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O que esperar das ações de ‘bancões’ em 2022?

Setor financeiro começou o ano com ganhos, na esteira do maior fluxo estrangeiro

O que esperar das ações de ‘bancões’ em 2022?
Papéis de bancos tradicionais saltaram em janeiro, impulsionados pelo fluxo estrangeiro. (Foto: Brenda Rocha - Blossom/Shutterstock)
  • Aumento de provisionamento na pandemia afetou resultados dos bancos tradicionais e tornou mais lenta a recuperação das ações
  • Para analistas, o desconto nos papéis e a resiliência dos bancos frente a alta de juros foram fatores que atraíram os investidores estrangeiros
  • Itaú e Bradesco são as principais recomendações entre os bancões

O começo de ano trouxe um fluxo intenso de investimento estrangeiro para a Bolsa de Valores brasileira, em especial para empresas de valor – aquelas que já estão consolidadas no mercado, com longo histórico de atuação e resiliência. Além disso, essas companhias tendem a apresentar menores taxas de crescimento e volatilidade, quando comparadas às “techs”.

É o caso das instituições financeiras tradicionais, que são uma das principais representantes da velha economia, como também são chamadas de empresas de valor. Em janeiro, os papéis dos bancões registraram desempenhos bastantes positivos. Até a última terça-feira (8), as ações dos quatro maiores bancos listados na B3 acumulavam altas que variavam entre 9,8% e 21%. Os dados foram levantados pela Economatica Brasil.

Desempenho dos bancões em janeiro
Nome Código
Retorno em janeiro
1 ItauUnibanco ITUB4 21,01%
2 Bradesco BBDC4 18,80%
3 Bradesco BBDC3 16,24%
4 Brasil BBAS3 13,21%
5 Santander BR SANB11 9,87%
Fonte: Economatica / Classificação por ativo total

Na visão de Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, além de estarem descontados, as instituições financeiras costumam performar bem, mesmo em épocas de juros altos. Vale lembrar que as taxas estão subindo no mundo inteiro, já que uma das consequências da crise do coronavírus e paralisação das economias foi a inflação.

“Os grandes bancos acabam tendo performances melhores do que outros papéis em cenário mais contracionista, do ponto de vista monetário”, explica Crespi.

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Essa também é a visão de Matheus Jaconeli, analista da Nova Futura Investimentos.“Como o Brasil era um dos países mais descontados e o setor financeiro brasileiro possui empresas com bons fundamentos, boa parte desse fluxo estrangeiro foi para o setor. Internamente, o ciclo de alta de juros no Brasil favorece o setor bancário, contribuindo para a elevação das ações”, explica.

O movimento altista vem na contramão da performance observada nos últimos dois anos. No início da pandemia, em 2020, essas instituições financeiras foram bastante impactadas, mas diferente do Ibovespa, ainda não se recuperaram.

Impacto da pandemia

A razão para esse descompasse entre o Ibovespa e o setor financeiro estaria nas incertezas econômicas e em uma mudança importante feita nos balanços dessas empresas.

“Os bancos aumentaram, de maneira significativa, as Provisão de Devedores Duvidosos (PDDs). Fazendo isso, diminui-se contabilmente os lucros porque os bancos estão separando mais dinheiro para eventuais calotes”,  afirma Tiago Feitosa, consultor de valores mobiliários e professor da T2 Educação.

A medida foi uma forma de proteção para lidar com as consequências da crise sanitária. “Como não tínhamos certeza de como a economia se comportaria, foi uma mudança acertada, para trazer segurança para as próprias instituições e para os acionistas”, explica Feitosa.

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Com a diminuição dos lucros, os resultados também foram afetados e o ritmo de crescimento interrompido. Segundo o consultor da T2 Educação, o impacto sobre os indicadores fundamentalistas foi significativo. Em 2019, o P/L (preço/lucro) da indústria era de 11. Com a queda das ações na crise, o P/L médio em dezembro de 2021 foi de 6,7.

Esse indicador sinaliza quantos anos seriam necessários para que um investidor conseguisse ter o retorno de uma ação. Isso significa que, em 2019, o acionista que comprasse papéis de bancos demoraria 11 anos para ter o retorno deste investimento. Já, quem comprou em 2021, após a queda das ações em função da crise, levaria praticamente metade do tempo para obter o mesmo rendimento.

