Comportamento

As histórias de quem usou as finanças para tirar um ano sabático viajando

Antes de largar tudo, eles precisaram de um planejamento financeiro antes de iniciar a jornada

  • O casal Thália Pinheiro (35) e Vinícius Estrela (41) viaja pelo mundo desde 2019 e os dois já conheceram juntos 12 países
  • Já Admar Neto (33), gerente em uma empresa de consultoria, ganhou uma "licença" do trabalho para poder realizar o sonho de viver em outro país
  • Mas antes de sair pelo mundo, eles se organizaram financeiramente para arcar com todos os gastos desta aventura

Com o estresse da vida moderna, muita gente pensa em dar um tempo do emprego e da vida que leva para descansar e refletir. Mas, para conseguir viver bem durante o período sabático, a primeira coisa que indivíduos ou casais devem fazer  antes de dar o primeiro passo é o planejamento financeiro.

Essa foi a escolha do casal Thália Pinheiro (35), turismóloga, e Vinícius Estrela (41), gestor de projetos, que atualmente está no México. Desde 2019, eles viajam pelo mundo e já conheceram 12 países ao lado do cachorro de estimação, chamado Chopp.

O sonho de viajar sem uma data definida para voltar para casa sempre foi compartilhado pelo casal, mas o ponta pé inicial desta jornada foi a crise de ansiedade que o gestor de projetos apresentou em 2019. “A gente basicamente vivia para trabalhar. Tínhamos dinheiro para fazer as coisas, mas não tínhamos saúde. Aquela vida não estava fazendo mais sentido”, afirma Estrela.

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Eles venderam todos os bens, exceto dois imóveis que possuem (em Vitória e no Rio de Janeiro), e saíram da cidade de São Paulo, onde moravam há 5 anos, em uma caminhonete com objetivo de conhecer outros lugares. Além do dinheiro adquirido, o casal vive com os rendimentos de sua reserva financeira.

“Em 12 anos, consegui fazer uma reserva financeira com aplicações em previdência privada porque sempre trabalhei como PJ (pessoa jurídica)”, explica Estrela. Atualmente, 90% desta reserva estão aplicados em previdência privada. Os outros 10% foram realocados em produtos de renda variável.

A monetização dos conteúdos sobre a viagem do casal compartilhados no Instagram e no YouTube também ajuda a pagar as despesas. “Temos estudado bastante sobre o assunto (de como monetizar por meio das redes sociais). Estamos produzindo alguns conteúdos e já conseguimos retorno financeiro”, detalha Pinheiro.

Ao contrário de Estrela e Pinheiro, Admar Neto (33), gerente em uma empresa de consultoria, saiu do Brasil, mas com a pretensão de voltar. O sonho dele era realizar um intercâmbio para aperfeiçoar o domínio do inglês. “Eu não tive condições (quando era mais novo) de fazer um intercâmbio para morar fora do País. Então, eu sempre tive esse sonho e era algo que a minha esposa também tinha em mente”, comenta.

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Na empresa em que Neto trabalha, a consultoria de tecnologia Peers Consulting, há um programa que oferece aos funcionários o benefício de tirar uma “pausa” para a realização de projetos pessoais. Durante o “Peers Experience”, os funcionários da empresa têm o direito de ficar ausentes do trabalho por um período de 6 a 12 meses. O salário é cortado por se tratar de uma licença não remunerada, mas o plano de saúde permanece sendo pago por seis meses.

Com a garantia de que teria o seu emprego ao voltar para o Brasil, ele e Milene Correa, de 32 anos, juntaram cerca de R$ 30 mil para poder viver um ano na Austrália. Para conseguir chegar a este volume, o gerente e a esposa reservaram cerca de 30% do salário líquido para poder realizar o sonho de morar fora do País.

“Esse dinheiro foi para pagar as passagens aéreas do Brasil para a Austrália, todos os custos com escola e os trâmites de visto”, detalha Neto. “Com a proximidade da viagem, a gente precisou intensificar ainda mais. Evitamos viagens e cortamos outros gastos durante aquele período de um ano que estávamos nos organizando”, acrescenta.

