- Nesta terça-feira (6), o dólar sofreu uma das maiores disparadas intraday do ano
- A moeda norte-americana terminou o dia cotada a R$ 5,20, em uma alta de 2,40% em relação ao preço de abertura
- Cenário político com caótico, com denúncias de irregularidades na compra de vacinas e desgaste de Bolsonaro, assim como impasses na Opep, aceleram alta do dólar
O dólar sofreu uma das maiores disparadas intraday do ano nesta terça-feira (6). A moeda norte-americana fechou a R$ 5,20, em uma alta de 2,4%. É a primeira vez, desde o dia 31 de maio, que a divisa ultrapassa a marca de R$ 5,15.
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Com a sessão, o dólar atinge seis pregões seguidos de fortalecimento frente ao real. A escalada se iniciou em 29 de junho, quando estava sendo negociado a R$ 4,95, após um salto de 0,64% durante o dia. Os motivos para a valorização são vários, tanto internos quanto externos, mas as turbulências políticas domésticas se destacam.
Cenário doméstico caótico
Por aqui, a temperatura da CPI da Covid começa a subir, com a investigação de irregularidades no contrato da vacina indiana Covaxin, assim como um suposto pedido de propina para a compra da vacina de Astrazeneca. Também veio a público nesta segunda-feira (5) um áudio atribuído a ex-cunhada do presidente Jair Bolsonaro, em que ela fala sobre um suposto esquema de rachadinhas conduzido pelo atual líder do executivo enquanto ainda era deputado federal.
Na ponta econômica, a reforma tributária proposta por Paulo Guedes também não agradou ao mercado. Entre as mudanças trazidas pelo ministro da economia, estão a taxação de dividendos e extinção de JCP.
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“O Paulo Guedes, que teria vindo para implementar um programa liberal, não conseguiu fazer muita coisa e passa os dias como um disco riscado falando de CPMF”, explica Mario Goulart, analista CNPI da O2 Research. “Natural que o investidor esteja um pouco mal humorado com o Real.”
Apesar das águas turbulentas que recobrem a política brasileira nas últimas semanas, ainda é impensável uma mudança brusca no Planalto. “Mesmo estando boa parte do mercado meio de saco cheio do ‘Capitão’, impeachment é um negócio traumático e complicado. Então é outro elemento que ajuda a piorar o humor [dos investidores]”, conclui Goulart.
Venda em massa de ações
Segundo Braulio Langer, analista da Toro Investimentos, com as últimas turbulências, o mercado brasileiro volta a ser alvo da desconfiança dos investidores estrangeiros. “Hoje tivemos uma venda em massa das ações brasileiras, possivelmente provocada por uma incerteza com relação à economia nacional, o que provoca uma retirada de fluxo financeiro dos ativos de risco brasileiros. Isso acaba enfraquecendo o real frente ao dólar”, explica.
Além disso, o dólar vem de uma queda de 10,53% desde o pico de R$ 5,80 registrado em 8 de março. “Essa alta de hoje também reflete uma realização de lucro das posições vendedoras, que estavam apostando na queda do dólar após vários meses de altas consecutivas”, afirma Langer. “É natural que depois de uma queda de mais de dois meses, o mercado se reequilibre e suba um pouco.”
Para Goulart, a queda de hoje não é uma grande derrocada, mas vem em um momento em que se esperava uma tendência contrária, de fortalecimento do real, principalmente por conta do ciclo de alta dos juros. O aumento da taxa Selic, em tese, atrairia mais dólares para o País, mas a situação interna é um balde de ‘água fria’ para os estrangeiros.
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A proximidade das eleições de 2022 sem definição de uma terceira via adicionaria mais volatilidade ao mercado. “Hoje tudo aponta para Luís Inácio (Lula da Silva) presidente de novo”, explica Goulart.
Contexto Global
O mau humor externo ajudou a formar a tempestade perfeita para a disparada do dólar nesta terça. O DXY, índice que mede a força do dólar frente as principais moedas mundiais (Euro, Iene, Libra esterlina, Dólar canadense, Coroa sueca e Franco suíço), também estava em alta de 0,4% até às 17h17 de hoje (6).
“O dólar ganhou força lá fora a medida que não temos nenhuma solução quanto ao impasse da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). Se de fato voltarmos para a situação de 2020, quando houve uma guerra de preços entre dois países membros (Rússia e Arábia Saudita), não só setor energético acabará prejudicado, como o mercado como um todo”, afirma Victor Beyruti, economista da Guide Investimentos.
No ano passado, o impasse envolvendo a Rússia e Arábia Saudita fez despencar os preços do petróleo. Dessa vez, o encontro da OPEP sobre a produção e preço da commodity a partir de agosto, inicialmente marcado para dia 1 de julho, vem sendo sequencialmente adiado por divergências entre países.
Os investidores também seguem atentos para a divulgação da ata do FOMC (Federal Open Market Committee, equivalente ao Comitê de Política Monetária brasileiro), prevista para esta quarta-feira (07).
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