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Como ficam o Tesouro, o CDB e a Poupança com a Selic em 6,25% ao ano

Confira as projeções de investimentos para essas modalidades com a alta da taxa

Como ficam o Tesouro, o CDB e a Poupança com a Selic em 6,25% ao ano
Reunião do Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central (BC) (Foto: Beto Nociti/BCB)
  • O Banco Central aumentou a taxa básica de juros da economia em 1 ponto percentual, para 6,25% ao ano
  • Esse novo empurrãozinho de 1 ponto percentual em setembro dá um pouco mais de fôlego para as aplicações pós-fixadas atreladas à Selic ou CDI, mas o caminho ainda é longo até a rentabilidade positiva
  • Contudo, as expectativas para Selic e Inflação para o ano que vem já dão melhores perspectivas para a renda fixa. Veja projeções de rendimentos

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciou nesta quarta-feira (22) a quinta alta consecutiva para a Selic em 2021. A autoridade monetária aumentou a taxa básica de juros da economia em 1 ponto percentual, para 6,25% ao ano. A alta era esperada pelo mercado e já havia sido sinalizada por Roberto Campos Neto, presidente do BC.

Em evento promovido pelo BTG Pactual no último dia 14, o executivo afirmou que não alteraria o plano de voo do Banco Central a cada número novo de ‘alta frequência’ que surgisse no cenário econômico – ou seja, de informações de curto prazo sobre a disparada de indicadores como Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), utilizado para medir a inflação, ou os dados de atividade.

O IPCA acumulado no ano até agosto já chega a 5,67%, bem acima da meta de 3,75% estipulada pelo BC para 2021. “O Banco Central não honrou a missão de ser o guardião da moeda”, afirma Rafael Paschoarelli, professor de finanças da FEA/USP e diretor do ComDinheiro. “O que aconteceu com o controle da inflação no Brasil foi catastrófico. Essa inflação mais alta mata o pobre de fome. Quem investe pode estar perdendo algum dinheiro, mas o trabalhador que não tem dinheiro para investir perde a renda.”

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Apesar do ciclo de alta dos juros, a pressão pela escala nos preços minou os prêmios na renda fixa. O investidor que colocou dinheiro em aplicações que remunerem pelo menos a Selic entre agosto de 2020 e agosto de 2021 perdeu bastante para a inflação. Segundo dados da Economatica, o Tesouro Selic teve retorno de 2,72% no período, contra uma inflação acumulada de 9,68%. O retorno real até o final do mês passado se acentuou no campo negativo (-6,35%).

Novo cenário e projeções

Esse empurrãozinho de 1 ponto percentual na Selic dá um pouco mais de fôlego para as aplicações pós-fixadas atreladas à Selic ou CDI (taxa próxima à Selic), como o próprio Tesouro Selic e alguns CDBs (Certificados de Depósitos Bancários), LCIs (Letras de Créditos Mobiliários), LCAs (Letras de Créditos do Agronegócio), fundos DI e até mesmo a Poupança.

Contudo, o caminho ainda é longo até a rentabilidade real positiva, considerando que a inflação estimada para o fim do ano é de 8,35%, enquanto a Selic deve terminar 2021 abaixo do IPCA, em 8,25%.

Na tabela abaixo, elaborada por Marília Fontes, sócia da Nord Research e especialista em renda fixa, é possível observar quanto os investimentos pós-fixados atrelados a Selic ou CDI passam a render ao ano a partir de agora, com desconto de imposto de renda e demais taxas administrativas.

Rendimento com a Selic a 6,25%
Investimento Retorno ao ano
CDB 100% do CDI (descontando o IR) 5,07%
Tesouro Selic (descontando o IR e taxas) 4,94%
Poupança 4,38%
Fonte: Marília Fontes (Nord Research)

 

Na projeção para os próximos 12 meses, com Selic a 8,74% e inflação esperada de 5,17% (Focus), a renda fixa pós-fixada já vislumbra melhores retornos reais. “A rentabilidade real que o investidor terá já é esperada pelo mercado, a não ser que o mercado erre na projeção e a inflação acabe sendo 8% em vez de 4% (no fim de 2022)”, afirma Fontes.

Retorno projeção 12 meses
Investimento Retorno nominal Retorno real (descontando a inflação projetada)
CDB 100% do CDI (descontando o IR) 7,13% 1,86%
Tesouro Selic (descontando o IR e taxas) 6,99% 1,73%
Poupança 6,17% 0,95%
Fonte: Marília Fontes (Nord Research)

Oportunidades em títulos

Segundo Fontes, as melhores oportunidades em renda fixa no curto prazo ainda seguem com os pós-fixados atrelados à Selic, como o Tesouro Selic ou CDBs, LCIs e LCAs que paguem pelo menos 100% do CDI. Esses títulos são mais conservadores e diminuem a exposição do investidor a instabilidades. O mesmo não acontece, por exemplo, com títulos prefixados, cujas taxas variam conforme as expectativas econômicas, e títulos IPCA+, que pagam além da inflação do período, uma taxa prefixada.

