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André Kim: “Elon Musk não tem gabarito para comandar o Twitter”

Sócio da GeoCapital analisa cenário para as Big Techs, as empresas de tecnologia que dominam o mercado

André Kim: “Elon Musk não tem gabarito para comandar o Twitter”
Para André Kim, big techs estão baratas e diversificação é essencial para lidar com bearkmarket. Foto: Divulgação/Geo Capital
O que este conteúdo fez por você?
  • André Kim, sócio e analista da GeoCapital, vê a Nasdaq já em bear market e afirma que o cenário é de cautela. Mais do que nunca, os investidores devem ser parcimoniosos nos investimentos
  • Mesmo com o maior pessimismo nos mercados, algumas Big Techs como Meta (antiga Facebook), Google e Apple são oportunidades
  • Sobre o Twitter, o especialista não tem perspectivas muito positivas. “Embora tenha sido lançada lá em 2009/2008, a rede social não conseguiu criar uma máquina de imprimir dinheiro, como ocorreu com Alphabet e Facebook”, afirma

A Nasdaq, bolsa norte-americana em que as maiores empresas de tecnologia estão listadas, vive em 2022 um dos seus piores momentos em pelo menos uma década. No acumulado do ano até a última sexta-feira (27), o índice Nasdaq Composite cede 22%, aos 12.131,13 mil pontos.

André Kim, sócio e analista da GeoCapital, gestora especializada em investimentos no exterior, explica que tecnicamente a bolsa americana já entrou em bear market — um período de extremo pessimismo. O cenário é bem diferente do que foi vivido nos últimos anos e inspira cautela.

“A Nasdaq entre 2010 e 2021 foi só festa. Um monte de empresa que nem gerava lucro estava negociando a múltiplos inimagináveis”, afirma Kim. “E quando o dinheiro começa a ficar mais escasso, as pessoas passam a pensar mais na hora de emprestar o dinheiro e isso tem consequências em diversos ativos”, diz.

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Entre os catalisadores para essa conjuntura, estão o aumento da inflação no mundo e expectativas de juros mais altos. Se por um lado, o investidor deve ficar mais criterioso na seleção dos ativos, por outro essa baixa generalizada abre oportunidades. As ações de gigantes da tecnologia, conhecidas como ‘Big Techs’, são algumas dessas oportunidades.

“Temos visto resultados muito acima que imaginávamos em um cenário de turbulência, principalmente em Meta (antiga Facebook), Google e Apple”, afirma Kim. “As pessoas estão nervosas com investimentos em ações, mas essa situação cria oportunidade para quem tem um pouco mais de paciência.”

Em entrevista ao E-Investidor, o analista também comenta os impactos da chegada do metaverso nas companhias de tecnologia. Parecido com o que aconteceu há mais de 20 anos, quando houve uma intensa corrida para liderar o novo nicho de internet, hoje as empresas investem nesse mundo virtual paralelo para garantir market share no futuro.

“É como se estivéssemos em 2001 e 2002 e precisássemos escolher o provedor e o servidor de internet que melhor funcionaria. Poderia ter sido o Yahoo, o UOL, o IG, um monte de empresas. O metaverso é uma corrida que ainda não temos a visibilidade de quem será o vencedor”, explica Kim. “Mas provavelmente será alguma Big Tech.”

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A proposta de compra do Twitter feita por Elon Musk, que agora está suspensa, também é vista com alguma cautela. Kim não acha que o bilionário seja a melhor pessoa para gerir a rede social, já que mesmo sendo disruptivo, o dono da Tesla e da Space X não tem experiência nesse tipo de negócio.

De qualquer forma, as perspectivas para o Twitter já não eram tão positivas. “Embora tenha sido criada lá em 2009/2008, a rede social não conseguiu criar uma máquina de imprimir dinheiro, como ocorreu com Alphabet e Facebook”, afirma Kim.

Leia a entrevista na íntegra:

E-Investidor – A Nasdaq teve o pior mês de abril em 22 anos, com uma queda de 13,26%. Em maio, o índice caminha para também terminar no vermelho. No acumulado de 2022, a desvalorização é de mais de 20%. Quais foram os principais catalisadores para essa performance?

