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Ibovespa tem pior novembro desde 2017 e cancela tradicional rali de fim de ano na Bolsa; o que acontece em dezembro então?

Ativos foram penalizados pelo pacote de corte de gastos do governo; veja as ações que mais caíram e as que se salvaram

Ibovespa tem pior novembro desde 2017 e cancela tradicional rali de fim de ano na Bolsa; o que acontece em dezembro então?
Decepção com pacote de corte de gastos enterrou as perspectivas de melhora para a Bolsa brasileira no fim de 2024. (Imagem: SometimesNever/peopleimages.com em Adobe Stock)
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  • O Ibovespa, principal índice de ações da B3, chega ao fim deste mês com uma queda de 3,12% – o pior novembro desde 2017
  • O dólar escalou 3,6% sobre o real e terminou o período cotado a R$ 6, maior valor nominal já registrado em um fechamento – veja aqui. Os dados são de Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta
  • As ações foram penalizadas no período em função das questões fiscais. Os investidores passaram quase o mês inteiro esperando pela divulgação oficial do Governo de um pacote de corte de gastos para estabilizar a dívida pública. Contudo, após o anúncio feito pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT) na última quarta-feira (27), o sentimento foi de decepção

O Ibovespa, principal índice de ações da B3, chega ao fim deste mês com uma queda de 3,12% – o pior novembro desde 2017. O dólar escalou 3,6% sobre o real e terminou o período cotado a R$ 6, maior valor nominal já registrado em um fechamento – veja aqui. Os dados são de Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta.

As ações foram penalizadas no período em função das questões fiscais. Os investidores passaram quase o mês inteiro esperando pela divulgação oficial do Governo de um pacote de corte de gastos para estabilizar a dívida pública. Contudo, após o anúncio feito pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad (PT) na última quarta-feira (27), o sentimento foi de decepção.

Apesar da expectativa de economia de R$ 70 bilhões em dois anos de pacote fiscal, com medidas como restrições ao abono salarial e limite no reajuste do salário mínimo, o mercado foi surpreendido negativamente com a proposta de isenção de Imposto de Renda (IR) para quem ganha até R$ 5 mil – que deve trazer um impacto fiscal adicional. Logo, enquanto os investidores esperavam foco total no enxugamento das despesas, o governo propôs também mais um aumento de gastos. Isso azedou ainda mais a confiança no Executivo e fez o dólar disparar. A moeda chegou a atingir R$ 6,11 na manhã desta sexta (29).

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Os juros futuros também subiram, o que ficou visível no rendimento dos títulos públicos. O Tesouro IPCA+ com vencimento para 2029, que paga a variação da inflação mais uma taxa prefixada, está oferecendo um juro real de 7,17%. Este é o maior nível de rentabilidade registrado por esse papel. Na última década, em média, os títulos de inflação só ofereceram rendimentos reais iguais ou acima de 7% em menos de 5% dos dias abertos a negociação, segundo levantamento feito pela Quantum Finance a pedido do E-Investidor.

Para Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos, a partir de agora o investidor brasileiro vai ter que aprender na “marra” a fazer diversificação internacional. “Do jeito que as coisas se desenham hoje, vamos focar nas exportadoras. Por conta do câmbio desvalorizado, também projetamos um ano melhor para o agronegócio. Brasileiro vai ter que diversificar investimentos, por países, na marra”, diz Cruz, da RB.

Rali de fim de ano na Bolsa? Não desta vez

Para frente, o mercado duvida que aconteça o tradicional “rali de fim de ano” na Bolsa brasileira. “O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deve aumentar ritmo dos cortes na Selic e o Federal Reserve (Fed, banco central americano) deve reduzir projeções de redução de juros para 2025. Vão ser duas semanas de notícias negativas para ações à frente”, diz Cruz, cuja expectativa para 2025 é que o Ibov suba aos 135 mil pontos, alta de 10% em relação ao patamar atual.

