Depois de anos difíceis por conta do aumento da inadimplência, 2024 traz boas perspectivas para os bancos, que devem remunerar melhor os seus investidores. O Itaú (ITUB4) se destaca entre os grandes bancos por conta do Índice de Basiléia – indicador que estabelece uma base de capital mínima para cobrir riscos associados ao crédito – mais confortável. Tal situação pode ser revertida aos acionistas, de acordo com especialistas que acompanham o setor financeiro.
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Renato Chanes, analista da Ágora, afirma que o atual patamar do Índice de Basiléia pode ter duas consequências possíveis: acelerar a distribuição de crédito – aumentando a concessão e originação – ou aumentar a partilha de dividendos. “Vai depender do andamento da atividade econômica e da melhora da qualidade de crédito. Se for confirmado que o Itaú está com excesso de capital, o banco deve distribuir dividendos maiores”, destaca Chanes. Na Ágora, a expectativa é que o Itaú tenha um retorno em dividendos (dividend yield) de entre 4% e 5% para 2024, mas que poderia facilmente chegar a 8% por conta do excesso de capital.
Mas este não é o único fator que beneficia o banco. Milton Rabelo, analista do setor financeiro da VG Research, explica que o mercado aguardava uma nova norma do Banco Central (BC) sobre o aumento da exigência de capital das instituições financeiras. “A expectativa era que fosse implementada em sua totalidade até 2025, porém o cronograma apresentando pela autarquia prevê a sua implementação de forma gradual entre 2025 e 2028”, explica Rabelo.
No Itaú, se esperava que essa norma consumisse cerca de 1% dos níveis de capital, contudo, com o novo prazo, esse impacto ficou mais espaçado. Rabelo lembra que o Itaú sempre foi reconhecido pela administração eficiente dos níveis de capital. Portanto, com o excedente que ficou seria factível um aumento no volume de proventos.
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“Todo aquele colchão que foi feito pelo Itaú ao longo de 2023 para que eles estivessem enquadrados em 2024 se provou em excesso de capital. Ou o banco acelera a distribuição de crédito ou retorna o capital aos acionistas”, aponta Chanes. Segundo ele, ambos cenários são positivos porque geram valor aos investidores.
Dividendos do Itaú nas nuvens?
Segundo a Genial Investimentos, o lucro do Itaú pode ter um crescimento superior a 10% em 2024, potencializado pelo capital em excesso e decisões regulatórias favoráveis – como as relacionadas ao limite de juros no cartão de crédito, aumento do Índice de Basiléia e alterações nos juros sobre capital próprio. Com isso, o payout (parcela do lucro destinada a proventos) do banco saltaria para 61%, implicando em um dividend yield de 7,6%.
Alguns analistas preferem ser mais conservadores na projeção. Hugo Queiroz, sócio da L4 Capital, acredita em um payout de 40% e dividend yield de 5% para ITUB4. Mas não descarta a possibilidade de um crescimento até 60% de payout e um dividend yield de 8% se for aliviada a percepção de risco macroeconômico. Já Renato Reis, analista da Blue3 Research, acredita que 60% de payout seria uma projeção muito agressiva. Para ele, o mais razoável seria o banco distribuir até 50% do seu lucro em proventos.
O cenário favorável vale para a Itaúsa?
Quando o Itaú aumenta seus proventos, o mais natural é que a Itaúsa – holding acionista do banco – pegue carona e também eleve os dividendos distribuídos. A Itaúsa tem 37% de participação no Itaú, mas também aloca recursos em outras subsidiárias, como Alpargatas (ALPA4), Dexco (DXCO3), CCR (CCRO3), Aegea (AEGP23), Copa Energia e NTS.
De todas as empresas que integram a holding, o banco é o que possui maior estágio de maturidade. Portanto, quase todos os dividendos pagos pela Itaúsa são fruto dos proventos recebidos do Itaú. A dinâmica não deve mudar tão cedo. No entanto, as perspectivas do mercado não parecem ser tão promissoras para a holding.
Chanes, da Ágora, afirma que os dividendos da Itaúsa não devem crescer por conta da alavancagem (endividamento). Nos últimos anos, a Itaúsa precisou contrair dívidas para aumentar a diversificação do seu portfólio e investir nas subsidiárias. “À medida que o endividamento reduz, a Itaúsa deve começar a pagar mais dividendos, mas isso não vai acontecer em 2024”, avalia Chanes.
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Apesar do analista da Ágora estar trabalhando com a expectativa de um payout de 75% para Itaúsa, o dividend yield da holding é pífio, de apenas 3,4% para 2024. O megainvestidor Luiz Barsi Filho falou sobre Itaúsa, dentro da sua famosa estratégia de ganhos com dividendos – veja aqui a reportagem.