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André Kim – Tem alguns componentes mais relacionados com o macroeconômico, que é o aperto monetário que foi iniciado verbalmente pelo Fed (Federal Reserve) no final do ano passado. Por volta de outubro e novembro, o banco central americano viu a situação da inflação começando a subir. A autoridade monetária, então, começou sinalizar que teria um aperto monetário por vir em 2022.

A medida que o tempo foi passando, foi ficando ainda mais evidente que a inflação continuaria acima do imaginado. No começo de 2022, o CPI foi para 7% e agora está em 8,5% (em 12 meses). Logo, o Fed vai endurecendo o tom em relação a esse movimento porque é função dele conseguir controlar essa questão.

E o mercado (americano) passou por um bull market nos últimos 10 anos. A Nasdaq entre 2010 e 2021 foi só festa. Um monte de empresa que nem gerava lucro estava negociando a múltiplos inimagináveis, foi uma enxurrada de liquidez.

Desde a crise do Subprime nos Estados Unidos, nós temos uma quantidade de dinheiro nunca visto antes no mercado. Isso acaba trazendo várias implicações, como empresas que nem tem tanto caixa, tendo acesso a caixa, empresas que não geram lucro, tendo acesso a crédito e por aí vai. E quando o dinheiro começa a ficar mais escasso, as pessoas passam a pensar mais na hora de emprestar o dinheiro e isso tem consequências em diversos ativos.

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É natural que quando há um tom mais severo para aperto monetário, essas empresas que não geravam caixa, que não tinham um lucro líquido, comecem a corrigir. Um exemplo é a Teladoc (que faz atendimento médico virtual), que quando reportou resultado e viram que não estava gerando lucro, as ações TDOC caíram 45% no dia.

Podemos comparar essa grande correção em Nasdaq aos efeitos de um estouro de bolha, pensando principalmente nas companhias de tecnologia?

Kim – Tecnicamente falando, o Nasdaq já está em bear market — que é quando o nível máximo que foi atingido nos últimos 12 meses já teve uma correção de mais de 20%. A Nasdaq já está com uma correção acima disso, com uma queda de 23% a 24% desde o topo histórico das últimas 52 semanas.

Contudo, não dá para comparar ao estouro de uma bolha. Se pegarmos o estouro da bolha PontoCom entre 1999 e 2000, foram magnitudes muito diferentes em termos de correção de mercado. Não teve empresa que saiu ilesa.

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A Amazon naquela época chegou a ser reprecificada quase 95% para baixo. Então não estamos nem próximos de um estouro de bolha, mas para as empresas que estão gerando caixa, nós vemos sim uma correção bem significativa.

Posso falar de Meta, que está negociando a 15x, Netflix entrou em 18x, Google está em 21x, Amazon e Apple corrigindo bastante também. Mas são correções que não consideramos muito exageradas. Não chega a um estouro de bolha, quando os ativos são corrigidos em mais de 80%.

O mais interessante é que essas empresas todas já reportaram os números do 1° trimestre. É preciso lembrar que no período houve uma volatilidade intensa no mercado, começando por guerra entre Rússia e Ucrânia, commodities em alta, problemas na cadeia de suprimentos, um monte de restrições em termos de importação e exportação.

Mesmo nesse cenário, no geral, o resultado foi muito bom. Temos visto resultados muito acima que imaginávamos em um cenário de turbulência, principalmente em Meta, Google e Apple. Claro, essas três empresas que eu falei não tiveram quase nenhuma correção depois do balanço porque os resultados foram muito bons, mas existe um sentimento (negativo) em relação à classe de ativos de tecnologia.

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As pessoas estão nervosas com investimentos em ações, mas essa situação cria oportunidade para quem tem um pouco mais de paciência.

São as Big Techs, Meta, Google e Apple, as maiores oportunidades no mercado americano hoje?

