- A verdade é que o Facebook já coleta muitas informações sobre o que as pessoas fazem no WhatsApp
- As políticas do WhatsApp mudaram para refletir a possibilidade de realizar transações comerciais envolvendo a comunicação de diversas atividades entre aplicativos do Facebook
- Isso significa que os serviços digitais, incluindo o WhatsApp, nos dão uma escolha desagradável: ou abrimos mão do controle sobre o que acontece com nossas informações pessoais, ou não usamos o serviço. E ponto final
(Shira Ovide/The New York Times) – Ocorreu uma reação negativa ao WhatsApp nos últimos dias, depois que o aplicativo postou o que parece ser uma revisão das políticas de privacidade. Deixe-me tentar esclarecer o que aconteceu.
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Algumas pessoas acham que o aplicativo de mensagens agora obrigará os usuários a entregar seus dados pessoais ao Facebook, que é dono do WhatsApp.
Mas não é bem assim.
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As políticas do WhatsApp mudaram apenas na superfície e não o suficiente para fornecer mais dados ao Facebook. A verdade é que o Facebook já coleta muitas informações sobre o que as pessoas fazem no WhatsApp.
A confusão resultou das comunicações confusas do Facebook, da desconfiança em relação à empresa e das leis de proteção de dados violadas nos Estados Unidos. No fechamento do mercado de sexta-feira (15), as ações do Facebook na Nasdaq encerraram o dia em alta de 2,33%, cotadas a US$ 251,36 – no ano, o ativo acumula desvalorização de 7,98%.
Aqui está o que mudou e o que não mudou no WhatsApp
O Facebook comprou o WhatsApp em 2014 e, desde 2016, quase todas as pessoas que usam o aplicativo de mensagens vêm compartilhando (geralmente sem saber) informações sobre suas atividades com o Facebook.
O Facebook sabe os números de telefone que estão sendo usados, quantas vezes o aplicativo é aberto, a resolução da tela do dispositivo, a localização estimada a partir da conexão com a internet e muito mais.
O Facebook usa essas informações para garantir que o WhatsApp funcione corretamente e para ajudar uma loja de calçados a mostrar um anúncio para você no Facebook.
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O Facebook não consegue ver o conteúdo de mensagens de texto nem de chamadas telefônicas, porque as comunicações do WhatsApp são embaralhadas. O Facebook também afirma que não mantém registros de quem as pessoas estão contatando no WhatsApp, e os contatos do WhatsApp não são compartilhados com o Facebook.
O WhatsApp tem muitos aspectos positivos. É fácil de usar e as comunicações no aplicativo são seguras. Mas, sim, o WhatsApp é Facebook, uma empresa em que muitas pessoas deixaram de confiar.
Existem alternativas, como o Signal e o Telegram – os quais receberam uma onda de novos usuários recentemente. O grupo de privacidade digital Electronic Frontier Foundation diz que Signal e WhatsApp são boas escolhas para a maioria das pessoas.
O motivo pelo qual o WhatsApp recentemente notificou os usuários do aplicativo sobre a revisão das regras de privacidade é que o Facebook está tentando fazer do WhatsApp um lugar para conversar com uma companhia aérea sobre um voo perdido, avaliar bolsas para comprar e pagar pelas coisas.
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As políticas do WhatsApp mudaram para refletir a possibilidade de realizar transações comerciais envolvendo a comunicação de diversas atividades entre aplicativos do Facebook – uma bolsa que você vê pelo WhatsApp pode aparecer mais tarde no seu aplicativo do Instagram, por exemplo.
Infelizmente, o WhatsApp fez um péssimo trabalho ao explicar o que havia de novo em sua política de privacidade. Eu e meu colega Kashmir Hill, um ás da privacidade de dados, precisamos pesquisar muito para entender.
Também quero abordar as razões mais profundas para os mal-entendidos.
Em primeiro lugar, é um resquício da velha história de o Facebook ser arrogante com nossos dados pessoais e imprudente com a maneira como eles são usados pela empresa e seus parceiros. Não é de admirar que as pessoas tenham presumido que o Facebook estava deixando as políticas do WhatsApp mais sangrentas.
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Em segundo lugar, as pessoas passaram a entender que as políticas de privacidade são confusas e que realmente não temos o poder de fazer as empresas coletarem menos dados.
“Este é o problema com a natureza da lei de privacidade nos Estados Unidos”, disse Hill. “Contanto que eles digam o que estão fazendo numa política que você provavelmente não vai ler, eles podem fazer o que quiserem”.
Isso significa que os serviços digitais, incluindo o WhatsApp, nos dão uma escolha desagradável: ou abrimos mão do controle sobre o que acontece com nossas informações pessoais, ou não usamos o serviço. E ponto final.
Esclarecendo mais confusão com o WhatsApp
Outra crença falsa circulando sobre o WhatsApp – e, mais uma vez, isso é culpa do WhatsApp, não sua – é que o aplicativo acaba de remover uma opção para as pessoas se recusarem a compartilhar seus dados do WhatsApp com o Facebook.
Mas também não é bem isso.
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Sim, quando o Facebook fez grandes mudanças nas políticas de privacidade do WhatsApp em 2016, houve um breve momento de escolha. As pessoas podiam marcar uma caixa para impedir que o Facebook usasse seus dados do WhatsApp para fins comerciais.
O Facebook ainda seguiria coletando os dados dos usuários do WhatsApp, como expliquei acima, mas a empresa não usaria os dados para “melhorar seus anúncios e experiências de produto”, como fazer recomendações de amigos.
Mas essa opção no WhatsApp existiu por apenas 30 dias em 2016: em termos de anos digitais, isso foi há séculos e aproximadamente 4 milhões de escândalos do Facebook atrás.
No caso de quem começou a usar o WhatsApp depois de 2016 – ou seja, muita gente – o Facebook vem coletando muitas informações sem a opção de recusar.
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“Muita gente não sabia disso até agora”, disse-me Gennie Gebhart, da Electronic Frontier Foundation. E, disse ela, a culpa não é nossa.
Entender o que acontece com nossos dados digitais parece exigir um curso avançado em ciência da computação e um diploma de direito. E o Facebook, uma empresa com mares de dinheiro e um valor em ações de mais de US$ 700 bilhões, não explicou ou não quis explicar o que estava acontecendo de uma maneira que as pessoas pudessem entender.
(Tradução de Renato Prelorentzou)