- Crescimento de Jair Bolsonaro (PL) nas pesquisas de intenção de voto levou estatais ao maior valor da história, mas euforia não se manteve
- Até o 2º turno, a expectativa é de que ações como Petrobras e Banco do Brasil continuem sofrendo volatilidade
- Analistas explicam que a tese de investimentos nessas empresas ainda é boa, mas que momento exige cautela antes de investir
As eleições colocaram as empresas estatais no centro de um furacão, principalmente tratando-se de Petrobras (PETR4) e Banco do Brasil (BBAS3). Uma volatilidade que já era esperada, mas vem sendo acentuada à medida em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) se aproxima do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas de intenção de voto.
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O maior otimismo com a possibilidade de reeleição do atual presidente, tido como mais favorável a políticas pró-mercado como as privatizações, fez com que o valor de mercado das estatais saltasse de R$ 681,1 bilhões na segunda-feira (17) para R$ 761,5 bilhões na sexta-feira (21). O montante é o maior da história, mostra um levantamento feito por Einar Rivero, do TradeMap.
O bom humor, no entanto, não durou muito. De acordo com os números do TradeMap, ao fim do pregão da segunda-feira (24), o valor de mercado das estatais havia caído para R$ 696,5 bi.
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O principal catalisador das quedas foi o episódio envolvendo Roberto Jefferson, ex-deputado aliado de Bolsonaro, que resistiu à prisão atacando policiais com granadas e tiros de fuzil. O fato minou parte do otimismo na bolsa, principalmente com as ações da estatais; veja detalhes.
“Com tudo que aconteceu, abriu-se uma janela para investidores institucionais que estavam posicionados fazendo algum movimento tático em relação às eleições realizassem lucros. Algo que naturalmente poderia acontecer no decorrer da semana, mas que os ventos potencializaram para que acontecesse já na segunda-feira”, afirma Filipe Villegas, estrategista de ações da Genial Investimentos
Um reflexo de como o mercado tem operado nos últimos dias: em alta, quando Bolsonaro se fortalece nas pesquisas; e com correção, quando o cenário parece mais favorável a uma vitória de Lula.
“O que vimos na semana passada foram alguns acionistas se perguntando se haveria chances de Bolsonaro vencer e preferindo já estar posicionado nas estatais”, diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. “Já nesta semana, houve um ceticismo maior devido à perspectiva de que Lula deve ser o vitorioso e por isso essas ações serão penalizadas em termos de retorno para o acionista”.
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Uma tendência que deve permanecer até o domingo (30), quando vai ocorrer o segundo turno das eleições. Até lá, as ações das estatais, especialmente as maiores como Petrobras e Banco do Brasil, devem continuar oscilando. Veja o que esperar do período.
Volatilidade x bons resultados
Os resultados trimestrais de Petrobras e Banco do Brasil surpreenderam o mercado em 2022. O 2T22 foi tão positivo para as duas empresas que possibilitou o maior pagamento de proventos desde 2012, como contamos nesta reportagem.
Os bons resultados são explicados por uma união de cenário macroeconômico mais favorável para o modelo de negócios das companhias – juros de dois dígitos, que beneficiam os bancos, e preço do petróleo em alta – com a melhora na eficiência das estatais durante a gestão Bolsonaro. E é este último fator que preocupa os analistas de mercado no caso de uma vitória petista no dia 30.
Em campanha, o ex-presidente Lula tem dado declarações dizendo que o Banco do Brasil “age como banco privado” e deveria se dedicar mais ao lado social; enquanto promete retomar o papel investidor da Petrobras e “abrasileirar” a política de preços da companhia, que atualmente trabalha com base no modelo de paridade internacional. “Todas essas falas demonstram uma potencial intervenção estatal forte, uma coisa que só vamos descobrir se vai acontecer ou não a partir do dia 1º de janeiro, se Lula for eleito”, pontua Flávio Conde, analista da Levante Ideias de Investimentos.
É a incerteza com uma nova gestão de Lula que pode voltar a penalizar a companhia petrolífera caso o ex-presidente seja eleito no domingo. Porém, mesmo que as ações das duas empresas tenham quedas logo após o 2º turno, os bons resultados ainda devem ajudar a segurar as cotações.
