De olho nos fundos de investimento

Dan Kawa é sócio da TAG Investimentos e especialista em fundos de investimento. Graduado em Ciências Econômicas pela PUC-Rio, atua no mercado financeiro desde 2003. Dan atuou nas maiores gestores independentes do País como Gap Asset Management, Bank of New York Mellon ARX Investimentos, FLAG Asset Management e Icatu Vanguarda. Em todas as gestoras por onde passou participou de todo processo de crescimento, expansão e desenvolvimento da empresa, fazendo parte de comitês de suporte e decisão em questões estratégicas dos negócios.

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Dan Kawa

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Eleições americanas, cenário fiscal no Brasil e incertezas sobre a pandemia: estamos num momento decisivo da história

Os candidatos à presidência dos Estados Unidos Joe Biden (à esquerda) e Donald Trump (direita) (Fotos: Carlos Barria/Leah Millis/Reuters)
  • Nos EUA, as eleições para presidente e para o Congresso podem determinar, de maneira estrutural, quais serão as políticas (econômicas, fiscais e externa) que serão adotadas a partir do ano que vem
  • No Brasil, além de sentirmos os efeitos colaterais de eventos externos, ainda precisamos lidar com as nossas peculiaridades. Neste momento, nosso maior desafio é trazer uma perspectiva de ajuste de nossas contas públicas

O mundo viveu um dos momentos mais conturbados e incertos da história nos últimos meses, com uma pandemia global que há décadas não era enfrentada pela sociedade, em termos de escala, periculosidade e incertezas.

A despeito de alguns sinais mais animadores nos últimos meses, os desafios ainda são enormes e estão longe de serem totalmente endereçados. Somado a isso, estamos entrando em um período de extrema importância para o cenário político, geopolítico e econômico, no Brasil e no mundo.

É diante deste pano de fundo que precisamos entender os eventos das próximas semanas, e como eles serão fundamentais para definir o cenário prospectivo e, consequentemente, quais devem ser as grandes tendências econômicas e as principais teses de investimentos dos próximos anos.

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No cenário internacional, são três os vetores que merecem atenção: as eleições americanas, a necessidade de aprovação de um novo pacote fiscal e, por fim, mas não menos importante, o desenvolvimento da pandemia ao redor do mundo.

No Brasil, além desses vetores externos, o País precisará definir qual será o caminho escolhido para as contas públicas, ou como é comumente chamado, o nosso cenário fiscal. Aliado a isso, com as taxas locais de juros em seu piso histórico, ascende-se um desafio adicional, que é o aumento da necessidade de financiamento da dívida pública.

Vou tentar tratar de cada um desses temas, de maneira superficial, porém abrangente, para que possamos entender o tamanho do que está envolvido em cada um desses temas.

Nos EUA, as eleições para presidente e para o Congresso podem determinar, de maneira estrutural, quais serão as políticas (econômicas, fiscais e externa) que serão adotadas a partir do ano que vem.

A título de exemplo, quando foi eleito, Donald Trump, com apoio de uma maioria Republicana no Congresso, promoveu grandes cortes de impostos, o que favoreceu as grandes corporações americanas, estimulando o crescimento, o emprego e a renda.

Isso gerou inflação, e acabou levando o Fed, o banco central americano, a um processo de alta de juros. Esse ambiente deu suporte ao dólar no mundo e acabou pressionando os ativos de países emergentes.

Além disso, Trump adotou uma política externa mais combativa, especialmente no tocante a China, o que por vezes acabou gerando ruídos e volatilidade.

Quando olhamos as propostas de Joe Biden, candidato Democrata à presidência, vemos uma intenção em reverter o corte de impostos promovido por Trump e aumentar os gastos com infraestrutura e o suporte fiscal à economia.

Somado a isso, Biden se mostra mais amigável com seus parceiros comerciais e apresenta um grande foco nos pilares do ESG (Enviroment, Social, Governance), especialmente quando falamos de energia limpa e seus derivados.

Fica claro, mesmo com este breve panorama, que uma vitória de Biden, e com uns potencial vitória dos Democratas no Congresso, podemos vivenciar um ponto de inflexão importante para grandes temas econômicos e, consequentemente, grandes teses de investimentos.

Aliado a isso, a economia americana passa por um período de incerteza, uma vez vencidos grande parte dos pacotes fiscais implementados ao longo da pandemia. Na ausência de novos suportes ao crescimento, os EUA podem passar por um momento de maior fragilidade e desaceleração do seu ritmo de recuperação, o que traria consequências bastante negativas ao crescimento e aos mercados.

Finalmente, no cenário internacional, temos a pandemia, que ainda assola grande parte do mundo. Algumas regiões são obrigadas a lidar com uma “segunda onda” de contágio, que já mostra efeitos danosos sobre o crescimento.

A maneira como os governos irão optar em combater o vírus de agora em diante e as perspectivas de uma vacina são vetores fundamentais para a economia global.

No Brasil, além de sentirmos os efeitos colaterais dos eventos externos descritos acima, ainda precisamos lidar com as nossas peculiaridades. Neste momento, nosso maior desafio é trazer uma perspectiva de ajuste de nossas contas públicas.

O país atuou de maneira rápida, ágil e agressiva para ajudar a sociedade a atravessar este momento de tormenta. Essa atuação era necessária, fundamental e inadiável.

Contudo, gastos que foram efetuados para serem pontuais, não podem se tornar gastos permanentes. A economia do país não suporta o aumento de gastos públicos sem que haja corte de despesas em outras frentes.

A história do Brasil confirma que não existe um “trade-off” entre gastar “hoje” ou gastar “amanhã”. Novos gastos, sem a contrapartida de corte de despesas, em um país com alto endividamento como o Brasil, irão gerar aumento da inflação, aumento do desemprego, menos crescimento e taxas de juros estruturalmente mais elevadas.

O cenário dos últimos meses obrigou o Brasil a aumentar momentaneamente seus gastos, em um período de queda de receitas. Isso gerou um aumento na necessidade de financiamento do país, levando a necessidade do aumento na emissão da dívida pública.

Todavia, com uma estrutura financeira de fragilidade, os investidores estão demandando maiores taxas para financiar o país, além de evitar a alocação em papéis da dívida com vencimentos mais longos.

Isso gera um efeito cascata que obriga o Tesouro Nacional a emitir papéis mais curtos e/ou oferecer taxas mais elevadas ao investidor, concentrando um volume excessivo de vencimentos no ano que vem.

Sem um ajuste estrutural das contas públicas do país, corremos o risco de viver momentos tenebrosos em 2021 e além. O tempo urge e o país não pode mais esperar (e muito menos errar).

Os vetores expostos acima terão semanas decisivas ao longo do mês de novembro. A depender da resolução de cada um deles, podemos ter pontos de inflexão importantes para o cenário econômico e, consequentemente, para grandes teses de investimentos.

Você está preparado para isso?