Kim – Essas empresas ficaram bastante tempo sendo muito queridinhas. Há um ano, no máximo, existia até aquela nomenclatura ‘FAANG’ (Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google) e um ETF que investia nas FAANGs. Analistas e investidores falavam que era um porto seguro, empresas para investir e ficar tranquilo porque com certeza iriam crescer e dar lucro.

Agora, elas estão muito longe de serem queridinhas. Os múltiplos que te falei não são de empresas de crescimento. Então, fazer essa diferenciação, de pegar essas empresas que deixaram de ser queridinhas e investir nelas, nós achamos uma oportunidade.

Entretanto, não paramos por aí. Estamos vendo um monte de outros setores, como os de saúde, cibersecurity, agricultura, bebidas, mercado de luxo, hotelaria. Todas essas indústrias têm empresas que não estão negociando no valor que achamos justo. Mesmo elas reportando bons resultados, o mercado está muito nervoso.

Tem empresas como Visa (V), que achamos que está muito bem e o mercado não fez nada com a empresa. Tem a IIlumina (ILMN), que é uma empresa de sequenciamento genético, que estamos gostando também.

É um cenário legal para quem quer montar uma carteira e ficar esperando de três a cinco anos. Tem muita coisa legal que o mercado está ‘batendo’ irracionalmente.

Netflix e Facebook registraram entre o final de 2021 e o primeiro trimestre de 2022 as primeiras quedas de usuários em mais de uma década. Foi uma coincidência ou isso sinaliza algum esgotamento do modelo de negócio dessas companhias?

Kim – Acompanhamos essas duas bem de perto. A Meta teve a primeira queda de usuários no trimestre passado. Essa queda foi reportada em fevereiro e as ações tiveram 35% de correção. Foi realmente o primeiro indício mostrando que o número de usuários estava estagnado para baixo em algumas regiões, principalmente no mercado desenvolvido.

Se formos pensar na plataforma como um todo, nós enxergamos que a Meta não vai conseguir nem de perto replicar o aumento do número de usuários dos últimos 10 anos. Estamos falando de uma ‘casa’ que tem 3,5 bilhões. Existe um limite populacional em que as pessoas conseguem entrar no ecossistema. Não são todas as pessoas que existem no mundo que vão entrar na plataforma.

Reconhecemos que existe uma maturidade na plataforma, mas a nossa visão é que o dinheiro não vem de aumento de usuários. Ele vem da monetização da base de usuários existente. Mesmo antes da queda, já esperávamos que a base de usuários não aumentasse. Em algumas regiões esperamos que o número absoluto de usuários até declinasse, como os EUA, países da Europa e países mais maduros da Ásia.

Contudo, esperamos que o engajamento, a receita por usuário, aumente. O que estamos gostando da tese é que são plataformas que trazem engajamento e as pessoas estão gastando tempo e dinheiro lá. Embora tenha TikTok e concorrentes aparecendo, a relevância das plataformas Instagram/Facebook/WhatsApp é ainda inigualável.

Estamos falando de uma monetização muito grande que o Instagram está conseguindo fazer, sem falar também dos esforços deles para trazer uma competição com o TikTok com os reels. Já nesse último trimestre, pesquisas mnostram que 20% das pessoas que gastam tempo no Instagram, passam olhando os reels. Isso porque a adesão demora um pouco, eles lançaram tem menos de um ano.

Acreditamos que por tempo, dinheiro e experiência, o Facebook vai conseguir trazer um produto tão bom quanto o TikTok ou até melhor. Eles têm capacidade lógica comprovada e um CEO super novo que está mordendo a mesa para entregar resultados. Pode ser uma coincidência que justamente quando a Nasdaq entra em bear market a Meta está num platô de usuários, mas pensando para os próximos cinco anos, seria muito ingênuo da nossa parte acreditar que a base de usuários iria crescer muito.

Pode até crescer em alguns países, regiões no Oriente Médio, África e América Latina, mas se formos pensar em quem gasta dinheiro, o grosso do bolo está em países desenvolvidos em que o número de pessoas para entrar na plataforma já está saturado.