Pedro Ivo Filho, Trader de Renda Variável do Grupo SWM, também vê o pacote fiscal anunciado como “insuficiente” para estabilizar a trajetória de aumento da dívida pública no longo prazo. Para ele, o clima de pessimismo não deve abrir espaço para rali nesse fim de ano e, para frente, o recomendado é ter cautela. “A possibilidade de um rali vai depender de fatores como o cenário macroeconômico, expectativas dos investidores e eventos específicos que impactem os mercados”, diz Filho. “No momento, vemos como positivo se posicionar em setores defensivos, como bancos, seguradoras, elétricas e saneamento, devido à sua menor volatilidade e estabilidade.”

Jonas Scorza Floriani, sócio e analista buy-side da Fundamenta Investimentos, vai na mesma direção. “Qualquer previsão sobre um possível rali de final de ano é, na essência, especulativa”, diz.

O copo meio cheio

Mesmo com o resultado negativo do Ibovespa em novembro, os analistas apontam que as empresas estão baratas e com resultados mais fortes. Contudo, falta um fator essencial para as ações voltarem a “andar”. “O macro não deixa a ‘coisa acontecer’, pelo simples fato de que não tem fluxo para comprar esses ativos. Sem a questão fiscal estar resolvida no Brasil, é difícil termos uma valorização mais forte e mais consistente”, afirma João Daronco, analista da Suno Research. “Tirando essa nuvem que paira em cima do Ibovespa, temos boas perspectivas para o ano que vem. Quando olhamos o preço dos ativos hoje, eu acho que eles têm apresentado um carrego bem interessante.”

Floriani, sócio e analista buy-side da Fundamenta Investimentos, também analisa a situação pelo prisma do “copo meio cheio”. Ele ressalta que os dados de mercado e o nível de preço das ações refletem uma economia resiliente, com empresas entregando resultados sólidos e interessantes. No entanto, diante da incerteza fiscal e escalada do dólar e juros, a gestora tem preferido papéis mais resilientes aos ciclos econômicos.

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“Estruturamos nossa carteira priorizando setores historicamente resilientes, como energia, financeiro, utilities (serviços essenciais, como energia elétrica) e mineração. Além disso, identificamos algumas assimetrias interessantes, e não óbvias, em empresas do setor imobiliário”, afirma Floriani.

Quem se deu bem (ou mal) em novembro

Em novembro, a empresa que mais se destacou foi a Embraer (EMBR3). No 3º trimestre de 2024, a companhia reportou um lucro líquido ajustado de R$ 1,17 bilhão, mais de 600% maior do que o montante alcançado no mesmo período de 2023. Além do resultado positivo, a fabricante de aeronaves é uma das players listadas que se beneficia da alta do dólar. Esses fatores fizeram com que a EMBR3 acumulasse uma valorização de 19,9% no mês

Em segundo lugar, aparece o frigorífico Marfrig (MRFG3), com um salto de 19,63% nas ações. Além de um resultado do terceiro trimestre de 2024 considerado positivo, com um lucro de R$ 79,1  milhões ante um prejuízo de R$ 112 milhões do 3º trimestre do ano passado. A companhia também se beneficia da alta do dólar, já que possui receitas na moeda estrangeira por ser exportadora. Essa característica fez com que os frigoríficos fossem, até o momento, os campeões da Bolsa no ano.

Fecham a tríade, os papéis da Brava Energia (BRAV3), com valorização de 17,08% em novembro. A empresa fruto da fusão entre 3R Petroleum e Enauta também tem receitas em dólar e, em novembro, viu as ações serem impulsionadas pelas perspectivas de alto pagamento de dividendos divulgadas pela sueca Maha Energy, detentora de quase 5% dos papéis.

Já as maiores quedas foram registradas por MRV (MRVE3), Hapvida (HAPV3) e Lojas Renner (LREN3), cujas quedas registradas foram de -23,7%, -23,3% e -18,9%, respectivamente. Neste caso, a desvalorização é explicada pelo macro desfavorável — são empresas mais endividadas, muito ligadas à economia doméstica. Portanto, castigadas pela alta dos juros futuros e do dólar –, fora os números abaixo do esperado no terceiro trimestre de 2024.