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As lições do 11 de setembro para o mercado financeiro

O atentado completa 20 anos neste sábado. Veja os relatos de quem viveu essa crise e atuava no mercado

As lições do 11 de setembro para o mercado financeiro
Momento do ataque às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001, em Nova York Foto: Kelly Guenther/The New York Times
O que este conteúdo fez por você?
  • O atentado terrorista coordenado pelo grupo Al-Qaeda causou a maior paralisação no mercado financeiro desde a Grande Recessão nos Estados Unidos, em 1929
  • Sentimento de insegurança, incerteza e temor foi instaurado no mercado financeiro global. Porém, a tragédia deixou a lição de que o tempo pode ser o melhor amigo do investidor
  • Neste 11 de setembro de 2021, o atentado às torres gêmeas completa 20 anos. Confira o que os analistas entrevistados pelo E-Investidor dizem sobre o evento que impactou o mercado financeiro e as lições apreendidas desde então

(Luana Meneghetti e Rebeca Soares) – Era 8h46 e uma nuvem de fumaça cinza começava a cobrir o céu de Nova York quando o primeiro avião colidiu contra a Torre Norte do World Trade Center, nos Estados Unidos. Em um intervalo de apenas 15 minutos, a segunda aeronave atingiu a Torre Sul. Um terceiro avião se dirigiu ao Pentágono às 9h37 e o quarto caiu sobre um bosque na Pensilvânia às 10h03. O atentado foi coordenado pelo grupo Al-Qaeda, deixando um saldo de 3 mil vítimas fatais e cerca de 7 mil feridos.

Naquele dia, o pânico se alastrou e tomou conta do mercado financeiro. A bolsa de Nova York ainda não tinha iniciado o pregão e se manteve fechada durante toda a semana, retornando apenas no dia 17 de setembro. Essa foi a maior paralisação desde a Grande Recessão nos EUA, em 1929. “O consenso dos reguladores e bolsas foi de que a realização de pregões sob aquelas condições seria mais prejudicial aos mercados do que um completo fechamento do ambiente de negociações”, recorda Rodrigo Lima, analista de investimentos da Stake.

Ao retomar os pregões, o índice Dow Jones encerrou a semana com queda acumulada de 14,1%, o índice S&P 500 em baixa de 11,6% e o Nasdaq caiu 16%, gerando perdas de US$ 1,4 trilhão no mercado acionário.

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“Os contratos futuros de ouro dispararam 4,11%, com investidores fugindo de ativos de risco e buscando proteção no que é tradicionalmente considerado como um hedge”, diz Lima. Segundo ele, naquele momento, as bolsas mundiais já sofriam para se recuperarem do que ficou conhecido como “a bolha das ponto com”, afetando principalmente a Nasdaq e empresas de tecnologia.

No Brasil, o Ibovespa operou por apenas 1 hora e 15 minutos, encerrando o pregão às 11h15, com queda de 9,17%. Assim como no Brasil, a maioria das bolsas mundiais foram fechadas até o dia seguinte após o ocorrido. “O Ibovespa teve prejuízos superiores a 15% e o DAX, principal índice da bolsa alemã, amargou perdas superiores a 18%”, conta Lima, da Stake.

Apesar dos impactos negativos para o mercado, o S&P 500 subiu quase 4 vezes desde aquele dia.

Neste sábado, dia 11 de setembro de 2021, o E-Investidor recorda o evento que impactou o mercado financeiro e as lições que foram aprendidas desde então.

Lembranças do 11/09

Muitos brasileiros que atuam no mercado de capitais presenciaram a movimentação naquele dia 11. Apesar de a propagação de informações não ter sido tão intensa como a digitalização atual permite nos dias de hoje, as televisões e os sistemas prontamente mostraram o impacto do acontecimento.

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“A sensação foi pior do que perder dinheiro. Foi um sentimento diferente, como se as pessoas tivessem perdido a segurança e ficado sem chão”, descreve George Wachsmann, sócio-fundador e CIO da Vitreo, que trabalhava no Unibanco durante o atentado e tinha acabado de concluir seu mestrado naquele mesmo ano nos Estados Unidos.

Para Wachsmann, ter ativos diversificados e outros voltados para proteção no portfólio foi o aprendizado prático. Ele destaca que é desafiador, como ‘um tapa na cara’, saber que não é possível prever todos os acontecimentos. “O que é fundamental para ultrapassar momentos de crise é ter estômago. As crises vêm, mas elas passam”, diz.

Segundo Rodrigo Natali, diretor de estratégia da Inversa, contar com a possibilidade da ocorrência de eventos não lineares e saber que o tempo pode retomar os resultados, são os principais legados que a turbulência deixou nos últimos vinte anos. Natali relembra que comprou 20 contratos do Ibovespa futuro por conta de um pacote de estímulos anunciado no Japão na segunda-feira anterior ao atentado. Com a queda logo após o evento fatídico, ele fez a venda na tentativa de reduzir as perdas.

