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Empresa de medicamento à base de maconha planeja abrir capital no Brasil

Grupo norte-americano deve criar ainda em 2020 uma farmacêutica para produzir e registrar o fármaco no Brasil

Empresa de medicamento à base de maconha planeja abrir capital no Brasil
Foto: Dave Chan/The New York Times
  • Mesmo sem data definida, a expectativa da companhia é de ofertar ações da nova empresa na B3 após o registro e lançamento do fármaco, previstos para outubro
  • Se confirmada, a abertura de capital será um marco no País, uma vez que não há empresas do setor de cannabis com ações negociadas na B3. Atualmente, existem fundos brasileiros que investem em ações de empresas no Exterior. Outra opção é investir diretamente em ações do tipo listadas em bolsa de outros países, como Estados Unidos e Canadá
  • De acordo com a consultoria Euromonitor International, esse mercado deverá movimentar US$ 166 bilhões por ano até 2025. Se comparado à estimativa de 2018, quando as vendas de cannabis atingiram US$ 12 bilhões, o crescimento é de 1.200%

A expansão bilionária do mercado de maconha pelo mundo deve aportar no Brasil ainda neste ano, com a abertura de uma farmacêutica voltada para a produção de medicamento à base de cannabis. A informação exclusiva é de Caroline Heinz, CEO da HempMeds, uma das empresas do grupo norte-americano Medical Marijuana, Inc.. Mesmo sem data definida, a expectativa da companhia é de ofertar ações da nova empresa na B3 após o registro e lançamento do fármaco, previstos para outubro.

“A gente estima que até outubro já consiga fazer o registro desse medicamento. Estamos abrindo uma nova empresa, que eu não posso ainda contar o nome, para registrar o produto no Brasil e em Portugal. E com essa empresa, sim, vamos entrar na bolsa no Brasil”, afirma Caroline.

Se confirmada, a abertura de capital será um marco no País, uma vez que não há empresas do setor de cannabis com ações negociadas na B3. Atualmente, existem fundos brasileiros que investem em ações de empresas no exterior. Outra opção é investir diretamente em ações do tipo listadas em bolsa de outros países, como Estados Unidos e Canadá.

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A chegada da nova farmacêutica decorre de um avanço regulatório no Brasil. Em dezembro de 2019, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a regulamentação do registro e da venda de medicamentos à base de maconha em farmácias e drogarias, além da fabricação de fármacos desde que os insumos sejam importados. O plantio da erva não teve aprovação da Anvisa.

A Hempmeds atua no Brasil, desde 2014, realizando a importação de medicamentos à base de maconha. Caroline explica que, do ponto de vista de atratividade, esse modelo de negócio, que importa os produtos de cliente a cliente, não tem força entre investidores. Foi por isso que, com a mudança nas regras sanitárias brasileiras, o grupo Medical Marijuana, Inc. preferiu criar uma nova empresa para fabricar e registrar o próprio fármaco no País.

“É uma empresa nova, que está sendo criada, mas que tem o suporte da holding para sustentar, com um nome de peso. E, independentemente de ser cannabis, é o mercado farmacêutico”, explica.

Quais as expectativas de investimentos em maconha?

Apesar de negócios atrelados à cannabis serem vistos como investimentos de risco, Caroline garante que tem sido procurada por investidores. “Antes não tinha potencial atrativo nenhum. Com a regulamentação que a gente tem agora, as pessoas estão começando a se movimentar. Mudou completamente o cenário. Tenho reunião com investidor todo dia”, afirma Caroline.

Projeções indicam que esse mercado tem um alto potencial de rentabilidade nos próximos anos. De acordo com a consultoria Euromonitor International, esse mercado deverá movimentar US$ 166 bilhões por ano até 2025. Se comparado à estimativa de 2018, quando as vendas de cannabis atingiram US$ 12 bilhões, o crescimento é de 1.200%.

Em operação desde o último trimestre de 2019, a Vitreo lançou no Brasil duas opções de fundos voltados para investimentos em cannabis no Exterior. Até o momento, são cerca de R$ 60 milhões investidos, e quase seis mil investidores.

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George Wachsmann, sócio e chefe de gestão da Vitreo, explica que este é um setor de alto crescimento, mas também de risco porque ainda enfrenta muitas barreiras socioculturais. Ainda assim, ele avalia que a luta da ciência contra o tabu ocorre em diferentes estágios em cada país, e que o saldo atual dessa luta depende da perspectiva que se observa.

“No Brasil, a gente entrou em um governo super conservador e mesmo assim teve uma mudança importante na legislação. É aquela questão de olhar o copo meio cheio ou meio vazio. Podiam ter feito muito mais, já que o plano era ter liberado a plantação também? Sim. Mas eu prefiro olhar o meio cheio. A gente nem tinha isso e agora já pode importar o remédio. As famílias que dependem de uso desses remédios estão muito satisfeitas. O copo está enchendo”, acredita George.

O Brasil está preparado para investimentos em cannabis?

A especialista em Economia Comportamental da ESPM, Paula Sauer, vê potencial em investimentos atrelados à cannabis, mas ela ressalta que essas aplicações são muito arrojadas. Portanto, não são indicadas para quem está começando a investir, mas sim para quem possui mais recursos e busca diversificar seus investimentos.

Apesar do conservadorismo ainda ser forte no Brasil, a especialista destaca que fatores como os juros muito baixos contribuem para uma busca de novos investimentos. E o sucesso no negócios de cannabis poderia resultar em um “efeito manada”.

“Por mais conservador que o brasileiro seja, e o bitcoin foi um exemplo disso, ele não quer ficar de fora da festa. Muitas vezes ele compra porque alguém comprou e não exatamente porque ele concorde ou porque saiba como funciona”, lembra a especialista.

Sauer ainda ressalta que os interessados em explorar o mercado no Brasil precisarão investir bastante na construção da marca e do discurso. “Tem todo um tabu em relação a isso. Imagina chegar para uma família extremamente conservadora e oferecer um medicamento à base de maconha. Por mais que seja comprovadamente eficiente, ainda tem uma cultura de que aquilo é droga, um olhar pejorativo e discriminatório. A empresa que quiser se firmar, por ora, neste contexto, tem que saber que vai enfrentar esse olhar”.

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