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Lucro de 2023 separa bancos em 2 grupos. Qual vai pagar mais dividendos?

Itaú, Bradesco, BB e Santander somaram R$ 96,9 bi em ganhos, mas analistas só recomendam 2 deles ao investidor

Lucro de 2023 separa bancos em 2 grupos. Qual vai pagar mais dividendos?
O nível de inadimplência foi fator decisivo para o setor bancário em 2023. (Imagem: phonlamaiphoto, em Adobe Stock)
  • Os líderes de lucratividade foram Itaú e Banco do Brasil, com ganhos de R$ 35,6 bilhões cada um
  • O Bradesco ficou em terceiro lugar, com um lucro de R$ 16,3 bilhões, e o Santander ocupou a lanterna entre eles
  • Com ganhos impressionantes, Itaú e BB figuram entre as melhores opções para investir no setor bancário com foco em dividendos

Os quatro grandes bancos lucraram R$ 96,9 bilhões no acumulado de 2023. Os líderes de lucratividade foram Itaú (ITUB3; ITUB4) e Banco do Brasil (BBAS3), com ganhos de R$ 35,6 bilhões cada um. O Bradesco (BBDC3; BBDC4) ficou em terceiro lugar, com um lucro de R$ 16,3 bilhões, e o Santander (SANB11) ocupou a lanterna entre eles, com R$ 9,4 bilhões de lucro no ano passado.

Com ganhos impressionantes, Itaú e Banco do Brasil figuram entre as melhores opções para investir no setor bancário em 2024. “Com foco em dividendos, as nossas preferências entre os grandes bancos são o Itaú e o Banco do Brasil, com uma inclinação maior para o Itaú”, afirma Luis Novaes, analista da Terra Investimentos.

Esse otimismo com Itaú e BB acontece pelo fato da gestão dos dois bancos não terem sofrido com a inadimplência ao longo de 2023. O Itaú encerrou o quarto trimestre de 2023 com uma rentabilidade, medida pelo Retorno sobre o Patrimônio Líquido (ROE), de 21,2%, enquanto a inadimplência encerrou o ano passado em 2,8%. Já o Banco do Brasil teve o maior ROE de todos os grandes, de 22,5%, com inadimplência em 2,9%.

Essa não foi a trajetória de Bradesco. O banco de Osasco viu sua inadimplência saltar para 6,1% no terceiro trimestre de 2023. Até houve uma redução ao fim do trimestre seguinte, mas foi pequena e a instituição financeira encerrou 2023 com a inadimplência em 5,2%.

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A disparada elevou as Provisões para Devedores Duvidosos (PDD) no Bradesco, que passou de R$ 32,3 bilhões em 2022 para R$ 39,5 bilhões em 2023, um crescimento de 22,4%. Esse dinheiro é utilizado para cobrir o não pagamento de dívidas e empréstimos feitos pelos clientes do banco. Com isso, o ROE do Bradesco encerrou o quarto trimestre de 2023 com queda de 4,4 pontos porcentuais na base trimestral, saindo de 11,3% no terceiro trimestre de 2023 para 6,9% no período seguinte.

Em meio a esses problemas, o Bradesco anunciou uma reestruturação com mudanças em três vertentes: redução de diretores para corte de custos, maior investimento em tecnologia e ampliação de empréstimos e outros serviços bancários para os clientes de alta renda. Porém, o CEO da companhia, Marcelo Noronha, já avisou que os frutos dessa inciativas não serão vistos imediatamente. “Vamos colher ao longo de cinco anos, trimestre a trimestre”, afirmou Noronha, em entrevista coletiva no último dia 7 de fevereiro.

Por causa da situação do Bradesco mostrada nos últimos balanços, os analistas da Ativa Investimentos acreditam que a empresa ficou para trás. Eles comentam que as falas do CEO mostram que uma recuperação da rentabilidade demorará consideravelmente, mesmo em um ciclo mais positivo de crédito nos próximos anos. “Sendo assim, esperamos um banco com baixo retorno de dividendos (dividend yield) na comparação com o valor da ação para o curto e o médio prazos, mesmo com a queda forte do seu valor de mercado nos últimos meses”, afirma os especialistas da Ativa.