“Eu acompanhava o mercado em uma tela de uma corretora que ficava em um dos prédios das Torres Gêmeas. De repente, a tela apaga e em cinco minutos o S&P 500 começa a despencar depois de ter subido cerca de 1,5%”, narra o estrategista. “Ouvi ‘oferta de compra de mil contratos’ de um operador de pregão. Curiosamente, como conhecíamos os rostos, sabia que era uma oferta vinda do Paulo Guedes, atual ministro da Economia.”

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No final do 11 de setembro, Natali perdeu cerca de R$ 100 mil. Por outro lado, quem comprou os contratos do índice, como o próprio Guedes, certamente recuperou as perdas ao longo do tempo.

Oportunidade na crise

Para Lima, da Stake, é importante lembrar que períodos de turbulência também oferecem oportunidades, como a alta do ouro naquele momento. Outro destaque foi o movimento de alguns investidores que fizeram fortuna apostando na recuperação das companhias aéreas, muito depreciadas pelo mercado em 2001.

As aéreas foram as mais afetadas naquela época, em especial as empresas que tiveram os aviões sequestrados. Entre 10 de setembro e 17 de setembro de 2001, por exemplo, as ações da American Airlines caíram -39,3% e da United Airlines despencaram -49,4%, segundo dados da Economatica. No entanto, os compradores lucraram quando o setor voltou a recuperar as receitas em 2003. Enquanto isso, outros setores também reportaram ganhos expressivos, como o de tecnologia, de defesa e armas.

Segundo William Eid, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV, é importante saber como aproveitar a crise. “Nesse caso, é preciso ter dinheiro em conta para comprar ativos por preços mais baixos, esperando a alta na recuperação”, diz.

Eid destaca ainda que em todas as crises, os mercados acabam retornando aos níveis anteriores com bastante velocidade. Ou seja, aproveitar o momento também pode ser interessante em termos de retornos futuros.

O legado do atentado para o mercado financeiro

O impacto do atentado terrorista ao mercado financeiro foi instantâneo. Segundo Lima, da Stake, não houve um índice amplo de ações no planeta que passou incólume pelo evento. “O dólar perdeu força globalmente e o petróleo disparou com o temor de que os ataques impactassem o fornecimento da commodity a nível global”, afirma Lima.

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As lições e aprendizados do período de intensa instabilidade ainda são levados em consideração em outras crises econômicas, como visto mais recentemente durante o início da pandemia do novo coronavírus.

“O tempo é o melhor amigo do investidor”, aponta o estrategista-chefe da Avenue Securities, William Castro Alves. Assim como na forte queda em setembro de 2001, a crise da bolha imobiliária em 2008 e na pandemia de 2020, o mercado sempre demonstrou capacidade de recuperação.

De acordo com Lima, os investidores institucionais e de varejo têm o que se chama de um “viés comprado”, isto é, tendem a operar apostando mais na alta do que na queda dos ativos. “A maior parte dos investidores acabou sofrendo prejuízos. As bolsas, no entanto, rapidamente se recuperaram, com o S&P 500 subindo em outubro daquele ano e o Ibovespa um pouco mais tarde, revertendo as perdas em novembro de 2001”, afirma.

Em momentos de crise, as incertezas aumentam e para buscar proteção, uma boa parte dos investidores acaba resgatando as aplicações. “Isso desencadeia uma forte onda de vendas na bolsa, o que faz os preços caírem muito de forma rápida”, diz Valter Police, planejador fiduciário da Fiduc.

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No entanto, a estratégia pode ser falha. “Quem vende nesses momentos acaba abrindo mão dos ativos por um preço muito menor. É perder dinheiro para ter uma sensação de segurança, quando a melhor estratégia é a diversificação”, diz Police.

Alves, da Avenue, compartilha da mesma opinião. Segundo o especialista, a tentativa de fugir de ativos como estratégia de proteção durante um período turbulento pode causar perdas ainda maiores, se comparada à manutenção das aplicações. Ele explica que as empresas possuem a habilidade de inovar e adaptar-se aos diferentes cenários.

Wachsmann, Vitreo: As crises vêm, mas elas passam

Não é por acaso que após o período de turbulência, é natural observar um intenso crescimento. Quem tenta prever uma crise saindo da Bolsa,  possui mais chances de perdas do que o próprio movimento de queda, segundo os especialistas.

“Um bom exemplo é que já se falava de bolha desde 2018, quando Donald Trump estava na presidência. Quem acreditou que seria o início de uma crise, perdeu os ganhos que o mercado teve desde então”, destaca Alves.

A recomendação para proteção e segurança é o dólar ou moedas que historicamente são resilientes em períodos de estresse econômico.

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Segundo Ronald Souza, sócio da Inove Investimentos, a principal lição é não desprezar o inesperado e lembrar que as crises obrigaram os investidores a repensarem suas carteiras. “O mercado já entendeu a importância da diversificação. As perdas são inevitáveis, mas é importante ter uma parcela dos ativos em produtos de proteção, como o ouro e em moeda forte como o dólar”, diz.

O fato é esse: a paciência é uma lição que vive há 20 anos e tem se mostrado uma aposta certeira e ousada nas reviravoltas do mercado.

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