Eu acredito que o que o investidor tem que olhar é se o lucro vai subir. Não podemos ficar nas entrelinhas achando que porquê o número de usuários caiu, que o lucro vai cair também. Até porque pode diminuir o número de usuários e aumentar o lucro, porque aumenta a monetização. Essa vai ser a jogada para frente.

E no caso da Netflix?

Kim – Aqui teve uma combinação de fatores. Primeiro, teve a guerra entre Rússia e Ucrânia, em que a Netflix tirou 700 mil assinantes de uma vez porque eles não quiseram atuar naquele país. Teve a questão de aumento de preços, eles foram muito agressivos nos últimos três anos aumentando os preços.

É natural que se vá testando limites. É preciso ver até onde a empresa consegue aumentar o preço, com a sua base de usuários pagando o que está sendo exigido. Chegando ao limite, você começa a ter um ‘turn’ da sua base  — foi isso que a Netflix teve pela primeira vez.

Eles foram aumentando e aumentando o preço até que chegaram ao limite. Uma medida muito legal que eu vejo como acionista é poder tirar a divisão de conta entre diferentes casas. Ou seja, se você não mora na mesma família, você não pode dividir a conta de acesso, o que vai levar a novas assinaturas.

O segundo é lançar um produto que é mais barato, mas é interrompido por propaganda. É algo que a Netflix não queria fazer, mas eles viram que em alguns países, por serem mais subdesenvolvidos, talvez faça sentido lançar um produto mais barato e mais acessível para uma base populacional que não quer pagar R$ 35 para ter acesso a uma plataforma livre de propaganda.

Essas duas coisas que podem aumentar o número de usuários. Diferentemente de Meta, que tem um case muito mais de platô, a Netflix tem espaço para crescer a base. Hoje a empresa tem 230 milhões de assinantes, se formos parar para pensar o tanto de pessoas que estão carentes por conteúdo bom no mundo, esse número de assinantes ainda está pequeno.

Estamos pensando diferente o resultado. Um pouco mais otimista em um e outro mais pessimista, mas no final, o que precisamos acertar quando fazemos o case é se o lucro por ação vai subir. Não importa como. O número de assinantes pode cair, mas se o lucro por ação subir, esse será o principal acerto. Estamos preocupados mais com esse dado.

Depois das quedas de usuários, foi muito comentado se o Facebook e a Netflix não iriam acabar como Orkut e Blockbuster. Isto é, se o modelo não estava se tornando obsoleto. Como vocês enxergam as perspectivas para as empresas?

Kim – Não achamos que a Meta vai acabar. Temos ali um case que há uma dificuldade maior de conseguir monetização do usuário, mas eles estão fazendo esforço para melhorar isso, seja por causa do reels, seja por inteligência artificial.

Segundo, tem uma opcionalidade que eu acho interessante que é a questão do metaverso. Mark está gastando um caminhão de dinheiro com a empresa para criar uma coisa que ainda não temos uma visibilidade do que é, mas esse último earning deu um pouco mais de ‘cheiro’ do que a empresa está planejando lançar.

Algumas coisas que eu posso compartilhar já, que foi dito pela empresa, é aquele óculos VR para games. Ele está sendo desenvolvido e provavelmente será lançado esse ano uma versão para fazer acesso a escritório/trabalho/reunião. Ou seja, é uma modalidade diferente de usar um óculos para ir fazer uma reunião sem precisar de um laptop, sem precisar se conectar em um aparelho separado.

A empresa está testando produtos nesse curto prazo que podem gerar uma receita nova, até porque não tem nenhuma empresa no mundo que está gastando tanto tempo e dinheiro no metaverso, como a Meta está. Se a gente for pensar no plano de cinco anos que o Mark tinha traçado para essa parte de IA, faz sentido dar uma opcionalidade em um mercado que hoje não dá nenhum.

É meio difícil enxergar coisas que ainda não existem, mas estamos falando de US$ 35 bilhões ao ano de capex, US$ 25 bilhões em pesquisa e desenvolvimento. Só ano passado eles contrataram 20 mil pessoas para trabalhar nessa área de metaverso. Está vindo coisa grande por aí.

