- Os títulos públicos e ativos atrelados ao IPCA se mantiveram entre as preferências dos investidores em renda fixa
- Tanto a macroeconomia brasileira quanto a internacional devem continuar precificando a renda fixa diante da perspectiva de juros elevados
- Especialistas recomendam o investimento no Tesouro Nacional, mas apontam outras opções que são isentas do Imposto de Renda
A renda fixa se manteve entre as preferências dos investidores em julho e a perspectiva é de manutenção desse cenário para o próximo mês. Entre os destaques, os títulos públicos e outros ativos atrelados ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) entregaram as melhores rentabilidades aos investidores.
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Na avaliação de Régis Chinchila, head de research da Terra Investimentos, a performance da renda fixa no último foi influenciada pelo início do corte de juros na Europa e sinais de que esse movimento deve ter início nos Estados Unidos ainda neste ano. Além disso, a continuidade do processo de flexibilização monetária na China também contribuiu para o aumento da atratividade dos ativos. “Visto a elevação da demanda por títulos mais longos e reduzir a percepção de risco”, diz.
Mas não são apenas os movimentos internacionais que fazem preço na renda fixa brasileira. Por aqui, no mês de julho o governo atendeu ao apelo do mercado financeiro sobre o controle fiscal. Com isso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu aval para a equipe econômica contingenciar as despesas públicas na ordem de R$ 15 bilhões.
Mayara Rodrigues, analista de renda fixa no Research da XP, lembra que isso gerou um alívio momentâneo nos prêmios dos títulos públicos. “Mas seguimos cautelosos em relação à trajetória das contas públicas, visto que mais precisará ser feito pelo governo para o mercado retirar esses prêmios de risco da curva local”, afirma.
O que esperar da renda fixa em agosto?
Ao investir na renda fixa, é preciso ter em mente que os eventos macroeconômicos nacionais e internacionais fazem preço aos ativos. Para agosto, a expectativa é de que a política monetária dos EUA continue a ser o pano de fundo para o mercado financeiro global. Por lá, além da decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) nesta quarta-feira, que deve manter a taxa de juros inalterada, dados da atividade econômica devem respaldar ou não as apostas de corte de juros a partir de setembro.
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“A divulgação do relatório de empregos (payroll) na sexta-feira (2) também será importante para moldar as expectativas em relação à política monetária norte-americana e, consequentemente, para o Brasil”, alerta Joaquim Gomes, especialista em produtos de renda fixa da RJ+ Investimentos.
Já em âmbito doméstico, o especialista frisa que a política fiscal e as expectativas em relação à meta de inflação devem impactar os ativos de renda fixa. O último Boletim Focus, divulgado na segunda (29), trouxe um aumento para o IPCA em 2024, de 4,05%, e, na semana anterior, para 4,1%. Além disso, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil também se reunirá nesta quarta-feira e a expectativa dos economistas é de manutenção da taxa Selic a 10,5% ao ano.
Gomes destaca que esse cenário tem ajudado a sustentar uma taxa real de juros alta, o que tende a atrair investidores para a renda fixa e reduzir a exposição a riscos na renda variável. “Porém, é importante considerar sua disposição para carregar alguns títulos de renda fixa por prazos mais longos”, lembra. Isso porque os títulos atrelados à inflação possuem prazos mais longos, com vencimentos que podem chegar a 2055.
Para o investidor com perfil mais moderado ou arrojado, que suporta um risco maior, os vencimentos mais longos podem ser benéficos – seja para levar até a data acordada ou para vender antes do vencimento. Isto porque, diferentemente do Tesouro Selic, os títulos atrelados à inflação sofrem efeitos de “marcação a mercado”. Ou seja, os preços desses papéis variam diariamente conforme a demanda pelo papel no mercado secundário (para vendas antes do vencimento) e as expectativas econômicas.
Entretanto, quem já tem esse papel na carteira, com um rendimento menor, sofrerá com desvalorização se precisar vender antes do vencimento. O contrário também acontece: quando as expectativas são para juros menores, quem tem esse título na carteira poderá ter ganhos com a marcação a mercado positiva.
Os melhores ativos da renda fixa para a carteira de agosto
As perspectivas de aumento dos gastos públicos fazem com que as projeções para a inflação subam. E, quanto maior a inflação no futuro, mais altos os juros devem ser para conter o avanço dos preços na economia. É nessa toada que os títulos públicos, como o Tesouro IPCA+ e o Tesouro Selic, devem continuar na carteira dos investidores.
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Ainda assim, outros ativos da renda fixa podem entregar uma boa rentabilidade. Régis Chinchilla, da Terra Investimentos, destaca os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com prazos mais longos. “Eles podem apresentar boa performance devido à expectativa de redução das taxas para os próximos meses”, afirma.
Junto a essas opções de renda fixa, os especialistas ouvidos pelo E-Investidor destacam ainda aquelas que são isentas do Imposto de Renda (IR), que varia entre 15% e 22,5%, além da incidência do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) caso a aplicação seja inferior a 30 dias.
“Alguns títulos oferecem melhores taxas, mas podem ter menos liquidez, e outros não contam com a proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC)”, aponta Joaquim Gomes, da RJ+ Investimentos. Entre os ativos que ele destaca estão as debêntures incentivadas, Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA).
A especialista em renda fixa da XP, Mayara Rodrigues, também aponta essas três opções. “A nossa recomendação nesse caso é para um prazo médio, com uma duração intermediária em torno de 5 a 6 anos”, explica. Segundo ela, tendo em vista que a Selic deve se manter alta por mais tempo, é possível um equilíbrio entre boa rentabilidade e baixo risco de mercado nessas opções.