O mesmo caso acontece com o Santander. O banco espanhol teve um ROE de 12,3% no quarto trimestre de 2023, maior que o do Bradesco de 6,9%, mas menor que os ROEs de Banco do Brasil e Itaú, que ficaram acima dos 21%.

De acordo com Matheus Nascimento analista da Levante, esses fatores fazem com que o Santander deixe de ser tão atrativo quanto Itaú e Banco do Brasil. “O Santander possui uma tese similar a do Bradesco, especialmente sob a ótica de concorrência e posicionamento no segmentos de atuação. Com isso, embora haja indicativos de que estes nomes devem retomar o ritmo de expansão, Itaú e Banco do Brasil estão bem mais avançados”, comenta Nascimento.

Qual é a melhor opção?

A decisão final para esta pergunta deve ficar com o perfil do investidor, principalmente porque os analistas estão divididos na escolha. Para Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, a melhor ação para dividendos entre os dois bancos é a do Itaú. Segundo ela, o Itaú é o único banco que o investidor deve ter na carteira por ter uma performance superior em crédito e pelo fato de banco estimar um crescimento da receita de serviços maior do que dos outros três concorrentes. “Acreditamos que o Itaú deve manter o pagamento de 60% do lucro em dividendos (payout) ao longo de 2024”, afirma Quaresma.

No entanto, o E-Investidor questionou a analista sobre o piso de pagamento de dividendos do Itaú ser mais conservador que o do Banco do Brasil, visto que durante a entrevista coletiva de imprensa os executivos do Itaú não precisaram o valor exato do payout.

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O CEO do Itaú, Milton Maluhy Filho, disse que o banco pode distribuir novos dividendos extraordinários ao fim de 2024.Porém, ele comentou que só fará isso caso o banco se encontre em um nível de capital confortável. “O piso de distribuição de dividendos é de 30% do lucro, mas claro que um banco com uma rentabilidade, medida pelo ROE, de 21,2% pode entregar mais dividendos extraordinários no fim de 2024. Não temos um número certo do porcentual, isso só no fim do ano, mas vamos manter essa política de 2023 ao longo de 2024”, explicou o CEO do Itaú, na coletiva de 6 de fevereiro.

Segundo Quaresma, a fala do líder do banco que menciona o piso de 30% pode ser vista mais como uma tática de comunicação do que como a revelação do payout real esperado.

“Pela comunicação, o Itaú aparenta que vai pagar em dividendos cerca de 15% a menos que o patamar anunciado pelo Banco do Brasil. No entanto nós esperamos que o Itaú continue com excesso de capital em 2024. A gestão de Maluhy Filho é conservadora e só faz anúncios quando tem certeza de algo. Isso é bom, pois trás segurança para o investidor, mas quando chegar o final do ano o payout do Itaú será parecido com o que foi entregue em 2023”, conclui Quaresma.

Já Luis Novaes, da Terra Investimentos, comenta que o papel também está com um preço atrativo. Na visão do especialista, o banco mantém o foco no crescimento no longo prazo e tem possibilidade de ampliar os proventos no futuro. “Além disso, possui uma exposição menor ao risco, contribuindo para a expectativa de suas cotações não sejam afetadas por choques no futuro de forma intensa como outros participantes do mercado”, argumenta.

Risco político do Banco do Brasil

O risco que o BB oferece diz respeito à ingerência governamental. Os especialistas se dividem sobre esta questão, com uma parcela elogiando a gestão da presidente Tarciana Medeiros e outra parte com receio da volatilidade que pode ser causada por uma canetada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Durante a coletiva de imprensa sobre o balanço da companhia em 9 de fevereiro, o E-Investidor questionou os executivos do Banco do Brasil sobre esse temor que ainda paira sobre uma parcela do mercado.

Segundo o CFO do Banco do Brasil, Geovanne Tobias, os investidores não devem se preocupar com a possibilidade de intervenção estatal na empresa, principalmente após o primeiro ano da gestão de Medeiros.