Netflix a mesma coisa. Embora o número de usuários para esse ano provavelmente será menor, estamos falando de 1% da base que vai cair, o que é quase nada. Faz parte do negócio ter pessoas que não querem ficar na plataforma. O que estamos mais atentos é se Netflix está produzindo conteúdo relevante.

Alguns indícios são: número de Oscars ganhos, quantas nomeações a Netflix teve, quão relevante é o tipo de diretor, ator e atriz que estão trabalhando com eles. Se a gente for fazer pesquisa, eles têm market share hoje e trabalham com os melhores. Estamos falando de atores e diretores de calibre que trabalham exclusivamente para a Netflix. Se formos pegar o último Oscar, a Netflix teve mais nomeações entre todas as plataformas, embora quem tenha ganhado como melhor filme foi a Apple.

Antes de tentar adivinhar se vai subir ou cair o número de usuários, o que estamos preocupados é se a Netflix não está errando a mão na produção de conteúdo. É esse que será o ‘lugar’ que vai atrair e reter pessoas que estão querendo pagar. Ainda achamos que o conteúdo da Netflix é melhor e mais rápido, em relação ao lançamento de novidades. Por enquanto estamos gostando dessas duas empresas.

De que forma a chegada do metaverso pode reconfigurar o mercado das Big Techs?

Kim – Não é coincidência que a Meta, antigo Facebook, tenha investido mais dinheiro e mais tempo no metaverso antes dos outros. Até porque se você for comparar ela com Alphabet (dona da Google), Apple e Microsoft, Big Techs que possuem o mesmo calibre, é a única empresa que não tem um software ou um hardware proprietário.

Se formos pensar na Apple, eles tem o iOs, Microsoft tem a Azure. O Facebook estava na mão, teoricamente, de vender propaganda e serviços usando as plataformas dos outros. Na visão do Mark Zuckerberg, e isso foi compartilhado há cinco anos, se o Facebook quiser continuar sendo dominante e crescendo em um mundo de evolução rápida, eles precisam criar algo proprietário.

Todo esse tempo gasto em desenvolvimento é porque a Meta quer se transformar no pioneira ou principal referência (em metaverso), assim como a Apple é na parte de celulares e Alphabet é em search engining.

O segundo ponto é que todas essas empresas grandes já estão de certa forma investindo em metaverso, cada uma no seu nível, cada uma no seu grau.

A Alphabet, por exemplo, está investindo no metaverso pelo lado da Web 3.0. Microsoft está investindo na parte de blockchain e a Meta, na parte de metaverso.

No final, são temas muito novos. Web 3.0, blockchain, criptoativos e inteligência artificial, cada big tech está focando mais em um nicho. É muito cedo para pensar em uma corrida e quem vai ganhar.

É como se estivéssemos em 2001 e 2002 e precisávamos escolher o provedor e o servidor de internet que melhor funcionaria. Poderia ter sido o Yahoo, o UOL, o IG, um monte de empresas. O metaverso é uma corrida que ainda não temos a visibilidade de quem será o vencedor, mas provavelmente é uma das big techs, porque elas têm mais dinheiro e estão investindo há mais tempo.

O que estamos enxergando no metaverso é um pouco dessa aposta. Se for esse negócio de criar um perfil num mundo virtual, provavelmente você terá que entrar nos ecossistemas que a Meta está criando, porque possivelmente a empresa será referência.

E no metaverso você poderá fazer reuniões de trabalho, jogar, falar com as pessoas por meio de personagens, em um mundo paralelo. Veja que são suposições, mas quando tento entender o que o Mark fala em relação ao metaverso, é um pouco disso. Hoje é difícil entender o que é, mas daqui a cinco anos pode ser que fique óbvio, porque todo mundo vai querer criar.

Assim como hoje é ‘óbvio’ criar um Instagram. Em algum momento, acontecerá essa virada de chave.

Qual a visão que vocês têm sobre esse processo de compra do Twitter por Elon Musk?