“É o que chamamos de ação descontada, muito barata em relação à pratica de mercado. E isso, claro, aumenta a demanda”, explica Feitosa.

Recomendações

A chegada de tecnologias como Pix e Open Banking também impactou bastante o preço dos ‘bancões’, já que deu mais subsídio às fintechs. Com isso, o cenário de competição no setor ficou mais desafiador.

Paralelamente, as expectativas de aumento no endividamento das famílias, inadimplência e inflação, devem tornar 2022 um ano ainda complicado para as instituições financeiras. Ainda assim, os bancos tradicionais seguem na lista de boas oportunidades de investimento. Essa é a visão de Leo Monteiro, analista de research da Ativa Investimentos.

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“De maneira geral, estávamos vendo um valuation descontado já há algum tempo”, explica Monteiro. “Essas companhias ainda trazem uma proposta de valor, um relacionamento longo com o cliente, uma gama maior de produtos e serviços. Apesar do aumento dos provisionamentos na pandemia, registraram resultados bons em crescimento de carteira de crédito e margem financeira em 2021.”

Para Monteiro, o esperado é que o Itaú Unibanco, Bradesco e Banco do Brasil consigam atravessar a alta na inadimplência em 2022 sem a necessidade de provisionamentos adicionais. Entre esses, somente ITUB4 e BBDC4 são recomendações de compra.

“Santander é o único que vemos o risco de ter que fazer mais provisões e, com isso, prejudicar os resultados em 2022”, afirma o analista. “Para o Banco do Brasil vemos riscos políticos, principalmente em ano de eleição.”

As apostas da Nova Futura se concentram, também, em Itaú e Bradesco. O mesmo ocorre com a Guide. “Principalmente no ponto de vista de tecnologia, o Itaú está investindo bastante em inovação, diminuindo sua distância para as fintechs. Tem ido muito bem e entrega resultados positivos”, explica Crespi.

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Já para Feitosa, entre os grandes bancos, o mais atrativo em termos de fundamentos é o Banco do Brasil. “Mas o fato de estar mais barato é relacionado ao risco político que estamos vivendo. A escolha do presidente do Brasil interfere diretamente na gestão e, por isso, ele é o mais descontado”, destaca.

Análise dos balanços

O Santander soltou o balanço referente ao ano passado no último dia 2 de fevereiro. Somente no 4º trimestre, o banco registrou lucro gerencial de R$ 3,88 bilhões, que significa uma queda de 10,6% em comparação ao trimestre imediatamente anterior. No acumulado de 2021, o lucro ficou em R$ 16,3 bilhões.

“O balanço de Santander veio com números aquém do esperado o que também contribuiu para a queda das ações nesse mês de fevereiro”, afirma Jaconeli, da Nova Futura Investimentos.

Na última quarta-feira (9), foi a vez do Bradesco apresentar seus resultados, que também ficaram abaixo das expectativas. Em reação, as ações fecharam o pregão em queda de 8,58%. O lucro do banco ficou em R$ 6,6 bilhões no 4º trimestre e R$ 26,2 bilhões em 2021.

Segundo a Ativa Investimento, o balanço foi misto. “Topline (receita) em linha com nossas expectativas, mas resultado operacional e lucro líquido abaixo em função de maiores despesas operacionais e tributárias”, comenta a corretora.

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O crescimento robusto na carteira de crédito e aumento na margem financeira foram considerados pontos positivos no balanço pela Ativa. Por outro lado, as despesas operacionais teriam decepcionado, já que subiram 1,1% no ano, quando a projeção era de queda entre 1% e 5% no período. Ainda assim, a recomendação de compra foi mantida pela Ativa.

Já o balanço do Itaú surpreendeu e a ação disparou mais de 5% na manhã desta sexta-feira (11). O resultado recorrente gerencial de 2021 foi de R$ 27,7 bilhões, um aumento de 45,0% em relação a 2020.  O lucro líquido atribuível aos acionistas controladores atingiu R$ 26,8 bilhões, montante 41,6% melhor em comparação ao mesmo período do ano anterior.

 

 

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