- Até a segunda semana de setembro, 12 empresas abriram capital na Bolsa de Valores e outras 45 estão com as ofertas em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
- Nesta toada, o ano do Corona Crash, com dólar nas alturas e petróleo negativo, deve se tornar recordista em número de estreantes na B3
- Entre as estreantes, o benchmark de sucesso ficou com a Locaweb, que após realizar IPO em fevereiro, se valorizou 253,62% até o fim do pregão desta terça-feira (15)
Certamente, 2020 veio para quebrar todas as previsões – ou pelo menos, boa parte delas. Após um janeiro otimista, com recorde do Ibovespa aos 119.527,63 pontos, o coronavírus colocou o mercado financeiro de cabeça para baixo. O principal índice de ações caiu 30% em um único mês, o dólar disparou na mesma proporção e o petróleo chegou ao fundo do poço, com cotação negativa – algo difícil de acreditar em dezembro de 2019.
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Entretanto, a retomada veio, e com ela, a materialização da provável única previsão que dará certo: mesmo com a crise da covid-19 que afetou as economias do mundo inteiro, 2020 realmente deverá ser o ano dos IPOs (Oferta Pública Inicial de Ações). Até o dia 11 de setembro, 12 empresas abriram capital na Bolsa de Valores e outras 45 estão com as ofertas em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Nesta toada, o ano do Corona Crash, com dólar nas alturas e petróleo negativo, deve se tornar recordista em número de estreantes na B3. E se engana quem pensa que as companhias que fizeram as ofertas se deram mal: entre as novatas, tem quem esteja subindo mais de 200% desde a abertura de capital.
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Das 12 empresas que abriram capital em 2020 até o fechamento desta terça-feira (15), metade está positiva no ano: Locaweb Serviços de Internet (LWSA3), Ambipar Participações (AMBP3), Grupo Soma (SOMA3), Lojas Quero-Quero (LJQQ3), Pague Menos (PGMN3) e Petz (PETZ3), segundo dados da plataforma Economatica. Entenda os diferenciais de cada negócio:
Locaweb: 253,62% de alta em sete meses
Quem entrou na oferta inicial de ações da empresa de hospedagem de sites e infraestrutura de internet Locaweb mais que dobrou o capital investido. A companhia, destaque entre IPOs em 2020, definiu o preço dos papéis em R$ 17,25 no dia 5 de fevereiro e, desde então, as ações valorizaram 253,62% e fecharam o pregão desta terça-feira (15) cotadas a R$ 61,00.
O sucesso ficou evidente já no primeiro dia de negociações na B3, em que a LWSA3 saltou 19,42%, para R$ 19,80. Fundada ainda em 1998, a companhia integra o seleto segmento de tecnologia na bolsa de valores brasileira e passou intacta pela crise do coronavírus. Aliás, por ter os negócios alinhados à demanda por sites, a Locaweb se beneficiou da aceleração da digitalização das empresas durante a pandemia.
“O termo determinante atualmente é ‘presença digital’. Quanto mais conectada, maior a resiliência contra a crise e melhor a performance no ano”, explica Caio Fernandez, CEO da Ivest. “Foi o que aconteceu com a Locaweb, que é 100% digital. Nós gostamos bastante da companhia”, afirma.
No segundo trimestre de 2020, o lucro líquido ajustado da empresa foi de R$ 12 milhões, resultado 148% maior que o registrado no período correspondente de 2019. A receita líquida também foi ampliada em 25%, para R$ 117,3 milhões.
“Embora os resultados sejam bem modestos, a Locaweb veio muito bem para a Bolsa. O setor de tecnologia é diferente. É um segmento em que os investidores veem um potencial de crescimento muito grande, já que hoje tudo é tecnologia”, diz Mario Mariante, analista-chefe da Planner.
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Com os investidores comprando a ideia, a companhia de hospedagem de sites viu seu valor de mercado quase quintuplicar em um semestre. No IPO, a empresa era avaliada em R$ 1,6 bilhões. Atualmente, esse valor já chegou no R$ 7,3 bilhões.
