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- Na segunda-feira (18), a Marisa (AMAR3) anunciou uma parceria de 15 anos com a CredSystem, empresa especializada em soluções de crédito para o varejo
- Em fato relevante, a empresa projeta que essa parceria gere um volume de receita total superior a R$ 7 bilhões
- Apesar dos valores vistosos apresentados, a reação dos papéis à parceria foi negativa. Ontem, a AMAR3 fechou o pregão em queda de 8,7%, aos R$ 0,63
Na última segunda-feira (18), a Marisa (AMAR3) anunciou uma parceria de 15 anos com a CredSystem, empresa especializada em soluções de crédito para o varejo.
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O objetivo é de que a CredSystem utilize sua expertise para gerir a operação de crédito da Marisa, com um mecanismo de participação nos lucros de 50% e foco nas modalidades de empréstimo pessoal e cartões. Na outra ponta, a varejista poderá se concentrar na sua atividade core, que é a venda de vestuário.
Em fato relevante, a empresa projeta que essa parceria gere um volume de receita total superior a R$ 7 bilhões nesses 15 anos e um lucro potencial de R$ 1 bilhão, descontados os impostos. A Marisa ainda prevê capturar um valor presente líquido (VPL) de aproximadamente R$ 400 milhões.
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Essa iniciativa faz parte das ações da companhia para fortalecer a operação e voltar a gerar caixa. No balanço do 2º trimestre deste ano, a Marisa registrou prejuízo líquido de R$ 63,4 milhões, alta de 82% em relação ao mesmo período do ano passado. Já a dívida líquida da companhia estava em R$ 380,1 milhões, um patamar considerado alto mesmo após uma diminuição de 17,6% em relação a junho de 2022.
Em julho, a Marisa concluiu um processo de reestruturação, que incluiu o fechamento de 88 lojas. No primeiro trimestre, houve ainda a renúncia de executivos do alto escalão da companhia.
Positiva, mas no longo prazo
Apesar dos valores vistosos apresentados, a reação dos papéis à parceria foi negativa. Na sessão de segunda-feira (18), a AMAR3 fechou o pregão em queda de 8,7%, aos R$ 0,63, na esteira do anúncio da reformulação na operação de crédito.
Para Pedro Accorsi, analista da Ticker Research e Accorsi Investing, a parceria com a CredSystem é, sim, benéfica. Entretanto, os resultados devem vir apenas no longo prazo – enquanto os investidores esperavam uma solução com efeito imediato, dada a alta alavancagem da empresa.
“Quando falamos de Marisa, o braço de crédito da companhia mostra ter potencial”, diz. Ele ressalta que entre 2009 e 2021, a vertente de serviços financeiros da Marisa nunca havia registrado um EBITDA (um lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) negativo.
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“O problema começou a partir de 2022. Os impactos do Covid no setor de crédito resultaram em números ruins e alta da inadimplência”, diz Accorsi. “Essa parceria potencializa o braço financeiro, só que em um horizonte de prazo mais longo. O grande ponto é que a Marisa precisa de um gatilho de prazo curto, por isso que o mercado reagiu mal.”
Devido à falta de visibilidade de como a varejista resolverá seus problemas imediatos, Accorsi não possui recomendação para AMAR3. “Quem tem esse papel deve vender. Não se posicione comprado no negócio, visto que a curto prazo a insegurança se manterá”, afirma o analista da Ticker.
Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos, compartilha da visão positiva em relação à parceria comercial com a CredSystem no longo prazo. “Para esse momento delicado da empresa, focar em seu principal negócio, que é a venda de roupas, faz sentido”, diz. “Abrir a vertente de crédito pode ter sido positivo lá atrás, agora acaba sendo só mais uma dor de cabeça para um negócio que está em crise.”
Cruz acredita que há chances de a Marisa conseguir dar a volta por cima, especialmente por meio da aquisição por outros grupos do segmento de vestuário. “Pode ser que seja um desfecho razoável para a empresa, que possui uma marca forte e conhecida”, afirma.
Desconfiança
Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos, afirma que há ainda uma desconfiança em parte do mercado em relação às cifras projetadas. O especialista ressalta que mesmo as concorrentes do setor que possuem uma operação financeira mais consolidada, como as Lojas Renner (LREN3), vem demonstrando dificuldades na entrega de resultados.
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“E aí a Marisa chega com um plano robusto de conseguir até R$ 400 milhões. Para atingir o valor proposto, a empresa precisaria de uma melhora operacional significativa”, diz Costa, que não recomenda a compra dos papéis da Marisa. Em vez de AMAR3, ele indica as ações da Arezzo (ARZZ3) e Vivara (VIVA3).
Hulisses Dias, analista CNPI e mestre em finanças, também não recomenda a compra dos ativos. “A situação é complicada não só para a Marisa, mas para as demais do setor. Com a Selic de 2 dígitos o custo de capital se eleva, o consumo diminui, aumenta inadimplência e o varejo que já possui margens muito baixas, passa a operar no prejuízo”, afirma Dias.
O analista CNPI, por sua vez, vê a parceria com a CredSystem como venda dos “ovos de ouro” da Marisa. Ou seja, a empresa estaria abrindo mão de parte da operação que deu certo por mais de uma década (entre 2009 e 2021). “Provavelmente quem comprou é quem vai ter o grande lucro da operação”, diz o analista.
Entre opiniões divergentes no mercado, a AMAR3 cai 49% ao ano. Em 12 meses, a desvalorização é de 73%.
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