“Se você olhar no Tesouro Direto, irá ver que os títulos IPCA+ e prefixados estão com rentabilidade negativa no ano. Isso aconteceu porque as taxas prefixadas subiram. Em ano eleitoral, os Governos acabam gastando mais e isso faz com que o mercado, preocupado com a parte fiscal, aumente os prêmios de risco (retorno) e cause prejuízo de marcação à mercado para quem já tinha esses papéis”, afirma Fontes.

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Em resumo, quando os juros sobem, os preços dos prefixados caem. Portanto, o investidor só recebe a rentabilidade contratada na compra do prefixado ou IPCA+ se levar o título até o vencimento. Caso decida vender antes, você pode perder dinheiro por conta das oscilações de mercado.

Nos investimentos mais conservadores, a indicação de Fontes é permanecer até janeiro de 2023, quando a nova equipe econômica do Governo já será conhecida e os agentes econômicos terão mais previsibilidade.

Já Alexandre Marques, gerente de produtos de renda fixa da Ágora Investimentos, reforça que segurar os títulos também vai depender do objetivo e disponibilidade do investidor. “Hoje estamos trabalhando alguns CDBs prefixados com vencimento para dois anos e com taxa de 11,47% ao ano, bem expressiva”, explica. “Nesse caso, você não poderia sair antecipadamente, mas levar até o vencimento.”

Os títulos com vencimentos mais curtos também estariam mais atrativos em relação aos mais longos. “Um papel para 2026 tem menos risco do que um para 2055”, diz Marques. “O investidor que quer liquidez vai ter que buscar ativos como CDBs ou LCs que tenham uma liquidez de 90 dias, que é uma carência legal para o papel.”

No crédito privado (como debêntures, CRIs e CRAs) também existiriam boas oportunidades, mas o risco está justamente no alongamento da carteira e, claro, no emissor. Esses papéis não têm proteção do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) em caso de a empresa que emite o título não conseguir arcar com os pagamentos. Segundo Fontes, nem sempre o investidor conseguirá vender o papel facilmente e resgatar o dinheiro aplicado, se precisar.

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“Com eleições à frente, não é indicado crédito privado de longo prazo, já que eles deixam sua carteira travada e ilíquida”, explica Fontes. “Se você quiser mudar a carteira pós eleições, não irá conseguir.”

Essa também é a visão de Marques. “O crédito privado já não é para um investidor tão conservador. Os papéis bancários (CDBs) têm o FGC; já o crédito privado são empresas que estão captando recursos no mercado, então o risco é da empresa”, afirma.

Fundos de renda fixa

De acordo com Paschoarelli, da ComDinheiro, o que determinará se os fundos DI (que seguem o CDI) perderão para a Selic será a taxa de administração. Quanto mais cara for a taxa, mais defasados esses produtos estarão em relação aos juros e à inflação. “São os produtos passivos dos bancos”, ressalta o especialista. “Mas eles vão passar a render um pouco mais com a alta de 1% nos juros.”

O timing também importa para essa conta. Os investidores que entrarão agora em fundos de renda fixa serão mais beneficiados do que os que já estavam. “Para os que já estavam, vai depender se o fundo tem composição pós-fixada ou prefixada. Caso tenha prefixada, ele está perdendo (por conta da marcação a mercado), mas aos novos entrantes, há mais vantagem”, afirma Paschoarelli.

A dinâmica segue a mesma dos títulos, já que os fundos compostos por títulos pós-fixados atrelados à Selic possuem menos riscos, enquanto aqueles compostos por prefixados ou IPCA+ são mais voláteis.

“Se o fundo está carregado com papéis que protegem da inflação, o risco é os juros subirem mais e o fundo perder na marcação a mercado. Ou seja, não dá para o cliente comprar sem analisar o que tem dentro da carteira do fundo, isso é bem importante”, ressalta o diretor da ComDinheiro.

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O mesmo ocorre para os fundos de crédito privado. “Vejo grandes oportunidades nesses produtos, mas o crédito privado diz respeito ao risco do emissor (de a empresa não pagar) e tem que saber a natureza desse crédito privado”, afirma Paschoarelli. “Se for um fundo composto por CDB que paga um percentual do CDI, o risco de marcação é menor. Se for uma debênture IPCA+, existe o risco do descolamento dessa taxa prefixada.”

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