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- Apesar da alta do Ibovespa no ano, a ação de maior representatividade do índice, a Vale (VALE3) está em queda
- Um levantamento mostra que, sem as ações da Vale e Petrobras, o Ibovespa estaria sendo negociado a um múltiplo de preço sobre lucro (P/L) mais perto da média histórica
- Segundo especialistas, a continuidade das altas da bolsa brasileira vai ser puxada pelas empresas ligadas à economia doméstica
O Ibovespa encerrou esta quarta-feira (9) com uma queda de 0,57% aos 118.408,77 pontos. O sétimo pregão consecutivo de queda na B3 foi pressionado, entre outros fatores, pela queda das ações da Vale (VALE3) e de outras empresas do setor de mineração após a divulgação de dados de deflação na China. A dinâmica do dia é apenas um exemplo de um movimento que tem acontecido com certa frequência em 2023: a desvalorização da ação de maior peso na Bolsa brasileira vem atrapalhando o desempenho do índice no acumulado do ano.
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Como adiantamos nesta outra reportagem, este ano, a Vale está sofrendo na Bolsa em linha com a queda do preço do minério de ferro no mercado internacional. A recuperação da economia da China após o fim das restrições que vigoravam desde a eclosão da pandemia da covid-19, em 2020, não está acontecendo no ritmo que o mercado esperava.
Com a expectativa de menor demanda pela commodity metálica, o preço do minério cedeu. Junto dele, o lucro da Vale – e o preço das ações da mineradora na Bolsa – também. Até o fechamento desta quarta-feira, a VALE3 acumulava uma queda de 23,10% no ano, na contramão do Ibovespa, que sobe 7,90%.
Um levantamento feito pela Genial Investimentos mostra que, atualmente, o índice de referência da B3 é negociado a um múltiplo de preço sobre lucro (P/L) de 8,4 vezes. Abaixo da média histórica de 11 vezes.
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Sem considerar as ações de Vale (VALE3) e Petrobras (PETR3/PETR4), o valuation seria de 10,7 vezes, mais perto da média histórica de 12,4x.
Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial e responsável pelo levantamento, explica que Vale e Petrobras foram utilizadas como exemplos de empresas do setor de commodities que, depois de um ciclo muito positivo e lucrativo em 2021 e 2022, agora “puxam” o valuation Ibovespa para baixo. Como mostramos aqui, essas duas companhias tiveram no período 4 dos 5 maiores lucros trimestrais da história da Bolsa brasileira.
“É uma característica das empresas relacionadas a commodities, não é necessariamente algo positivo ou negativo. Depois de ciclos de altas, acabam tendo múltiplos mais baixos”, explica Villegas.
Há ainda uma outra interpretação – essa, mais favorável para quem quer ver a continuidade das altas na B3. Ainda que as ações de maior peso do Ibovespa dependam de um cenário mais favorável a commodities, que parece não estar no radar no curto prazo, a valorização da Bolsa pode ser puxada por um outro grupo de empresas.
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“O que tiramos disso é que o diferencial para a Bolsa continuar subindo não é necessariamente uma movimentação positiva das commodities, mas sim das empresas ligadas à economia doméstica, influenciadas pela queda da taxa de juros”, afirma o estrategista da Genial.
Desde que o mercado passou a precificar o início do ciclo de cortes na Selic para o segundo semestre deste ano, algumas empresas de setores mais sensíveis a juros dispararam na Bolsa. Entre março e julho, todas as companhias presentes no IMOB (Índice Imobiliário) subiram ao menos 21,5%, mas houve quem acumulasse ganhos ainda mais expressivos, de 85%.
“Muito disso é o ‘efeito juros’. Se o Brasil, através da sua condição de política monetária e outros fatores, conseguir levar a um ciclo de redução da Selic, naturalmente vamos ver um processo em que as empresas ligadas à economia doméstica tendem a se valorizar mais do que as exportadoras”, explica Villegas. “E isso tende a beneficiar o Ibov como um todo.”
O Ibov pode subir mais?
Desde que o tão esperado primeiro corte de juros foi confirmado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na última quarta-feira (2), o Ibovespa patinou. De lá para cá, foram cinco pregões negativos que fizeram o índice sair de 121 mil pontos para os atuais 118 mil pontos.
Apolo Duarte, head de renda variável e sócio da AVG Capital, explica que boa parte da expectativa pela queda dos juros já tinha sido precificada no mercado, por isso a valorização da Bolsa começou meses antes do corte efetivo da Selic. Na visão do especialista, dado que o Ibovespa segue abaixo da média histórica de P/L, há sim espaço para novas e maiores altas.
No entanto, agora, esse movimento positivo deve ser de médio e longo prazo, à medida que a economia do País e os resultados das companhias forem respondendo ao afrouxamento monetário.
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“Não é algo que vai acontecer do dia para a noite, mas aos poucos, quando as empresas começarem a mostrar resultados melhores por terem uma menor alavancagem ou uma menor exposição financeira a juros”, destaca. “O mercado vai ver, individualmente, quem tem qualidade e quem não tem, e isso deve trazer uma melhora de preço como um todo.”
O consenso do mercado, segundo o TradeMap, aponta que há espaço para uma alta de 18,3% no Ibovespa nos próximos meses.
Para além do ciclo de corte de juros aqui, o cenário externo também pode ajudar – ou até mesmo atrapalhar – a recuperação da Bolsa brasileira. Nesta semana mesmo, um dos motivos por trás dos movimentos negativos do Ibovespa é a aversão a risco nos mercados internacionais.
Lá foram, ainda pairam receios quanto à necessidade de novas altas de juros nos Estados Unidos. Do outro lado do globo, a retomada da economia na China mais fraca do que inicialmente esperava o mercado ainda pressiona as commodities. Para que o exterior jogue a favor do Ibovespa, esses dois cenários precisam melhorar.
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“As duas maiores economias do mundo podem ajudar a destravar valor se o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) confirmar a parada da alta dos juros e com o momento da reversão da tendência, ou seja, o início dos cortes. Da China, podem vir mais estímulos econômicos para controlar a desaceleração do país, influenciando as commodities, importante pauta exportadora do Brasil”, explica Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.