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Para Queiroz, da L4 Capital, Itaúsa só deve distribuir dividendos interessantes quando os outros negócios que integram o portfólio da holding alcançarem um estágio de maturidade. O analista destaca que a companhia não serve para uma estratégia de dividendos e, sim, para uma tese de crescimento, com potencial de destravar valor com as subsidiárias atingindo uma precificação justa ou em um eventual IPO (abertura de capital) ou, então, na venda de participação por parte da holding.
“Para quem quer dividendos é melhor ficar no Itaú, porque o yield será maior. Já para quem busca crescimento e diversificação em setores como infraestrutura, gás e outros é uma boa opção ir para Itaúsa”, pondera Queiroz.
Reis, da Blue3 Research, também prefere o Itaú, apesar de projetar um payout de 50% para Itaúsa em 2024. O motivo é que o portfólio da holding não agrada o analista, principalmente quando a estratégia diz respeito a ganhos com dividendos. “Itaúsa tende a fazer umas alocações estranhas, como Dexco, Alpargatas, CCR e outras empresas de capital fechado. Não são baitas empresas como as adquiridas por outras holdings como Simpar (SIMH3) e Cosan (CSAN3)”, defende.
Reis destaca os riscos do investidor se expor à holding, com companhias como Alpargatas, que podem dar prejuízo, e Dexco, que é muito cíclica. “Com os juros ainda altos, a Dexco vai queimar caixa. Você fica exposto a outras empresas que não necessariamente têm o mesmo nível de qualidade que o Itaú”, pontua. O analista espera um dividend yield de 6,8% para ITSA4.
O único que tem uma perspectiva favorável para Itaúsa neste ano é Rabelo, que acredita que o payout da holding deve superar os 40% em 2024 e aumentar no longo prazo com a redução do endividamento da empresa. “Com um viés de longo prazo, Itaúsa pode ser um investimento interessante para quem busca renda passiva”, afirma. Rabelo destaca o desconto convidativo da holding em relação ao Itaú além da perspectiva de crescimento do lucro e das subsidiárias.
Itaú ou Itaúsa para dividendos em 2024?
A maioria dos analistas consultados preferem Itaú para uma estratégia de dividendos em 2024 e no curto prazo. Reis destaca que investir diretamente em Itaú pode trazer mais previsibilidade aos investidores, enquanto na Itaúsa o investidor teria o risco de ficar exposto a uma aquisição cara ou ruim feita pela holding.
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O analista da Blue3 Research espera dividendos de 6,3% para o banco em 2024. No entanto, faz a ressalva, pode não ser o melhor momento para comprar a ação ITUB4. O motivo é que o papel está caro, negociando na faixa dos R$ 32, que já seria seu preço justo na avaliação dele. “O investidor corre o risco de comprar a ação, ganhar dividendos e perder na cotação, caso o banco se desvalorize”, destaca Reis.
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Queiroz também prefere investir em Itaú, com a possibilidade de garantir até 8% de yield aos investidores. Ele destaca a redução de risco, o crescimento do lucro, a melhoria da rentabilidade e a boa liquidez dos papéis do banco como justificativas. “O Itaú tem potencial muito maior de pagar dividendos do que Itaúsa. A holding é para quem busca crescimento e um ativo diversificado”, avalia.
Na Ágora, Chanes tem recomendação de compra para Itaúsa, contudo, com foco na valorização. Ele espera que as ações ITSA4 cheguem ao preço de R$ 11,50 até o final do ano, mas os dividendos devem ser de apenas 3,4%.
Segundo ele, o único cenário em que seria mais vantajoso investir em Itaúsa ante o Itaú seria diante de um possível fim dos juros sobre capital próprio (JCP). O motivo é que atualmente a holding sofre uma bitributação de proventos. Quando o Itaú paga JCP, a holding recebe os valores com desconto de 15% de imposto e quando a Itaúsa repassa esse dividendo ao investidor, há novamente a cobrança de 15% retido na fonte. “Com o fim do JCP, o desconto da holding diminuiria. Seria um detrator de valor para o Itaú mas com impacto neutro na Itaúsa”, comenta.
Na contramão do mercado, Rabelo prefere se expor a Itaúsa para uma estratégia de dividendos. Enquanto projeta 7% de dividend yield para a holding, para o Itaú a perspectiva é de 6,5% em 2024. Ele destaca que a Itaúsa possui um desconto de negociação no mercado frente ao Itaú e como quase 90% dos resultados da empresa são fruto da participação no banco, não haveria motivos para não aproveitar a pechincha.
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DY ITUB4 2024 | DY ITSA4 2024 | Quem projeta? | Preferência para dividendos |
Entre 4% e 8% | 3,40% | Ágora Investimentos | Itaú |
6,30% | 6,80% | Blue3 Research | Itaú |
6,50% | 7% | VG Research | Itaúsa |
Entre 5% e 8% | 3% | L4 Capital | Itaú |
Fonte: levantamento E-investidor com analistas
DY= dividend yield (retorno em dividendos)