Kim – O ponto é: o Twitter está muito distante de conseguir o que um Instagram e Youtube conseguiram. O Elon Musk é um ávido usuário, tendo em vista que ele sempre usou Twitter como principal fonte de compartilhamento do que ele pensava, mas é um pouco difícil de entender o que ele quer fazer com a empresa.

Temos algumas hipóteses: pode ser que o Elon Musk use o Twitter como se fosse um Washington Post para Amazon ou como se fosse o China Morning Post para a Alibaba. Esses conglomerados muito grandes de empresas têm veículos proprietários de mídia para controlar.

O Elon Musk acha interessante ter um veículo de mídia social dentro do conglomerado. Agora, para monetizar e tudo mais, ele não tem essa experiência, apesar de ser um cara muito inovador, que pensa fora da caixa. Ele não tem experiência comprovada de gerir uma empresa de mídia social.

Isso é algo que pesa contra ele. Elon Musk, como dono, talvez terá dificuldade de falar a mesma ‘língua’ da companhia, porque ele sempre foi o cara que queria criar do zero, como foguetes, carro elétrico, pagamento de cartão on-line e por aí vai.

Achamos que talvez ele não tenha gabarito, experiência, mas ele conhece muita gente e também tem muita gente trabalhando para ele. Pode ser que essas pessoas peguem as ideias mirabolantes do Elon Musk e acabem executando.

Nós lavamos as mãos nesse sentido: acreditamos que a compra do Elon Musk parece interessante para o conglomerado dele, mas para execução, para pegar os pontos fracos do Twitter, talvez ele não seja a pessoa mais indicada pela (falta de) experiência prévia. Vamos aguardar o que ele está querendo fazer porque é um ponto curioso.

Mas quais são as perspectivas para o Twitter, em si? Sob uma direção competente, a empresa teria chances de ganhar mais tração e incomodar os concorrentes, como o próprio Facebook, Instagram e TikTok?

Kim – O Twitter é uma empresa que tem um nicho bem definido e nós cobríamos até pouco antes do anúncio da compra feita por Elon Musk.

Embora tenha sido criada lá em 2009/2008, a rede social não conseguiu criar uma máquina de imprimir dinheiro, como ocorreu com Alphabet e Facebook. Eles não conseguiram uma monetização muito recorrente como o Youtube, Instagram e as ferramentas de busca conseguiram.

Mas existe um público fiel e muito especializado em determinados assuntos e nichos. O perfil mais seguido do Twitter pertence ao Barack Obama, por exemplo. Eles conseguiram criar uma plataforma que um nicho de pessoas usa com recorrência e engajamento.

A dificuldade deles era trazer dinheiro desse engajamento, porque não estavam conseguindo trazer anunciantes ou pessoas dispostas a gastar, a utilizar o Twitter como uma forma de gerar renda.

Então, teve um esforço nos últimos 18 meses para mudar um pouco isso. Os executivos do Twitter começaram a criar grupos fechados de produtores de conteúdo, para ver se conseguiriam ganhar um rebate da correção que os clientes irão pagar. Estavam tentando outras formas de criar mecanismos de transmissão de vídeo, fazendo transmissões ao vivo ou vídeos mais curtos.

Achamos que o Twitter tem uma limitação na monetização da plataforma. Claro, a companhia tem seus méritos de ter sobrevivido a uma guerra de gigantes. O que o Instagram e Youtube derrubaram de empresas no meio do caminho não está ‘escrito’, e Twitter sobreviveu a essa batalha, achou um nicho, mas o crescimento é limitado.

Para o longo prazo, já não estávamos animados com Twitter. Inclusive, achamos que aquele preço que o Elon Musk ofereceu era o preço limite.

Qual a estratégia de investimento que vocês estão seguindo nesse clima de extremo pessimismo que tomou as bolsas globais?

