

A Kinea Investimentos avalia que o início do governo Donald Trump lembra o filme “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo”, vencedor de sete estatuetas do Oscar em 2023. Mas o que traz semelhança não são os prêmios, mas sim a história, que explora o conceito de multiversos, ou seja, múltiplas realidades paralelas existindo simultaneamente. Essa é a atual visão da gestora sobre o cenário nos Estados Unidos e que levou à redução das posições compradas (que apostam na alta) do dólar. A informação consta na mais recente carta mensal de multimercados da Kinea, antecipada ao Broadcast Investimentos.
“A ideia de ‘Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo’ nos faz lembrar do primeiro mês de governo de Donald Trump, tanto pela imprevisibilidade das ações quanto pela sensação de estarmos sendo puxados em múltiplas direções, com desfechos ainda incertos das políticas propostas”, escreve a equipe de gestão da Kinea.
A carta destaca a política de tarifas imposta por Trump e diz não saber ao certo “em qual multiverso” se encontra nesse ponto. “Com um possível processo virtuoso, em que Trump consiga, na verdade, derrubar tarifas globais ao tentar equalizar as tarifas de importação dos Estados Unidos; ou um processo vicioso, em outro multiverso, em que tarifas retaliatórias sejam implementadas em diversos países, numa escalada que torne o comércio global mais caro e ineficiente”, diz.
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Em vista dessas incertezas com relação tanto a datas quanto intensidade das tarifas, a Kinea informa ter reduzido suas posições compradas em dólar. A gestora diz preferir manter posições tomadas (que aposta na alta) em juros nos Estados Unidos, por conta do cenário monetário “apertado” no país, com preocupações fiscais e inflacionárias.
Já no mercado acionário global, a Kinea se diz mais representada por questões temáticas e estruturais, como eletrificação nos Estados Unidos – tanto para expansão de data centers quanto para descarbonização da economia -, além do setor aeroespacial, e menos em posicionamento macro, onde reduziu a posição vendida (que aposta na baixa) em mercados emergentes.
Multiverso também no Brasil
A Kinea diz que o multiverso em que o Brasil se encontra também é incerto.
“Por um lado, a queda de popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) permitiria a ascensão de uma possível agenda fiscalista no planalto, o que mereceria uma substancial revisão do preço dos ativos de risco no País. Por outro lado, e em outro multiverso, estamos a 20 meses da eleição e continuaremos a viver uma conjuntura complexa: com altas taxas de juros, uma economia em desaceleração e possível recessão, propostas fiscais e parafiscais, como a isenção de cinco mil reais para o imposto de renda, e um cenário externo que pode novamente se tornar hostil a mercados emergentes caso tarifas e juros mais elevados na parte longa da curva se materializem”, descreve.
Assim, a gestora informa permanecer com posição vendida na Bolsa brasileira e taticamente vendida em real e o dólar, dado que o quadro indica “desaceleração econômica e altas taxas de juros, com efeitos nas contas públicas brasileiras, dentro de um cenário político incerto”.
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