- A Binance.US, braço americano e “independente” da Binance, maior corretora de criptomoedas do mundo, deve suspender depósitos em dólares americanos a partir desta terça-feira (13)
- Essa suspensão acontece na esteira de um processo movido pela SEC, comissão de valores mobiliários americana, contra a exchange
- O xerife do mercado financeiro dos EUA está no encalço da companhia em função de supostas violações em série da lei de valores mobiliários
A Binance.US, braço americano e “independente” da Binance, maior corretora de criptomoedas do mundo, perdeu acesso aos bancos dos EUA e deve suspender depósitos em dólares americanos a partir desta terça-feira (13). A medida foi anunciada por meio da rede social Twitter na noite da última quinta-feira (8).
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Essa suspensão acontece na esteira de um processo movido pela SEC, comissão de valores mobiliários americana, contra a exchange. O xerife do mercado financeiro dos EUA está no encalço da companhia em função de supostas violações em série da lei de valores mobiliários.
De acordo com a SEC, a Binance.US não funciona de maneira independente, como alega. Em vez disso, também é controlada nos bastidores por Changpeng Zhao, fundador da Binance, que permitiria “secretamente” o acesso de clientes americanos de alto patrimônio à plataforma global.
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Zhao também conseguiria manipular os ativos dos clientes da forma que bem entendesse, “misturando” bilhões de dólares em ativos de usuários e transferindo para outras companhias em seu nome. Seria o caso da Sigma Chain, acusada de inflar o preço de criptos.
Além disso, a Binance e Binance.US estariam operando e realizando ofertas cripto sem o registro considerado necessário pelo regulador.
“Alegamos que as entidades Zhao e Binance se envolveram em uma extensa rede de enganos, conflitos de interesse, falta de divulgação e evasão calculada da lei”, disse o presidente da SEC, Gary Gensler. “Conforme alegado, Zhao e a Binance enganaram os investidores sobre seus controles de risco.”
Já para a Binance.US, as medidas da SEC acontecem em função de uma perseguição orquestrada contra o mercado cripto. “A SEC passou a usar táticas extremamente agressivas e intimidadoras em sua busca por uma campanha ideológica contra a indústria americana de ativos digitais. A Binance.US e nossos parceiros de negócios não foram poupados no uso dessas táticas, o que criou desafios para os bancos com os quais trabalhamos”, afirma a corretora em nota publicada no Twitter.
Campanha “anti-cripto”?
No Brasil, os investidores que acessam à Binance não devem ser impactados pelo imbróglio que se desenvolve nos EUA. Entretanto, os embates entre a Binance.US e a SEC devem reduzir a liquidez da plataforma americana e aumentar as incertezas em relação ao futuro do mercado de criptos.
Para Theodoro Fleury, gestor da QR Asset Management, o regulador americano realmente parece adotar uma postura arbitrária em relação às criptos. “Cria bastante insegurança para investidores que querem se envolver com criptos nos Estados Unidos. Não há um padrão definido nas ações tomadas pela SEC. O órgão regulador passa a impressão de adotar “um peso e duas medidas” dependendo do alvo da investigação, o que acaba afastando investidores institucionais do setor”, afirma Fleury. “As medidas mais recentes adotadas pela SEC não deixam dúvidas de que existe um viés ideológico por trás.”
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Nos EUA, há uma tese entre especialistas cripto, como Nic Carter, de que as ações do regulador contra ativos digitais são intencionais e coordenadas para banir os criptoativos dos EUA. “Operação Choke Point 2.0” é o nome dado a essa suposta campanha “anti-cripto”.
“As atitudes e argumentos adotados pelas SEC parecem deixar em segundo plano a sua principal função, que é a proteção ao investidor. Por isso a suspeita de que exista um viés ideológico por trás da campanha recente. A fala de Gary Gensler, chairman da SEC, de que o país não precisa de mais moedas digitais, deixa isso claro”, diz Fleury.
Divisão
Essa também é a visão de Felipe Medeiros, analista de criptomoedas e sócio da Quantzed Criptos. Segundo ele, “há um consenso de que se trata de uma campanha ideológica”. O especialista afirma que dentro do Senado e da Câmara dos EUA há dois blocos formados: um majoritariamente republicano a favor dos ativos digitais, e outro contrário, de maioria democrata.
“Gensler é democrata e atua em prol dos interesses de quem o nomeou, além de uma convicção pessoal que ele tem contra criptos”, aponta Medeiros. A atual restrição deve fazer com que o fluxo de investimentos migre para fora dos EUA . “O governo não tem muitas condições de fechar as portas das criptos. Por uma VPN, você consegue acessar qualquer corretora do mundo. É simples para esse capital escoar dos EUA para outros locais.”
Tasso Lago, especialista em criptomoedas e fundador da Financial Move, acredita que a suspensão dos depósitos na Binance.US, no fim das contas, será mais ruído do que uma preocupação real para as negociações com cripto. Ele também vê o regulador americano “perdido” em relação ao tema, uma vez que a exchange Coinbase fez um IPO. “Mas não vejo fragilidade para o mundo cripto. A Binance.US já vinha de vários problemas e estava perdendo market share para outras corretores ”, destaca.
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