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Comportamento

As mudanças duradouras que a covid-19 provocou em 8 setores da economia

Oito executivos ouvidos pelo E-Investidor explicam por que muitas das transformações vieram para ficar

As mudanças duradouras que a covid-19 provocou em 8 setores da economia
Os preços chegaram a cair cerca de 80%, um dos maiores abatimentos oferecidos pela empresa; tanto que chamou a temporada de “Black das Blacks”
  • Enquanto alguns setores, como o aéreo e o de shoppings, foram mais duramente afetados pelas restrições de mobilidade social durante a pandemia, outros foram beneficiados justamente pelo fato de as pessoas permanecerem mais em casa
  • Segundo oito executivos de grandes empresas ouvidos pelo E-Investidor, muitas das mudanças provocadas pela crise vieram para ficar
  • Confira como os líderes dessas empresas avaliam as transformações em cada setor e o que projetam para o futuro

A crise causada pela pandemia de covid-19 paralisou diversas atividades econômicas pelo mundo em 2020. Porém, enquanto alguns setores, como o aéreo e o de shoppings, foram mais duramente afetados pelas restrições de mobilidade social, outros foram beneficiados justamente pelo fato de as pessoas permanecerem mais em casa. As empresas que puderam investir no e-commerce e em desenvolvimento de tecnologia, por exemplo, conseguiram crescer em meio ao caos social e econômico.

E muitas das mudanças provocadas pela pandemia vieram para ficar, segundo oito executivos de grandes empresas de diferentes segmentos ouvidos pelo E-Investidor. Confira abaixo como os líderes dessas companhias avaliam as transformações em cada setor e o que projetam para o futuro.

John Rodgerson, presidente da Azul Linhas Aéreas

A tecnologia nos aeroportos será diferente. A Azul, por exemplo, mudou muito o processo de embarque. Hoje o viajante não precisa tocar em nada e só precisa escanear um QR Code em uma única bancada para ter o cartão em mãos e seguir para o nosso “Tapete Azul”, uma tecnologia de realidade aumentada que orienta os passageiros na entrada da aeronave

Imagino que daqui cinco anos não haverá mais check-in, por exemplo. Por que precisamos daquela área de embarque? O viajante pode ir direto.

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Com a tecnologia atual é possível imprimir os tickets, despachar a mala na esteira e ir direto para a aeronave, sem ter contato com outra pessoa. Isso muda o jogo. As pessoas já podem fazer tudo por si próprias. Esse tipo de coisa vai mudar drasticamente a nossa indústria. Todos serão mais autossuficientes na hora do embarque.

Julio Trajano, vice-presidente de esportes do Magazine Luiza

Acho que o consumidor que passou a experimentar o ambiente on-line, vendo as facilidades e percebendo todos os benefícios, não volta mais ao seu perfil anterior. Ele deverá ao menos alternar, ora comprando pela internet, ora indo às lojas físicas para complementar com o lazer também.

De qualquer maneira, agora o consumidor já teve essa experiência de poder receber em casa, não só produtos, como bens duráveis, bens de consumo, alimentação, mas também serviços, como um treinamento em casa, com um personal trainer virtual.

Realmente, é um aprendizado, que eu acredito que será parte das nossas vidas nos próximos anos. O home office vai ficar. Os escritórios não serão mais 100% presenciais. Muita coisa a pandemia nos ensinou, trazendo tecnologia, não só na forma de trabalhar e de viver, mas também na maneira de comprar.

João de Nagy, CEO ITC Hotelaria – WTC Events e Sheraton São Paulo

No pós-pandemia, vamos ver uma redução muito grande das viagens individuais de executivos e de pequenas reuniões. Eles não precisarão mais viajar e se hospedar para ter reuniões de cinco a dez pessoas. Isso será feito pelas tecnologias como Zoom, que já existiam, mas eram pouco utilizadas pela minha geração, que não tinha o hábito de usar e foi forçada a lidar com isso neste ano.

As pessoas irão trabalhar mais em home office. Na França, por exemplo, estima-se que 30% dos altos executivos passarão a ter um trabalho híbrido, com poucas idas aos seus respectivos escritórios, fazendo, inclusive, alguns deixarem as cidades grandes.

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Esse fenômeno também está acontecendo no Brasil, visto que os grandes condomínios de São Paulo estão, em grande parte, ocupados.

Luís Augusto Barbosa, CEO da Eternit

A pandemia afetou diferentemente cada setor da economia. Algumas atividades foram duramente impactadas e dificilmente se recuperarão no médio prazo. Outras foram beneficiadas e estão aproveitando o momento favorável há meses. A construção civil está entre as atividades mais beneficiadas no Brasil. A conjunção de alguns fatores trouxe um forte aquecimento na demanda:

  • O auxílio emergencial elevou a renda familiar de uma camada da população onde há déficit e precariedade habitacional. A renda adicional estimulou reformas e autoconstrução;
  • O fechamento de vários ramos da economia aumentou a parcela do orçamento doméstico que é destinada à habitação;
  • A taxa de juros mais baixa favoreceu os financiamentos de longo prazo, baixando o valor das prestações, trazendo as camadas mais pobres da população para o consumo.

Alguns desses fatores tem prazo determinado, enquanto outros tendem a ser mais duradouros. Acho que o comportamento do consumidor mudará para sempre. O maior tempo no lar, junto à família, tende a ficar para sempre, assim como a parcela do orçamento doméstico destinada à construção, decoração e bem-estar em casa. Empresas voltadas para esses produtos e serviços serão favorecidas.

Aksel Krieger, CEO e presidente do BMW Group Brasil

A forma de se comunicar novos produtos mudou radicalmente em 2020. Em um ano em que o cuidado com a saúde foi nossa maior prioridade, buscamos meios inteligentes e diferentes de nos comunicar com o consumidor e apresentar novos produtos e serviços com formatos diferentes de eventos.