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Ele comentou que a mensagem que pode tranquilizar o investidor é que todos os funcionários do banco são de carreira e conhecem o DNA da companhia.

“Nós sabemos o que estamos fazendo, apesar de todo descrédito que o mercado deu para o Banco do Brasil e para esta gestão”, afirmou Tobias, lembrando que a companhia encerrou 2023 com o maior lucro de sua história e com o maior ROE entre os quatro bancos.

Já a CEO do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, disse que os analistas devem esperar de 2024 tudo aquilo que eles não esperavam de 2023. “Temos autonomia de gestão, então os analistas devem esperar que vamos atingir todas as linhas de projeção de receita e lucro, com um lucro líquido entre R$ 37 bilhões e R$ 40 bilhões em 2024”, pontuou a executiva durante a coletiva.

Ainda assim, Novaes, o analista da Terra, prefere o papel do Itaú ao invés de Banco do Brasil e recomenda compra para as ações do banco privado com um preço-alvo de R$ 38,00, alta de 10% na comparação com o fechamento de sexta-feira (16). Já Quaresma reconhece que o Itaú está no preço justo e por isso ele se torna atrativo se a intenção for lucrar com dividendos.

“A ação do Itaú é a mais cara do setor, visto que ela negocia perto de 2 vezes o seu valor patrimonial, contra 1 vez para Bradesco e 0,9 vezes para Banco do Brasil e um pouquinho acima de 1 vez para Santander. Ainda assim, acreditamos que o Itaú vai pagar mais dividendos que o BB”, explica Quaresma, que tem no banco privado a sua preferência.

Justamente pelo fato do Itaú estar caro, os outros dois analistas preferem a ação do Banco Brasil. Segundo os especialistas da Ativa Investimentos, o retorno de dividendos do Itaú na comparação com o valor da sua ação não deve superar o do Banco do Brasil, o que torna a empresa estatal mais atrativa para o investidor.

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“Consideramos que o Banco do Brasil é a melhor opção quando o foco são dividendos por uma questão de dividend yield. Com uma relação preço sobre lucro (P/L) mais descontada, projetamos um yield para o BB de 9,9% em 2024. Por esses motivos a ação do banco estatal é a nossa favorita do setor”, comentam os analistas da Ativa. No caso do Itaú, a corretora espera um payout acima do piso de 30%, mas que não deve superar os 40%. “Estimamos um yield de 5,3% para o Itaú, não é o mesmo que BB ou outras companhias, mas não consideramos baixo.”

Além da Ativa, Matheus Nascimento, da Levante, comenta que o Banco do Brasil é um dos ativos que mais se valorizou na história da Bolsa, pagando dividendos atrativos ao longo dos anos. “Embora o Itaú seja um nome tão atrativo quanto BB, dada a sua qualidade operacional, entendemos que BB deve seguir se beneficiando do agronegócio no País, com dinâmica de pagamentos acima do que o Itaú tende a entregar neste ano”, argumenta Nascimento, que também prefere o Banco do Brasil.

BB ou Itaú?

Caso o investidor tenha ficado em dúvida de qual banco é o melhor, existem duas opções. A primeira consiste em comprar quem pode trazer o dividend yield (DY) mais atrativo, que é o do Banco do Brasil, visto que até quem prefere Itaú reconhece que o DY do BB será mais elevado, como é o caso de Quaresma, da Empiricus.

A analista estima um DY de 9% para o banco estatal e um número parelho e próximo para o Itaú. Já a Levante calcula um dividend yield de 9,75% para o BB e para o Itaú a estimativa é de um pagamento de 8,7% do valor da ação em proventos. Por fim, a Ativa calcula 9,9% para BB e apenas 5,3% para o Itaú.

Ainda assim, se o investidor não se decidiu, Novaes, da Terra recomenda ter os dois papéis na carteira. “Itaú segue como nossa preferência, enquanto vemos o Banco do Brasil também como uma alternativa. Temos a visão de que os dois bancos seguem como as oportunidades no setor bancário com objetivo em proventos”, afirma Novaes.

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