Kim – É um cenário que não é favorável para quem pensa em ganhar dinheiro na Bolsa esperando um grande salto. Achamos que tem que ir com muita calma e não concentrar capital em uma posição ou setor específico. Estamos escolhendo com muito mais calma, sendo muito mais parcimoniosos nas posições que já tínhamos e naquelas que queremos entrar.

Basicamente, estamos buscando muito mais proteção. Mesmo em uma conjuntura em que tudo suba, com a inflação continue nesse patamar, tem empresas que conseguem ter poder de preço e fazer repasse ao consumidor. Assim como tem empresas que conseguem proteger o lucro por uma capacidade mais monopolística.

Existem setores que mesmo com o mercado nervoso, as empresas continuam ganhando dinheiro. Estamos dando preferência a isso, porque é um cenário muito turbulento e que pode perdurar.

Se formos pegar os últimos 10 anos, foi só de crescimento. Qualquer investidor que colocou dinheiro e segurou no S&P 500 na última década, teve ganhos. Logo, essas correções são naturais, acontecem de vez em outra, mas como é um cenário que mexe com a economia real, estamos tendo cuidado.

Em relação a tentar cravar quantos pontos, acho impossível. Não sabemos até quando o mercado estará nervoso, o que estamos fazendo é nos preparar.

A nossa função é achar empresas boas e baratas. E quanto tem crises assim, começam a aparecer irracionalidades de preço. Tem empresas hoje negociando a múltiplos que não eram vistos nos últimos 15 anos. Eu até brinco que quem investe em ações tem que ser um otimista por natureza, porque se não você vai sempre achar que vai acabar o mundo.

Achamos que daqui dez anos, o ‘mundo’ é para cima. Essa é mais uma crise que está acontecendo no mercado, que não vai passar rápido, mas vai passar. Acreditamos nisso, senão não estaríamos comprando ações.

Quais países hoje tem cenários mais positivos para Bolsa, se é que existe algum, no momento?

Kim – Já investimos na China, mas nós saímos do país quando vimos que houve algumas questões binárias, em que teríamos que comprar a visão do governo. As canetadas regulatórias faziam parte de um risco que não estávamos dispostos a correr. Por mais que a China esteja barata, hoje preferimos não olhar para esse mercado.

Rússia a mesma coisa. Tem ali questões políticas nas quais não queremos entrar, não é nosso jogo. Se formos pensar em outros países, gostamos de olhar aqueles que têm leis favoráveis para os acionistas minoritários. E aí não tem muito para onde fugir, é EUA, Canadá, Europa, Austrália, África do Sul, Japão, Coréia.

Esses são países que olhamos e achamos que têm oportunidades. Comentamos mais de S&P 500 e Nasdaq, mas se pegarmos qualquer índice nos últimos 12 meses está para baixo. Tem papéis aí sendo negociados a preços descontados.

Na Europa posso te falar da Essilor, que faz óculos, da Diageo, que é uma empresa de bebidas, da Nintendo, no Japão. Tem empresas que estão descontadas em cada uma dessas bolsas. Não estamos concentrados só nos EUA, até porque todas essas empresas estão pulverizadas em diversos países.

É realmente olhar bolsa por bolsa para montar posição, porque nunca sabemos quando o mercado ficará otimista de novo.

Falando de cenário doméstico, quais as perspectivas para o mercado brasileiro?

Kim – O copo meio vazio é que quando tem uma crise global, seja com inflação alta ou aperto monetário lá fora, isso acaba respingando aqui. Somos um país em desenvolvimento, que tem menos liquidez e estrutura, então a crise lá fora não passa despercebida pelo Brasil. Vai acabar impactando.

O copo cheio é que o Brasil é um País que vende commodities e nesse cenário inflacionário, um dos principais mecanismos de defesa é estar em ativos de commodities. Então tem o lado positivo da Bolsa brasileira, que embora tenha setores de construção civil, vestuário, calçados, vendas on-line, por exemplo, estejam indo mal, a parte de commodities está indo super bem.

Somado a isso ainda tem os bancos, que podem junto com as seguradoras, surfar uma alta de juros, um spread monetário maior. Apesar de as instituições financeiras também precisarem de uma provisão de perdas maior porque as pessoas ficam mais inadimplentes.