No Brasil, a busca por automóveis e motocicletas deve continuar a crescer, em um futuro mais eletrificado e conectado, com a chegada do 5G. A procura por soluções mais sustentáveis, como veículos híbridos e elétricos, tendem a seguir aumentando em mais de 100% ao ano nas vendas locais.

Nossa fábricas em Araquari e Manaus, ainda mais importantes como parte da nossa estratégia para atender essa demanda regional, possuem emissão de CO2 compensada por geração de energia eólica, para citar um exemplo.

No BMW Group, a digitalização já era uma mudança em andamento, mas a pandemia nos fez acelerar alguns projetos que já estavam sendo implementados. Por isso, pudemos nos ajustar mais rapidamente à nova realidade.

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Mesmo assim, entendo que a experiência e a rede de concessionários ainda terão um papel fundamental no relacionamento com os clientes, seja em eventos ou na emoção de uma primeira compra. Um carro ou motocicleta premium não são um software que você compra on-line, mas um produto onde a experiência e o prazer deste relacionamento são e serão muito importantes.

A BMW foi a primeira fabricante premium a lançar um carro na pandemia. Fizemos isso em canal de vendas do Instagram, com anúncio do BMW 330e M Sport, o Série 3 híbrido plug-in. Também foi a primeira do segmento a lançar um veículo por canal de vendas no Facebook, com o lançamento do BMW X5 M50i,

Ampliamos a experiência digital dos clientes com a implementação de um novo showroom virtual e novos configuradores e visualizadores no nosso site, além de oferecer páginas oficiais de vendas no Mercado Livre e na Amazon. Fomos ainda pioneiros em ter uma loja conceito em shoppings e levamos este conceito para o mundo virtual, ou seja, em estar onde o cliente busca por opções.

Os novos formatos de eventos presenciais atenderam as exigências de segurança a saúde de todos os envolvidos e apresentaram novas possibilidades de lançar veículos e serviços, mesmo no pós-pandemia.

Marco Aurélio Almada, presidente do Sicoob

Acredito que a principal transformação que veio para ficar é a maior inclusão digital dos cooperados. Temos mais de 5 milhões de cooperados, mas aproximadamente 1 milhão não tinha a prática de utilizar o App Sicoob. Com a pandemia, fortalecemos os nossos canais digitais e incentivamos o uso para toda a nossa base.

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Isso, claro, levando em conta a nossa capilaridade regional, em que o Sicoob sempre teve muita força. Principalmente em locais onde o Sistema Financeiro Nacional não alcança, é essencial ter um agente que incentive o crescimento daquelas comunidades. Em 304 municípios, somos a única instituição financeira presente.

Entre janeiro e outubro, o Sicoob concedeu mais de R$ 78,4 bilhões em crédito com taxas justas, número 31% maior do que no mesmo período do ano passado. Deste valor, R$ 26 bilhões foram para micro e pequenas empresas, um aumento substancial de 37% em relação aos dez meses de 2019.

Cristina Andriotti, CEO do Grupo Ambipar

Não houve mudanças significativas em nenhuma das duas verticais do Grupo Ambipar – Response e Environment -, uma vez que todos os serviços prestados podem ser entendidos como essenciais, seja na movimentação, destinação e valorização de resíduos, seja na resposta de emergências químicas e não químicas em todos os modais.

Quanto às mudanças para o futuro, entendemos que haverá uma diminuição significativa de reuniões presenciais, viagens e relacionamento interpessoal entre equipes.

Heverton Peixoto, CEO da Wiz

O segmento de produtos financeiros e seguros nunca mais será o mesmo após o ano de 2020. O modelo de trabalho remoto, por exemplo, se mostrou muito eficaz e possível de ser aplicado em diversas áreas de atuação.

Diante deste cenário, a Wiz Soluções (WIZS3) desenvolveu um novo olhar sobre o ambiente de trabalho criando o programa Wiz Everywhere (WE), que entrou em vigor no dia 1º de outubro e prevê formalizar modelos remotos e flexíveis, além do presencial. O objetivo do programa é promover maior produtividade, qualidade de vida e oportunidade para colaboradores de diversas regiões ou países, e será adotado de forma perene, independentemente da situação emergencial da pandemia.

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No cenário nacional, percebemos que a demanda por crédito nos últimos 9 meses também foi expressiva, puxada por fatores como alta nos preços de alimentos, redução do auxílio emergencial e a variação do IGP-M, índice utilizado nos contratos de aluguel.

Esse contexto foi um dos responsáveis por acelerar as novas formas de distribuição de serviços para os consumidores, principalmente por iniciativas inovadoras de fintechs e insurtechs. A aceleração dos processos de digitalização dos serviços financeiros e seguros exigiu uma reinvenção de papéis no setor, que ainda é muito tradicional e carente de inovações tecnológicas. Certamente, as experiências digitais de aquisição e relacionamento vieram para ficar.

Outro ponto interessante está relacionado às small caps e ao crescimento de alguns setores, mesmo em um ano desafiador como o que estamos enfrentando. O ano de 2020 teve um número expressivo de ofertas iniciais de ações (IPO) na B3. Até o início de dezembro, 25 empresas já haviam feito IPO, movimentando R$ 31,7 bilhões. Isso mostra que a abertura de capital tem se firmado como um projeto sólido e de longo prazo para as companhias nacionais.

* COLABORARAM ELAINE ORTIZ, ISAAC DE OLIVEIRA, LUCAS BALDEZ, LUIZ FELIPE SIMÕES, MATEUS APUD E VALÉRIA BRETAS

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