Mente sã em bolso são

Ana Paula Hornos é psicóloga clínica, autora e comunicadora. Como especialista no despertar do potencial humano, do individual ao coletivo, dedica-se a ajudar pessoas na busca do bem-estar integral, unindo propósito, carreira, saúde financeira e atitudes conscientes para melhores resultados. Professora, mestre em psicologia e engenheira pela USP, com MBA em finanças pelo INSPER e especializações pela FGV e IMD, possui mais de 20 anos de experiência como executiva e empresária. Foi diretora de grandes empresas nacionais como o Grupo Pão de Açúcar e membro de Conselho de Administração da Essencis Ambiental. No E-Investidor, fala sobre finanças, comportamento, vida profissional e atitude ESG.

@anapaulahornos

Escreve às segundas-feiras, a cada 15 dias.

Ana Paula Hornos

Consumismo financeiro: um vício perigoso para o investidor

Crise econômica e percepção de ações de empresas baratas são cenários favoráveis ao comportamento compulsivo

O vício em investimentos carrega o potencial viciante do comportamento multiuso. Foto: DragonImages
  • O vício em investimentos carrega o potencial viciante dos mais potentes vícios: o comportamento multiuso
  • Investimentos são importantes, mas são ganhos incrementais e servem de suporte e financiamento para que a economia real aconteça

Um perigo alarmante, que vem tomando conta do hábito dos brasileiros, é um crescente vício instalado na sociedade: o consumismo financeiro.

Um forte indicador é o aumento significativo do número de blogueiros, influenciadores, cursos oferecidos e ofertas que anunciam, todos os dias, receitas de como tornar-se milionário, através do mercado financeiro.

A CVM apontou um crescimento de 75% do número de golpes de pirâmides financeiras em 2020 em comparação ao ano anterior. Foram 325 comunicados enviados pelo órgão ao Ministério Público. Há forte crescimento também em golpes relativos a criptomoedas, como no recente caso da SQUID, moeda digital inspirada na série da Netflix ‘Round 6’.

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Se em um passado nem tão distante os pais desejavam que seus filhos economizassem moedinhas em cofres de porquinhos, hoje a vontade de alguns é que seus filhos saibam fazer análises e tenham desempenhos extraordinários em simuladores de ações.

O grande incentivo a poupar e evitar compras compulsivas da fundamentada educação financeira tem sido substituído por “use suas economias para consumir produtos financeiros”, que pode levar à troca apenas da categoria de produtos de consumo.

O consumismo financeiro pode tornar-se uma compulsão se há uma sequência de escolhas emocionais e imediatistas que estimulam a produção dos mesmos hormônios e neurotransmissores como qualquer outro vício.

Os casos mais graves de endividamento em pessoa física vistos em atendimentos psicológicos estão relacionado à compulsão de investir, disfunção que pode acometer até mesmo os investidores qualificados.

O vício em investimentos carrega o potencial viciante dos mais potentes vícios: o comportamento multiuso. Ele encontra recompensa para múltiplas necessidades: picos de felicidade, o desejo do enriquecimento, a ilusão de vitória, quando se acredita que “acertou na aposta da ação da vez” bem como o sentimento de pertencimento e de inserção social, uma vez que falar sobre investimentos com amigos é cada vez mais inclusivo.

Mas há um forte perigo neste comportamento: a grande gangorra emocional, que pede cada vez mais picos de felicidade, principalmente nas baixas, quando há perdas. Crise econômica, juros baixos e percepção de ações de empresas baratas são cenários bem favoráveis ao aumento deste comportamento compulsivo.

As emoções despertas no ambiente de juros baixos favorecem o deslocamento da necessidade imediatista de enriquecimento, que antes estavam na renda fixa (passeio “sem emoção”), para a renda variável (passeio “com muita emoção”)

Algumas perguntas podem ser feitas a si mesmo, para saber se você é um investidor racional: antes de investir eu estudo o mercado financeiro, escuto recomendações de diversificação de carteira para gerir riscos, faço planejamento, tomo decisões com calma, cautela, consistências e enxergo os investimentos como estratégia de longo prazo?

Se suas repostas foram não, ligue o sinal de alerta, pois você está vulnerável ao vício do consumismo financeiro.

Investimentos são importantes, mas são ganhos incrementais e servem de suporte e financiamento para que a economia real aconteça. O principal ganho vem do trabalho, do “novo dinheiro” (como é chamado no mercado financeiro), que gera realização profissional consistente. Energia física, mental e o tempo também são recursos limitados; então, recomenda-se equilibrar as horas dedicadas ao acompanhamento do mercado financeiro, se sua profissão estiver desatrelada a ele.

Coloque seus esforços profissionais em seus talentos, em seus objetivos, em seu propósito, na carreira que você escolheu. Sua vida profissional é preciosa, assim como seu tempo e sua estabilidade emocional.

Encerro este artigo com um conselho de um dos maiores investidores Warren Buffett: “Investir em si mesmo é o investimento mais importante que você fará na vida. Não há investimento financeiro que se compare a isso, porque se você desenvolver mais habilidade, mais aptidão, mais percepção e capacidade, é isso que vai lhe proporcionar liberdade de fato.”