“A própria BlackRock, a maior gestora do mundo, tem participação na empresa, e eles são investidores de longo prazo”, explica Mariante. “Isso acaba pressionando o preço para cima também.”
Ambipar: 24,36% de alta em dois meses
A Ambipar Participações e Empreendimentos (AMBP3) levantou R$ 1,082 bilhão no IPO feito no dia 10 de julho. A oferta primária rendeu R$ 941,2 milhões para o caixa da empresa, enquanto na secundária, de R$ 141,2 milhões, as principais acionistas Chistiane, Débora e Daniela Borlenghi reduziram as participações.
As ações, então, foram precificadas em R$ 24,75, topo da faixa indicativa. Logo no dia seguinte, subiram mais de 18%, indo a R$ 29,30. Com pouco mais de dois meses de negociação, os papéis saltaram 24,36% e estão cotados a R$ 30,78, após o fechamento desta terça (15).
De acordo com os especialistas consultados pelo E-Investidor, um dos diferenciais da empresa é atuar em um segmento até então único na Bolsa: prestação de serviços ambientais para companhias no Brasil e no exterior. Com a elevação da preocupação com as boas práticas ambientais, sociais e de governança das pessoas jurídicas (ESG), a empresa foi bem recebida pelo mercado.
“A Ambipar tem uma carteira de clientes sólida e o ramo de negócio dela é uma exigência para as empresas hoje, que é o tratamento de resíduos”, declara Mariante. “A companhia tem um vasto mercado para explorar e um potencial grande de crescimento”, diz.
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Os números divulgados no segundo trimestre de 2020 também foram bem recebidos. A Ambipar teve lucro líquido de R$ 12,11 milhões, cerca de 13% maior que o registrado no segundo trimestre de 2019. A receita líquida, por sua vez, cresceu 23% em relação ao mesmo período do ano anterior, saltando de R$ 127,46 milhões para R$ 157,07 milhões.
Petz: alta de 12,73% em três pregões
Assim como ocorre com a Ambipar no segmento de despoluição, a Petz é até então a única varejista de produtos e serviços para animais de estimação da B3. A companhia teve a maior captação do ano, de R$ 3,03 bilhões, com as ações definidas em R$ 13,75, centro da faixa indicativa, estreando na Bolsa no dia 11 de setembro.
Considerando que o segmento pet está cada vez mais consolidado, o mercado financeiro se animou com a ‘novata’ e as ações dispararam 21,82% no primeiro dia de negociações após a oferta inicial.
“Se você pegar pelo valor de mercado dela, é muito caro. Acho que temos que analisar se realmente faz sentido a ação da Petz subir 20% em um dia só, se não foi uma euforia, um efeito manada”, declara Fernandez. No segundo pregão da varejista, a PETZ3 acabou desabando 6,03%, para R$ 15,74.
Nesta terça-feira (15), os papéis fecharam o dia cotados em R$ 15,50, uma alta de 12,73% desde o IPO. “O preço justo, em teoria, é aquele definido no IPO”, afirma Fernandez. “Então, se nada acontecer no mundo e mudar esse cenário, o preço deveria voltar para o da oferta inicial”, diz.
Já para Mariante, a empresa está em um ramo de negócios forte e, mesmo com as baixas recentes, PETZ3 é um bom papel para quem foca no longo prazo. “Os serviços para pets são caros, mas as pessoas não deixam de gastar com os animais de estimação”, afirma. “Mas também estamos avaliando a continuidade desse movimento.”
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Em relação a resultados, a Petz apresentou lucro líquido de R$ 22,1 milhões no primeiro semestre de 2020, um crescimento de 619,6% em comparação ao mesmo período do ano passado, quando a varejista lucrou R$ 3,1 milhões. A receita líquida da companhia também cresceu a uma taxa anual média de 32,6% entre 2015 e 2019, alcançando R$ 986 milhões no período.
Pague Menos: 14,94% em 15 dias
A Pague Menos, terceira maior rede de farmácias no Brasil, realizou IPO na Bolsa de Valores no primeiro dia de setembro. A oferta levantou R$ 746,9 milhões e as ações foram precificadas a R$ 8,50 por papel, abaixo da faixa indicativa, que variava entre R$ 10,22 e R$ 12,54.
