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Os fatores que estão segurando o Ibovespa abaixo dos 100 mil pontos

Espera pela apresentação do novo arcabouço fiscal e embates entre Lula e Campos Neto geram incerteza na bolsa

Os fatores que estão segurando o Ibovespa abaixo dos 100 mil pontos
Expectativa é que a Bolsa fique lateralizada no curto prazo. (Foto: Amanda Perobelli/Reuters)
  • O Ibovespa voltou aos 1000 mil pontos pela primeira vez desde julho de 2022
  • Os motivos para a desvalorização são muitos – e vão desde temas ligados ao cenário doméstico, quanto ao externo
  • Mas, segundo analistas, as perdas da bolsa brasileira vistas em todo o mês de março estão especialmente ligadas ao cenário do Brasil: o novo arcabouço fiscal e as incertezas em relação ao futuro da taxa de juros

O Ibovespa encerrou a segunda-feira (27) com alta de 0,85% aos 99.670,47 pontos. O desempenho traz um leve respiro à bolsa brasileira depois de uma semana de quedas acima de 3%, que fizeram o índice perder o patamar de referência dos 100 mil pontos pela primeira vez desde junho de 2022.

A Bolsa barata é oportunidade? Veja nesta reportagem o que dizem analistas do mercado. 

Os motivos para a desvalorização são muitos e passam por temas ligados tanto ao cenário doméstico quanto ao externo. Lá fora, a continuidade da alta das taxas de juros nos Estados Unidos continua pesando sobre os mercados, especialmente após os casos de falência de bancos no país.

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Mas, segundo analistas, as perdas da bolsa brasileira ao longo de março estão especialmente ligadas ao cenário do Brasil: o novo arcabouço fiscal e as incertezas em relação ao futuro da taxa de juros.

Desde que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu a presidência, pesa no mercado um temor em relação à trajetória fiscal do Brasil. Ainda durante a campanha, o petista deixava claro a intenção de substituir a regra do Teto de Gastos.

Agora, perto de completar 100 dias de governo, a nova gestão ainda não apresentou qual será o novo arcabouço fiscal. O entendimento geral no mercado é que, se a regra agradar, sinalizando maior controle de gastos e da dívida pública, pode ajudar a segurar a inflação e abrir espaço para o início dos cortes na taxa de juros. Um movimento que ajudaria a destravar a Bolsa e atrair investidores de volta para a renda variável.

A expectativa era que o texto fosse apresentado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na última quarta-feira (22) – o que não aconteceu. “Ainda não está muito claro como vão ficar essas regras, então o mercado está em compasso de espera desse arcabouço fiscal”, afirma Luccas Fiorelli, sócio da HCI Invest e planejador financeiro pela Planejar.

Com o adiamento da viagem de Lula à China, prevista para o domingo (26), o tema voltou à pauta, ainda que não haja uma previsão de quando o novo arcabouço será apresentado. Uma indefinição que é vista e precificada como mais incertezas pelo mercado financeiro. Até que a regra seja apresentada, a tendência é que o Ibovespa continue lateralizado.

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“É um tema que poderia aliviar a pressão vendedora no nosso mercado”, diz André Fernandes, Head de Renda Variável e sócio da A7 Capital. “Tanto o arcabouço fiscal quanto a reforma tributária, são dois temas que, se bem encaminhados, eliminam as incertezas que hoje pesam no nosso mercado”, diz.

A reunião do Copom da última semana também surpreendeu negativamente, apesar de o comitê ter seguido o consenso de mercado ao manter a taxa de juros em 13,75% ao ano. No comunicado, a instituição monetária se mostrou atenta às discussões fiscais do País e não descartou, se necessário, a retomada dos ajustes na Selic.

Essa possibilidade jogou um balde de água fria nos ânimos do mercado, que já vinha há algum tempo especulando se o Copom faria ainda neste ano o movimento contrário: cortar os juros. Veja a projeção de 9 corretoras para a Selic ao final de 2023.

Na quinta-feira (23), um dia após a divulgação da decisão, o Ibovespa cedeu 2,29%, chegando a bater os 97 mil pontos. “Isso obviamente causou um desconforto grande para o mercado, uma vez que esperava-se por parte do BC um tom mais leve”, destaca Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos.

A relação do Banco Central com o Governo Federal já vinha no foco, desde que Lula e o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, trocaram farpas públicas. O que também não ajuda em nada na precificação de risco na Bolsa.

“Essa guerra política entre Banco Central e algumas figuras do PT não é boa para nenhum dos lados e dá um sinal de imprevisibilidade para a bolsa brasileira. Isso deixa o mercado muito arisco, sem apetite para risco e por isso a bolsa não consegue caminhar”, afirma Fiorelli, da HCI Invest.

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