- O banco digital Nubank anunciou um prejuízo líquido de R$ 312 milhões em 2019, resultado 212% pior do que o déficit registrado no ano anterior
- No primeiro semestre de 2020 os números também vieram no vermelho, em R$ 95 milhões
- Para os especialistas em fintechs Bruno Diniz e Fernanda Garibaldi, os prejuízos anunciados não são indicativos de que a empresa vai mal. Na verdade, os resultados negativos são reflexo de uma estratégia agressiva de expansão
O banco digital Nubank anunciou um prejuízo líquido de R$ 312 milhões em 2019, resultado 212% pior do que o déficit registrado no ano anterior, de R$ 100 milhões. No primeiro semestre de 2020, os números também vieram no vermelho, em R$ 95 milhões, embora tenham sido 32% menos negativos que o rombo de R$ 139 milhões registrado no mesmo período do ano passado.
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À primeira vista, os resultados assustam, mas não são exatamente uma novidade. Desde que começou a operar, em 2013, o Nubank nunca deu lucro. Aliás, a primeira queda significativa no prejuízo líquido foi justamente a que ocorreu entre janeiro e junho de 2020, em meio à crise do coronavírus.
“Se você olha para o cenário de pandemia, como o que estamos passando, isso é realmente um feito”, explica Bruno Diniz, especialista em fintechs e co-fundador da consultoria Spiralem. “A empresa conseguiu manter o ritmo acelerado de crescimento, reduziu o prejuízo e ainda continuou entre as melhores fintechs do mundo”, diz.
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O especialista ressalta ainda que ter prejuízo, mesmo que milionário, não é um indicador ruim para a fintech, e sim o reflexo do objetivo estratégico da empresa.“Os modelos de negócios de empresas de tecnologia sempre têm muito essa estratégia de sacrificar o lucro no curto prazo para conseguir expandir a empresa e se blindar da concorrência externa”, afirma Diniz.
Essa também é a visão de Fernanda Garibaldi, pesquisadora da USP na área de sistemas de pagamento, finanças e tecnologia e especialista do Felsberg Advogados. “Esse prejuízo faz parte de uma opção de negócio, em que a empresa reinveste todo o lucro para expandir a própria fintech e ampliar a base de usuários”, declara.
A estratégia está dando certo, já que o banco digital dobrou o número de clientes em 12 meses, entre junho de 2019 e junho de 2020, para 26 milhões. A fintech teve também um crescimento de 54% no volume de transações e os recursos em caixa chegaram a R$ 19,9 bilhões, quantia 48% maior que a registrada no semestre imediatamente anterior.
Em comentário aos resultados financeiros divulgados, o Nubank explicou que “o prejuízo é uma decisão e, por isso, esperado como parte da estratégia de crescimento no momento. Escolhemos investir na empresa, nas pessoas e no desenvolvimento de novas tecnologias para continuar entregando a melhor experiência aos nossos clientes.”
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Para Garibaldi, o Nubank é a ‘Amazon’ dos mercados financeiros. A empresa do trilionário Jeff Bezos deu prejuízo em todos os cinco primeiros anos de operação, mas viveu um crescimento acelerado e chegou a atingir o R$ 1 trilhão em valor de mercado atualmente.
“Quando falamos de plataformas digitais, falamos de segmentos em que o ‘vencedor leva tudo’, ou seja, é muito importante crescer e expandir a base de usuários ao máximo para se consolidar”, explica a pesquisadora. “O lucro não é a medida do sucesso nesses negócios, mas claro que em um cenário de recuperação econômica a gente fica se perguntando quanto tempo a empresa vai continuar nessa situação”, diz.
Quando o Nubank vai dar lucro?
Em comparação a um banco tradicional, as fontes de receitas do Nubank são mais limitadas, já que são feitas menos cobranças pelos serviços. Atualmente, a fintech ganha dinheiro principalmente com cerca de 1/3 do ‘interchange’, taxa de 5% cobrada a cada transação que um cliente faz utilizando o cartão de crédito. Também são fontes os juros gerados quando um usuário atrasa o pagamento da fatura do cartão de crédito e o Nubank Rewards, programa de pontos.
Para Diniz, é difícil prever exatamente quando, mas no futuro a fintech terá que ampliar o leque de produtos financeiros para tornar o modelo de negócio sustentável.
“Atualmente, para fazer a expansão, o Nubank se financia principalmente através de captação feita por fundos de venture capital [que captam dinheiro para startups]”, diz Diniz. “A partir do momento que a empresa ganhar mais escala, vai ter que ampliar as ofertas financeiras para estabilizar os prejuízos e alcançar lucros.”
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Na visão de Garibaldi, essa dúvida em relação a se o modelo de negócio é sustentável permeia todas as startups. “É a pergunta de um milhão de dólares”, conclui. “O que acontece com a Nubank, e com as demais plataformas digitais, é que os investidores fazem uma aposta. Se formos levar pela Amazon, podemos dizer que é sustentável sim.”