por outro lado, quem investiu no início do ano, por exemplo, viu o montante crescer cerca de 31%.

Já para Daniela Casabona, assessora financeira da FB Wealth, o dólar ainda deve ter momentos de muita instabilidade, mas se manterá na faixa dos R$5. “É uma moeda muito mais volátil que o euro, por exemplo, e estamos em uma situação de pandemia, com os EUA como país nº 1 em mortes”, diz.

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