Então pode ser interessante para quem quer apostar em índice ou ficar em um lugar em que o Brasil possa sair mais resiliente do que a média.

A Bolsa brasileira pode ser um destino um pouco mais interessante do que ficar tentando comprar empresa de tecnologia que não geram lucro nos EUA.

Contudo, não podemos desconsiderar a competição de uma renda fixa com juros altos, que pode fazer uma enxurrada de dinheiro ir no sentido contrário da renda variável. Historicamente, o brasileiro acaba optando por ganhar os 12,75% nos investimentos conservadores, em vez tentar pegar 20% na Bolsa ao ano.

Pode ser que até atrapalhe (o Ibovespa) se nós continuarmos vendo os investidores saindo da Bolsa na velocidade que está acontecendo nos últimos meses.

Entre abril e maio, tivemos retirada líquida de cerca de R$ 17 bilhões na B3. O gringo realmente está ‘desistindo’ do Brasil após a empolgação do início do ano?

Kim – Infelizmente, esse tipo de capital não ajuda nem o Brasil, nem a Bolsa. É aquele capital que eu chamo de especulativo. O investidor está atrás de ganhar rentabilidade a curtíssimo prazo. Esse é o investidor que entra e sai da bolsa e fica fazendo essa brincadeira de pegar um mercado mais favorável, ganhar 1% ou 5%, e sair para tentar outra geografia.

É aquele dinheiro de hotel, vem um dia, fica e vai embora. Não é ali que vai estar nosso ganho. Para o longo prazo, esse dinheiro não fará muita falta porque não é esse tipo de dinheiro que fomentará investimento em infraestrutura, que será um capital permanente nas empresas brasileiras para fazer crescer junto o lucro por ação. Não vai ser isso que trará rentabilidade para o investidor médio.

O que eu estou mais olhando é se tem coisas atrativas no campo macroeconômico e político brasileiro, que vão fazer com que esse fluxo venha de forma permanente. Esse ano, como é ano de eleição, tem uma incógnita muito grande para o investidor estrangeiro.

Então, para mim, esse dinheiro de longo prazo ainda não chegou. Tudo que vimos entre janeiro e março é capital especulativo, de gente que quer ganhar no curtíssimo prazo. O dinheiro que vai ajudar estruturalmente o Brasil ainda não chegou.

Para esse capital chegar, ainda tem percalços, e a questão política é um deles. Pode ser que tenha um gargalo, um tempo que precisemos esperar, para que esse investimento mais perene venha para o Brasil.

Mesmo com as quedas recentes, o Ibovespa ainda está mais resiliente que os pares globais. Podemos dizer que hoje é mais arriscado investir no exterior do que no Brasil?

Kim – É muito difícil a gente conseguir ter uma resposta que caiba para todo mundo, mas o que acreditamos é que o investidor precisa ter um portfólio diversificado. Não é 100% Brasil, nem 100% fora, 100% em bolsa ou em renda fixa. Você precisa ter um portfólio que faça sentido para você, mas que esteja exposto a moedas diferentes e regiões geográficas diferentes.

Isso é o que achamos que é a melhor bandeira do investidor maduro e global, que é ter um pouquinho de cada ativo. Claro, sem pulverizar demais, mas ter uma alocação que faça sentido globalmente e não ficar concentrando todo o dinheiro.

Eu não sei se o dólar vai para R$ 5,5 ou vai voltar para R$ 4,6, mas será que não faz sentido você pegar uma parte do seu patrimônio e comprar uma moeda diferente do real?

A mesma coisa para um cara que só investe fora: por que você vai querer estar exposto 100% a uma moeda estrangeira se você vive no Brasil, fala português e entende o que as empresas brasileiras fazem?

O ruim, na minha visão, é você achar que vai acertar para onde vai (a bolsa e o dólar). No geral, é muito melhor estar investido nesses momentos nervosos, e de uma forma diversificada, do que não estar. Estar investido é muito mais importante do que tentar acertar quando estar investido.

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