- Ibovespa ainda cai 16% no ano, mas segue a tendência de alta dos índices americanos
- Resultados dos Estados Unidos influenciam bolsas do mundo todo
- Bolsa de valores brasileira tem grande participação estrangeira, principalmente de investidores norte-americanos
Ao fechar a segunda-feira 8 de junho aos 97.644 pontos, o Ibovespa chegou a uma valorização de 53,6% desde o piso em 23 de março, quando bateu aos 63.569 pontos. Embora o principal indicador da B3 ainda esteja em queda de 16,9% em 2020, a rápida recuperação, em meio à continuidade da pandemia, reflete como o mercado financeiro tem reagido às informações da reabertura da economia na China e na Europa e aos avanços das pesquisas de uma vacina contra a covid-19. Mas o desempenho do índice da Bolsa brasileira tem acompanhado o de suas pares americanas?
Leia também
Um levantamento exclusivo feito pela Economatica para o E-Investidor mostra que Ibovespa, Dow Jones, Nasdaq e S&P500 apresentam curvas semelhantes de altos e baixos. O termômetro do mercado brasileiro de ações acompanha o que acontece nos Estados Unidos, com mostra o gráfico abaixo que tem início em janeiro de 2019.
Em dezembro do ano passado, por exemplo, o Ibovespa chegou a ultrapassar o desempenho do Dow Jones e a encostar no S&P 500. Na época, o indicador da B3 batia recordes de pontuação e fechou aquele ano com valorização de 31,58%, aos 115.645 pontos. O movimento de alta refletia o otimismo dos investidores com o futura da economia no País.
Publicidade
Invista em oportunidades que combinam com seus objetivos. Faça seu cadastro na Ágora Investimentos
Mas, desde o início da pandemia, o mercado americano de ações tem mostrado uma força maior de recuperação. O S&P500 bateu recorde de pontuação aos 3.232 pontos e já está com 0,5% de ganho acumulado no ano. O Dow Jones, por sua vez, acumula baixa de 3,38% em 2020 – bem menor que a queda de 16,9% do Ibovespa.
“O que está puxando a recuperação de todo mundo é a reabertura das economias, mas o Ibovespa ainda está com desempenho pior que os demais índices”, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
Por que a recuperação do Ibovespa é mais lenta?
Para quem não conhece, Dow Jones e S&P 500 são dois dos principais índices de ações das bolsas americanas. O primeiro reúne as 30 maiores companhias da NYSE (Bolsa de Nova York) e NASDAQ (Bolsa focada em empresas de tecnologia). Já o segundo leva em consideração as 500 maiores empresas de capital aberto dos Estados Unidos.
O gráfico feito pela Economatica mostra que os resultados dos índices, apesar de seguirem a mesma tendência, começaram a se descolar bastante em magnitude a partir do final de março, quando o coronavírus já tinha impacto mundial. A distância de desempenho se ampliou à medida que a tendência se invertia para recuperação. “A explicação maior é a famosa aversão ao risco”, diz Cruz.
Publicidade
De acordo com o especialista, a crise mundial provocada pelo coronavírus faz com que investidores estrangeiros tendam a retirar dinheiro de países emergentes, como o Brasil, e foquem em mercados considerados mais seguros, como os EUA.
Outro ponto seria a recuperação mais rápida das empresas e da economia americana, como um todo. “Só o pacote de estímulos feito por eles já é quase maior que a nossa economia”, disse o especialista da RB Investimentos. Em março, o Senado americano aprovou um pacote de estímulos no valor de US$ 2 trilhões. O PIB do Brasil em 2019 foi de, aproximadamente, US$ 1,5 trilhão, se levado em consideração o dólar a R$4,8.
Para Cruz, a situação política instável do País é um terceiro fator que joga contra os ativos brasileiros, mas que a pandemia teria ‘zerado’ as economias. “Agora, estão todos iguais em relação ao ciclo econômico, se não conseguirmos recuperação, é por um problema bem nosso, de origem doméstica”, diz Cruz.
Correlação entre as bolsas
É possível observar no levantamento que, mesmo com desempenhos distantes, os índices costumam caminhar na mesma direção. Isso significa que Ibovespa, S&P 500 e Dow Jones caem juntos e também se recuperam juntos.
Para José Cataldo, head de research da Ágora Investimentos, a B3 repercute mais os movimentos das bolsas americanas que das demais bolsas globais. “Isso ocorre devido a grande presença de estrangeiros na bolsa brasileira, principalmente investidores dos Estados Unidos”, diz Cataldo.
Publicidade
Os dados divulgados pela B3 mostram que entre 1º e 4 de junho, investidores estrangeiros eram responsáveis por 22,4% das operações de compra, com R$ 56,7 bilhões em transações, e 21,47% das operações de venda, totalizando R$ 54 bilhões.
O estrategista da RB Investimento chama a atenção para o envolvimento entre os mercados do Brasil e dos Estados Unidos, que acentua essa correlação. “As empresas americanas geralmente têm negócios aqui, além de que eles compram bastante da gente”, afirmou.
Outro ponto seria que, por ser a maioria economia do mundo, a influência dos Estados Unidos em outros mercados é alta. “Em resumo, se a economia americana vai bem, as outras economias tendem a seguir o ritmo, a não ser que ocorram problemas internos”, concluiu Cruz.