A PGMN3 disparou 21,18% no primeiro pregão, para R$ 9,11. Nas semanas seguintes, o papel oscilou um pouco até fechar em R$ 9,77 nesta terça-feira (15), alta de 14,94% desde o IPO. Os especialistas explicam que o setor naturalmente trabalha com margens estreitas e que o preço estipulado para a Pague Menos foi um fator que pode ter chamado à atenção.
“É uma boa rede de farmácias, que está com a relação preço/lucro mais atrativa em comparação ao setor”, explica Mario Goulart, analista de investimentos da Polyface. Atualmente as ações da concorrente Drogasil (RADL3), por exemplo, estão precificadas em R$ 114,16.
No segundo trimestre de 2020, a varejista farmacêutica registrou lucro líquido de R$ 9,1 milhões, após acumular prejuízo de R$ 15,5 milhões entre abril e junho do ano passado. O EBITDA também cresceu 31% no período, passando de R$ 106,5 milhões em 2019 para R$ 139,6 milhões no ano corrente.
Lojas Quero-Quero: 19,29% em um mês
Outra varejista estreante na Bolsa foi a rede de lojas Quero-Quero, que vende desde materiais de construção a eletrodomésticos e já possui 362 estabelecimentos espalhados em cidades no interior do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. O IPO aconteceu no dia 7 de agosto e movimentou cerca de R$ 1,95 bilhões, com ações definidas em R$ 12,65, no centro da faixa indicativa.
Atualmente, pouco mais de um mês depois, a valorização já chega a 19,29%, aos R$ 15,09, no fechamento desta terça-feira (15). “O mercado vê com bons olhos esse setor de comércio e varejo”, diz Mariante.
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Para o especialista, a Quero-Quero está em um segmento que vai acelerar na retomada da economia, além de vender produtos diversificados, que diminuem o risco em torno do negócio.
No segundo trimestre de 2020, o lucro líquido da Quero-Quero foi de R$ 4,4 milhões, cerca de 3,3 vezes maior que o resultado divulgado no mesmo período de 2019, de R$ 1,4 milhões.
A empresa também tem a vantagem de estar alinhada às necessidades do agronegócio, que é um dos setores mais fortes da economia brasileira. “As lojas são localizadas em cidades do interior. Quando o agricultor tem uma safra boa, vai querer expandir a fazenda e fazer um galpão. Então, a companhia se beneficia”, disse Goulart.
Grupo Soma: 6,97% em um mês e meio
Integrando o time de varejistas de vestuário, o Grupo Soma (SOMA3), dono de marcas como Animale e Farm, abriu capital na Bolsa em 30 de julho e levantou R$ 1,82 bilhão. As ações foram definidas em R$ 9,90, centro da faixa indicativa que variava entre R$ 8,80 a R$ 11. Apesar de na última semana os papéis terem andado de lado, a varejista acumula pequena valorização desde o IPO, de 6,97%, para R$ 10,59, no encerramento desta terça-feira (15).
Na visão de Goulart, a escolha da época para realizar o IPO foi determinante para o sucesso da oferta. “Eles estrearam na Bolsa em uma hora muito positiva, quando os shoppings estavam reabrindo”, afirma Goulart. “Mas são marcas de roupas para um público com poder aquisitivo mais alto, além do vestuário ser a única coisa que acredito que não combina muito com e-commerce, porque as pessoas querem experimentar.”
Para o especialista, o Grupo Soma deve performar melhor à medida que a circulação nos shoppings normalize, mas é necessário considerar alguns riscos. “Na volta, muitas pessoas poderão estar desempregadas, o que afeta o consumo”, conclui.
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Os resultados do segundo trimestre de 2020 da companhia trouxeram um prejuízo líquido de R$ 32,7 milhões, frente ao lucro de R$ 18,8 milhões obtido no mesmo período do ano passado. Também houve diminuição de 36% da receita, para R$ 228 milhões.