Admar Neto e Milene Correa foram para Austrália em novembro de 2016 (Foto: Arquivo Pessoal)

Saiba como se organizar

Se você tem o mesmo sonho de dar uma “pausa” na rotina para viajar e ter o seu período sabático, alguns investimentos e conselhos financeiros podem te ajudar no planejamento desta nova jornada. Para Felipe Paletta, sócio e analista da Monett, o primeiro passo é avaliar a sua capacidade de poupança e o seu custo de vida mensal.

O exercício deve ajudar a ter um olhar mais detalhado sobre o próprio orçamento e compreender de quais formas poderá criar a sua reserva financeira para a viagem. “É importante você ter pelo menos uma reserva equivalente a duas vezes ao seu custo de vida mensal pelo período sabático. Se for um ano (de período sabático), ter pelo menos uma reserva equivalente a dois anos do seu custo de vida”, explica.

A necessidade de ter esse recurso equivalente ao dobro do seu atual padrão de vida serve para, além de arcar com os custos da viagem, ter condições de bancar as despesas no período pós-sabático. “Você terá um tempo para ter uma recolocação no mercado de trabalho. Muitas vezes, você pode ter uma mudança de trajetória ou uma necessidade de fazer um novo curso”, alerta Paletta.

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Ao adotar esta lógica, se você tem um custo de vida mensal de R$ 5 mil, o ideal é que tenha uma reserva financeira equivalente a R$ 120 mil para um período sabático de um ano, mais o valor da reserva de emergência para arcar com os imprevistos que podem surgir ao longo da viagem ou durante o retorno.

Neste caso, o sócio da Monett considera esse valor da reserva de emergência o equivalente ao custo de vida durante o período de um ano. Desta forma, o total ideal para quem tem um padrão de vida de R$ 5 mil mensais seria juntar R$ 180 mil.

“Se seu custo de vida mensal é de R$ 5 mil e a sua capacidade de poupança é de R$ 3 mil por mês, você conseguiria ter um ano sabático em 46 meses (3 anos e 10 meses). Isso se você não tiver nenhuma reserva de emergência e claro que esse valor vai depender do seu estilo de viagem”, detalha Paletta.

No caso de Pinheiro e Estrela, o custo de vida que os dois adotaram é bem inferior ao que tinham quando moravam na capital paulista. “O valor inteiro do aluguel (incluindo o condomínio) que a gente pagava em São Paulo é basicamente o nosso custo de vida atual”, afirma Pinheiro.

Como construir a sua reserva financeira

A construção desta reserva deve ser aliada a investimentos, mas essas aplicações vão depender do tempo destinado para o projeto e quando vai iniciar o seu período sabático. Segundo Ivens Gasparotto, diretor Suno Wealth e Suno Consultoria, caso os planos sejam ter um período sabático em cinco a dez anos, você pode utilizar as aplicações em renda variável, como as ações, para monetizar o seu patrimônio. Se a intenção é viajar em até três anos, os investimentos precisam ser mais conservadores, como os ativos de renda fixa atrelados à Selic.

“As ações têm muita volatilidade em um curto prazo e o seu objetivo de ano sabático pode ficar longe caso o mercado caia”, explica Gasparotto. Em casos de produtos em renda fixa, a sugestão de Paletta é aplicar os recursos em títulos com liquidez diária de baixo risco, como um título de Tesouro Selic ou CDBs (Certificado de Depósito Bancário) com vencimentos de um ano. “A ideia é sempre focar em poupar mais do que arriscar para rentabilizar rápido.”

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Além do prazo, as aplicações também precisam estar alinhadas com a moeda do local que você pretende viver o seu período sabático. Se for para os Estados Unidos, por exemplo, os seus recursos precisam estar em títulos de renda fixa atrelados ao dólar. “Não cometa o erro de ter os investimentos em real e viver em dólar porque você vai ter um risco cambial muito grande”, alerta Gasparotto.

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