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Por que é arriscado investir na bolsa dos EUA, apesar de altas recentes

Analistas apontam o que o investidor deve ficar atento antes de comprar ativos na maior economia do mundo

Por que é arriscado investir na bolsa dos EUA, apesar de altas recentes
A inflação de alimentos dos Estados Unidos está na casa de dois dígitos (Foto: Envato Elements)
  • Os principais índices de mercado dos EUA acumulam ganhos nas últimas semanas
  • No entanto, analistas acreditam que a maior economia do mundo pode entrar em recessão
  • Empresas seguem com estoques elevados e a inflação compromete o poder de compra dos norte-americanos

Os principais índices de mercado dos Estados Unidos acumulam ganhos nas últimas semanas. Segundo dados da Stratton Capital, os índices S&P 500 e Nasdaq encerraram o mês de julho com altas de 9,1% e de 12,35%, respectivamente. Os ganhos também seguiram nos primeiros dias de agosto. Ainda de acordo com a gestora, os dois índices apresentam, até o momento, uma valorização de 8,9% (S&P500) e de 11,8% (Nasdaq) no acumulado deste mês.

Os resultados da geração de emprego acima do esperado divulgados na última sexta-feira (5) também trouxeram alívio para os investidores. No último mês de julho, a economia norte-americana criou 528 mil empregos, enquanto as estimativas eram que os resultados ficassem em torno de 75 mil a 300 mil vagas. Os números foram comemorados pela Casa Branca, que destacou que o país não se encontra em uma recessão econômica.

As recentes notícias são boas, mas não o suficiente para descartar a possibilidade de recessão econômica da maior potência econômica do mundo. Para analistas, o atual momento pode ser o início de um movimento de “bear market” (queda na bolsa). Uma realidade que exige cautela na hora de manter posição nas empresas listadas nos EUA.

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Segundo Marcelo Cabral, gestor de investimentos da Stratton Capital, o risco segue presente porque a demanda por produtos apresenta quedas no país e, por consequência, mantém inalterados os estoques das empresas. Por esse motivo, as perspectivas não devem ser de continuidade de ganhos semelhantes aos de julho. Pelo contrário, as estimativas são que os preços das ações sofram ainda mais. “A tendência do mercado continua sendo de baixa por conta do aumento da taxa de juros, já que as elevações dela não chegaram ao fim, e a piora dos resultados das empresas em função da recessão econômica”, destaca Cabral.

O segundo ponto citado pelo gestor está ligado ao comportamento de consumo dos norte-americanos. Além da redução da demanda por produtos, os norte-americanos estão em busca de produtos com preços mais acessíveis. A mudança reflete nas operações da Walmart, maior rede varejista dos Estados Unidos.

Em comunicado divulgado no fim de julho, a companhia revisou suas perspectivas de lucro para baixo no segundo trimestre (novos resultados devem ser divulgados no próximo dia 16) e acendeu um alerta para a desaceleração econômica no país. De acordo com a varejista, o lucro operacional deve reduzir 14%, enquanto a queda no lucro por ação pode chegar a 9% no último trimestre de 2022.

Uma das causas é a inflação de alimentos dos Estados Unidos, que está na casa de dois dígitos. Ela afeta a capacidade dos clientes de gastar em outros produtos, o que exige mais descontos para reduzir o estoque.

Para William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, o problema do Walmart é comum a outras varejistas e contribuiu para a contração de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no segundo trimestre. Nesta reportagem, veja onde investir neste período de “bear market” dos EUA.

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“As empresas ainda estão estocadas e, por consequência, reduzem os pedidos das fábricas, diminuem as compras e a atividade econômica. Então, esse dado de PIB pode ser explicado muito por causa disso e o dólar mais forte reduz as exportações”, ressalta Alves.

Diante desse cenário, o estrategista acredita que o mercado norte-americano segue em um “bear market rally”. O conceito é utilizado quando as ações apresentam uma recuperação mesmo sem uma mudança conjuntural na economia em um período de 30 dias. “Estamos em um momento em que a economia ainda pode apresentar sinais ruins. Há ainda o impacto de aumento juros e a economia precisa desacelerar mais para controlar a inflação”, projeta Alves sobre os rumos dos EUA nos próximos meses.

Já na manhã desta quarta-feira (10), os dados da inflação dos Estados Unidos referente ao mês de julho ficou estável em relação ao mês de junho. Já na comparação anual, o CPI dos EUA subiu 8,5% em julho, desacelerando em relação ao ganho de 9,1% de junho e vindo também abaixo das expectativas, de alta de 8,7%.

Para Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital, os dados mais fracos tiram o peso do Federal Reserve de realizar um aperto monetário mais forte. “Esses dados indicam que a postura não precise ser tão hawkish, abrindo espaço para altas de menor magnitude na taxa básica de juros para as próximas reuniões e, consequentemente, uma taxa final mais baixa”, explica.

No entanto, mesmo com a melhoria dos dados econômicos, ainda é cedo para afirmar se a possibilidade de recessão está descartada. “O risco segue ainda presente, porém com a inflação desacelerando e a expectativa que o Fed não precise subir tanto a taxa básica de juros, a probabilidade de um cenário de recessão diminui, o que traz um bom humor no mercado e maior apetite a risco”, acrescenta.

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