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Por conta dos balanços positivos ao longo do ano, a PETR3, PETR4 e BBAS3 ainda acumulam alta anual de 72%, 74% e 46%, respectivamente.
Frederico Nobre, líder da área de análise da Warren, explica que a expectativa para os balanços referentes ao terceiro trimestre do ano dessas empresas, que serão divulgados no início de novembro, continua positiva. Para a Petrobras, a casa espera mais um período de forte geração de caixa, com remuneração de dividendos na casa de US$ 6 bilhões; um yield perto de 7%. Para o Banco do Brasil, a expectativa é de mais um trimestre acima do consenso de mercado estipulado no início do ano, com rentabilidade na casa dos 20%.
“Esperamos uma volatilidade bem alta, mas ainda temos bons fundamentos dando uma certa margem de segurança para as duas empresas”, diz Nobre. “Principalmente no caso da Petrobras, o mercado olha para as instabilidades políticas e isso pesa no papel. Mas aí a empresa anuncia um caminhão de dividendos e o sentimento volta a ser positivo”.
Dá tempo de se posicionar?
As ações de Petrobras e Banco do Brasil costumam ser figurinhas repetidas nas carteiras recomendadas por diversas casas. São consideradas empresas resilientes, com resultados sólidos, além de serem boas pagadoras de dividendos. No lado negativo, estão sujeitas à volatilidade e as tentativas de interferência política.
A poucos dias do segundo turno das eleições, muitos investidores podem estar observando as oscilações desses papéis na bolsa e se perguntando o que fazer até o dia do pleito. A resposta da maioria dos especialistas, porém, é mais simples: não fazer nada.
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“Por enquanto, os movimentos são muito mais especulação do que qualquer outra coisa. Não tem uma mudança no resultado das empresas e sim nas expectativas com o futuro a depender de quem vai ser eleito”, explica Frederico Nobre, da Warren.
Apesar de a casa manter uma recomendação de compra das ações de Petrobras e Banco do Brasil desde dezembro de 2021, o analista acredita que o melhor a se fazer neste momento é aguardar. “Quem já tem as ações, segura. Se não tem, espera um pouquinho para comprar”, diz.
Por outro lado, as oscilações na cotação dessas ações, que podem acontecer nesta e na próxima semana a depender do vitorioso no domingo, também podem abrir janelas de oportunidade.
Quem acredita “fortemente” na reeleição de Bolsonaro pode aproveitar as quedas dos últimos pregões para montar posições aos poucos na expectativa de que os papéis tenham um salto se o presidente ganhar, diz Flávio Conde. Nesta entrevista, o analista da Levante Ideias de Investimentos afirma que as ações da Petrobras podem dobrar de valor neste cenário.
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Mas mesmo a vitória de Lula pode ser vista como uma boa janela para aqueles que acreditam na tese de investimento nas estatais e têm foco no longo prazo. “Pode ser oportunidade, principalmente no primeiro e segundo dia pós 2º turno, quando podemos ter uma reação super exagerada no mercado (caso haja queda brusca)”, diz Conde. “O efeito ‘eleição do Lula’ já está ocorrendo. Na segunda (31), podemos ver outra queda de 10% nessas ações, mas boa parte já está acontecendo agora”.
Trata-se de uma estratégia para usar a volatilidade a seu próprio favor, aproveitando as baixas nas ações para adquiri-las a preços mais baixos. Mas, no caso das estatais, é preciso ter cuidado com esses movimentos, ressalta Filipe Villegas, da Genial. Isso porque a eleição vai dizer quem será o presidente que vai estar no cargo por pelo menos 4 anos, um tempo que permite mudanças na gestão dessas empresas, seja para melhor ou para pior.
“Acho importante não participar dessa volatilidade, aguardar os resultados das eleições e aí sim tomar sua decisão. Quem acreditar que a empresa vai ser bem administrada, compra mais ativos, caso contrário, desfaça ou diminua a posição”, pontua.