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- O mercado de criptomoedas viveu um ano ruim em 2022. Falência da FTX, colapso da Terra (LUNA) e, de quebra, uma desvalorização de mais de 60% no preço do Bitcoin, o principal ativo desse mercado
- Uma série de eventos que tornou os investidores ainda mais desconfiados com esse tipo de investimento
- Mas olhar para o mercado cripto apenas sob a luz desses acontecimentos faz a precificação de risco parecer desproporcional, defendeu Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset, em entrevista ao E-Investidor
O mercado de criptomoedas viveu um ano ruim em 2022. Falência da FTX, colapso da Terra (LUNA) e, de quebra, uma desvalorização de mais de 60% no preço do bitcoin, o principal ativo desse mercado. Uma série de eventos que tornou os investidores ainda mais desconfiados com esse tipo de investimento.
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Mas olhar para o mercado cripto apenas sob a luz desses acontecimentos faz a precificação de risco parecer desproporcional, defendeu Alexandre Ludolf, diretor de investimentos da QR Asset, gestora 100% cripto com cerca de R$ 401 milhões em ativos sob sua administração. Em sua participação no Smart Summit 2023, na quinta-feira (2), Ludolf fez um comparativo da crise da Americanas (AMER3) com o caso FTX: duas fraudes financeiras graves, segundo ele, mas com impactos diferentes em seus respectivos mercados.
Relembre a história do rombo bilionário na varejista; e, aqui, a falência da FTX de 2022.
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“Absurdos como os que aconteceram na Americanas são um erro humano, de fraude. Em cripto, o problema da FTX é exatamente igual. Mas há um tratamento muito diferente com as classes de ativos”, disse em entrevista ao E-Investidor. “Não faz sentido nenhum achar que criptos vão acabar porque teve uma pessoa fraudulenta, assim como ninguém acha que a Bolsa vai acabar porque a Americanas quebrou”, comparou.
O especialista explicou ainda que acredita que o momento atual pode representar uma “oportunidade da vida” para entrar nesse mercado dado que os preços dos ativos caíram muito, mas os fundamentos de tecnologia se desenvolveram. Confira os principais trechos da entrevista:
Você comentou no Smart Summit que o caso da Americanas não teve o mesmo impacto para o mercado de ações que o da FTX teve no mercado cripto. Pode explicar melhor essa avaliação?
Alexandre Ludolf – Absurdos como os que aconteceram na Americanas, que levaram uma das empresas mais tradicionais do varejo brasileiro ao colapso, foi um erro humano, de fraude. Em cripto é exatamente igual. O problema da FTX foi uma pessoa gananciosa que não cumpriu as regras, cometeu fraude e enganou todo mundo, não foi um problema da tecnologia. Mas há um tratamento muito diferente com as classes de ativos.
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Olhando de fora, como um educador desse mercado, realmente acho que não faz sentido nenhum achar que criptos vão acabar porque teve uma pessoa fraudulenta. Assim como ninguém acha que a Bolsa vai acabar porque a Americanas quebrou, ou porque a Light (LIGT3) está com problema agora, ou porque talvez a mesma gestão da Americanas pode ter causado problema na Ambev (ABEV3). O investidor sabe que a Petrobras (PETR4), a Vale (VALE3), os bancos pelo menos vão continuar. Em criptos é a mesma coisa, o bitcoin não vai para lugar nenhum, o ethereum já é super sólido.
De onde vem essa reação desproporcional?
Ludolf – As pessoas têm aversão ao que elas não conhecem. Cripto de fato é um conceito que mexe com muitos dogmas e, quando aparece qualquer coisa, é quase aquele viés de validação: “Ah eu sabia, esse negócio não vale nada”. Acho que tem um pouco disso. Mas essa percepção de criptomoedas serem usadas para a criminalidade é muito lá do início e não tem a menor conexão com a realidade. Por outro lado, a turma de cripto também não gosta de precificar risco. Acho realmente que tem esses dois extremos.
Mas acho que aos poucos as coisas estão mudando. Tudo do mercado de criptos tem só 14 anos. Ainda é muito novo e o trabalho é esse: educação, informação e paciência.
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As criptos caíram muito em 2022. Na sua visão, é uma oportunidade?
Ludolf – O que eu percebo hoje é que tivemos um impacto no mercado que não foi só por conta das criptomoedas em si. Tem toda essa parte de política monetária, reversão dos estímulos de liquidez, guerra, problemas de inflação. E quando vejo que cripto caiu até menos que algumas classes de ativos mais tradicionais, como as empresas de tecnologia, eu não acho que cripto está ruim. E olha que ainda tiveram problemas específicos sérios, como FTX, Luna e Terra.
Acho que a tecnologia do mercado está superior, traz ganhos de produtividade, as criptos estão em um nível de adoção muito grande, mas ainda com um nível de preço muito deprimido. Nunca vi essa conjuntura de fatores tão alinhados.
Janeiro de 2023 foi um mês bastante positivo no mercado cripto. Essa recuperação nos preços deve continuar ou ainda depende do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) começar a cortar os juros nos EUA?
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Ludolf – O movimento de preço em janeiro é a correção de todo o impacto negativo de FTX. Na minha opinião, o Fed parar é uma condição para esse mercado andar mais e mais rápido. Mas acredito que só a perspectiva de que o fim do ciclo de alta nos juros já está mais próximo vai causar, e já está causando, um impacto positivo nos preços.
Então vale a pena ter criptomoedas na carteira em 2023?
Ludolf – Tem um conceito muito legal em criptos que chamamos de “venture capital líquido”. Não tem problemas de preço, que é determinado pelo mercado, o investidor pode entrar e sair a qualquer momento porque tem liquidez, só que ainda tem essa ideia de retorno assimétrico. Se eu estiver errado, as criptos podem cair 80% do valor. Mas se eu estiver minimamente certo, não tem classe de ativo que hoje oferece uma possibilidade de retorno tão assimétrica como as criptomoedas. O preço das ações da Petrobras, por exemplo, não vai multiplicar por cinco ou dez vezes. Então vale muito mais a pena ter um pouco de cripto do que não ter nada.